Melhores filmes LGBTQ+ dos últimos 10 anos.

Os melhores filmes LGBTQ+ dos últimos 10 anos

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Nos últimos dez anos, o cinema queer tem vindo a crescer em importância, popularidade e influência com filmes como “Moonlight” e “Carol”. Aqui, vamos listar alguns dos melhores trabalhos de cinema sobre temas LGBTQ+ desta última década cinematográfica.

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Para celebrar este mês do Orgulho LGBTQ+, a Magazine.HD propõe-se aqui a listar alguns dos melhores, mais importantes e influentes filmes de temáticas e personagens queer dos últimos dez anos. Desde 2008 que muito tem mudado, tanto na nossa sociedade global como no cinema, e filmes sobre tais temas têm vindo a ser cada vez mais relevantes e até mais numerosos. Mesmo ao nível do mainstream, obras como “Com Amor, Simon” têm vindo a conquistar o seu lugar nos corações da cinefilia mundial e na história da sétima arte.

Ao todo, esta lista tem 25 títulos, de 25 cineastas diferentes, sendo que decidimos não repetir realizadores com medo que autores como Xavier Dolan dominassem. Contudo, não obstante quão abrangente o nosso artigo sobre melhores filmes LGBTQ+ possa parecer, vão ser muitos os títulos que ficam de fora. Tentámos, no entanto, representar uma certa variedade de abordagens, temas e tipos de indivíduos representados.

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“Théo et Hugo dans le même bateau ” é um dos muitos excelentes filmes que, infelizmente, acabaram por ficar fora da nossa lista.

Algumas menções honrosas de destaque incluem, por exemplo, alguns filmes que ousam integrar sexo explícito, muitas vezes não simulado, em propostas narrativas. Veja-se, por exemplo, “I Want Your Love”, que foi mesmo produzido por um estúdio de pornografia gay e “Théo et Hugo dans le même bateau”, a história de uma noite inesquecível que começa com uma orgia num clube noturno parisiense.

Também filmes documentais, mais experimentais e inclassificáveis ficaram, infelizmente, de fora, como é o caso de “How to Survive a Plague” e o ensandecido “Rabioso sol, rabioso cielo”. Talvez por isso mesmo seja melhor encarar esta lista, mais como recomendações do que como um ranking criticamente objetivo.

Enfim, segue as setas para explorares a lista e, caso não tenhas visto os filmes mencionados, retifica a situação o mais depressa possível. Acredita que não te vais arrepender.




25. TANGERINE (2015) de Sean Baker

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Uma comédia screwball transplantada para a Los Angeles dos nossos dias.

Mesmo no panorama do cinema sobre temas e indivíduos LGBTQ+, é pouco comum encontrarmos filmes que se foquem e sejam protagonizados por indivíduos transgéneros. Por isso mesmo, “Tangerine” acabou por ganhar tanta fama e projeção mediática. Contudo, é também importante não deixarmos que um projeto com este seja reduzido somente ao seu valor enquanto objeto de representação social. Afinal, muito além disso, “Tangerine” é uma deliciosa comédia e estudo de personagem.

Passado durante um Natal em Los Angeles, esta narrativa foca-se principalmente em duas mulheres trans, que são prostituas e melhores amigas e que, ao longo do dia e noite, vivem uma aventura completa com sessões de gritaria em bordéis improvisados, desapontantes interlúdios musicais e confrontações caóticas em lojas de donuts. Enfim, não obstante a modernidade da sua história e do seu visual, tendo sido filmado com um iPhone, “Tangerine” parece quase uma comédia screwball dos anos 30 com as suas insanas reviravoltas tonais e humor anárquico.

No final, contudo, não é nem a importância política do filme ou a sua anarquia cómica que mais nos afetam enquanto espectadores. O que nos fica, é a cumplicidade e amizade entre estas duas mulheres, seu apoio uma a outra, suas irritações e sua união, não obstantes desgraças que se abatam sobre si.




24. PARIAH (2011) de Dee Rees

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A primeira grande mostra do génio de Bradford Young e Dee Rees.

Pariah” não é um filme que brilhe pela originalidade. No meio de um festival de cinema queer, por exemplo, a história de uma jovem adolescente a lidar com a sua sexualidade no seio de uma família com ideais meio conservadores não é, afinal, nenhuma novidade. Pelo menos, não o é a uma primeira análise.

Infelizmente, mais raro ainda que cinema sobre indivíduos queer, é cinema sobre indivíduos queer não caucasianos. A norma, são obras focadas em homens brancos homossexuais que parecem modelos. Só por isso, “Pariah” merece ser olhada com algum respeito, sendo obra de uma cineasta lésbica afro-americana em gesto semiautobiográfico.

Esta sua longa-metragem de estreia não vale somente pela raridade do seu potencial representativo. Acima de tudo, este é um drama humanista interpretado com um naturalismo causticamente autêntico. As cenas entre a protagonista e sua mãe enfurecida são quase dolorosas de observar, tal é o poder dos desempenhos de Adepero Oduye e Pernell Walker nesses papeis. Com isso dito, a verdadeira estrela do filme é Bradford Young, um dos melhores diretores de fotografia da atualidade que, em “Pariah”, nunca viola o naturalismo da história, mas retrata atrizes e ambientes urbanos com um estilo quase impressionista, capaz de exteriorizar a psique fogosa da sua personagem principal.




23. TAEKWONDO (2016) de Marco Berger e Martín Farina

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Tensão sexual sintetizada em forma de filme.

Ao longo da sua carreira, Marco Berger e Martín Farina têm vindo a especializar-se na sintetização de desejo sexual em forma de cinema. Não queremos com isto dizer que os seus filmes estão cheios de cenas de sexo, muito pelo contrário. Se há algo que define a filmografia destes dois cineastas argentinos é a tensão erótica que eles conjuram nos seus dramas que, apesar da sua leveza tonal, funcionam quase como thrillers Hitchockianos.

Em “Taekwondo” essa natureza reminiscente do mestre do suspense é levada às suas antípodas. Numa casa de verão, um grupo de amigos, todos eles homens na casa dos 20, reúnem-se para passarem alguns dias relaxados. Um dos convidados é alguém que só o dono da casa conhece. Este convidado é gay e é através do seu olhar que percecionamos estes dias de folia e lazer, onde corpos masculinos em estado de constante nudez e seminudez se estão sempre a pavonear diante dos nossos olhos.

Quando o filme passou no QueerLisboa, em 2016, era quase palpável a tensão na sala. No final, depois de uma eternidade de dúvida e jogos eróticos que nunca chegam a lado nenhum, o advento de um beijo foi suficiente para levar os espectadores a aplaudirem o filme com júbilo. Se é necessária uma prova em como o cinema mais erótico, muitas vezes é o menos explícito, então “Taekwondo” e suas provocações sugestivas são a maior prova disso.




22. UMA MULHER FANTÁSTICA (2017) de Sebastián Lelio

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Daniela Vega é uma estrela!

O vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro mais recente é o magnífico drama chileno “Uma Mulher Fantástica”, onde a história de uma mulher transgénera a lidar com as indignidades que acompanham a morte do seu namorado mais velho ameaça ser uma tragédia, mas acaba por se revelar como um hino eufórico à resiliência humana. É também, convém dizer, uma espetacular carta de amor e admiração aos talentos, carisma e presença da atriz e cantora Daniela Vega.

Aliás, Vega foi a principal inspiração que levou Sebastián Lelio a edificar esta obra, construindo todo o filme em volta da sua protagonista. É fácil entender o fascínio de Lelio quando testemunhamos a magnificência da atriz em cena, sua capacidade para telegrafar raiva reprimida e a autenticidade emocional que ela traz a esta história que, apesar de não brilhar pela originalidade, é executada com impecável virtuosismo.

Se houvesse justiça no mundo, Daniela Vega estaria já a caminho de ser uma das novas grandes estrelas do cinema mundial, mas, infelizmente, devido à sua identidade de género, tal está longe de ser uma certeza. Oxalá ela consiga obter papeis tão merecedores do seu talento como aquele que tem em “Uma Mulher Fantástica”. Seria um crime manter tal presença fora da glória do grande ecrã.




21. LOVE IS STRANGE – O AMOR É UMA COISA ESTRANHA (2014) de Ira Sachs

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Cheio de ternura, detalhes graciosos e muito afeto familiar.

Depois da sôfrega autópsia de uma relação destinada ao fracasso em “Deixa as Luzes Acesas” era difícil supor que Ira Sachs iria trazer, ao panorama do cinema queer contemporâneo, uma das mais delicadas e gentis explorações de relações amorosas de longa duração. Apesar disso, assim é “Love is Strange – O Amor é um Lugar Estranho”, uma espécie de reinvenção da narrativa de “Uma História de Tóquio” na Nova Iorque dos nossos dias.

Nesta história, um casal gay de longa data e recentemente casado vê o seu futuro posto em causa quando se vê sem casa. Os dois homens são forçados a ficar separados em casas de amigos e familiares que, não obstante as suas boas intenções, se mostram justamente enfadados com esta intrusão inesperada no seu quotidiano.

Cheio de ternura e uma coleção inestimável de minuciosos detalhes, tanto em texto como em concretização visual e performance, o filme é uma jóia tão valiosa como é modesta. Quando indivíduos queer de idade avançada são figuras quase inexistentes no media moderno, o retrato franco que este filme faz de uma parceria romântica com décadas de existência é algo raro e merecedor de admiração. Ainda mais interessante é o modo como Sachs ilustra relações intergeracionais, como que a anteceder o seu filme seguinte, “Homenzinhos”.




20. DESDE ALLÁ (2015) de Lorenzo Vigas

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Alfredo Castro e Luis Silva são sublimes.

A figura de um homem mais velho reprimido e ainda a viver dentro do armário e a personagem de um prostituto que usa o corpo e a juventude para sobreviver nas ruas são dois arquétipos muito comuns no cinema queer, especialmente se analisarmos obras dos anos 90 e 80. Em “Desde Allá”, o realizador venezuelano Lorenzo Vigas traz especificidade nacional, cultural e económica à dinâmica entre essas figuras clichés, construindo, ao mesmo tempo, um dos mais peculiares romances dos últimos tempos.

Num registo austero que parece imitar a severidade interpretativa de Alfredo Castro, como o homem mais velho, Vigas delineia relações sociais e pessoais, construindo complexas tapeçarias de desejo e paixão que nem mesmo as personagens parecem entender completamente. Uma coisa é certa, por muito rígido que o seu estilo possa parecer, é impossível negar o erotismo na observação do realizador.

Com isso dito, “Desde Allá” não seria nada sem a prestação titânica do jovem Luis Silva. O ator dança uma coreografia de submissão, dependência e domínio com Alfredo Castro, nunca simplificando as contradições da sua personagem ou a incógnita do seu desejo. Afinal, se há algo que desafia a razão, é o desejo que floresce no coração humano.




19. O DIÁRIO DE UMA RAPARIGA ADOLESCENTE (2014) de Marielle Heller

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Loucamente criativo, audaz, atrevido e surpreendentemente íntimo.

Dentro do panorama da clássica história do jovem a entrar na idade adulta, qual épico de crescimento e autodescoberta, “O Diário de Uma Rapariga Adolescente” destaca-se como uma das propostas cinematográficas mais peculiares e originais dos últimos tempos. Parte disso, devém do simples facto de que, ao invés de se focar num rapaz, o filme de Marielle Heller centra-se na figura de uma adolescente queer a confrontar o turbilhão de desejos, inseguranças e sonhos que explode dentro de si.

O filme, passado nos anos 70 e recheado de dinâmicas sexuais arriscadas, é uma verdadeira orgia de estilo, meio descalabrado, meio caótico. Felizmente, mesmo quando a animação entra no seu jogo estético, Heller nunca perde controlo do seu trabalho e usa todos os truques na sua manga para edificar um retrato da sua protagonista confusa, que emprega até os contrastes entre gramáticas cinematográficas como método de ilustrar a psicologia desta rapariga adolescente.

A ajudar a completar esta receita triunfal está, pois claro, a prestação de Bel Powley no papel principal. Verdade seja dita, todo o elenco do filme é exímio e exemplar, mas observar Powley devorar o papel e o filme em que está com a confiança de uma veterana, é ver o nascimento de uma nova estrela de cinema.




18. JOURS DE FRANCE (2016) de Jérôme Reybaud

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Grindr e minimalismo cinematográfico.

Hoje em dia, é quase impossível conceber-se uma visão franca e abrangente da cultura gay sem se abordar, de algum modo, o fenómeno dos apps e redes sociais pelas quais homens procuram sexo, e até potenciais relações amorosas, com outros homens. Dos vários filmes que colocam tais dinâmicas virtuais no centro das suas pesquisas, “Jours de France” é talvez o exemplo mais interessante.

Este filme de Jérôme Reybaud consiste numa espécie de odisseia sexual através das paisagens rurais de França, onde o Grindr é o único guia de dois homens. Um deles parece procurar só prazer. O outro é o namorado do primeiro e está a usar a App como modo de encontrar o seu amante em fuga.

Por muito melodramática que tal descrição possa parecer, o filme em si é um peculiar exemplo de minimalismo cinematográfico, preferindo sempre desenrolar-se em tableaux cuidadosamente compostos em que ora reina o silêncio ou o burburinho de diálogos naturalistas. Assim se desenvolvem temas complicados como a autoaniquilação do ego e a necessidade básica humana por contacto e companhia que muito transcendem a paixão do contacto sexual. Resta dizer que, para um filme tão focado em sexo anónimo, esta é uma obra interessantemente desprovida de sexo explícito, preferindo encontrar intimidade em imagens mais sugestivas, como um homem a tocar uma parede, em busca do toque do desconhecido que se esconde atrás dela.




17. A CRIADA (2016) de Park Chan-wook

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Uma tapeçaria de enganos, mentiras, traições e paixão descontrolada.

A Criada” representa uma das obras mais audaciosas do mais audacioso dos cineastas da Coreia do Sul, o incomparável Park Chan-wook. Dividido em três partes que recontem todas a mesma narrativa através de perspetivas distintas, o filme é uma tapeçaria de enganos e traições, manipulações, mentiras, ilusões e desejos proibidos. Além de tudo isso, é também um romance entre uma vigarista a disfarçar-se de criada e uma senhora aristocrática.

