10 musicais para ver antes de La La Land | Um Americano em Paris

Um Americano em Paris de Vincente Minnelli ganhou o Óscar de Melhor Filme de 1951, é um dos mais famosos musicais de Gene Kelly e a sua influência sobre La La Land é inegável.

 


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De aventuras nas arábias, Michael Powell e Emeric Pressburger, dois génios do cinema britânico, passaram por épicos históricos, contos metafísicos e melodramas eróticos antes de, em 1948, chegarem à sua apoteose tanto no que dizia respeito ao uso da cor, como ao cinema em geral. Falamos, pois claro, d’Os Sapatos Vermelhos, um pseudo musical passado no mundo do ballet que, na sua mais famosa sequência, interrompe toda a narrativa para mergulhar a audiência num bailado de 15 minutos que recapitula toda a ação precedente, antecipa o desfecho da trama e reflete sobre tudo isso através de imagética lírica, metafórica e quase abstrata.

Hão de reparar que o título deste artigo não refere Os Sapatos Vermelhos, mas é importante mencionar essa audaciosa obra-prima porque foi somente graças ao seu sucesso que Gene Kelly conseguiu convencer os produtores de Um Americano em Paris a incluírem, no seu final, uma sequência semelhante. É provável que as ambições de Kelly tenham nascido não com o filme de Powell e Pressburger mas com o ballet alucinatório do musical Oklahoma (estreado na Broadway em 1943), mas, sem Os Sapatos Vermelhos, não teríamos estes 18 minutos de dança, coloridos cenários, inspiradora fotografia, figurinos deslumbrantes e, de uma forma geral, um tipo de vistosa mestria cinematográfica que, isoladamente, constitui o pináculo do cinema americano dos grandes estúdios nos anos 50. Aqui deixamos um pequeno excerto:

Se não querem spoilers para o final de La La Land é melhor pararem de ler, pois é impossível não entender quão o filme de Damien Chazelle deve à obra de Vincente Minelli. Ambos os projetos terminam com o reencontro de dois amantes que, por diferentes razões, não podem ficar juntos e, aquando dessa triste realização, o filme explode num registo de puro artificialismo dançado. Nesse mundo de sonhos, ambos proporcionam versões alternativas do seu romance central através de uma híper estilização metafórica, onde o uso da coregrafia e da cor é de uma importância colossal (Um Americano em Paris chega mesmo a criar homenagens diretas a pintores franceses como Toulouse Lautrec) antes de toda a euforia terminar com a mesma realização melancólica – apesar de toda a euforia cinematográfica, estas pessoas não ficam juntas. A grande diferença é que Minnelli concede à audiência o seu desejo escapista e, sem nenhuma razão lógica, reúne os dois amantes no minuto final do filme, enquanto Chazelle tem a maturidade de aceitar a impossibilidade da sua vida a dois.

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La La Land vai buscar mais elementos a Um Americano em Paris, especialmente o seu uso de figurinos em cores sólidas saturadas e linhas depuradas, mas é o ballet final que realmente interessa e com razão, pois esse é o grande momento do filme de 1951 e a principal razão pela qual este influenciou uma série de projetos futuros e ganhou o Óscar desse ano. Infelizmente, essa vitória contra filmes tão lendários como Um Elétrico Chamado Desejo e Um Lugar Ao Sol trouxe ao filme um legado de injusta infâmia que tem vindo a ofuscar os seus genuínos méritos.

Dos musicais da unidade de Arthur Freed na MGM, Um Americano em Paris tem uma qualidade quase experimental, tanto pelo seu ousado ballet final, como pela sua abjeta falta de enredo e melodrama na hora e meia que precedem esse espetáculo conclusivo. Há algo quase impressionista na sua observação da vida de três artistas em Paris que subjuga todas as suas marcas de um romance convencional de Hollywood ao estatuto de movimentos mecânicos, absolutamente incidentais ao centro do filme desprovido de estrutura dramática. Como tal, é precisamente o artificialismo do final que força a emoção da história de amor a dominar o filme de tal modo que todo o seu registo estilístico entre no panorama da hipérbole sentimental e lirismo musical.

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No final, apesar de uma série de notórias fragilidades (o filme é enfaticamente longo demais e ocasionalmente aborrecido), Um Americano em Paris é uma obra cuja principal característica é a pura alegria que é traduzida em celuloide por uma equipa de cineastas embriagados no seu júbilo, criatividade, ambição e incontornável amor pela sua arte. Nesse sentido, as suas semelhanças com La La Land ainda são maiores mas, infelizmente, ambos os filmes estão destinados a sofrer às mãos desse odioso cliché da crítica pueril e falaciosa que é a acusação de “estilo acima do conteúdo”. O cinema é um meio de expressão audiovisual, o estilo é, por definição, mais importante que o conteúdo e, se quisermos recorrer a contra-argumentos clichés, podemos dizer que “o estilo é conteúdo”. Para quê criticar estes festins cinematográficos pela sua criatividade e ambição estética quando tão poucos filmes apresentam essas mesmas qualidades? Se La La Land acabar por vencer o Óscar de Melhor Filme deste ano, poderemos dizer que será um muito justo herdeiro do legado de Um Americano em Pais.

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Na próxima página a qualidade metatextual dos musicais em questão chega a um nível febril e a genialidade de Gene Kelly torna-se ainda mais incontornável. Não percas!



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