Ator da Odisseia revela os bastidores surpreendentes do novo épico de Christopher Nolan
Quando soube que Christopher Nolan iria adaptar A Odisseia de Homero, pensei: “Bem, lá vai ele mergulhar num oceano de águas turbulentas, literais e metafóricas.” O que nos chegou recentemente sobre esta produção é tão audacioso que, para muitos nos bastidores do cinema, está a ser apelidada de “o maior filme alguma vez feito”.
Mas será isto demasiado? Ou é apenas a ousadia habitual de Nolan?
Porque é que A Odisseia é o maior filme alguma vez feito?
Christopher Nolan não é homem de pensar pequeno. Assim, depois de fazer explodir a física quântica em Tenet e a moralidade humana em Oppenheimer, o realizador britânico parece ter encontrado o seu novo campo de batalha: o mar aberto e a mente humana. O ex-jogador da NHL e agora ator Sean Avery revelou que o próximo filme de Nolan é nada menos do que “o maior filme alguma vez feito”.
“É o maior filme alguma vez feito. Filmámos em cinco países. Sem CGI, sem ecrã verde, no meio do oceano. Estivemos na Sicília, na Islândia, na Escócia, na Grécia… foi uma loucura”, disse Avery no episódio 583 do podcast Spittin’ Chiclets. Logo, o filme, que adapta A Odisseia de Homero promete ser uma ode ao cinema físico. Avery descreve-o como “a jornada do herói original, de A a B, o tipo a tentar voltar a casa”.
O elenco é digno de um festival de Cannes: Matt Damon, Anne Hathaway, Tom Holland, John Bernthal, Elliot Page, Josh Stewart e Ryan Hurst. Portanto, um misto de gerações e estilos que parece resumir a própria mitologia moderna de Hollywood. Christopher Nolan junta, mais uma vez, o seu habitual fascínio por dualidades, o humano e o divino, o racional e o caótico, o homem e o mar.
Christopher Nolan vai reinventar o épico?
É difícil não pensar que Christopher Nolan está a tentar ganhar o título de último realizador épico de Hollywood. Em tempos em que a indústria depende de universos partilhados e CGI, ele insiste em fazer tudo da forma mais difícil e mais cara. Assim, depois de filmar Dunkirk em IMAX 70mm e detonar explosões reais em Oppenheimer, agora decidiu enfrentar a ira de Poseidon.
Segundo Avery, o filme custou cerca de 250 milhões de dólares e não recorreu a fundos digitais para recriar o oceano, o que, em tempos de Marvelização cinematográfica, é quase um ato de rebeldia. E a julgar pela sua descrição das filmagens, o elenco passou mais tempo em tempestades reais do que a dormir. “Na Islândia o sol nunca se punha. Estávamos num trailer, filmávamos no meio do nada. Foi uma jornada dentro e fora das câmaras.”
A escala do projeto é tão absurda que começa a soar a paródia do próprio Nolan. Logo, se A Odisseia de Homero nasceu da tradição oral, A Odisseia de Christopher Nolan nasce da tradição obstinada de um homem que acha que o cinema só é real quando dói. Assim, para quem duvida, basta lembrar, este é o homem que convenceu os estúdios a fazer buracos negros em CGI tão realistas que saiu de lá com imagens que acabaram por ser usadas por cientistas.
A Odisseia vai ser o último grande épico do cinema?
Há algo de quase trágico (ou homérico) no facto de A Odisseia poder ser o último suspiro de um tipo de cinema que já não existe. Um em que o oceano é real, os barcos balançam, os atores passam frio, e o realizador acredita que o público sente a diferença. Enquanto a IA ameaça o próprio conceito de autoria, Christopher Nolan parece remar na direção oposta, contra o digital, contra o algoritmo, contra o esquecimento.
Christopher Nolan pode estar a preparar um híbrido entre Dunkirk e Inception, um épico existencial sobre o regresso a casa, mas também sobre o que significa “casa” num mundo que já não distingue o real do fabricado. Portanto, uma história onde Odisseu pode ser qualquer um de nós, perdido, cansado, à procura de um lugar onde a ficção ainda pareça verdadeira.
E se for mesmo o “maior filme alguma vez feito”? Talvez seja apenas porque é o último que ainda acredita ser possível sê-lo. Mas, no fim, talvez o verdadeiro mito seja o próprio Nolan, condenado a repetir a mesma jornada: provar, filme após filme, que o cinema ainda é maior do que nós.