Brad Pitt devolveu-me a vontade de tornar a ver a F1. ©Apple TV+

F1 O Filme | Brad Pitt levou-me outra vez ao paddock, sem sair da cadeira do IMAX


Depois de anos a ignorar o circo, Brad Pitt em “F1 O Filme”, devolveu-me (momentaneamente) o gosto pelas corridas de automóveis, com um filme que é metade adrenalina, metade fetiche tecnológico e um cheirinho a “Top Gun” sobre rodas.

A propósito de “F1 O Filme”, lembro-me bem do dia em que deixei de ver Fórmula 1 na televisão. Foi naquele fatídico dia 1.º de maio de 1994, com a morte de Ayrton Senna em Imola. Tinha eu o hábito de passar os domingos em frente à RTP, com o Adriano Cerqueira e o Domingos Piedade a entusiasmar-nos entre a sopa e o frango assado. Mas depois disso, desliguei. Literalmente.

A Fórmula 1 passou para canais pagos, o risco deu lugar à estratégia dos pneus e os pilotos viraram bonecos dentro de carros teleguiados. Avançamos para 2025. Brad Pitt, esse querubim eterno de 60 e picos — como eu, aliás — com cara de miúdo traquina, enfia-se num fato branco e decide regressar às pistas no filme “F1 O Filme”. E eu, contra todas as previsões e filtros de cinismo, deixei-me levar de novo pelo barulho dos motores, mesmo que seja tudo (bem) encenado, milimetricamente patrocinado e montado para parecer real.

F1 O Filme
Brad Pitt é Sonny Hayes, um piloto veterano. ©Apple TV +

“F1 O Filme” é de facto um melodrama escandalosamente masculino, daqueles que já não se fazem, mas que, ironicamente, só se faz com muito dinheiro e CGI. Brad Pitt é Sonny Hayes, um piloto veterano caído em desgraça, que passou os últimos anos a conduzir táxis e a jogar poker (sem direito a flashbacks, o que é pena) e a fazer uma corridas de stock cars ou nas 24 Horas de Daytona.

Quando um velho amigo (Javier Bardem, a fazer de ex-piloto e tornado patrão de uma ‘scuderia’ falhada e falida) o chama de volta à ribalta, a F1 treme. Literalmente. Porque este velhote não está para meias medidas nem para estratégias de boxes. É verdade: o enredo é reciclado de “Cars” a animação da Pixar de 2006 e de meia dúzia de filmes sobre desportos de testosterona e superação. Mas há algo ali — talvez o brilho do capacete, talvez o preto e dourado do carro que nos remete para os JPS Lotus de Senna — que nos agarra.

E o filme, realizado por Joseph Kosinski (“Top Gun: Maverick”), sabe perfeitamente onde nos fisgar: no fetiche tecnológico, na velocidade filmada ao pormenor, nos gráficos tipo videojogo e, claro, no charme de Pitt, que ainda sabe virar a cabeça para a câmara com aquele ar de ‘não era suposto eu estar reformado?’.

Ao longo de 2h35 (sim, o filme é tão comprido como um GP de Mónaco, mas sem os engarrafamentos), de “F1 O Filme” vemos Sonny a desafiar os novos deuses do volante, nomeadamente um jovem piloto convencido (Damson Idris) que o trata por “velho” — ai se o Alonso ou o Hamilton ouvem isso… Ah, pois: o Lewis Hamilton está mesmo no filme. É produtor. E consultor. E talvez o único a ter mais estilo que o próprio Brad. E o Fernando Alonso aparece também para dar um aperto de mão. Mas nem tudo são motores e testosterona em “F1 O Filme”.

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Há uma mulher no meio disto tudo (ufa!): Kate McKenna, a diretora técnica da equipa APX, interpretada por Kerry Condon, que salva o filme de virar uma reunião de marmanjos em cuecas de lycra. Ela tem pulso firme, cérebro afiado e uma química visível com o herói envelhecido. Sem ela, isto podia ser só mais um anúncio de pneus Pirelli.

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O jovem piloto convencido (Damson Idris) trata-o por “velho”. ©Apple TV+

A F1, claro, colaborou com tudo. Deu paddocks, carros, credenciais e figurantes. Fez de conta que Brad Pitt era mesmo piloto — e nós, espectadores, fazemos de conta que acreditamos. O resultado? Um filme que quer ser blockbuster, quer ser sério, mas nunca esquece que está aqui para entreter e vender: vender bilhetes, merchandising, corridas e até, quem sabe, um regresso ao sofá de ex-fãs como eu.

A verdade é que desde que estreou Drive to Survive a série documental da Netflix que já vai, salvo erro, na 7ª temporada, que a F1 percebeu que o espetáculo não está só nas curvas, mas também no drama de bastidores. “F1 O Filme” é a extensão natural desse caminho: cinema e corridas numa fusão mediática com cheiro a pipocas e octanas.

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Brad Pitt, esse querubim eterno de 60 e picos. ©Apple TV+

“F1 O Filme” estreia em Portugal a 26 de junho, com sessões em IMAX e tudo. Não me faz querer ir de novo a um autódromo. Mas fez-me sorrir, fez-me lembrar dos domingos com o Senna, e talvez — só talvez — me faça ligar a televisão num próximo grande prémio da abertura da temporada. Ou então não. Mas que ‘sacana’ do Brad Pitt pilota bem, lá isso pilota.

JVM

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