Ivana Baquero é a viúva negra sedutora e perigosa. ©Netflix

O Jogo da Viúva, a Crítica | Quando um crime real vira telenovela erótica de horário nobre da Netflix

Baseado no mediático caso espanhol conhecido como a ‘Viúva Negra de Patraix’, este filme “O Jogo da Viúva” de Carlos Sedes tem funcionado, no streaming da Netflix, como o novo vício dos fãs de thrillers policiais e eróticos baseados em crimes verídicos. Mas entre facadas no parque de estacionamento, jogos de sedução e diálogos com ar de telenovela, fica a dúvida: isto é um filme ou apenas uma dramatização de uma sessão de domingo à tarde?

O crime é real. O drama… é puro entretenimento

Baseado no famoso caso da ‘Viúva Negra de Patraix’, “O Jogo da Viúva” é o mais recente guilty pleasure da Netflix. O filme tem tudo para agradar: uma história verídica, personagens ambíguas e aquele toque de thriller erótico que parece saído de uma tarde preguiçosa nos anos 90. Mas entre facadas no parque de estacionamento, jogos de sedução e diálogos dignos de um spin-off ibérico de “Donas de Casa Desesperadas”, ficamos sem saber se estamos a ver um filme ou um episódio estendido de uma série criminal da tarde da CMTV.

O Jogo da Viúva
Ivana Baquero (a menina de “O Labirinto do Fauno”, que cresceu e de que maneira). ©Netflix

Uma história verídica, mas com sabor a déjà vu… requentado

A premissa de “O Jogo da Viúva” é escaldante: um marido morto, uma viúva suspeita e amantes que andam por aí com cara de quem não sabe muito bem onde se meteram. A questão é que o suspense dura tanto como a bateria do telemóvel da Maje a personagem principal. A estrutura tripartida do filme, três perspetivas, três personagens, prometia complexidade, mas pelo contrário torna-se confusão e uma certa sensação de ‘já vi isto antes, mas com mais tensão e suspense’.

Carmen Machi vs Ivana Baquero: a série que devíamos ter tido

Em “O Jogo da Viúva”, a veterana Carmen Machi está irrepreensível como a inspectora Eva: determinada, dura, e com aquele ar de quem resolve crimes e muda fraldas ao mesmo tempo. Pena que este subplot da filha autista, no início, sirva apenas como acessório dramático, para a menina nunca mais ser vista ou mencionada, durante o resto do filme.

Um verdadeiro mistério, mas não dos bons. Ivana Baquero (a menina de “O Labirinto do Fauno”, que cresceu e de que maneira), por sua vez, brilha como Maje, a viúva que troca votos matrimoniais por mensagens picantes. Com o seu olhar de quem sabe mais do que diz (e diz menos do que devia), transforma-se numa femme fatale dos tempos modernos, versão hospital de Valência. Só lhe falta o cigarro e o saxofone de jazz ao fundo.

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O Jogo da Viúva
O terceiro acto é dedicado a um dos amantes, Salva ((Tristán Ulloa). ©Netflix

Um thriller que queria ser noir, mas acabou como telefilme premium

Carlos Sedes, o mesmo realizador da série “O Caso Asunta” (de 2024, também disponível na Netflix), tenta dar a “O Jogo da Viúva” uma roupagem noir, com sombras dramáticas e cenas de cama discretamente ousadas. Mas por cada tentativa hitchcockiana, há três momentos dignos de telenovela das nove. O segundo acto, centrado em Maje (Ivana Baquero), arrasta-se como um date que já sabemos que não vai correr bem. E o terceiro, dedicado ao amante Salva (Tristán Ulloa), bem… podia ser um episódio perdido de “Conta-me Como Foi”, versão sexy e perturbada.

Para terminar: sim, há várias cenas de sexo. Mas é aquele sexo limpinho e comedidamente picante, próprio da Netflix, que nunca se esquece de que há famílias a ver isto na sala. Se queriam uma versão espanhola de “Em Parte Incerta” ou de “Anatomia de Uma Queda”, podem continuar à espera. “O Jogo da Viúva” vê-se, mas não nos marca e não nos acrescenta muito.

JVM

O Jogo da Viúva, a Crítica | Quando um crime real vira telenovela erótica de horário nobre da Netflix
  • José Vieira Mendes - 60

Conclusão:

“O Jogo da Viúva”, de Carlos Sedes é baseado num caso real que, pelo menos em Espanha, fez correr muita tinta, até porque passou-se em plena era do #MeToo. É daqueles filmes que nos fazem carregar no play com entusiasmo, mantêm-nos a ver com alguma curiosidade…prende-nos até ao ecrã durante 90 minutos, mas depois deixam-nos com uma ligeira sensação de desapontamento, quando aparecem os créditos finais e esquecemo-lo logo no minuto seguinte.. Tem boas interpretações, está tecnicamente competente, mas falta-lhe aquilo que diferencia os bons thrillers dos meramente funcionais: impacto. No final, parece mais preocupado em parecer interessante do que em realmente sê-lo.

Overall
60
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Pros

O melhor: Carmen Machi, uma força da natureza. Ivana Baquero, hipnótica e perigosa.
A história real tem potencial dramático.

Cons

O pior: Narrativa fragmentada e sem foco. Falta de tensão real e surpresas. Um thriller que promete complexidade, mas entrega superficialidade.



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