Escusado será dizer que o enredo de “A Criada” é um tanto ou quanto complexo, mas o que espanta no meio de todo o seu maximalismo, quer em termos de história como de puro fausto formal, é a claridade das suas emoções. A paixão subsume tudo o resto quando as duas personagens principais estão em cena e, nem mesmo alguns dos cenários mais espetaculares que o cinema já viu, conseguem ofuscar a química entre Kimk Tae-ri e Kim Min-hee.

Sendo este um filme de Park Chan-wook, não há escassez de cenas chocantes incluindo sequências de tortura. Contudo, o que mais deu que falar em “A Criada” foi o modo como o realizador filmou as cenas de sexo, chegando mesmo a repeti-las na narrativa. Primeiro, vemos a intimidade e o carinho, depois a sensualidade da carne. Apesar de alguma lascívia desnecessária, é raro o filme que use sexo, especialmente sexo não heteronormativo, de uma forma tão concetualmente complexa.




16. OS MIÚDOS ESTÃO BEM (2010) de Lisa Cholodenko

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Quando a paz familiar é perturbada pela curiosidade adolescente e boas intenções paternas.

Um subgénero do cinema queer que vai ganhando cada vez mais popularidade é o retrato de famílias modernas que fogem à convenção heteronormativa. “Os Miúdos Estão Bem” de Lisa Cholodenko é um dos melhores exemplos deste tipo de projeto, sendo essencialmente uma reflexão sobre uma unidade familiar a ter de lidar com as consequências da sua edificação pouco ortodoxa.

Mais especificamente, o filme conta a história de como os filhos de duas mulheres decidem conhecer o homem que doou o esperma pelo qual nasceram, acabando por trazer esse estranho para o seio da sua dinâmica familiar. Escusado será dizer que a inserção desta figura estranha no meio da família causa vários problemas, forçando as mães e seus filhos a refletirem sobre o modo como vivem, suas lealdades e o que é que quer dizer ser uma família.

Tal descrição pode sugerir uma obra deprimente e incrivelmente séria, mas Lisa Cholodenko nunca permite que tal ocorra, mantendo o filme num registo de leveza humorística, que só por vezes se deixa levar pelas facetas mais dramáticas e dolorosas da sua premissa. Para além da mestria da sua realizadora e argumentista, a grande mais-valia do projeto é o seu espetacular elenco. Mia Wasikowska, Annette Bening e Mark Ruffalo dão aqui alguns dos melhores desempenhos das suas carreiras.




15. O DESCONHECIDO DO LAGO (2013) de Alain Giraudie

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Suspense explícito, com money shots incluídos.

Por muito contraintuitivo que possa parecer, é raro o filme com sexo explícito que seja, ao mesmo tempo, erótico. Assim é o caso de “O Desconhecido do Lago”, uma obra que ousadamente inclui momentos de sexo entre homens não simulado e mostrado sem pudor pela lente provocadora de Alain Giraudie, mas que, na sua essência, nunca usa isso como um mecanismo titilante.

Longe de ser um festim sensualista, o filme é um thriller que, como tantos filmes de terror adolescente, parece funcionar como uma metáfora para a propagação de doenças sexualmente transmissíveis. Tal metáfora é aqui manifesta na história de um assassino que começa a causar alarme num lugar de cruising gay, onde, todos os dias, homens vagueiam em busca de sexo anónimo junto às margens do lago titular.

Com piscares de olho ao suspense de Hitchcock e ao absurdismo cómico de Buñuel, “O Desconhecido do Lago” é uma obra maravilhosamente idiossincrática, especialmente no que diz respeito às dinâmicas interpessoais do seu protagonista. Referimo-nos à sua afeição autodestrutiva pelo assassino, como se a possibilidade de aniquilação pessoal fosse um afrodisíaco, e a cumplicidade curiosa que se forma entre ele e um homem que se diz ser heterossexual e que todos os dias se senta às margens do lago, não em busca de sexo, mas talvez de companhia humana.




14. MARIA RAPAZ (2011) de Céline Sciamma

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Céline Sciamma é a grande retratista da juventude francesa atual.

É pouco usual encontrarmos obras dispostas a abordar questões de identidade de género e sexualidade num contexto pré-adolescente. Parece ainda haver um estigma em aceitar que, por vezes, não é preciso o advento da puberdade para alguém começar a ir contra a ordem heteronormativa da sociedade e cultura atual.

Felizmente, existem cineastas como Céline Sciamma, dispostas a arriscar e tratar sem condescendência ou alienação tais fenómenos. Assim é “Maria-Rapaz”, uma história sobre uma criança andrógina, potencialmente um menino transgénero em processo de autodescoberta, cujos pais e comunidade insistem em catalogar como uma rapariga que está somente a passar por uma fase temporária.

Sciamma, que se tem vindo a afirmar como uma das mais espetaculares retratistas da juventude francesa em cinema, aborda o projeto com uma perspetiva empática e sincera, tentando genuinamente expressar a interioridade da sua protagonista sem nunca universalizar os seus dilemas. É na especificidade pessoal que o filme encontra o seu triunfo, especialmente quando se foca nas dinâmicas domésticas em que a sua protagonista cresce. Aí e na prestação sublime da jovem Zoé Héran no papel principal.




13. SPA NIGHT (2015) de Andrew Ahn

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O templo familiar converte-se assim num labirinto de desejos ilícitos.

Há poucas figuras mais sistematicamente dessexualizadas na cultura americana que a do homem asiático. Até mesmo na subcultura gay, parece que indivíduos desta etnicidade ora são invisíveis ou fetichizados em epítetos de orientalismo ofensivo. Contrariando tudo isso, Andrew Ahn propôs, em “Spa Night”, um filme de imensa especificidade cultural sobre um jovem de origem sul-coreana a debater-se com questões de sexualidade e dever filial.

O projeto em si, representou quase um gesto autobiográfico para o cineasta coreano-americano, trazendo uma natureza causticamente pessoal à obra final. Aí, o realizador foca-se de modo quase obsessivo no espaço do spa coreano, um símbolo da ligação de muitas famílias imigrantes nos EUA à cultura do seu país de origem, e que, entre a comunidade gay, se torna em lugar para encontros sexuais anónimos. O templo familiar converte-se assim num labirinto de desejos ilícitos, proibidos por uma vergonha internalizada e vontade de agradar a valores tradicionais.

Acima de tudo, o filme é um estudo de personagem a vibrar de sensualidade transgressiva, com Ahn a construir autênticas orgias sensoriais através de som, montagem e a imagem desfocada de dois joelhos suados a tocarem um no outro. A experiência é intoxicante, mas também profundamente humana, estando todo o filme ancorado por uma grande prestação introspetiva de Joe Seo.




12. CABELO REBELDE (2013) de Mariana Rondón

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As mães sabem sempre.

Por muito surpreendente que uma saída do armário possa ser, uma mãe sempre soube, no seu âmago, mesmo que não quisesse aceitar tal realidade. Independentemente da veracidade de tais afirmações, uma coisa é certa. A mãe do protagonista de “Cabelo Rebelde” sabe que o seu filho é diferente. No entanto, longe de reagir a isso com compaixão e apoio maternal, ela só consegue transmitir medo.

A complexidade do filme de Mariana Rondón não existe somente na homofobia internalizada da figura materna, sendo a junção desse preconceito com o amor que ela sente pelo filho o grande dilema da obra. Ao mesmo tempo, não é a personagem adulta quem a realizadora privilegia, sendo que a sua câmara está sempre preocupada em entender a existência do menino de nove anos com uma identidade de género complicada e cuja maior ambição presente é alisar o cabelo encaracolado para poder tirar uma fotografia charmosa.

“Cabelo Rebelde” muito transcende o retrato de uma família disfuncional, mesmo que nunca sublinhe a sua própria importância. Afinal, é raro o projeto que se interesse por observar criticamente um ambiente social, aqui os bairros pobres de Caracas, ao mesmo tempo que lida com questões de género e o florescer dos primeiros desejos romântico-sexuais numa criança que ainda não os consegue compreender totalmente.




11. HENRY GAMBLE’S BIRTHDAY PARTY (2015) de Stephen Cone

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Stephen Cone é um dos grandes humanistas do cinema norte-americano contemporâneo.

O seio de uma comunidade evangélica cristã nos EUA não parece ser o cenário ideal para um filme queer, a não ser que nos estejamos a referir a uma sôfrega tragédia. No entanto, é precisamente nesse contexto social que Stephen Cone desenrola o seu mais belo e complexo filme até hoje, “Henry Gamble’s Birthday Party”.

A narrativa começa e acaba na cama do protagonista titular, mas, ao longo do dia do seu aniversário, Cone perscruta as vidas de todo um ecossistema social que floresce em seu redor. Num registo de naturalismo nunca forçado, onde a mundanidade do quotidiano nunca é violada, o realizador traça um retrato comunitário cheio de graça e terríveis contradições.

Há quem chame a esta modesta obra-prima humanista, “A Regra do Jogo” reinventada por uma perspetiva queer nos EUA dos nossos dias e, verdade seja dita, o filme em si não está muito longe de tal descrição. Tal como no clássico de Renoir, a câmara de Cone flutua pelos espaços sociais e domésticos, usando as dinâmicas pessoais das suas dezenas de personagens para construir uma tapeçaria humana cheia de mistério, ameaça e a mais pura empatia imaginável. Não há nada mais desconhecido e maravilhoso que as profundezas da psique humana e seu potencial tão grande para amor como para crueldade e Cone sabe bem isso.




10. A VIDA DE ADÈLE (2013) de Abdellatif Kechiche

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Um marco histórico do Festival de Cannes.

