"O Conto de Natal dos Marretas" | © Disney

Cinema Natalício | O Conto de Natal dos Marretas (1992)

“O Conto de Natal dos Marretas” é uma das melhores adaptações do clássico Dickensiano. Desde o tempo do filme mudo que o cinema se tem interessado pelo “Conto de Natal,” mas foi preciso acrescentar marretas para se chegar ao máximo potencial da história. Produzido pela Disney, realizado por Brian Henson e com Michael Caine no papel principal, a fita foi um sucesso com críticos e audiências e continua a ser reconhecida como um filme favorito para a época natalícia. Em 1993, “O Conto de Natal dos Marretas” foi ainda reconhecido pela música, sendo nomeado para um Grammy na categoria de Melhor Álbum Musical para Crianças.

Publicado originalmente a 19 de Dezembro de 1843, “O Conto de Natal” de Charles Dickens depressa se tornou num daqueles clássicos intemporais, capazes de redefinir o mundo em seu redor. A história é simples, focando-se no avarento Ebenezer Scrooge que, na Véspera de Natal, é visitado por vários fantasmas. O Espírito do Natal Passado leva-o por uma odisseia de memórias, enquanto o Espírito do Natal Presente deixa o homem ver quão é odiado. Por fim, o Espírito do Natal Futuro manifesta-se enquanto arauto da Morte, expondo as consequências medonhas que a mesquinhez de Scrooge terá tanto no seu próprio legado como na vida dos outros. Passado este pesadelo, ele revela-se como homem mudado, uma alma redimida.

cinema natalicio o conto de natal dos marretas
© Disney

Cinco dias depois da publicação, já o livrinho havia esgotado e, com o passar das décadas, sua fama só cresceu. Começando com leituras públicas, não demorou muito até que outros artistas decidissem dramatizar a trama e, com o advento do cinema, logo Scrooge encontrou um novo lar. Historiadores debatem-se sobre qual terá sido a primeira adaptação, mas, em termos de trabalho creditado, os louros tendem a recair sobre uma curta rodada em 1901 sobre a confrontação entre o velho miserável e o espectro do seu antigo parceiro de negócios – Marley condenado a passar a eternidade agrilhoado às correntes do pecado.

Desde então, já passou mais de um século e muitas mais adaptações se concretizaram. Podemos passar eternidades a discutir qual será a melhor representação do livro, sua moralidade e mensagem, seus pormenores mais Vitorianos, ou quiçá qual é a dramatização mais espetacular. Cada pessoa terá um favorito diferente, sendo que alguns dos filmes mais populares incluem a fita de 1951 onde Alastair Sim deu vida a Scrooge, o musical de 1970 com Albert Finney, e “O Conto de Natal do Mickey” com o Tio Patinhas como protagonista. Há que dizer que essa curta animada não foi a última vez que a Disney considerou os escritos festivos de Charles Dickens.

Lê Também:   Natal de magia no catálogo da Disney+

Durante a década de 80, a Walt Disney Company entrou em negociações com Jim Henson para comprar os direitos dos Marretas, passando a incluir as personagens nos parques temáticos e em novas produções. Os negócios só chegariam à total aquisição em 2004, mas a morte do criador em 1990 lá expediu o processo. O primeiro filme dos Marretas a ser feito após a tragédia foi esta adaptação do “Conto de Natal,” com realização assegurada pelo filho de Jim, Brian Henson e um ambicioso elenco onde todos os Marretas principais figuram em papéis diferentes da sua personalidade. Até então, o sapo e sua esposa porquinha, seus vários amigos, tendiam a aparecer no grande ecrã como si mesmos sem pretensões de outra caracterização.

Foi, portanto, um filme marcado por estreias. Não que o resultado final denuncie os cismas a acontecer nos bastidores, os riscos tomados ou a dor sentida por tantos dos seus cineastas. Ou quiçá esses sentimentos tenham trespassado e sejam mais uma razão do triunfo. Acontece que, não obstante a maluquice dos Marretas e sua popularidade para audiências infantis, o argumento mantém muitas das tonalidades mais amargas do conto original. Fazem-se piadas anárquicas, é certo, mas mantém-se o âmago Vitoriano da questão, suas lições e horroríficas visões. Gonzo e Rizzo – os nossos narradores – até se desculpam e fogem de cena quando chegamos a algumas das partes mais tingidas de terror.

cinema natalicio o conto de natal dos marretas
© Disney

Também temos que referir o trabalho de Michael Caine como Ebenezer Scrooge. No processo de adaptação, muita da malvadez da personagem foi excisada – o único grande ponto em que o lado negro do original se perdeu – mas o ator trabalha com o intuito de representar a figura edificada por Dickens. Apesar de nunca vermos a acidez do avarento, há algo muito amargo na interpretação que, com o passar do conto, se vai desfazendo e reconfigurando em jeito de redenção. A maior magia da narrativa é a fé absoluta na capacidade humana para mudar, para melhorar, algo que Caine personifica com o ímpeto de uma lenda dos palcos fincando os dentes num solilóquio de Shakespeare.

A sinceridade suprassuma é o ingrediente principal que faz com que tudo funcione, unindo o humor incessante dos Marretas com o sentimentalismo natalício patente na salvação de Ebenezer Scrooge. Isso regista-se no trabalho de Caine, mas também na música composta por Miles Goodman com canções de Paul Williams, até na recriação do cenário londrino em meados do século XIX. Os figurinos, por exemplo, são um assombro de verismo histórico, vendendo a ideia de que os Marretas são atores a interpretar papéis diferentes de si, imbuindo-lhes o milagre da vida a 24 fotogramas por segundo. Enfim, “O Conto de Natal dos Marretas” é um milagre de Natal que todos deviam experienciar. Sentem-se todos em família e apreciem o desgosto de Miss Piggy enlutada, a loucura de um Marley dividido em dois, o poder dos espectros e a doçura de uma alma redimida pelo poder da quadra.

“O Conto de Natal dos Marretas” está disponível no Disney+. Também podes alugar o filme através da Apple iTunes, Google Play e Rakuten TV.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *