© EBU / NATHAN REINDS

Eurovisão 2022 em Turim | Entrevista ao líder dos The Rasmus

Lauri Ylönen, o vocalista e líder dos The Rasmus, esteve à conversa com a MHD para falar sobre a representação da Finlândia na Eurovisão 2022.

Continuamos a acompanhar o festival da Eurovisão e seguimos com as entrevistas a alguns dos seus participantes. Nesta quinta-feira muito intensa a nível de ensaios, foi a vez de falarmos com Lauri Ylönen que todos conhecem por ser vocalista e líder dos The Rasmus. São eles que representam a Finlândia na Eurovisão 2022 e que, num tom muito feroz e agressivo, prometem colocar a Europa (e Austrália) aos saltos com a canção “Jezebel”.

Jezebel é a canção da Finlândia na Eurovisão 2022

Digamos que a banda é a mais conhecida internacionalmente de todos os artistas em concurso, por já ter vendido 5 milhões de álbuns em todo o mundo e pelas rádios da Europa e Estados Unidos terem repetido vezes sem conta o single “In the Shadows” de 2003. Estamos muito ansiosos por ver como serão os resultados da 2ª semi-final da Eurovisão 2022 – na próxima quinta-feira, dia 12 de maio – e por descobrir se os The Rasmus vão à final.

Sente-se perfeitamente no ar que “Jezebel” é a escolha certa para retomar em grande uma carreira com quase 30 anos, sobretudo agora que têm um novo membro na banda, a guitarrista Emilia ”Emppu” Suhonen. Para Lauri Ylönen este momento é único, que merece ser vivido na sua plenitude, mas sem esquecer os fãs. Os The Rasmus não precisam de conquistar a Europa porque isso já está feito, mas há uma outra Europa que provavelmente ainda não os descobriu, a da Eurovisão. Falámos com Lauri Ylönen para entender como se encontra a banda atualmente e para saber qual o estado da música rock na Finlândia. O artista deixa ainda uma mensagem para os fãs portugueses que estão ansiosos por voltar a ver os The Rasmus em concerto.

Eurovisão 2022
© EBU / CORINNE CUMMING

MHD: Como é que te sentes depois dos segundos ensaios eurovisivos?

Lauri Ylönen: Sinto-me bem. É muito energético tocar música com os meus melhores amigos. É a melhor coisa que sei fazer. Nós ensaiamos bem cedo esta manhã, não é a melhor altura para rock n’roll, excepto se estiveres a sair diretamente de um bar.

MHD: Vocês tocaram no centro de Turim junto da multidão. Qual é a atmosfera da cidade?

 

Ver esta publicação no Instagram

 

Uma publicação partilhada por The Rasmus (@therasmusofficial)

Lauri Ylönen: Nós tocamos ontem nas ruas de Turim e foi maravilhoso. Foi algo totalmente espontâneo. Tocámos algumas canções e foi muito divertido e até inspirador. Foi a minha primeira vez a atuar nas ruas dessa forma. Sempre admirei os artistas de rua quando atuam. Isso é fascinante! Eu sempre gostei de ficar a vê-los e deixar-lhes alguma moeda. É simpático que alguém faça isso simplesmente para entreter as outras pessoas. Cada vez que me sinto inspirado, de certa forma, quero sair às ruas e ir cantar com o público.

Nós tocámos um pouco de “Jezebel“, tocámos também “In the Shadows” e foi então que começámos a ouvir alguns murmúrios das pesssoas a dizerem ‘eu conheço esta banda’. Também tocámos uma canção italiana chamada “Volare” e toda gente conhece ” Volare oh, oh”. Fomos rodeados talvez por umas 20 pessoas e isso aconteceu porque escolhemos lugares ao acaso. Nós pensámos “vamos tocar aqui” e queríamos ver o que acontecia. Não nos importámos muito em ter uma grande audiência. Queríamos ver apenas algumas reações das pessoas que passeavam pelas ruas.

In The Shadows é o maior êxito dos The Rasmus

MHD: O que te inspira a escrever músicas rock?

Lauri Ylönen: Sendo finlandês sinto que o tempo tem efeitos na banda. Na maioria dos dias é tudo muito escuro e frio. É muito comum às pessoas na Finlândia tocarem algum instrumento, porque não podem sair à rua para jogar futebol.

Eu também acho que as pessoas na Finlândia tendem a gostar muito de coisas intensas. Tudo o que comemos é muito salgado ou com um sabor muito forte. Sabes? Temos um tipo de pão que é muito duro e que te faz quase partir os dentes enquanto mastigas. Temos uma guloseima que é muito picante, uma espécie de salgado com licor. Apenas os finlandeses gostam. Temos inclusive um tipo de álcool muito específico. Quanto à música também funciona dessa forma. Os finlandeses gostam de música mais forte. Existem imensas bandas de heavy metal e rock na Finlândia.

Eurovisão 2022
© EBU / NATHAN REINDS

MHD: A Finlândia tem mesmo o hábito de mandar música rock para a Eurovisão. Sentes que é precisamente por causa disso?

Lauri Ylönen: Nós primeiros tivemos que concorrer ao concurso UMK – Uuden Musiikin Kilpailu 2022. No concurso haviam muitos estilos desde música urban, alternativa, pop e também havia outra banda rock.

De qualquer maneira, o público finlandês escolheu a nossa música e quiseram mandar novamente uma canção rock. Não sei porquê. Acho que é uma questão do gosto dos finlandeses.

MHD: Será que me poderias contar mais sobre a mensagem por detrás de Jezebel?

