"Natal Branco" | © Paramount Pictures

Cinema Natalício | Natal Branco (1954)

Intitulado “White Christmas” no original, “Natal Branco” é um clássico festivo com músicas memoráveis e um estilo colorido a condizer. Michael Curtiz, cineasta responsável por outros grandes clássicos como “Casablanca” e “Até à Eternidade,” senta-se na cadeira de realizador enquanto Bing Crosby, Danny Kaye, Rosemary Clooney, e Vera-Ellen interpretam os papéis principais. Olhos atentos irão também encontrar o futuro Oscarizado George Chakiris como um bailarino em coreografias assinadas por Bob Fosse.

Em 1942, Bing Crosby e Fred Astaire juntaram forças num dos musicais mais populares da época, criando um triunfo de bilheteiras esmagador. “Holiday Inn” de Mark Sandrich não é especialmente bem lembrado hoje em dia, mesmo que algumas das suas contribuições culturais perdurem no imaginário coletivo. O maior desses elementos a ganhar vida fora do seu filme de origem é uma canção composta por Irving Berlin de propósito para o projeto com letra em prol de um natal cheio de neve. “White Christmas” foi um fenómeno, ganhando o Óscar para Melhor Canção e tornando-se numa espécie de hino melancólico para os soldados americanos a combater fora do país naqueles anos turbulentos da Segunda Guerra Mundial.

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© Paramount Pictures

Tanto a popularidade da canção eclipsou a fama do filme que, doze anos após a sua estreia, já Hollywood preparava outra produção com esse número musical. Desta vez, contudo, “White Christmas” seria a pedra basilar do projeto, todo um edifício fílmico construído em volta da melodia, sua letra e solene alegria. A ideia veio do próprio Berlin que, em 1948, vendeu a ideia à Paramount. Muitas versões do mesmo argumento depois, “Natal Branco” entrou em produção com Bing Crosby de volta no papel principal. Convém dizer que não se trata de um remake oficial de “Holiday Inn”, afirmando-se enquanto história original.

Não que haja grande narrativa, mesmo que a obra exceda as duas horas. Essa duração existe para sustentar espetáculo sem fim, enquanto qualquer semblante de enredo serve somente como esqueleto sobre o qual se constrói um organismo de festividade em 35mm e Technicolor vibrante. Enfim, o enredo segue dois veteranos da guerra que, depois de voltarem a casa, tornaram-se numa parelha de entertainers. Um dia, conhecem um par de irmãs cantantes e apaixonam-se, viajando com elas até ao Vermont para tentarem salvar a pousada gerida pelo seu antigo general. Como sempre acontecia nestes musicais dos anos 50, a chave para tudo é montar uma revista musical digna da Broadway num celeiro local.

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Pelo meio, há algumas trocas de amores e desentendimentos românticos, conflitos internos entre as parelhas de artistas e um apelo enaltecido à nostalgia dos bons velhos tempos. Também há comédia, quase toda da responsabilidade de Danny Kaye como o melhor amigo de Bing Crosby. De facto, apesar do cantor original de “White Christmas” ser o protagonista putativo desta fita, quem realmente brilha é o seu colega. O entusiasmo de Kaye é eletrizante e sua sinceridade perante as façanhas amorosas é uma explosão de carisma. Acima de tudo, o ator parece estar a divertir-se imenso e contagia-nos com a sua energia.

Também as duas heroínas compensam a lamechice meio atordoante de Crosby. Rosemary Clooney segue uma via dramática semelhante a esse ator, mas seu ardor é mais sentido, especialmente quando o argumento lhe exige uma balada sôfrega com uns cheirinhos de sensualidade conservadora. Nas suas mãos, as emoções meio superficiais da história ganham peso e comovem o espetador. Vera-Ellen, por seu lado, é tão explosiva como Kaye. Apesar de ter sido dobrada na cantoria, seus dotes dançantes são tão extraordinários que se entende perfeitamente por que razão a Paramount insistiu no seu casting. Entre o primor artístico e a robustez atlética, seus números musicais são milagres coreográficos.

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© Paramount Pictures

Diríamos mesmo que, para um filme construído em volta de canção melancólica e confortos festivos, “Natal Branco” vinga pelas suas vigorosas danças. Assim é com algo tão simples como Clooney e Vera-Ellen a manusearem plumas gigantes ou os ritmos da bailarina dobrada em algumas das sequências mais ostentosas. O movimento rege a composição, enquanto um jogo cromático rico em contrastes dá definição às imagens. Cada fotograma é um postal perfeito, muito abrilhantado pelos deslumbrantes cenários e figurinos igualmente majestosos. Tão belas são as roupas que apontamos para Edith Head como suprassuma estrela do musical.

De faustosa piroseira em registo vaudevilliano a elegâncias inesperadas com veludo preto, a figurinista oferece aqui algumas das melhores criações de uma carreira lendária. Há cenas, como uma paródia Beatnik, onde todo o aparato parece ter sido encenado em volta dos figurinos, bailarinas em monocroma roxo servindo como uma espécie de pano de fundo vivo para as loucuras de Danny Kaye. Toda esta beleza chega ao seu píncaro no grande final, tudo muito feliz e muito aprimorado com iconografias natalícias. Testemunhar este “Natal Branco” é como saborear um chocolate quente e aconchegar-se ao fogo, algumas revistas de moda na mão e um disco meloso a ressoar nos ouvidos. Não admira que seja um clássico.

“Natal Branco” está disponível para streaming no SkyShowtime. Também podes alugar ou comprar o filme através da Apple iTunes, Google Play e Youtube.

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