Echo and The Bunnymen devolvem o new wave à cidade de Lisboa
Ao som do seu álbum de remakes “The Stars, The Oceans & The Moon”, Echo and the Bunnymen despertaram os jovens dos anos 80.
Notável a agitação à porta do Lisboa Ao Vivo. A fila para entrar prolongava-se indefinidamente e pairava no ar uma certa ansiedade, dado que a hora marcada para o início do concerto dos Echo and the Bunnymen se aproximava. Lá dentro, o alvoroço era ainda maior, na galeria não havia espaço para nem mais um e à frente do palco avultava uma massa compacta de pessoas que parecia impossível de transpor. Contudo, quando se está sozinho, o tão conhecido conceito de “furar” torna-se exequível, por isso não foi difícil arranjar um espaço perto do palco, ao lado de um orgulhoso portador de uma t-shirt dos Joy Divison.
Satisfeita com a nova localização, pude olhar à volta. O palco estava vazio, coberto por uma luz azul que se repercutia por toda a sala, contaminando tudo e todos. Olhando em redor, a faixa etária era assumidamente consistente, juventude oriunda dos anos 80. Com tranquila ansiedade, as conversas fluíam entre casais ou pequenos conjuntos de amigos que tentavam recordar os nomes dos clássicos da banda.
Passavam poucos minutos das dez, quando Echo and the Bunnymen, ou pelo menos os dois fundadores, o vocalista Ian McCulloch e o guitarrista Will Sergeant, acompanhados da secção rítmica, entraram no palco ao som de um cântico semi-religioso. Aos primeiros acordes de “Going Up”, assobios de acompanhamento por parte do público surgiram impetuosos.
Contudo, aquele clamor inicial não durou muito, as palmas que marcaram o fim da música soaram dispersas e, mesmo depois do entusiasmo demonstrado com a abertura de “Rescue” ou ao gritar “Never Stop” com Ian McCulloch, tudo se extinguia rapidamente. A sincronia com o público tardava. Prova disso foi o ambiente distraidamente silencioso que se gerou com a demora da banda na transição para a “All My Colours”. A atmosfera não era realmente muito vibrante. O público esqueceu-se talvez de que estava num concerto dos legendários Echo and the Bunnymen e que podia, por uma hora e meia, abandonar uma certa atitude contida e responsável própria da maturidade.
Ian McCulloch voltou a investir num pequeno silêncio entre músicas, aproveitando para ajustar o microfone. De óculos escuros, casaco de cabedal e as duas mãos bem fixas no microfone, posição que não abandonou até ao final do concerto, lançou-se na faixa seguinte. Aqui, no refrão, o público, finalmente, num uníssono bramido de libertação, gritou com ele: “over the wall”. Animado pela correspondência do público, saudou Lisboa e deu lugar a sugestões para a música seguinte. A plateia já dançava desinibida e foram vários os “whooos” de alegria que acompanharam o final de “The Somnambulist”.
À boa moda de Ian McCulloch, chegou a vez de referenciar os Doors através de uma versão de “Villers Terrace” fundida com “Roadhouse Blues”. Pegando no famoso verso de Jim Morrison, McCulloch substituiu “save your city” por “Lisbon city” fazendo o público rejubilar de êxtase. Um “obrigado” britanizado ressoou pela sala e os holofotes, alarajando-se, baixaram de intensidade para dar início à tão aguardada “Nothing Lasts Forever”. Depois de percorrer as várias estrofes, perto do final da música, McCulloch salta para a primeira estrofe de “Walk on the Wild Side” e, com o público, homenageia Lou Reed num “dododoodododododo” eterno.
“Wanna sing along? This one is easy!” pergunta-nos o vocalista. É escusado qualquer convite. No refrão de “Seven Seas” McCulloch nem precisou de cantar, apenas sorria para o guitarrista Will Sergeant, enquanto um público bastante afinado aderia sem defesas à música, no que foi claramente um dos momentos altos do concerto. Quando a intensidade do ambiente parecia ter atingido o auge, os três clássicos, “Bring On the Dancing Horses”, “The Killing Moon” e “The Cutter” surgiram, um após outro, com constantes exortações a um “sing along”, com “whooss” de euforia e palmas incentivadas pelo vocalista.
Ao som de gritos pelos seus nomes, os Echo and Bunnymen abandonaram o palco. Regressaram daí a pouco para cantar dois temas finais, nos quais a voz de McCulloch quase se fundiu com a do público. Quando não restaram dúvidas de que o concerto acabara e o grupo não regressaria ao palco, a multidão desagregou e precipitou-se para a saída, novamente possuída pela compostura adulta e responsável de quem se deve deitar a horas decentes, porque segunda-feira é dia de trabalho. Envolta nesta multidão que, apesar de cansada, saía reconfortada por memórias do passado, abandonei o Lisboa ao Vivo ainda a trautear “Lips Like Sugar”.
Agradecemos a Virgílio Santos a sua reportagem fotográfica do evento, que aqui incluímos.
O relato que me parece mais fiel deste concerto, dos que li até agora.