Capitão Falcão | Entrevista ao realizador

 

Ao longe, pelo deserto dramático e trágico que é o Cinema português, típico do desapoio pelo Estado e pelo público, cavalga a bom ritmo o filme de João Leitão – Capitão Falcão.

Representando uma muito bem-vinda lufada de ar fresco à indústria que se dispõe pouco a apostar os seus cêntimos no honrado (e popular) género da comédia, o filme protagonizado por Gonçalo Waddington é uma acídica sátira ao Antigo Regime, tomando partido de uma abordagem única e provocadora: aqui, os heróis são Salazar, Estado Novo e,  evidentemente, Falcão.

 

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Antes da estreia, João Leitão ajudou-nos a iluminar a origem do Capitão e as principais dificuldades da produção enquanto levantou tenuemente o véu sobre o que está para vir.

 

1. O início é sempre revestido com uma pergunta da praxe: como é que surgiu o Capitão Falcão?
João Leitão: Foi um daqueles casos raros de acordar e ter a ideia clara na cabeça imediatamente. Escrevi o episódio piloto sozinho numa manhã, o que é um caso raro para mim. Só depois é adaptei tudo para cinema com a minha parceira de escrita Nuria Leon Bernardo. Se há algum crédito de inspiração a atribuir a alguém é aos criadores dos filmes franceses do “OSS117” e da websérie australiana “Italian Spiderman”. Lembro-me que estava a ver ambas a coisas nessa semana.

 

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2. A sátira e a comédia negra são géneros pouco explorados no Cinema português. O processo de trazer um filme destes para as salas viu-se dificultado ou facilitado por isso?
JL: Muito dificultado. As barreiras e obstáculos foram constantes em todas as fases do processo, excepto na escrita do argumento. A verdade nua e crua é que foi-nos dito regularmente (e ainda hoje me é dito quase diariamente) que Portugal não quer este tipo de humor. Garantem-me que a única coisa que vende cá é humor brejeiro com trejeito a revista. Não posso garantir que o público vá aderir ao que estamos a fazer, mas tenho fé que existam mais pessoas como eu que estão fartas da preguiça da comédia tipicamente portuguesa.

3. Quais foram as principais influências (artísticas, cinematográficas, ou outras) na criação do filme?
JL: Imensas e extremamente variadas! Em televisão, séries americanas como o “Batman”, “Green Hornet” e séries inglesas como “Allô Allô” e “BlackAdder”. Em banda desenhada, autores como Stan Sakai, Dave Sim, Sergio Aragonés e Stan Lee. Na literatura, principalmente influências inglesas de escritores como Douglas Adams, Robert Rankin, Terry Pratchett e Toby Frost. Em termos de cinema então… é quase impossível enumerar toda a gente! Vão desde Chaplin até Jackie Chan e Bruce Lee, passando por todo o catálogo da Shaw Brothers e acabando provavelmente nos filmes franceses do Hazanavicius. Ah, e Looney Tunes! Nada na vida alguma vez deveria ser feito sem influência dos Looney Tunes.

 

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4. O Capitão Falcão foi, não só, uma produção única em termos de tema/abordagem, como também na promoção (ex. página de Facebook do Capt. Falcão onde o “próprio” escreve). A vontade de chegar aos portugueses, com uma história muito “nossa” é grande. Em que medida é que acham que esta comédia pode ajudar o Cinema Português, no geral, na reconquista das audiências?
JL: Em termos de audiências, acho que o filme não pode fazer nada para ajudar o Cinema Português. Eu vejo as coisas noutros termos: o público português é que nos pode ajudar ao dizer se quer ou não uma experiência diferente da que está habituado a ter. No cinema auto-financiado como o nosso é preciso que o público vote com a carteira. Estou genuinamente curioso com o resultado de bilheteira, especialmente porque gostava muito de fazer disto uma trilogia.

5. Se pudesse satirizar qualquer outro personagem/evento da história portuguesa, qual seria e qual seria o seu poder especial?
JL: Essa pergunta é perigosa! Especialmente porque a resposta está numa série de animação que estou de momento a escrever com o meu colega Álvaro Silveira (conhecido como o criador do fenómeno de Facebook “Dois Desenhos a Conversar”). Mas brevemente (meses, não anos!) esperamos revelar esse novo projecto com um trailer online, assim como o fiz com o Capitão Falcão.

6. Abrindo agora o leque até à história mundial – e não desfazendo o Puto Perdiz – quem seria o sidekick perfeito para o Capitão Falcão?
JL: Gengis Khan [conquistador e imperador mongol].

 

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Capitão Falcão chega aos cinemas portugueses a 23 de abril.

 

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