"Die Hard - Assalto ao Arranha-Céus" | © Twentieth Century Fox

Cinema Natalício | Die Hard – Assalto ao Arranha-Céus (1988)

Ação bombástica e espírito de Natal não são dois conceitos tipicamente associados. Contudo, para um certo tipo de cinéfilo, “Die Hard – Assalto ao Arranha-Céus” tem vindo a tornar-se num clássico para a época festiva, representando uma alternativa a filmes mais tradicionais e narrativas mais lamechas. O filme que fez de Bruce Willis uma estrela de cinema também marcou a estreia de Alan Rickman no grande ecrã, tendo vindo também a arrecadar quatro nomeações para os Óscares em 1989. Essas honras vieram nas categorias de Melhor Som, Efeitos Sonoros, Efeitos Visuais e Montagem. Trata-se de um thriller feito com brio e rigor, cheio de adrenalina.

Há poucos filmes que tão definitivamente definem o seu género como “Die Hard – Assalto ao Arranha-Céus.” Realizado por John McTiernan e originalmente estreado em 1988, a obra veio representar o culminar de uma década em que Hollywood reinventou o cinema de ação. Em parte, este desenvolvimento nasceu de uma cultura crescentemente conservadora, assim como de uma indústria cujos preceitos comerciais haviam sido revolucionados na década anterior devido ao sucesso de títulos como “Tubarão” e “Guerra das Estrelas.” Por outro lado, também há que se considerar a influência asiática, sendo que, em Hong Kong, vários cineastas levaram o filme de ação aos epítetos da perfeição formalista.

Nesses trabalhos, enredos simples servem como esqueletos, fundações para a construção de uma série de sequências onde o gerar de emoções fortes são a prioridade. Procuram-se impactos viscerais, adocicados por sentimentos sem grande complexidade e aprumados pela técnica. Esta última é levada a níveis de perfeição raramente associados com entretenimento populista sem pretensões de prestígio. Tudo isto para dizer que, apesar do cenário Californiano e seu estatuto enquanto produto icónico da indústria americana, “Die Hard” é um exemplo de Hollywood nas proximidades das experimentações de Hong Kong. Todos os ingredientes estão presentes e bem visíveis.

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© Twentieth Century Fox

Comecemos por encarar a base narrativa. “Die Hard” é a história de John McClane, um polícia nova-iorquino de visita a Los Angeles na Véspera de Natal. O propósito da viagem é a reconciliação com sua esposa, Holly, sendo que a relação dos dois está nas últimas, o divórcio no horizonte. O cenário do reencontro é o lugar de trabalho onde a esposa passa a vida, o prédio Nakatomi Plaza, onde, nessa noite, uma catástrofe está prestes a acontecer. Enquanto John muda de roupa e espera pela mulher, a festa de Natal da empresa é tomada de assalto por um grupo armado. O líder dos criminosos é Hans Gruber, um radicalista germânico que finge um ataque terrorista para encobrir seu plano para roubar centenas de milhões de dólares guardados no edifício.

A partir deste ponto, o filme torna-se numa história de gato e rato, sendo que os parâmetros de quem é presa e predador estão sempre a mudar. Na calada das sombras, escapulindo-se por entre tubos de ventilação e o poço do elevador, John prepara um ataque contra os homens armados. Um a um, ele mata os seus inimigos, ao mesmo tempo que Gruber declara caça a este misterioso indivíduo que não devia estar lá naquela noite. Pelo caminho, o salvamento de Holly torna-se na sua principal motivação, servindo a ação com veículo para um matrimónio sarado das suas feridas. É claro que os vilões não estão preparados para se render, fazendo do Nakatomi Plaza um campo de batalha vertical.

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Não é um enredo complicado, dependendo de valores reacionários e uma necessidade primordial de manter o status quo com um protagonista polícia a rematar as ideias. Dito isso, desengane-se quem pensa que tais palavras representam uma crítica negativa. Políticas regressivas aparte, o argumento engendrado por Jeb Stuart e Steven E. de Souza a partir do romance de Roderick Thorp é um milagre de eficiência judiciosa, apagando tudo o que está a mais e se possa por entre a máquina de ação e a apreciação do espetador. De facto, “Die Hard” funciona de forma quase mecânica, todas as partes do texto em jeito de roldana num relógio suíço. Cada gesto é deliberadamente afinado para possibilitar outro movimento e por aí a fora, desencadeando um esquema de ação que se sente propulsiva.

Essa economia permitiu uma certa flexibilidade durante as filmagens, dando liberdade aos atores para improvisar e ao realizador para mudar detalhes à última hora. Quando a base de trabalho é tão sólida, promove-se a possibilidade de invenção. Tal aspeto é especialmente importante no trabalho do elenco, recaindo sobre os seus ombros a responsabilidade de dar alma à história e às personagens. O John McClane de Bruce Willis é tão icónico porque o ator imbuiu o arquétipo violento com noções de fisicalidade em agonia, um desespero cada vez mais tangível à medida que o filme avança em direção ao clímax. Raramente se fala de naturalismo no contexto do cinema de ação, mas a impressão que Willis dá remete para tais leituras.

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© Twentieth Century Fox

Parte desse efeito depende do temperamento do herói idealizado com aspetos mais negativos. Nunca temos dúvidas que a culpa dos problemas entre marido e mulher é de John e há um brilho de prazer na carnificina que denuncia algo obscuro no seu interior. Longe de fazer dele um anti-herói, essas dimensões ajudam a humanizar a figura. Em contraste, o Hans Gruber de Alan Rickman é um tónico de amoralidade sem vergonha, abençoado com um sotaque ridículo e um certo ar de artificialismo deliberado. Passa a ideia que o ator se está a divertir com a malvadez, infetando as audiências com o seu mesmo entusiasmo.

Dito isso, argumentos bem escritos e atores primorosos estariam perdidos sem todo o aparato cinematográfico a dar-lhes razão para existir. Entre a montagem de por o coração aos pulos e a sonoridade robusta, “Die Hard” é um imaculado objeto de ação. Tira-se prazer das vitórias porque sentimos o custo delas, quer seja na sequência em que John caminha descalço sobre vidros partidos ou o modo como os efeitos sonoros nos martelam os ouvidos. A tensão sufoca e a violência tudo explode, uma combinação insana para a Consoada que, mesmo assim, não impede a gente de caracterizar a obra como clássico festivo. Afinal, quem pode negar essa verdade quando há um cadáver com chapéu de Pai Natal? Boas festas e muito sangue derramado para todos.

“Die Hard – Assalto ao Arranha-Céus” está disponível no Disney+. Também podes alugar o filme através da MEO, Apple iTunes, Google Play, e Rakuten TV. Em alternativa, este clássico de ação e suas sequelas também podem comprados em DVD e Blu-Ray.

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