Lauri Ylönen: A música veio da Bíblia, com a Rainha Jezebel. Mas a nossa Jezebel é como uma pessoa moderna. É uma rapariga, mas pode ser um rapaz. Pode ser qualquer pessoa. Eu, por exemplo, sinto-me Jezebel, eu trato-me assim. Acho que ser independente, ser corajoso, ser forte, ser energético, ser rebelde, são características desta personagem e com as quais me identifico.

Poderíamos compará-lo por exemplo à vida de um artista. Ser um artista não é fácil para ninguém, mas é a melhor maneira. É divertido e ensina-te a viver. Ser um artista vai contra as regras, de não ter um trabalho normal. A Jezebel é isso para mim.

Eurovisão 2022
© EBU / CORINNE CUMMING

MHD: Qual o segredo por detrás do amarelo e preto da vossa atuação ao vivo na Eurovisão 2022?

Lauri Ylönen: O amarelo é como uma marca do passado dos The Rasmus. Quando começámos a banda e mesmo nos inícios dos anos 2000 eu tinha o cabelo loiro. Tinhamos muito amarelo presente na nossa equipa, além de todas outras cores.

Passámos depois por um período muito negro e tinhamos apenas o preto como a nossa cor. Quando a Emppu Suhonen se juntou a nós em setembro do ano passado voltou a dar vida à equipa. Ela trouxe a cor de volta à nossa banda. Sendo “Jezebel” uma canção positiva queríamos mesmo isso. Acho que as cores combinam perfeitamente, porque são formam um elo tóxico. Aproxima-se à imagem de Jezebel que é uma figura perigosa, mas mesmo assim bonita. É alguém com quem queres estar mesmo que ela te destrua. Acho que é uma espécie de droga.

MHD: A Emppu juntou-se à equipa apenas em setembro do ano passado. Como é a atual dinâmica do grupo e como é que as coisas estão a correr?

Eurovisão 2022
© EBU / CORINNE CUMMING

Lauri Ylönen: Estão a correr tão bem. Quero dizer parece que a Emppu está connosco há muito mais tempo. Parece haver uma conexão antes sequer de nos conhecermos.

MHD: As vossas mães conhecem-se, não é isso?

Lauri Ylönen: Sim, a minha mãe conhece a mãe dela. Frequentámos até a mesma escola mesmo que em períodos diferentes. Eu sou um pouco mais velho e penso que deixei o liceu e depois ela foi para lá, enquanto eu parti para a universidade.

Ela é da mesma zona de residência e teve uma vida muito semelhante à minha porque começou a tocar guitarra quando tinha apenas 5 anos. Ela esteve em diferentes bandas, algumas das quais muito bem sucedidas na Finlândia como a banda Tiktak que é quase o Tik Tok mas não é. Ela sabe o que significa estar neste mundo.

As coisas nem sempre são coloridas como aqui em Turim que tens os maquilhadores, tens estilistas que te tratam da roupa e até tens passadeira vermelha. Isto é muito glamoroso.

MHD: E qual a diferença de atuar normalmente como os The Rasmus fazem e estar agora no palco da Eurovisão?

Lauri Ylönen: É muito diferente. No palco da Eurovisão só tens 3 minutos e deves tentar colocar tudo durante esse período. Existe muita pressão para seres bom desde o primeiro minuto. É uma maneira diferente, que eu gosto muito e que se aproxima a um vídeo ao vivo. Sem imaginar sequer a audiência. Acho que já no próximo ensaio vamos ter público a assistir. Isso vai ser muito diferente, porque perceberemos as reações do público.

A audiência eurovisiva é muito especial. Sabem todas as canções, sabem todas as letras. É como estar num festival em que toda gente sabe tudo. Os fãs estudam ao pormenor que é de loucos. Obviamente continuo a gostar de tocar nos concertos dos The Rasmus. Talvez prefira isso porque temos mais tempo, temos os nossos próprios fãs. Parece mais pessoal.

MHD: E não é um concurso…

Lauri Ylönen: Exato. Não me importo a parte de concurso porque faz-me querer seguir em frente. Gosto de ter um objetivo final a atingir. Não importa o que aconteça no final estamos todos aqui.

MHD: É verdade que vais lançar uma biografia este verão?

Lauri Ylönen: Sim. Na primeira semana de setembro. Vamos lançar um livro escrito pelo Ari Väntänen. Ainda não está completo porque o último capítulo será sobre a Eurovisão 2022. Vamos falar do momento em que os The Rasmus nasceram. Será muito interessante de ler. Já o fiz e acabei por rir porque existem muitos momentos importantes que me tinha esquecido.

Entrevista a Lauri Ylönen (com vídeo)

Acho que faz sentido escrever um livro sobre a nossa trajetória. Nem sempre foi fácil para nós, tivemos que lutar muito para sobreviver. Alguns membros deixaram a banda e eu estive para desistir várias vezes. Nós tentámos. É certo que têm que existir estes altos e baixos, porque nem sempre podes ganhar.

MHD: A vossa última vez que os The Rasmus estiveram em Portugal foi em 2005. Gostariam de cá voltar, uma vez que têm vários fãs?

Lauri Ylönen: Já passou muito tempo. Assim que acabar esta entrevista tenho que ligar ao meu manager (risos). Eu gostei muito do vosso país e gostaria de voltar. Nós vamos a Espanha, portanto mais uma razão para voltar. Até ao momento lançámos algumas datas dos nossos concertos deste ano. No próximo ano vamos voltar a fazer uma tour e espero incluir Portugal.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *