Como voltar a ser criança

Este mês viajei no tempo. Fechei os olhos e entreguei-me ao passado. Quando acordei, estava sentada num baloiço de metal que balanceava harmoniosamente. Sentia os meus cabelos ondeados enlearem-se com o vento e dançarem com a melodia suave que os pássaros silvavam. As minhas pequenas mãos seguravam as duas cordas metálicas e o meu sorriso rasgava-se com a simplicidade de ser eu.

Hoje, no dia da criança, visto-me de mim. Encolho-me e volto a sentir como sentira, há tempos. Na verdade, a menina nunca morreu. Assim, como menina que sou, dedico esta crónica a todas as crianças do mundo: pequenas ou adultas.

Estamos no ano de 1994. Sentada no meu sofá castanho, enfrento o ecrã que parece tão grande! Na minha pequeneza, fixo o olhar na enormidade que se enche com imagens animadas. O filme vai começar.

O pôr-do-sol enche o ecrã, acordando todas as criaturas da selva: rinocerontes, antílopes, suricatas, leopardos e aves. Os elefantes caminham vagarosamente; as aves voam em grupo, cruzando a cordilheira com o seu cândido manto; os veados saltam alegremente e as sonolentas girafas sobem, lentamente, as colinas. São tantos os animais e todos eles caminham para um mesmo lugar. Já todos juntos, esperam pelo nascimento do pequeno Simba, filho do Rei Leão. A música culmina com Rafiki que, lá em cima, eleva o pequeno nas mãos, mostrando-o a todos.

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É esta a imagem que me marcou como criança e que me faz sentir os desenhos animados como tão especiais.

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“O Rei Leão”

Despindo-me do filme mais apaixonante da minha infância, “O Rei Leão” (The Lion King), da Disney, caminho novamente pelo tempo e encontro outras fitas. Guardo comigo todas as que me fizeram sentir pequena, novamente.

A primeira é “Up – Altamente” (Up), de 2009. Para ser honesta, não encontro palavras para descrever o que este filme me proporcionou. Ao revivê-lo, este mês, voltei a assoberbar-me com sentimentos tão puros que jamais poderão ser encarados com displicência. Chorei, com aquela história de amor e de amizade. Senti-me a voar, numa casa familiar puxada por um arranjo de coloridos balões. E aí entendi: se ser adulto é esquecer o que é sentir, então devolvam-me a inocência de ser pequeno.

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“Up-Altamente”

Um outro filme, “WALL.E”, de 2008, mostrou-me que as palavras são meras formas de expressão. Apesar de viver com elas e de amá-las, compreendi que é possível ignorá-las… e quem me demonstrou isso foram dois robots! É engraçado como nós, humanos, conseguimos ignorar a complexidade que nos envolve nesta imensa teia de sentidos. Tantas vezes gritamos até ensurdecermos… quando, na verdade, o ruído é apenas voz. O corpo permanece amolecido nas cadeiras, embriagado pelos próprios umbigos, desgastado por ações que se perderam. WALL.E devolve os sentidos aos humanos. Não estaremos nós assim, sentados num conforto que nos incapacita, aos poucos, de caminhar e de ir mais além?

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“WALL.E”

São muitos os filmes que guardo comigo. Poderia escrever sobre cada um deles até ficar com os dedos feridos. Porém, escolho terminar este texto com “O rapaz do Papel” (Paperman), uma curta-metragem dirigida por John Kahrs em 2012, que nos apresenta a mais simples forma da paixão. Sem falas, 7 minutos entregam-nos uma mensagem que algumas horas depreciam.

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“O Rapaz do Papel”

Na mais simples forma de agir, inspiremo-nos nos desenhos animados da nossa vida e deixemo-nos ser, simplesmente, nós.

Carolina Taveira

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