Em toda a história do Festival de Cannes, só uma vez é que a Palme d’Or foi entregue a mais alguém que não somente o realizador do filme premiado. Isso ocorreu em 2013, quando o júri presidido por Steven Spielberg decidiu entregar a Palme, não só a Abdellatif Kechiche, como também às duas atrizes principais de “A Vida de Adèle”, Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux.

Vendo o filme, é fácil entender as decisões de Spielberg e seu júri. Kechiche filma praticamente toda a narrativa sobre o despertar sexual e entrada na idade adulta de uma jovem francesa num registo de híper naturalismo, obsessivamente focado nas faces das figuras humanas. A experiência final é um tanto ou quanto claustrofóbica, especialmente quando o espectador é confrontado com o poder de Exarchopoulos e Seydoux, cuja intensidade emocional é como um vulcão em erupção, pronto a incinerar quem quer que se ponha no seu caminho.

É certo que as famosas cenas de sexo explícito e gráfico são mais ou menos chocantes e muito numerosas para uma audiência não acostumada a tais imagens, mas o seu papel na narrativa é irrefutável. Afinal, parte do crescimento de Adèle, parte essencial da sua relação com a mulher que é o seu primeiro amor, é sexo e desejo, é carne e erotismo. Num filme tão cru como este, atenuar tal faceta em nome dos bons costumes seria algo infeliz e talvez até um pouco hipócrita.




09. 120 BATIMENOS POR MINUTO (2017) de Robin Campillo

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O corpo enquanto objeto político.

De todos os títulos nesta lista, “120 batimentos por minuto” é uma das duas obras mais declarativamente políticas. Trata-se de um retrato das ações militantes de um grupo ativista queer francês durante os anos 90, no auge da crise do HIV. Também é, em parte, um requiem e um hino de amor de Robin Campillo que baseou muito do filme nas pessoas que conheceu e nas experiências que teve durante esse mesmo período histórico.

Talvez por essa componente pessoal, “120 Batimentos por Minuto” renuncia a muitos dos clichés do cinema de interesse histórico, mesmo do cinema queer, recusando-se a cobrir os seus temas com a pátina confortável do passado distante. Pelo contrário, esta é uma bomba cinematográfica a explodir de raiva, pânico e sede de viver, que evita a narrativa do herói singular em prol de uma observação de resistência enquanto um esforço coletivo.

Um dos elementos mais merecedores de grande destaque no filme é o seu tratamento do corpo e das atividades sexuais das suas personagens, quer sejam seropositivas ou não. Aqui, o corpo humano, especialmente o corpo queer, é o suprassumo objeto político. Por seu lado, o sexo é tornado em ativismo do indivíduo para consigo mesmo e a morte, causada por uma doença que muitos definiram como um castigo divino a uma comunidade pervertida, é o mais violento grito de indignação imaginável.




08. LAURENCE PARA SEMPRE (2012) de Xavier Dolan

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Uma explosão de maximalismo estilístico.

A protagonista titular de “Laurence Para Sempre” é uma mulher transgénera lésbica que, na boa tradição de muitas divas cinematográficas do noir, conta a sua história a através de flashbacks. A narrativa que se desenrola por meio das suas palavras e reminiscências, contudo, não é, como num noir, uma de crime, mas sim um romance, tão apaixonante como complicado.

De viver como um professor de secundário infeliz até se tornar na mulher que sempre soube ser, a história de Laurence é contada por Xavier Dolan com a sua exuberância habitual. Sequências inteiras parecem mais videoclips avant-garde que normais passagens de um filme narrativo, mas as indulgências de Dolan nunca são isentas de sentido dramatúrgico. Em “Laurence Para Sempre”, tais excessos são claras extensões das emoções em cena, onde uma mulher abandona a identidade masculina e outra tem de lidar com o homem que amava tornar-se numa mulher.

Entre música, figurinos, maquilhagem e fotografia, todo o filme é um espetáculo sensorial do mais alto gabarito, mas é nas prestações dos seus atores principais que Dolan encontra a perfeita ilustração das suas intenções operáticas. Apesar de não ser uma pessoa transgénera, Melvil Poupaud retrata a viagem emocional de Laurence com necessária candura. Com isso dito, o filme pertence a Suzanne Clément, cuja performance a borbulhar de confusão romântica transcende o melodrama para se tornar em algo semelhante a uma força da natureza sintetizada em cinema.




07. GOD’S OWN COUNTRY (2017) de Francis Lee

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A história de amor mais importante da era Brexit.

God’s Own Country” é tanto um filme sobre paisagens como é um filme sobre pessoas. Aliás, o seu título refere-se a um nome usualmente dado a Yorkshire, o condado inglês que serve de pano de fundo ao romance entre um jovem resignado a viver prisioneiro da quinta da sua família e um imigrante romeno que vem auxiliar com o nascimento de ovelhas e acaba por mudar a vida do homem por quem se apaixona.

