Berlinale 67: Ao colo de Django e com muitos portugueses

A 67ª Berlinale-Festival Internacional de Cinema de Berlim abre amanhã, — vai até 19 de fevereiro —, com biografia do guitarrista Django Reinhardt e com o mediatismo de ‘Trainspotting 2’. Mas sobretudo com muito cinema português, como ‘Colo’, de Teresa Villaverde na competição oficial e quatro belíssimas curtas-metragens, fortes candidatas a mais um Urso de Ouro.

Berlinale 67
O mediatismo de T2-Trainspotting 2.

É um remake do já clássico Trainspotting, intitulado T2, de Danny Boyle, que estreia aqui só na sexta e que vai como sempre assumir a imagem sempre activista e dar o elã mediático desta Berlinale 67. T2, apresentado fora da competição, uma adaptação do romance Porn, de Irvine Welsh (que já tinha assinado Trainspotting), revê a situação social actual no Reino Unido, centrada naquele grupo de quatro amigos — agora ex-delinquentes, mas não menos em risco — e conseguiu reunir a equipa do filme original: o realizador Danny Boyle e os actores Ewan McGregor, Robert Carlyle, Jonny Lee Miller, Ewen Bremner. Trainspotting 2 vai animar aqui a fria passadeira vermelha do Berlinale Palast, este ano sem grandes estrelas americanas, e logo a seguir estrear em Portugal a 23 de fevereiro.

Vê trailer de T2-Trainspotting 2, de Danny Boyle

No entanto, a arriscada abertura oficial de amanhã à noite, (quinta) da Berlinale 67, caberá a Django, dirigido pelo estreante realizado francês Étienne Comar, um filme biográfico sobre o guitarrista de jazz Django Reinhardt, interpretado pelo actor Reda Kateb (Os Belos Dias de Aranjuez). 

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‘Colo’, de Teresa Villaverde na competição oficial.

O cinema português é que está muito bem representado nesta Berlinale 67, pois entre os dezoito filmes da competição oficial está Colo, de Teresa Villaverde, mais uma obra que reflecte a crise económica que vivemos nos últimos anos e o universo adolescente que já é comum aos outros filmes da realizadora. O filme é protagonizado pela conhecida actriz Beatriz Batarda, e por João Pedro Vaz (o capitão de Cartas da Guerra); e com os jovens estreantes Alice Albergaria Borges, Clara Jost (esta também protagonista da curta Coup de Grace, de Salomé Lamas) e Tomás Gomes.

Vê trailer: Colo, de Teresa Villaverde 

E depois com Joaquim, um filme de Marcelo Gomes (O Homem das Multidões), sobre o célebre revolucionário e herói nacional brasileiro Joaquim Tiradentes, uma co-produção luso-brasileira, com a Ukbar Filmes, da produtora portuguesa Pandora da Cunha Telles.

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A co-produção luso-brasileira ‘Joaquim’, de Marcelo Gomes.

Na competição oficial, curiosamente pouco marcada pelos cinema norte americano à excepção de The Dinner, de Oren Moverman — um israelita residente em Nova Iorque — estarão os novos filmes do finlandês Aki Kaurismäki (The Other Side of Hope), do coreano Hong Sangsoo (On the Beach at Night Alone) e do veterano alemão Volker Schlöndorff (Return to Montauk, co-escrito com o romancista irlandês Colm Tóibin).

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‘Una Mujer Fantástica’, do chileno Sebastián Lelio.

Competirão ainda ao ambicionado Urso de Ouro da Berlinale, filmes como Ana, mon amour, do romeno Calin Peter Netzer, Félicité, do francês Alain Gomis, Heile Nächte, do alemão Thomas Arslan, Mr. Long, do japonês Sabu, The Party, da inglesa Sally Potter, Spoor, da polaca Agnieszka Holland, On Body and Soul, do húngaro Ildikó Enyedi, Una Mujer Fantástica, do chileno Sebastián Lelio, e Wilde Maus, do austríaco Josef Hader, além do muito aguardado documentário do alemão Andres Veiel,  sobre o grande artista visual Joseph Beuys e da animação chinesa Hao Ji Le, de Liu Jian, entre outros.

Na selecção oficial, mas fora da competição estarão além de Trainspotting 2, de Danny Boyle, uma interessante série de filmes a estrearem quase todos em breve nas salas portuguesas: Logan, de James Mangold (Walk the Line), aquele que será o último filme de Hugh Jackman como Wolverine, El Bar, de Álex de la Iglesia, Final Portrait, do actor-realizador Stanley Tucci, e os filmes mais autorais, Sage Femme, de Martin Provost e Viceroy’s House, da queniana Gurinder Chadha.

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O aguardado ‘A Cidade Perdida de Z’, de James Gray

A secção paralela da Berlinale Special apresentará um filme muito esperado: A Cidade Perdida de Z, do norte-americano James Gray (A Emigrante), uma adaptação do livro de David Grann, sobre as explorações do britânico Percy Fawcett na Amazónia nos anos 20, que estreará também em breve nos circuitos comercias nacionais; a versão restaurada do Close­Up, de Abbas Kiarostami, Le Jeune Karl Marx, de Raoul Peck e o documentário The Trial: The State of Russia vs Oleg Sentsov, de Askold Kurov.

Vê trailer: A Cidade Perdida de Z, de James Gray 

Portugal estará muito bem representado igualmente na competição oficial da Berlinale Shorts com quatro filmes maravilhosos: Altas Cidades de Ossadas, de João Salaviza, Coup de Grace, de Salomé Lamas, Cidade Pequena, de Diogo Costa Amarante, e Os Humores Artificiais de Gabriel Abrantes, todos eles muito bons e fortes candidatos a trazerem mais um Urso de Ouro depois de João Salaviza (seria o segundo!!!) e Leonor Teles.

Na secção Forum Expanded, uma secção dedicada às fronteiras entre o cinema e as artes plásticas, estará ainda a video-instalação Spell Reel, de Filipa César, com uma apresentação sobre os arquivos cinematográficos da Guiné-Bissau, e de The Solid Image, da mesma realizadora, mas em parceria com Sana na N’Hada, lado a lado com obras de ‘cineastas-artistas’ como Eija-Lisa Ahtila, James Benning, Ken Jacobs e Bruce la Bruce.

Na sempre muito estimulante e surpreendente secção paralela do Panorama, serão apresentados entre outros, filmes como I Am Not Your Negro, de Raoul Peck (o mesmo cineasta de Le Jeune Karl Marx), agora sobre o escritor e pensador negro americano James Baldwin; Untitled, um filme póstumo do austríaco Michael Glawogger, terminado pela sua montadora Monika Willi.

Há uma forte representação de filmes brasileiros nesta Berlinale 67. Ao todo vão estar presentes cerca de 12 obras de cineastas brasileiros: No Intenso Agora, do grande documentarista João Moreira Salles (Panorama Dokumente), composto por imagens de arquivo do Maio de 1968 e da Primavera de Praga, e Vazante, de Daniela Thomas (Panorama), mais uma co-produção luso-brasileira com a nossa Ukbar Filmes.

Ainda na secção Panorama, está Pendular, de Julia Murat e a animação Vênus – Filó, a Fadinha Lésbica, de Sávio Leite. Na Generation, voltada para os jovens espectadores de cinema, aparecem Não Devore Meu Coração!, de Felipe Bragança; As Duas Irenes, de Fabio Meira; Mulher do Pai, de Cristiane Oliveira; e a curta Em Busca da Terra Sem Males, de Anna Azevedo. Já na Panorama Special está o filme Como Nossos Pais, de Laís Brodansky, e na Forum está igualmente Rifle, de Davi Pretto. Além destes, o Brasil também está presente na competição de curtas-metragens, com Estás Vendo Coisas, de Bárbara Wagner e Benjamin Burca.

A secção Retrospectiva, Future Imperfect: Science, Fiction, Film.
A secção Retrospectiva, Future Imperfect: Science, Fiction, Film.

Na secção Berlinale Classics, dedicada a clássicos restaurados em 4K, vão passar A Noite dos Mortos Vivos, de George A. Romero, Annie Hall, de Woody Allen, e Maurice, de James Ivory

A secção Retrospectiva, intitulada este ano Future Imperfect: Science, Fiction, Film, é dedicada à ficção científica, e será acompanhada por uma exposição na Cinemateca Alemã, na Postdam Platz, que ficará até Abril próximo.

JVM em Berlim

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