“Superman - O Filme” (1978) © Warner Bros.

Cinemateca Portuguesa | O que ver em setembro (Parte I)

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A Cinemateca Portuguesa reabre as suas portas em setembro com destaque para homenagear  Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen. 

Para a rentrée cinematográfica começam as chegar os grandes filmes do ano nas salas de cinema comerciais. Contudo, para contrariar a tendência a Cinemateca – Museu do Cinema prepara três rubricas especiais dedicadas à poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen e ao poeta Jorge de Sena.

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“Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen em Correspondência”, “Jorge de Sena, Cendrada Luz” e “Sophia de Mello Breyner Andresen: Sirvo para que as Coisas se Vejam” são as três rubricas que prometem desvendar a visão cinematográfica dos poetas sobre o cinema português. Acontece que nenhum escreveu para cinema, mas na verdade os textos de Jorge de Sena são profundamente influenciados pela sétima arte, enquanto que a “ligação do cinema português” à poesia de Sophia “é uma constante”. Segundo a instituição:

Figuras ímpares da nossa literatura, Sophia e Sena foram referências importantíssimas na vida cultural portuguesa, reflexo de uma época e de uma geração que testemunha também o modo como o cinema era recebido e divulgado. Se se pode dizer que são múltiplos os mundos de Jorge de Sena e que múltiplos são os mundos de Sophia de Mello Breyner Andresen, também se poderá dizer que os seus mundos particulares são mundos muito diversos, porém, ligados por uma profunda amizade e por uma fortíssima coincidência de valores e princípios que sempre defenderam. Aliado aos seus universos, está o facto de terem sido entusiastas atentos da Sétima Arte e de terem considerado o cinema como uma arte essencial na representação e descoberta da vida, do Homem, da História, facto esse que se manifestou de modo diferente em cada um.

Para além da evocação de De Sena e Mello Breyner, a programação da Cinemateca em setembro é dedicada de novo ao cinema na Esplanada, onde os espectadores poderão assistir todas as sextas e sábados do mês aos melhores filmes ao ar livre.

Jennifer Jones
Jennifer Jones em “Duelo ao Sol” (1946) é uma das atrizes em destaque em setembro na Cinemateca | © Selznick International Pictures

Além disso, conta-se uma homenagem a Robert Kramer (1939–1999), realizador, argumentista e ator norte-americano e o especial dedicado ao Centenário de Jennifer Jones. Jennifer Jones foi nada mais, nada menos do que uma das mais célebres atrizes cujos trabalhos não só influenciariam gerações de atores, como também definiram aquilo que é hoje designado de Cinema Clássico de Hollywood.

Em março deste ano cumpriram-se cem anos sobre o nascimento de Jennifer Jones, uma das mais lendárias e carismáticas stars da Hollywood dos anos quarenta e cinquenta. Fogosa e insolente, imagem de marca que filmes como DUEL IN THE SUN ergueram à condição de sex symbol, Jennifer Jones era uma atriz versátil e plena de recursos, tão à vontade no melodrama ou no romanesco histórico como na comédia.

A par dos filmes, o Museu do Cinema tem regularmente exposições, sendo que este mês destaque a exposição sobre o “Cinema de Weimar (1919-1933). A exposição patente nas salas dos Carvalhos, Cupidos e 6×2 apresenta um conjunto de índices visuais de alguns dos temas, características e elementos desse cinema e pode ser visitada até fevereiro de 2020 das 14h30 às 19h30.

Conhece o horário dos filmes da Cinemateca em setembro, bem como a respetiva sala de exibição. 




“Limelight”, 02-09-21h30 | F.R.

limelight
Limelight © Warner Bros.

O filme em relação ao qual João Bénard da Costa aventou um dia a hipótese de ser “o melhor melodrama de todos os tempos”. Chaplin depois de Charlot, numa história de envelhecimento e de passagem por quem teve o segredo da arte do cinema de uma ponta à outra do seu percurso, e que, numa das alturas mais contraditórias da sua vida (entre um novo equilíbrio pessoal e a ameaça de uma rutura forçada com os EUA) convertia a irrisão em lágrimas. Perto do fim, um dos mais extraordinários encontros de gigantes de todo o cinema (Chaplin e Keaton) numa cena baseada na pura arte do olhar e do gesto, ou seja, o centro do centro desta arte das imagens em movimento. Embora Jorge de Sena não tenha escrito, que se saiba, crítica alusiva a LIMELIGHT, este seria certamente um dos filmes que consigo levava para a tal ilha deserta. E a Chaplin dedicou um dos seus mais belos textos sobre cinema – “Charlot, Hoje e Sempre”.




“Duel in the Sun”, 03-09-15h30 | F.R.

Cinemateca Portuguesa
Duel in the Sun (1946) © United Artists

A mais famosa produção de Selznick depois de GONE WITH THE WIND. Também aqui os realizadores se sucederam, mas a marca de King Vidor predomina sobre a breve passagem dos restantes (Sternberg e Dieterle). Há quem diga que o delirante final foi dirigido pelo próprio Selznick, com a intenção de valorizar a personagem de Jennifer Jones. A sensualidade domina este singular western sobre uma mestiça disputada pelos dois filhos de um grande rancheiro do Texas. A narração inicial (sobre Pearl, a “flor selvagem”) é feita por Orson Welles, não creditado no genérico.




“O Gabinete do Dr. Caligari”, 03-09-21h30 | F.R.

Cinemateca Portuguesa
Das Kabinett des Doktor Caligari (1920) © Archives du 7e Art/Decla-Bioscop

CALIGARI deu início ao que os historiadores do cinema denominaram Expressionismo Alemão, ou, como sugeriu Henri Langlois, o “caligarismo”, que se destaca pelos seus cenários e perspetivas deformadas, tortuosas, sombrias, oblíquas para representar as visões de um louco. Langlois também observou que este filme violava todas as regras vigentes e “agredia todos os hábitos”, abrindo ao cinema alemão as portas de uma conceção moderna do cinema. E o cinema alemão dos anos vinte do século XX, feito a seguir a CALIGARI, seria da mais alta ambição e da mais alta qualidade. Siegfried Kracauer viu no filme uma antecipação inconsciente do nazismo, a imagem do ditador em Caligari, figura malévola que orquestra a atuação de um criminoso em estado de hipnose. Realizado por Robert Wiene, O GABINETE DO DOUTOR CALIGARI deve muita da sua especificidade irrealista e demoníaca aos argumentistas Carl Mayer e Hans Janowitz.




“Madame Bovary”, 04-09-15h30 | F.R.

Cinemateca Portuguesa
Madame Bovary © Warner Bros.

Flaubert por Minnelli, com Jennifer Jones no papel de uma das mais célebres personagens femininas da literatura. A adaptação de Minnelli, típica de Hollywood, foi controversa, levando um crítico francês a escrever: “Há duas espécies de pessoas: as que acham que Madame Bovary é um romance de Flaubert e as que acham que é um filme de Minnelli.” A sequência do baile é um dos mais celebrados momentos do cinema do realizador.




“We Are Strangers”, 05-09-15h30 | F.R.

Cinemateca Portuguesa
Os Insurrectos (1949) © Columbia Pictures

O cenário é Cuba em 1930 sob a ditadura, pano de fundo para uma história de fracasso, tão típica de Huston. John Garfield é um americano que se liga a um grupo de rebeldes cubanos para a preparação de uma revolta, tendo como ponto de partida o atenta- do a um ministro. WE WERE STRANGERS foi visto, à época, como “uma peça de propaganda”, capitalista ou comunista, consoante as perspetivas, mas não à imagem da alegoria política contra a House Un-American Activities Committee imaginada com desencanto por Huston. Na Cinemateca, não é mostrado desde 2009.




“O Escritor Prodigioso” e “Sinais de Vida” 05-09-18h30 | L. P.

Cinemateca Portuguesa
Imagem de um dos filmes mais aclamados de Luís Filipe Rocha: “Cinzento e Negro (2015) © Fado Filmes

O ESCRITOR PRODIGIOSO, realizado por Joana Pontes, é um documentário sobre a vida e a obra de Jorge de Sena, baseado em testemunhos da sua viúva Mécia de Sena, e de personalidades que com ele se cruzaram, como Fernando Lemos, Hélder Macedo, José Saramago, José-Augusto França, Eduardo Lourenço e João Bénard da Costa. Onze anos antes de adaptar ao cinema Sinais de Fogo, Luís Filipe Rocha abordou em SINAIS DE VIDA diversos temas da obra de Jorge de Sena (a morte, o erotismo, o exílio, o mar) numa mistura entre real e imaginário, ficção e poesia.




 “Lisboa 2018” e “Past Perfect” , 05-09-21h30 | F. R.

Cinemateca
Lisboa 2018 (2019) © Curtas de Vila do Conde
LISBOA, 2018 é o filme de uma noite na cidade, presente nos sons exteriores do apartamento lisboeta em que um jovem casal se prepara para uma separação forçada pela viagem de ida que a rapariga tem marcada na manhã seguinte. O quotidiano dessa última noite mostra a cumplicidade do casal refletindo o retrato de uma geração que não tem a vida facilitada – “Amor, medo e ansiedade. […] O amor de uma jovem relação tenta sobreviver a uma noite quente no meio de um presente turbulento e das tensões trazidas por um mundo de futuro incerto.” Centrado nas personagens de dois soldados, FLORES põe em cena uma crise natural provocada por uma praga de hortênsias nos Açores, cuja população é forçada a abandonar as ilhas. “O filme assume uma reflexão nostálgica e política sobre território e identidade, bem como sobre o papel que assumimos nos lugares aos quais pertencemos.” Partindo da peça de teatro Antes, de Pedro Penim, PAST PERFECT propõe uma digressão pela natureza da melancolia que revisita a História e é marcada pela dimensão íntima do texto off de dois narradores.




“Nosferatu, o Vampiro”, 06-09-21h30 | F.R.

Cinemateca
Nosferatu, eine symphonie des grauens (1922) © © Archives du 7e Art/Prana-Film Berlin

“Quando chegou ao outro lado da ponte, os fantasmas vieram ao seu encontro.” Este célebre intertítulo de NOSFERATU, aliás apócrifo, abre as portas do cinema fantástico. A primeira e mais célebre adaptação do romance de Bram Stoker, Drácula, é uma das obras-primas máximas da história do cinema. “O sangue, o mar, a mulher. Em torno destas três imagens se articula a primeira das múltiplas adaptações para o cinema da célebre novela de Bram Stoker e do celebérrimo Conde Drácula”, escreveu João Bérnard da Costa. Nesta adaptação, em que Nosferatu é o “não morto” que espalha a peste e a morte, o pintor Albin Grau é o autor de cenários e guarda-roupa, o realizador dinamarquês Henrik Galeen assina o argumento, que Murnau filma em exteriores naturais com uma luz, sombras e paleta cromática (as tintagens e viragens da película a preto e branco) de inigualável fulgor.

O filme contará com apresentação da banda-sonora em vivo por parte de Filipe Raposo.




“Cluny Brown”, 06-09-22h30 | Esplanada

Cluny Brown
Cluny Brown (1946) © Twentieth Century Fox

CLUNY BROWN, último filme de Lubitsch (THAT LADY IN ERMINE foi completado por Preminger), é uma obra corrosiva sobre uma jovem canalizadora que, por via da profissão, conhece um escritor polaco por quem se apaixona. Os tradutores portugueses que acrescentaram o “pecado” ao título lá teriam as suas razões. “Este é o filme de Lubitsch em que a câmara menos se move e em que o vazio ocupa mais lugar. Cineasta tão ligado ao prazer e à carne, é sintomático que tenha terminado filmando o tabu desse prazer e dessa carne, ou o grande escândalo – o pecado – da sua jamais pacífica coexistência” (João Bénard da Costa).




“Superman – O Filme”, 07-09-15h | Palácio Foz – Cinemateca Júnior

Cinemateca Portuguesa
“Superman – O Filme” (1978) © Warner Bros.

Superman nasce como personagem de banda desenhada em 1933, pela mão de J. Siegel e J. Shuster, sendo o primeiro livro publicado na DC Comics em 1938. O planeta Krypton está a ser destruído por uma terrível catástrofe e o cientista Jor-El, com o intuito de salvar a própria espécie, envia o filho ainda pequeno – futuro Superman – para a Terra. Acolhida pelo casal Kent, a criança cresce ignorando a sua origem e escondendo as suas extraordinárias capacidades. Ao tornar-se jornalista em Nova Iorque toma conhecimento de todos os crimes da cidade e põe o seu alter-ego em campo. O homem tímido e desajeitado transforma-se num super-herói de fato azul, botas e capa vermelha, com o S de Superman ao peito. É seguramente o mais icónico dos filmes “Super-homem”, com Christopher Reeve no papel do fantástico Superman, Margot Kidder como Lois Lane, Gene Hackman no papel do terrível Lex Luthor e Marlon Brando como Jor-El. A apresentar em cópia digital.




“Route One / USA”, 07-09-21H (Atenção ao Horário) | F. R.

“Route One USA” (1989) © Les Films d’Ici

Como escreveu Robert Kramer: “ROUTE ONE/USA (…) era uma autêntica viagem e numa verdadeira viagem o ponto de chegada não é conhecido.” Da fronteira do Canadá a Miami, em percurso de Norte a Sul pela zona leste dos Estados Unidos. É este o périplo, ao longo da “Estrada nº1”, que Robert Kramer segue naquele que foi o seu primeiro filme rodado na América depois de um exílio voluntário de mais de dez anos. Estranheza (a estranheza que marca a própria relação de Kramer com os EUA) e familiaridade numa obra que não está longe de ser um “fresco” sobre a vida quotidiana americana, as suas contradições, a sua diversidade interna, cujo protagonista é mais uma vez Doc, a personagem central de DOC’S KINGDOM (1988) e uma espécie de alter ego do cineasta. Para muitos, é o “magnum opus” de Robert Kramer. A apresentar em cópia digital.




“Stazione Termini”, 09-09-15h30 | F.R.

Cinemateca
Jennifer Jones em Estação Terminus (1953) © Cinecittà

Internacionalização da carreira de Vittorio De Sica com vedetas de Hollywood, com Jennifer Jones à cabeça para uma história de tipo “neorrealista” escrita por Zavattini, que decorre quase integralmente na Estação Terminus de Roma. Nela se despedem uma americana em férias e o seu jovem amante, nela se evoca o romance que tiveram.




“Miracolo a Milano”, 10-09-15h30 | F.R.

Cinemateca Portuguesa
Anna Carena em O Milagre de Milão (1951) © Produzioni De Sica

“É uma fábula, e a minha única intenção é tentar um conto de fadas do século XX” (De Sica). Esse “conto de fadas” anda à volta de Toto, um jovem angélico que vê a beleza e a bondade por todo o lado. Procurando reconstruir o bairro de lata onde vive ao lado dos outros habitantes, descobre petróleo na área. Os capitalistas lançam-se ao assalto e Toto e a avó (uma fada) levam os deserdados para um paraíso longínquo que, à época, muitos identificaram como a URSS. “No futuro não precisaremos da história para compreender obras destas, a história é que precisará de se referir a elas para compreender a época em que surgiram” (Sena, 1952).




“Sunset Boulevard”, 10-09-18H30

Sunset Boulevard
Sunset Boulevard (1950) © Paramount Pictures

O filme que mudou a imagem de Hollywood no cinema. Billy Wilder “ressuscitou” Gloria Swanson retirada há muitos anos, para um papel que podia ser o dela própria (uma diva do mudo num patético comeback), num retrato negro da cidade dos sonhos – “interpretação magistral inultrapassável”, segundo Sena: “a inteligência certeira com que representou a aflitiva desumanização final de toda uma teoria mistificada da vida ficará na história do cinema como um dos mais corajosos gestos que uma celebridade terá executado… Só a loucura de uma derradeira aparição angustiadamente nimba, é uma despedida de beleza…” Stroheim, que a dirigiu em QUEEN KELLY (filme cuja projeção caseira dá azo a uma das mais emocionantes cenas de SUNSET BOULEVARD), interpreta o seu fiel mordomo. Cecil B. DeMille, Buster Keaton e Hedda Hopper aparecem brevemente, nos seus próprios papéis.

Mais informações sobre a programação podem ser consultadas aqui. Os bilhetes podem ser adquiridos na bilheteira da Cinemateca Portuguesa ou em bol

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