Estreado no rescaldo do voto do Brexit, o filme é uma cápsula no tempo de uma Grã-Bretanha xenófoba e em carrancudo autoisolamento. É também um retrato de esperança e paixão animalesca, uma canção de amor que celebra a ternura e a empatia em detrimento do estoicismo inexpressivo que tantos ingleses parecem encarar como uma marca de honra e respeitabilidade. Apoiando-se num registo de brutalidade sensorial, quase tátil, Francis Lee parece cuspir nesse estoicismo, exacerbando o poder e importância dos nossos instintos primordiais, da terra em que plantamos o pé, da paixão que nos dá razão para resistir as intempéries e seguir em frente mesmo quando tudo parece perdido.

O melhor de tudo é que, ao contrário de muita ficção LGBTQ+, “God’s Own Country” tem um final feliz. E desengane-se quem supuser que isso é um compromisso comercial, pois, mais radical ainda que mostrar o sofrimento dos marginais da sociedade, é expor a sua felicidade triunfal como vemos aqui.




06. ORGULHO (2014) de Matthew Warchus

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Um hino à empatia, tão hilariante como comovente.

Quando se fala de cinema queer explicitamente político, muitos pensarão logo em obras provocadoras como “120 Batimentos por Minuto”, que também se inclui nesta lista. Contudo, tão poderoso e importante como a provocação indignada, é o humanismo sincero que é trazido ao grande ecrã por um filme como “Orgulho”.

Baseado em factos verídicos e retratando pessoas que realmente viveram esta luta, o filme conta a história de como, em 1984, durante a greve dos mineiros, uma associação queer londrina decidiu ajudar os seus camaradas em necessidade. As consequências desses esforços, acabaram por ser fulcrais para o avanço dos direitos LGBTQ+ no Reino Unido, mas, na sua essência, este é um testamento ao poder da empatia. Se todos os oprimidos se juntassem, talvez mudança pudesse mais facilmente ocorrer.

O melhor de tudo é que o filme é uma delícia cómica do princípio ao fim, não descurando no drama humano, mas sempre recusando cair na tragédia. Ainda mais, os cineastas integraram na sua construção narrativa os ideais humanistas do seu discurso, resultando num filme com um dos elencos mais ricos deste século. Todas as personagens que aparecem diante da câmara interessam, afinal, são todas elas humanas.




05. WEEKEND (2010) de Andrew Haigh

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A vida é feita de oportunidades perdidas. Não percas esta.

A vida é e feita de oportunidades perdidas. Afinal, alguém consegue dizer que nunca pensou o que teria acontecido se tivesse feito uma escolha diferente? Se, naquela noite, naquele bar, tivesse falado com aquele estranho charmoso cuja presença nos era então intoxicante. Poderia ter mudado tudo, poderia ter mudado nada. Em “Weekend”, ambas as possibilidades são verdade.

Na sua primeira longa-metragem, Andrew Haigh retrata, com virtuoso naturalismo, as vidas de dois homens que, de uma one night stand, constroem uma ligação a fervilhar de intimidade, que lhes permite abrir-se de um modo que nunca outrora fizeram para com outra pessoa. Como a vida de uma borboleta, tal maravilha é tão bela como efémera e, por uma série de motivos exteriores, eles só podem estar juntos durante um fim-de-semana até que suas vidas os levem para longe um do outro.

Tão triste como comovente e apaixonante, “Weekend” é uma experiência que nos submerge em emoção e quase nos afoga na intensidade daquilo que nos faz sentir. No final, sentimo-nos felizes por ter tido oportunidade de sentir aquilo a que o filme nos sujeita e, mesmo entendendo o desgosto inerente a tal narrativa, desejamos um dia viver algo semelhante.




04. CHAMA-ME PELO TEU NOME (2017) de Luca Guadagnino

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Embriagado com o fulgor do primeiro amor.

No norte de Itália, durante os meses cálidos do verão de 1983, um estudante universitário americano e o filho de um dos seus professores conhecem-se, apaixonam-se, passam umas semanas perdidos no paraíso que é o corpo e a companhia do outro e, no final, são separados pelas circunstâncias que, desde início, definiram o seu romance como algo tão efémero como o próprio estio. Assim é a história de Oliver e Elio, adaptada ao grande ecrã por Luca Guadagnino e James Ivory com base num livro de André Aciman.

Meras palavras são incapazes de descrever a beleza transcendente de “Chama-me Pelo teu Nome”, um filme capaz de cristalizar a sensação do primeiro amor de modo magistral, essa paixão que nos deixa inebriados e cuja perda deixa cicatrizes que nos duram toda uma vida. Cicatrizes, que, apesar da sua dor, somos sortudos por possuir e sentir.

Como nos diz Michael Stulhbarg no monólogo extraordinário que sintetiza os principais temas do filme, essa dor é algo precioso pois indica que o que sentimos teve valor, teve poder. Toda essa dor, todo esse esplendor, é visível na prestação de Timothée Chalamet, que aqui dá o tipo de desempenho destinado a ser venerado em décadas vindouras como os grandes trabalhos de Dean, Brando e Pacino são hoje em dia.




03. MOONLIGHT (2016) de Barry Jenkins

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Representação importa.

“Moonlight” é o primeiro filme de temática LGBTQ+ a ganhar o Óscar de Melhor Filme. Trata-se de um marco histórico que não deve ser ignorado, mas que também não encapsula em si toda a glória desta inegável obra-prima da sétima arte.

Para começar, Moonlight” é um trabalho de imensa especificidade, propondo-se a contar a história de Chiron, um jovem gay afro-americano a viver num dos bairros mais pobres de Miami. Enquanto espectador, acompanhamo-lo desde a infância à idade adulta, em três capítulos onde perscrutamos a sua negociação constante entre quem é e quem a sociedade demanda que ele seja. Trata-se de um filme doloroso e comovente, executado com um formalismo que é preciso e lírico, uma obra que não é universal e por isso tão mais especial.

Aquando da sua vitória na noite dos Óscares, muitos foram aqueles que apontaram para razões políticas como justificação do seu triunfo. Tal argumentação normalmente vem acompanhada por um juízo negativo, como se arte e a política fossem algo de algum modo separável. Não são e a representação importa. A falta de representação de minorias nos media é uma dolorosa prova de como a nossa sociedade tende a desvalorizar, ou mesmo desumanizar, a experiência e existência dessas pessoas. Um filme como “Moonlight” é uma celebração dessas pessoas marginalizadas, desses indivíduos diferentes, dessas almas ignoradas que merecem ser admiradas, amadas e valorizadas como todos nós.




02. O ORNITÓLOGO (2016) de João Pedro Rodrigues

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Provocador, audaz, blasfemo e muito queer.

Muito falámos, até agora, do cinema queer com origem em países tão distintos como os EUA, a Venezuela, a Coreia do Sul e tantos outros. Contudo, ainda não tínhamos referido nenhuma obra nacional. Chegou altura de mudar isso, com “O Ornitólogo”, talvez a máxima obra do mais importante cineasta de filmes sobre temáticas LGBTQ+ em Portugal.

De certo modo, com suas componentes autobiográficas e repetição de temas e imagens de outras obras passadas, “O Ornitólogo” é o filme para o qual toda a carreira de João Pedro Rodrigues tem estado a apontar. Este conto profano e blasfemo, surrealista e metatextual sobre um observador e estudioso de vida aviária a percorrer o Douro é uma deliciosa orgia de surpresas e devaneios homoeróticos. Afinal, não é todos os dias que vemos um filme em que um homem gay fornica com Jesus, é batizado com um golden shower e é atormentado pelo Espírito Santo em forma de pomba.

Mesmo que o resultado estivesse longe da excelência estética e mecânica, “O Ornitólogo” já mereceria uma grande admiração pela sua abismal ambição concetual e imaginação profana, mas, felizmente para a audiência, o filme é um triunfo em quase todos os seus aspetos. Esta é uma proposta arriscada, ambiciosa e meio críptica, mas, para um espectador generoso e disposto a seguir Rodrigues até aos limites da sua imaginação, esta é também uma experiência cinematográfica do outro mundo.




01. CAROL (2015) de Todd Haynes

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O tipo de filme que justifica a existência do cinema.

Baseado num romance de Patricia Highsmith, “Carol” retrata o desabrochar de um romance entre Therese Belivet, uma jovem lojista aspirante a fotógrafa, e Carol Aird, uma dona-de-casa abastada em processo de divórcio no Inverno de 1951. Todd Haynes, um dos cineastas queer mais importantes na história do cinema é o homem que traz tal romance para o grande ecrã e fá-lo, cristalizando em cada fotograma a beleza da paixão que guia a narrativa.

Há quem chame à abordagem formalista de Haynes fria, glacial e alienante, mas tal não implica falta de emoção ou intensidade. Afinal, como é possível vermos algo que não paixão em forma de cinema em cenas como aquela em que Therese e Carol passam por um túnel de carro e a fotografia granulosa parece desfragmentar-se em impressões de texturas e gestos, onde a banda-sonora explode em melodias vocalizadas e todo o filme parece parar, suspenso na reveria jubilante da mente de quem se está a enamorar por outrem?

Com duas prestações de subtil e sublime estilização por parte de Cate Blanchett e Rooney Mara, “Carol” é um filme de gentis momentos de humanidade, delicadamente concretizados em abjeta perfeição estética. Este é um dos mais belos e essenciais romances a agraciar os cinemas mundiais nas últimas décadas e uma perfeita justificação para a existência desta arte nas nossas vidas. Como poderíamos, em boa fé, escolher outro filme para primeiro lugar que não “Carol”?

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