Diana, em análise

 

diana
  • Título Original: Diana
  • Realizador: Oliver Hirschbiegel
  • Elenco:  Charles Edwards, Naomi Watts, Daniel Pirrie, Douglas Hodge, Geraldine James, Naveen Andrews
  • Género: Drama, Romance
  • Reino Unido | 2013 | 113 min

[starreviewmulti id=11 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’]

 

Ironicamente, Oliver Hirschbiegel não criou “Diana” como “Der Untergang” (“A Queda – Hitler e o Fim do Terceiro Reich”). Preciso e equilibrado, “Der Untergang” suporta heroicamente um homem desequilibrado. E “Diana” merecia melhor.

Os conceitos que gravitam em redor da biografia trazida por Hirschbiegel são, a nosso ver, moderação e equilíbrio. Essenciais para tudo na vida. E, aqui, a ausência de ambos matou por completo o esforço de relatar o que foram os últimos dois anos da Princesa do Povo, aka Lady Di, aka Diana Spencer, mulher tão sensível e peculiar que inspirou multidões, quer pela sua entrega louvável a causas humanitárias, quer pelo seu carácter franco e, em vários campos da sua vivência, sofredor.

Naomi Watts Diana

Admitindo até que não tenha sido a pessoa mais equilibrada – e isto não no mau sentido, pois a ausência de equilíbrio é, muitas vezes, apanágio de génios e gente que se destaca pela postura brilhante (a nível moral, cultural, sociológico) que assume durante uma vida – estamos em crer que Lady Di merecia ter ressurgido mais discreta e rica interiormente. Exactamente como foi. Discreta e rica. Sendo que, se não o pôde ser mais (discreta), foi porque não a deixaram. Mesmo que – e repare-se que até se concebe esta hipótese – não tenha sido, afinal, tão fechada e “controlada” como estamos a querer acreditar que tenha sido. Não interessa. Devíamos-lhe isso. O seu percurso obrigava-nos a tal.

Quase a resvalar para o histerismo, a demonstração do que poderão ter sido os últimos anos deste enorme coração deixou muito a desejar. Tal e qual como a beleza de uma mulher que, por certo, se tornará bem mais atractiva, misteriosa e cativante, se mostrar parte do seu corpo, ao invés de, equivocada e sem pensar, perder, por completo, os trajes que a cobrem e se expuser, nua e sem pontos obscuros e enigmáticos.

A relação mantida com o médico paquistanês Hasnat Khan, por quem Diana se apaixona, é o tema principal da película. Sem desvios de forte envergadura – prendendo-se os mais significativos (e mesmo assim diminutos) com o impacto da sua intervenção no campo da ajuda humanitária, e a postura assumida face à relação conjugal e ao papel de mãe -, a história não é que seja fraca. Melhor explicando: segundo a teoria apresentada, não é pobre nem rica; é um episódio que terá, em sede de tempo real, ocorrido (discutível ou aproximadamente) daquela forma. O problema reside no tempo de antena concedido ao episódio em causa, na forma como é tratado, relatado e, acima de tudo, no impacto que os diálogos, as apresentações de personagens, as personalidades formadas acabam por ter na mente de cada de um nós, nomeadamente no que respeita a Diana.

Não se coloca em causa que se aborde o que poderá ter sido a última história de amor verdadeiro da princesa. Mas construir todo um enredo em redor deste facto, a que acrescem laivos de comédias românticas com conversações insossas e sem imaginação, e exageros sem bases sólidas que os justifiquem, não se afigura propositado para uma biografia que – crê-se – tencionaria revelar uma mulher sensível, alvo de pressões, de certo modo fragilizada e perseguida por factores externos – é certo – mas também alguém detentor de uma força digna de nota e um coração de aço. E, repare-se, não só ávido de amor masculino, mas sôfrego por receber mais deste mundo, no geral.

daxbt9e67l1q35o40bcxplihi

Diana é colocada na pele de uma mulher solitária, magoada com o passado, crente num presente que se transforma em frustração e morte. Infelizmente, não existiu futuro. Ora, esta apresentação é toda ela verosímil e inatacável. O problema é um ligeiro grosseirismo de Stephen Jeffreys (argumentista) e Hirschbiegel (realizador) no curso dos acontecimentos. E, mesmo ligeiro que seja, no percurso desta personalidade, tem um impacto relevante. É que Diana, na prática, até poderá ter tido laivos, por mais ínfimos que tenham sido, de Anna Scott (“Notting Hill”) Bridget (“Bridget Jones”). Não sejamos hipócritas. Afinal, era humana, mulher, apaixonada, figura pública, com certeza com as mesmas inseguranças que tantas outras. O que não se compreende é que essa imagem tenha roçado o extremo.

A realização de “Diana” é baseada no retrato que Kate Snell’s dela faz em “Diana: Her Last Love”, pelo verdadeiro Hasnat Khan considerado um conjunto de ocorrências infundadas. Hirschbiegel decidiu adaptá-lo. Sendo assim, tenhamos medo, principalmente aqueles que amavam Diana: se alguém se predispuser, por exemplo, a escrever algo que aborde os seus distúrbios alimentares, como, de facto, foram uma realidade – o que só se concebe se se focar a luta por si travada a esse nível e/ou questões médicas com os mesmos relacionadas – corre-se o risco de se adaptar à tela, não o sofrimento psicológico de uma princesa e o seu impacto no dia-a-dia, mas a abertura sem limites e indiscreta de um dos mais preciosos bens (desprezado, voluntária ou involuntariamente, nos dias que correm): a intimidade da vida privada.

Diana-07

No entanto, não se pensa que “Diana” tenha sido uma ofensa à memória da Princesa do Povo. E pontos positivos são, sem dúvida, facilmente perceptíveis: a sua extrema sensibilidade, a todos os níveis, é bem transmitida por Hirschbiegel.

Um parágrafo para Naomi Watts: uma expressão facial imaculada; uma colocação de voz francamente semelhante; um olhar milagrosamente idêntico.

Esperamos que Diana ainda seja presenteada um dia, no mundo da Sétima Arte. E, quando isso acontecer, que não se ouçam vozes de enfado. Porque este foi só mais um drama romântico. 

E Diana foi mesmo única.

SME


Também do teu Interesse:


Lê Também:   A segunda temporada desta peróla de Ryan Murphy tem 8 episódios e já pode ser vista na HBO Max

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *