Cinema vs Televisão | Em defesa do cinema

 

Depois de passar as últimas três semanas a elogiar ferozmente o brilhantismo do pequeno ecrã e a documentar o declínio relativo da sétima arte, provavelmente pensarão que na minha opinião o cinema é mais coisa do passado do que do presente. Neste artigo procurarei moderar essa percepção, apresentando para isso alguns argumentos a favor da “velha” arte.

Em primeiro lugar, seria um erro descartar de forma rotunda a existência de filmes modernos de grande qualidade. Não é porque a televisão melhorou de forma drástica que se deve pensar que o cinema piorou de forma proporcional. Na verdade, uma rápida análise da colheita de 2014 parece indicar que o cinema continua a produzir obras de grande qualidade a um ritmo bastante aceitável.

Mesmo apesar da presença contínua de tubarões da cultura popular atual como The Walking Dead, Game of Thrones ou Vikings, muitos dos grandes momentos do entretenimento mundial do ano que passou chegaram pelo intermédio da sétima arte. Estrelas cadentes como Interstellar, Birdman ou John Wick brilharam de forma fugaz mas intensa no firmamento de 2014. A televisão teve grandes momentos no ano passado, mas o cinema também os teve, não só nos casos mencionados como em muitos outros.

Cinema vs Televisão Birdman

Na realidade, o cinema oferece uma seleção de títulos de qualidade bem mais  variada do que a televisão, sendo esse um dos seus maiores trunfos. O número de séries de televisão excepcionais tem vindo a crescer bastante nos últimos anos mas, ainda assim, dificilmente supera uma ou duas dezenas, e passando essa marca a qualidade cai de forma considerável. O cinema, por outro lado, continua a ser capaz de superar amplamente esses números, oferecendo obras bem menores em duração mas coletivamente bem superiores em número e variedade. Enquanto os amantes da televisão se vêm de certa forma obrigados a compartir os mesmos gostos e experiências devido a uma escassez relativa de séries de grande qualidade, os cinéfilos podem dar-se ao luxo de dividir-se em numerosas tribos regidas por gostos distintos.

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A variedade só é maior na televisão em dois casos: comédia e animação. Mesmo assim, todos os anos somos presenteados com uma série de filmes bastante decentes nestes géneros. 2014 não constitui uma exceção à regra, Agentes Universitários, Má Vizinhança e The Interview são comédias bastante razoáveis e filmes como Big Hero Six, O Filme Lego ou Como Treinares o Teu Dragão 2 fizeram de 2014 um dos melhores anos para o cinema de animação até à data.

Neighbors Cinema vs Televisão

Outro argumento que pode ser esgrimido contra a televisão tem a ver com a própria natureza de ambos os meios. A duração de filmes e séries de TV é bem diferente e constitui possivelmente a diferença mais marcante entre ambos. Os apologistas da TV geralmente utilizam a longa duração das séries para justificar a superioridade do meio face ao seu grande rival (argumento este que eu próprio utilizei no artigo precedente). No entanto, parece-me que a curta duração dos filmes pode ser um argumento a seu favor, e não contra. Afinal de contas, no mundo real, onde o tempo é um recurso extremamente precioso e limitado, ser um fã de cinema é bem mais fácil do que ser um admirador das séries de TV. Enquanto umas míseras vinte horas bastam para ver dez dos melhores filmes do ano, acompanhar dez boas séries ao longo do mesmo período exige um investimento consideravelmente maior de tempo (pelo menos umas cem horas). Além disso, enquanto ver um filme completo é uma atividade para uma tarde ou para uma noite, ver uma série de televisão do princípio ao fim é uma verdadeira epopeia que pode durar vários anos. Como tal, podemos afirmar com convicção que o cinema é uma forma de entretenimento bem mais fácil de ser gerida (e digerida) do que a televisão. Poderíamos dizer também que o cinema é uma alternativa superior à TV desde uma perspetiva de custo e benefício (custo referindo-se aqui ao tempo).

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Como tal, podemos afirmar de forma segura que existem argumentos de peso em defesa do cinema, d’entre os quais apenas uns poucos foram aqui referidos. Portanto, por muito que se passa criticar o cinema e admirar a televisão, acredito ser uma temeridade declarar de forma prematura a vitória do pequeno ecrã sobre o seu irmão mais velho.

 Bruno Vargas

 

Continua na próxima parte…

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fontes: The GuardianTime Out

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