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Ciclo John Cassavetes | Conhece a programação completa

Conhecido pela reposição de clássicos da sétima arte, o Cinema Nimas prepara agora um ciclo de cinema dedicado às obras de John Cassavetes.

Apesar de se ter estreado como ator de televisão e cinema, foi na realização que o greco-americano John Cassavetes se destacou, chegando mesmo a ser considerado um dos maiores cineastas do século XX. Habituado a contrariar o método de representação de Lee Strasberg imposto por Hollywood, Cassavetes fundou um curso de interpretação que seguia as suas ideias revolucionárias de dramatização. Para exemplificar as suas convicções, produziu “Sombras” (1959), um filme de baixo orçamento que contou com a atuação de amigos e atores amadores. John Cassavetes tornou-se assim um dos pioneiros do cinema independente americano, produzindo filmes que contavam com a participação de colegas e que eram gravados, muitas vezes, na sua própria casa. O principal exemplo da familiaridade dos atores é o facto de Gena Rowlands, a esposa de Cassavetes, ter participado em grande parte  das produções do cineasta. Recorrendo então ao seu próprio método, as suas longas-metragens eram centradas na exploração das personagens, uma tática que contraria a norma dos grandes estúdios da indústria, principalmente por enaltecer a improvisação e a autonomia dos atores.

O ciclo de cinema dedicado à genialidade de John Cassavetes contará com a exibição total de cinco filmes, que pretendem sintetizar o essencial da obra daquele que é considerado o ‘pai do cinema independente’. Além disso, haverá ainda quatro sessões especiais com filmes que marcaram a carreira do cineasta. Em “John Cassavetes, O Verdadeiro Rebelde”, teremos a oportunidade de ver cópias digitais restauradas de “Sombras” (1959), “Rostos” (1968), “Uma Mulher Sob Influência” (1974), “A Morte de um Apostador Chinês” (1976) e “Noite de Estreia” (1977). O ciclo de cinema dedicado a Cassavetes acontecerá no Cinema Medeia Nimas, em Lisboa, entre os dias 21 de julho e 25 de agosto. Além disso, o evento ocorrerá também no Teatro Campo Alegre, no Porto, no Cinema Charlot – Auditório Municipal, em Setúbal, e no Centro de Artes e Espetáculos, na Figueira da Foz. Descobre aqui a programação completa.

John Cassavetes
© Medeia Filmes

A PARTIR DE 21 DE JULHO

SOMBRAS (1959, 87’)

Sombras
© Leopardo Filmes

Com Anthony Ray, Ben Carruthers, Hugh Hurd e Lelia Goldoni

A ideia de trazer às telas de cinema “Sombras” surgiu durante uma aula do curso de John Cassavetes em que o realizador tentava ensinar o seu método de representação. Um dos seus alunos afro-americanos de pele clara foi rejeitado pela namorada quando esta descobriu que o irmão dele era negro. Cassavetes optou por levar ao grande ecrã esta história real, fazendo nascer um dos primeiros filmes independentes dos EUA. A longa-metragem foi produzida com financiamentos de grupos de teatro amador e o elenco contou apenas com alunos do seu curso, bem como com familiares e amigos. Este ‘manifesto’ contra o método de atuação de Hollywood acompanha então a história de três irmãos afro-americanos que partilham um apartamento em Nova Iorque. Enquanto Hugh (Hugh Hurd) ambiciona fazer sucesso enquanto cantor de Jazz, Ben (Ben Carruthers) que pretende ser trompetista passa os dias entre a rua e os bares. Já Lelia (Lelia Goldoni), que sonha ser escritora, terá uma grande desavença com o namorado Tony (Anthony Ray) quando este descobre a sua origem africana.

ROSTOS (1968, 130’)

Faces
© Medeia Filmes

Com Gena Rowlands, John Marley e Lynn Carlin

“Rostos” é uma das maiores obras-primas de John Cassavetes, considerada pela National Film Registry um filme “culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo”. Trata-se de um importante exemplo do método de interpretação desenvolvido pelo cineasta, uma vez que é a câmara quem segue os movimentos dos atores, e não vice-versa como acontecia na maioria das produções de Hollywood. A longa-metragem acompanha as etapas de um casamento em decadência, sequência do facto de Richard (John Marley) conhecer Jeannie (Gena Rowlands), uma prostituta por quem se apaixona. A partir desse momento, o seu casamento com Maria (Lynn Carlin) parece precipitar-se para o fim. A mestria com que o filme foi realizado tornou-o uma das grandes referências para cineastas como Martin Scorsese e Woody Allen. Ademais, o próprio Steven Spielberg trabalhou como assistente não remunerado numa fase em que era ainda um mero amador na indústria. Ainda assim, a obra esteve nomeada a três Óscares, incluindo o de Melhor Argumento.

UMA MULHER SOB INFLUÊNCIA (1974, 146’)

uma mulher sob influencia
© Medeia Filmes

Com Fred Draper, Gena Rowlands e Peter Falk

À semelhança do que aconteceu com “Rostos”, também “Uma Mulher Sob Influência” foi homenageado pela National Film Registry, tornando-se um filme de culto. A produção surge após Gena Rowlands, esposa de John Cassavetes, exprimir o desejo de participar numa peça de teatro sobre as dificuldades sentidas pelas mulheres contemporâneas. Uma vez que esta seria incapaz de manter o seu papel em cena durante meses, o marido optou pela produção de um filme em que Gena pudesse concretizar o seu desejo. O filme acompanha então o dia-a-dia de Mabel, uma dona de casa que não aguenta a pressão social que todos parecem exercer sobre ela, entrando numa espécie de loucura que tentam curar com eletrochoques. Este chegou mesmo a tornar-se um dos melhores trabalhos de Rowlands, valendo-lhe uma nomeação ao Óscar de Melho Atriz. De forma semelhante, também Cassavetes foi nomeado ao Óscar de Melhor Realizador. A longa-metragem tornou-se a primeira a ser divulgada de forma independente, sem recorrer a nenhuma distribuidora.

A MORTE DE UM APOSTADOR CHINÊS (1976, 109’)

A morte de um apostador chines
© Medeia Filmes

Com Ben Gazzara, Seymour Cassel e Timothy Agoglia Carey

“A Morte de Um Apostador Chinês” é um filme noir que acompanha a história de Cosmo Vitelli (Ben Gazzara), o dono de uma casa de strip que após pagar uma dívida a um agiota celebra o acontecimento contraindo uma nova despesa com o jogo. Preocupado com o seu negócio, é proposto a Vitelli que o dinheiro seja perdoado em troca de um favor, matar um velho apostador chinês. Este foi um dos maiores papéis interpretados por Gazzara que, segundo o próprio, havia sido inspirado na personalidade de John Cassavetes. Esta seria a segunda colaboração entre o cineasta e o ator principal, após a produção de “Maridos”. O feito voltar-se-ia a repetir um ano depois em “Noite de Estreia”.

NOITE DE ESTREIA (1977, 144’)

John Cassavetes - Noite de Estreia (1977)
© Faces Distribution

Com Gena Rowlands, Joan Blondell e John Cassavetes

Myrtle Gordon (Gena Rowlands) é uma atriz de sucesso que se prepara para estrear a sua mais recente peça na Broadway. Após ser perseguida por uma fã (Laura Johnson), esta última é atropelada, o que deixa a atriz assombrada pelo acontecimento. A partir desse momento, Myrtle não consegue encarar a sua personagem, o que a leva a afastar-se da sua nova peça. Entregue ao álcool e a caminhar para uma depressão, a atriz diz ver aparições da sua fã morta, o que a conduz a uma espiral de acontecimentos perturbadores. Considerado um dos melhores filmes de John Cassavetes, “Noite de Estreia” é também uma ode ao mundo do teatro e da representação. Um drama psicológico que retrata o assombro da mente humana e o terror vivido por muitos artistas, dando origem a muitos outros filmes de conceituados realizadores, como Pedro Almodóvar. À semelhança de muitas longas-metragens independentes, também esta teve dificuldades em encontrar uma distribuidora, situação que apenas ficou regularizada dois anos após a morte de Cassavetes.

SESSÕES ESPECIAIS

MARIDOS (1970, 140’)

Maridos
© Columbia Pictures

Com Ben Gazzara, Jenny Runacre, John Cassavetes e Peter Falk

“Maridos”, para além de ser realizado por John Cassavetes, conta também com o nome do cineasta num dos papéis principais. O argumento acompanha a história de três amigos (Ben Gazzara, John Cassavetes e Peter Falk) que entram numa crise de meia-idade após a perda de um amigo em comum. Os três cresceram juntos e tornaram-se bem-sucedidos nas suas profissões, bem como na constituição de uma família. Porém, quando Stuart perece, os amigos parecem tomar consciência que o tempo urge e decidem fazer todos os disparates até então deixados de lado. À semelhança do que aconteceu com outros filmes do realizador greco-americano, também aqui a arte imitou a realidade, uma vez que a longa-metragem surgiu após a morte do irmão mais velho de Cassavetes, daí o tom melancólico presente em todo o filme.

MINNIE AND MOSKOWITZ – TEMPO DE AMAR (1971, 115’)

Minnie e Moskowitz
© Universal Pictures

Com Gena Rowlands, John Cassavetes, Seymour Cassel e Val Avery

Minnie Moore (Gena Rowlands) é vítima de um relacionamento abusivo com um homem casado (John Cassavetes) que a faz deixar de acreditar no amor. À medida que vai envelhecendo, a preocupação de Minnie recai sobre o facto de não ter encontrado um companheiro para a vida. Desesperada, Moore decide participar em encontros às cegas até encontrar o homem dos seus sonhos. Porém, o encontro com Zelmo (Val Avery) corre mal e este acaba por se envolver numa luta com Seymour Moskowitz (Seymour Cassel) que tudo faz para proteger Minnie por quem se apaixona. Como era habitual em outras produções suas, John Cassavetes recorreu a familiares seus para compor o elenco da longa-metragem. Além de ele próprio ter participado no filme, contou ainda com a participação da sua fiel companheira, Gena Rowlands, bem como as suas filhas Alexandra Cassavetes e Zoe R. Cassavetes, que tiveram uma pequena participação em “Minnie and Moskowitz – Tempo de Amar”. Além disso, também Katherine Cassavetes, a mãe do cineasta, se estreou no grande ecrã, onde viria a fazer parte de outras produções cinematográficas. O mesmo aconteceu com Lady Rowlands, a mãe de Gena, e o seu irmão David.

GLÓRIA (1980, 143’)

Glória
© Medeia Filmes

Com Buck Henry, Gena Rowlands, John Adames e Julie Carmen

“Glória” marca a última fase de filmes produzidos por John cassavetes. A longa-metragem de suspense policial neo-noir centra-se no momento em que Gloria Swenson (Gena Rowlands), namorada de um ex-membro da máfia, aceita tomar conta de Phil (John Adames), o filho de uns vizinhos que foram assassinados por bandidos. Quando a mulher percebe que a vida do jovem corre risco, decide fugir com Phil prometendo protege-lo ao máximo das garras dos mafiosos. Porém, os caminhos dos dois protagonistas acabam por dar muitas voltas até que encontrem um porto seguro. Além de a sua atuação ter valido a Gena uma nomeação ao Óscar de Melhor Atriz, John Cassavetes chegou mesmo a ganhar o Leão Dourado nos Prémios de Veneza.

LOVE STREAMS – AMANTES (1983, 141’)

John Cassavetes - Love Streams - Amantes (1984)
© Cannon Films

Com Diahnne Abbott, Gena Rowlands, John Cassavetes e Seymour Cassel

Nomeado pela BBC como ‘um dos maiores filmes americanos alguma vez feitos’, “Love Streams – Amantes” é uma ode ao amor e à amizade. Este viria a ser o último projeto assumido por John Cassavetes antes de falecer e, talvez por isso, quem vê o filme não duvida que se trata de uma despedida ao grande amor da sua vida, Gena Rowlands, com quem esteve casado por mais de três décadas. Na longa-metragem, Cassavetes dá vida a Robert Harmon, um homem boémio a quem é pedido que tome conta de um filho que jamais havia conhecido. Por outro lado, Gene Rowlands interpreta Sarah Lawson, uma mulher que atravessa um período difícil de divórcio e de afastamento da própria filha. Robert e Sarah são irmãos e, acima de tudo, são dois melhores amigos que tudo farão para se proteger e reerguer. Este é um filme totalmente intimista, tendo a maior parte das cenas sido gravadas em casa do realizador.

És fã do trabalho de John Cassavetes? Vais perder a oportunidade de marcar presença neste ciclo de cinema dedicado ao realizador?


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