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Mare of Easttown, primeira temporada em análise

A conclusão que retiramos desta série é que há muito mais do que os olhos desvendam em “Mare of Easttown”, um drama criminal que trouxe Kate Winslet de volta ao pequeno ecrã.

Com espírito aberto e alguma expectativa: foi assim que assisti atentamente a “Mare of Easttown”, o novo drama da HBO que marca o regresso de Kate Winslet às televisões depois de “Mildred Pierce”, curiosamente também uma minissérie que ainda hoje é referência do mesmo canal e que valeu vários prémios, incluindo cinco Emmy e o Globo de Ouro para Melhor Atriz em Minissérie em 2012. Por esse mesmo motivo e por sabermos que Winslet quando aceita um novo projeto não faz menos do que dar o seu máximo, tanto na entrega aos papéis que lhe são atribuídos como no profissionalismo que sempre a caracterizou no set, não consegui deixar de esperar que Mare fosse mais uma das extraordinárias interpretações da atriz e não me enganei, nem saí defraudada.

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Um primeiro olhar pelos cenários e pela protagonista, revelam um pouco do que podemos esperar da série: por um lado, uma pequena e familiar cidade, aparentemente pacata, onde todos se conhecem e principalmente onde todos conhecem Mare, uma detetive da polícia local a quem a vizinhança recorre, até para os mais pequenos problemas. Por outro lado Mare Sheehan, uma mulher claramente desgastada, cansada, sem grande paciência para conversas de circunstância, com um semblante carregado não só pelas marcas do tempo como pelas rugas de expressão, os cabelos por pintar, as roupas largas e velhas que usa diariamente e pelo olhar vazio e triste. Numa primeira instância pensamos que toda esta atitude “não quero saber” se deve aos sonhos roubados da juventude como estrela da equipa de basquetebol feminino, a Lady Hawk, onde com o seu lançamento histórico conseguiu ganhar o quase impossível campeonato que ainda nos dias de hoje é celebrado por toda a cidade. O feito de uma vida, uma carreira que ficou de lado e que fez com que Mare desistisse de ser feliz, diríamos nós, foram a receita para a encontrar naquele estado. Mas a cada episódio que passa, conseguimos entender que isto foi só a ponta do iceberg.

Mare of Easttown
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O lado meio tosco e racional de Mare, misturado com as emoções reprimidas de um passado bastante sombrio e de memórias que vêm ao de cima à medida que a trama se intensifica, justificando as razões que a levaram a afastar tudo e todos do seu eu mais pessoal, que grita por carinho e compreensão mesmo que não aparente por fora, são sem dúvida os pontos altos desta produção. Contudo, não só de Mare é feita a história, aliás, existe um elenco que entra em perfeita simbiose com a mística da cidade, como é o caso de Erin McMenamin (Cailee Spaeny), uma mãe adolescente que atravessa uma fase complicada, sem se conseguir entender com o ex-namorado Dylan (Jack Mulhern) com quem partilha a custódia do filho. Dylan, por sua vez, nota-se que não tem a mesma dedicação que Erin, tanto nas atitudes como até na forma como olha para o bebé, como se fosse o fardo de uma vida que se quer mais liberta. A cena em que ela deixa o filho com o pai é completamente devastadora, ficamos com o coração apertado e com a sensação de que algo de muito errado vai acontecer. E vai, mas não com a criança…

Erin é assassinada nessa mesma noite, mas por quem? A partir deste momento todos os habitantes são suspeitos e vêm os seus segredos ser revelados na luz do dia. Ver Kate Winslet em ação como detetive a tentar desvendar o recente crime que ocorreu na pequena cidade da Pensilvânia é um autêntico deleite. Juntamente com Colin Zabel (Evan Peters), a dupla de investigação complementa-se perfeitamente. Foi uma agradável surpresa ver a mecânica Peters/Winslet, que funcionou muito bem dentro do ecrã. Por um lado a mulher destemida no seu trabalho, por outro um colega ponderado e novato, criando o equilíbrio para o sucesso desta parceria.

Mare of Easttown
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Não posso também deixar de destacar o elenco inclusivo, com é o caso de Siobhan Sheehan, interpretado por Angourie Rice (“Homem-Aranha: Regresso a Casa“) uma adolescente lésbica que vive uma relação muito intensa e complicada com a mãe. Gostava de ter visto mais da sua ligação com a Anne (Kiah McKirnan), química não faltava e saltava nitidamente para fora do ecrã. Outra menção de destaque nesta perspetiva vai para o primeiro trabalho de Kassie Mundhenk como Moira Ross, a filha da melhor amiga de Mare que para lá do seu ar decidido e sem medos, esconde uma realidade escolar de algum abuso por parte dos colegas, só por ser diferente. Pessoalmente, uma das minhas personagens favoritas foi interpretada por Enid Graham (“Caçador de Mentes”), que dá vida a Dawn Bailey, uma mãe despedaçada com o desaparecimento da filha Katie (Caitlin Houlahan). Há um ano que a tenta encontrar e sente que a polícia (e particularmente Mare), pouco fez a esse respeito. Apesar de existir esta pequena quezília entre elas, Dawn é uma pessoa extremamente justa como se vê quando apesar de tudo, defende Mare num pequeno confronto na loja de conveniência onde trabalha arduamente enquanto luta contra o cancro.

E é assim que a narrativa se vai desenvolvendo, quase como se de um puzzle se tratasse, à medida que assistimos aos sete episódios que nos deixam completamente agarrados ao ecrã, muito culpa também dos finais que acabam sempre no clímax de uma revelação ou de um acontecimento importante e que nos obriga automaticamente a carregar no botão play para ver o que vai acontecer a seguir. É este o clima inebriante de “Mare of Easttown”, que não nos dá descanso nem nós o queremos! Porque assim que vemos os créditos finais no último episódio ficamos com a sensação de que há algo mais para desvendar e por isso arrisco-me a dizer que esta produção veio mesmo para ficar e marcar a sua posição no mundo das minisséries.

TRAILER | “MARE OF EASTTOWN” ESTREIA HOJE, NA HBO PORTUGAL

“Mare of Easttown” estreia hoje, dia 19 de abril, na HBO Portugal. Uma minissérie excecional que não vai deixar ninguém indiferente.

Mare of Easttown, em análise
Mare of Easttown

Name: Mare of Easttown

  • Filipa Carvalho - 80
  • Cláudio Alves - 75
  • Inês Serra - 80
78

CONCLUSÃO:

O regresso de Kate Winslet ao pequeno ecrã não vai deixar ninguém indiferente. “Mare of Easttown” representa na perfeição a simbiose entre o ambiente místico da pequena cidade da Pensilvânia e o importante papel de Mare naquela sociedade como detetive, ex-estrela da equipa feminina de basquetebol, mãe e mulher. Nada é deixado ao acaso e a trama desenvolve-se num clima de ação e suspense que nos mantém agarrados desde o primeiro ao último episódio.

Pros

A entrega de Kate Winslet à sua personagem, Mare Sheehan

A importância de todos os personagens e o desenvolvimento dos mesmos ao longo da trama: nada é deixado ao acaso.

A forma como a narrativa se desenvolve, mantendo o espectador sempre na expectativa sobre o que vai acontecer no episódio seguinte

A viagem visual que caracteriza de forma realista a vida dos habitantes da aparente pacata cidade da Pensilvânia

Cons

Os episódios são bastante concentrados em termos de conteúdo principal, mas existem algumas ramificações da trama que gostava de ter visto mais exploradas. Sinto que seria positivo existirem mais alguns episódios para se conseguirem explicar pelo menos os detalhes mais importantes que ficaram por revelar (mas que podem indicar uma continuação..)

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