Top Gun: Maverick, em análise
Depois de milhares de pedidos por parte de fãs do original, assim como a constante insistência de estúdios, eis que chega “Top: Gun: Maverick”, a sequela ao filme original de 1986. Nos últimos 36 anos, “Top Gun” tornou-se numa obra culturalmente impactante, deixando marcas inesquecíveis como a sua banda sonora épica ou diálogos que tanto conteúdo gerou pela Internet fora. No entanto, os tempos mudam e, como tal, a preocupação com o potencial de uma sequela tão tardia é natural. Conseguem Tom Cruise e companhia conquistar o verão?
Ser amante da arte do cinema e não ter a década de 80 bem perto do coração é algo praticamente impossível. Filmes culturalmente impactantes como “O Império Contra-Ataca”, “Assalto ao Arranha-Céus”, “Exterminador Implacável”, “Regresso ao Futuro” e outras tantas centenas foram tão marcantes que, hoje em dia, pessoas que nunca viram estas obras são capazes de recitar os seus diálogos mais famosos de cor. “Top Gun“ pode não ser o primeiro filme que vem à memória quando andamos para trás mais de 30 anos, mas a sua banda sonora épica e camaradagem masculina energética mantêm os altos níveis de entretenimento de um blockbuster puro – para não falar de possuir sequências de ação superiores a muitos dos filmes atuais. Dito isto, “Top Gun: Maverick” ultrapassa o original em todos os aspetos e de todas as maneiras.
Não é exagero afirmar que “Top Gun: Maverick“ é das melhores sequelas de sempre, pelo menos em comparação com o original. Com o passar dos anos, o filme de 1986 não evoluiu de forma positiva narrativamente. Se alguns cliches se aceitam, outros tornam-se intoleráveis, como o tratamento das personagens femininas. Na sequela, o argumento de Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie consegue um bom equilíbrio, apesar de também não se esforçar muito. Jennifer Connelly e Monica Barbaro representam mulheres independentes, capazes e que impõem respeito, se bem que a primeira termina mais como um “prémio” para o protagonista do que uma personagem com as suas próprias motivações e ambições.
Tirando esta componente secundária da história que poderá incomodar uns espetadores mais que outros, “Top Gun: Maverick“ torna-se, de facto, um favorito a terminar em inúmeros Top10 de 2022. O mesmo argumento contém um arco principal surpreendentemente emotivo, focando-se na relação entre Maverick e Rooster, interpretados brilhantemente por Tom Cruise – uma das melhores prestações da sua carreira – e Miles Teller. O último é filho de Goose, o falecido melhor amigo de Maverick, o que cria um conflito emocional entre os dois personagens. Se Maverick ainda se encontra de luto e assombrado com um sentimento de culpa, Rooster guarda um ressentimento pesado sobre alguém em quem não consegue confiar.
Este arco toma conta do enredo, originando as melhores cenas de diálogo em “Top Gun: Maverick“. Desde a tensão palpável entre os dois a um monólogo bonito de Cruise, Joseph Kosinski demonstra controlo perfeito sobre os vários momentos narrativos, contando ainda com uma montagem sublime de Eddie Hamilton. Aliás, grande parte do sucesso desta obra prende-se exatamente com a paciência que os cineastas tiveram em deixar a história crescer. O build-up longo para o terceiro ato é extraordinário, colocando os espetadores num ponto de suspense e ansiedade tão poderoso que quando tal ato começa, não há um piscar de olhos prolongado nem um desvio de cabeça para fora do ecrã.
“Top Gun: Maverick“ não reinventa a roda, seguindo as fórmulas narrativas comuns de MacGuffins e inimigos anónimos, mas a execução é de tal forma eficiente que não existirá um único espetador que não tenha memorizado ao detalhe os vários momentos distintos da missão. Desde as manobras mais perigosas ao tempo mínimo para as cumprir, sem esquecer a probabilidade baixa de sobrevivência devido às dezenas de obstáculos, todos os pormenores estão bem assentes na mente do público. A partir daqui, é deixar as melhores sequências aéreas da história do cinema tomar conta daquele que é, sem dúvida, um dos blockbusters mais puros e nostálgicos do século.
Não existem palavras que consigam descrever exatamente o que se vive no grande ecrã ao testemunhar as stunts impressionantes de “Top Gun: Maverick“. Desta vez, não foi só Cruise a “dar o corpo às balas”. Todos os membros do elenco dedicaram-se a meses intensivos de treino militar e, apesar de obviamente não terem pilotado nenhum avião, estão presentes em todos os voos, visto que o filme tem um uso incrivelmente reduzido de CGI. Aliás, torna-se uma tarefa hercúlea encontrar uma única cena que se possa afirmar com certezas de não ser real. Para além disso, os atores também tiveram de aprender conceitos de cinematografia para se poderem filmar a eles próprios enquanto sobrevoavam os ceús a alta velocidade.
