Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), em análise
FICHA TÉCNICA
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A história é enganadoramente simples: um ator, famoso por ter interpretado um super-herói icónico, e que agora planeia montar uma peça de teatro numa tentativa de recuperar os seus tempos de glória. Nos dias que antecedem a noite de abertura, o ator – Riggan Thomson – luta contra o seu ego e tenta recuperar a sua família, a sua carreira, e a si próprio.
Os corredores labirínticos do St. James Theater apertam-se cada vez mais em redor de Riggan, a vida e a arte baralham-se, a câmara perpetua o movimento neurótico, enquanto a banda sonora latejante é pontuada por frenéticos batuques, o tempo destrói-se e o espaço aperta numa dança esquizofrénica que parece espelhar o estado mental do protagonista.
Todos os astros parecem alinhados para uma sarcástica comédia de backstage mas BIRDMAN é muito mais: é um estudo de personagem, um (meta) comentário à arte e entretenimento modernos, um ensaio sobre o ego da celebridade e os seguidores acéfalos, uma sessão de psicanálise, uma autópsia ao poder e ao prestígio, uma exploração sobre a profunda necessidade de criação artística, uma maravilha técnica que será examinada e esmiuçada durante anos, um espetáculo singular montado sob as bases de um dos melhores elencos do ano, e um conto surreal sobre um homem que procura desesperadamente a sua alma.
É imensamente divertido de um modo negro e mordaz, mas tal como os fumos e luzes do palco assombram toda a parada de Alejandro González Iñárritu, há aqui algo palpável, reconhecível mas quase inexplicável, maior do que a vida. Filmado como se de um impressionante, longo e corajoso plano-sequência se tratasse, BIRDMAN é uma autêntica explosão de ideias e visões que abraça a linguagem dos sonhos para expandir o conceito de storytelling.
Depois no ano passado nos ter conquistado na agonizante sequência inicial de 12 minutos de GRAVIDADE, o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki volta a fazê-lo, agora por toda a duração de BIRDMAN, arrastando o nosso olhar para onde quer que o foquemos, como um talentoso mágico faz com os seus truques de cartas. Contudo, esta artimanha não existe apenas para pasmar – as próprias quezílias do enredo debatem-se sobre estes temas: o artifício, aquilo que julgamos ver e aquilo que vemos na verdade, o público e o privado, o zeitgeist do entretenimento que não distingue o fim de ficção e o início da vida real.
As personagens que encontramos no caminho, desde o melhor amigo/produtor/advogado ao egocêntrico coprotagonista, são dispositivos que se organizam em pontiagudas observações satíricas – as caracterizações são exageradas para criar símbolos, e não pessoas passíveis de encontrarmos na rua.
Além de versar sobre um renascimento, BIRDMAN também proporciona um ao seu protagonista. Naquele que será o seu melhor desempenho na última década, Michael Keaton humaniza o desejo mordaz pela importância de Riggan, alternando entre o estado cómico e profundamente dramático ao longo de vários momentos na fita.
Também em destaque num veículo que pareceu feito para oferecer aos seus passageiros uma oportunidade de refrescar a carreira, Edward Norton e Emma Stone oferecem uma honestidade crua aos seus retratos de um ator egocêntrico com compromisso com a autenticidade máxima e de uma filha distante e perturbada, respetivamente.
Há uma loucura irresistível associada ao filme de Iñárritu, uma obra virtuosa, uma maravilha moderna que contradiz a aparente tendência moderna de colocar filmes em caixas de comédias, tragédias ou fantasias, que nos arrasta, atrelados a uma arte destemida que irradia uma emoção, energia, elegância e ego que são intoxicantes.
Os fóruns de discussão, as mesas de café e os sofás de amigos de longa data serão alimentados sobre o deslindar cego dos significados de BIRDMAN, alguns absolutamente indecifráveis, como a dinâmica dos poderes telecinéticos de Riggan ou o misterioso final.
Mas não é parte do objetivo, esta natureza resvaladiça do artifício? É como tentar à força fazer um raio-X à mala de PULP FICTION (1994), ou traduzir o sussurro de Bill Murray a Scarlett Johansson em O AMOR É UM LUGAR ESTRANHO (2003), ou despir de enigmas toda a ODISSEIA NO ESPAÇO (1968) de Stanley Kubrick.
Afinal, não é por acaso que BIRDMAN carrega um pequeno subtítulo: a inesperada virtude da ignorância.
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“Birdman: or (The Unexpected Virtue of Ignorance)”, título original, tem uma história bastante boa mas com o passar do tempo torna-se algo confusa e aborrecida
4*
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Birdman é mais do que eu esperava. Não pensei que fosse ruim, mas não imaginei que fosse tão bom.
É um filme com uma fotografia que prende pelos detales e tonalidades das cenas. Com grande aspecto psicológico, quanto aos personagens, traz boas análises. Algumas delas sociolólicas.
É para ser visto mais de uma vez, com certeza. Não só pelo bom elenco, ótima atuação dos mesmos e, claro, a história original e estranhamente envolvente. Mas também pela crítica que o filme traz sobre arte, seus protagonistas e a platéia.
Birdman é mais do que eu esperava. Não pensei que fosse ruim, mas não imaginei que fosse tão bom.
É um filme com uma fotografia que prende pelos detalhes e tonalidades das cenas. Com grande aspecto psicológico, quanto aos personagens, traz boas análises. Algumas delas sociológicas.
É para ser visto mais de uma vez, com certeza. Não só pelo bom elenco, ótima atuação dos mesmos e, claro, a história original e estranhamente envolvente. Mas também pela crítica que o filme traz sobre arte, seus protagonistas e a platéia.
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