O empenho e nível de compromisso para com a arte do cinema de todos os envolvidos merecem ser aplaudidos, assim como servir de inspiração e exemplo para futuros cineastas e atores. “Top Gun: Maverick“ é verdadeiramente um trabalho coletivo onde, se um elemento falhar, tudo o resto se desmorona. Sem a montagem perfeita de Hamilton, nunca as sequências de ação teriam o impacto avassalador na audiência. Sem o talento e dedicação de todo o elenco, apenas Cruise seria insuficiente. Sem o cuidado em construir uma âncora narrativa emocional, o último ato – cerca de 40 minutos absolutamente insanos – não teria uma fração da tensão.
No entanto, a banda sonora épica de “Top Gun: Maverick“ é capaz de ser o único componente que não sairá da mente dos espetadores até ao fim do ano. Na verdade, não se pode adjectivar como surpreendente, visto que se tem nomes como Lorne Balfe, Harold Faltermeyer – compositor do filme original – e Hans Zimmer a trabalharem em conjunto para proporcionar uma experiência cinemática inesquecível. O uso do tema original e as variações musicais de pedaços icónicos da banda sonora de 1986 provocam arrepios de cima a baixo. Para além dos compositores, Lady Gaga oferece uma canção original, “Hold My Hand”, que será inevitavelmente nomeada nos próximos Óscares, independentemente da opinião pública geral.
Terminando com um pequeno comentário sobre uma crítica comum a este tipo de filmes, principalmente ao “Top Gun“ original. Não é por uma obra apresentar um retrato positivo de um soldado que automaticamente passa a “propaganda militar”. Existem milhares que não são nada mais do que boas pessoas com histórias genuinamente fascinantes que merecem muito mais atenção daquela que recebem. Kosinski e a sua equipa de argumentistas conseguem entender isso melhor que muitos. Independentemente de se gostar ou não do filme em si, cabe a todos os cinéfilos recomendar a ida ao cinema a leitores, ouvintes, amigos e familiares para ver uma obra cinemática que se orgulha de pertencer a tal arte magnífica.
TOP GUN: MAVERICK | DISPONÍVEL NOS CINEMAS A PARTIR DE 24 DE MAIO
Top Gun: Maverick, em análise
Movie title: Top Gun: Maverick
Movie description: Após mais de 30 anos de serviço como um dos melhores aviadores da Marinha, Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) está onde deveria estar: a voar nos limites como piloto de testes e a evitar uma subida na hierarquia que o faria deixar de voar. Quando se encontra a treinar um destacamento de graduados Top Gun para uma missão especializada que nenhum piloto vivo alguma vez viu, Maverick encontra o Tenente Bradley Bradshaw (Miles Teller), nome de código “Rooster”, filho do falecido amigo de Maverick, o Tenente Nick Bradshaw, nome de código “Goose”. Face a um futuro incerto e confrontado com fantasmas do passado, Maverick é obrigado a enfrentar os seus medos mais profundos, culminando numa missão que exige o sacrifício daqueles que forem escolhidos para voar nela.
Date published: 24 de May de 2022
Country: EUA
Duration: 131'
Director(s): Joseph Kosinski
Actor(s): Tom Cruise, Miles Teller, Jennifer Connelly, Jon Hamm, Glen Powell, Lewis Pullman, Ed Harris, Val Kilmer
Genre: Ação, Drama
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Manuel São Bento - 85
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Marta Kong Nunes - 80
CONCLUSÃO
“Top Gun: Maverick” é o regresso dos blockbusters puros e nostálgicos, tornando-se um dos favoritos pessoais deste ano. As melhores sequências de ação aéreas de sempre impressionam as mais altas expetativas, não só pelas stunts reais absolutamente insanas, mas em muito devido ao contributo de todos os elementos de filmmaking. O argumento surpreendemente emocional leva Tom Cruise a entregar uma das melhores interpretações da sua carreira. A montagem perfeita é essencial para criar o tal realismo, assim como elevar os níveis de tensão para um dos melhores últimos atos do género respetivo. E, finalmente, a banda sonora memorável carregada com músicas épicas que fazem da experiência de cinema a única em que deve ser vista esta obra magnífica, em tudo superior ao original.
Pros
- Sequências de ação aéreas.
- Dedicação e empenho de todo o elenco, incluindo as prestações.
- Enredo surpreendentemente emotivo e muito bem estruturado.
- Último ato de pura adrenalina.
- Montagem perfeita e essencial para o sucesso do filme.
- Banda sonora memoravelmente épica.
Cons
- Argumento não deixa de ser formulaico.
- Havia espaço para um maior desenvolvimento de personagens secundárias.