"Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga" | © Netflix

Festival Eurovisão da Canção, em análise

“Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga”, também conhecido como “Eurovision Song Contest”, foi uma das comédias mais divertidas que a Netflix nos trouxe em 2020. A obra está nomeada para o Óscar de Melhor Canção Original graças ao número climático “Husavik (Hometown)”.

No annus horribilis de 2020, a pandemia do COVID-19 levou ao cancelamento de muitos eventos, festivais e outras celebrações. Entre eles encontramos o Festival Eurovisão da Canção, fonte anual de orgulho europeu, amor musical e muitas risadas face ao ridículo de todo o espetáculo. Se alguma vez existiu um ano que precisava das loucuras mirabolantes da Eurovisão, esse ano era 2020, pelo que o seu cancelamento doeu mais do que doeria noutras ocasiões. Quem não se precisou de rir e esquecer as mágoas do mundo nestes últimos meses?

Apesar disso, sempre houve um Festival Eurovisão da Canção. Só que, desta vez, era ficção ao invés do circo real que regularmente nos abençoa os televisores. Em Junho do ano passado, a Netflix estreou uma das suas mais loucas e delirantes comédias, uma ideia de Will Ferrell que tanto troça como homenageia esta estranha tradição Europeia que é a Eurovisão. Trata-se d’”A História dos Fire Saga”, um duo islandês que, desde a meninice, sonha em competir nos palcos europeus e ganhar aquele reluzente troféu que, em 2017, foi conquistado por Salvador Sobral.

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© Netflix

Interpretados por Ferrell e Rachel McAdams, Lars e Sigrit são a chacota da sua terra natal, a vila costeira de Husavik, e passam as noites a cantar no bar local para uma audiência que só quer ouvir o malfadado “Jaja Ding Dong”. Um dia, por completo acaso, a sorte muda e o par consegue lugar entre os 12 finalistas para representar a Islândia na Eurovisão. A sua atuação é desastrosa, mas umas reviravoltas mortíferas levam ao sucesso inusitado da parelha. Sem saberem bem como, Lars e Sigrit partem rumo a Edimburgo para cantarem em nome da nação e tentarem ganhar o troféu.

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A história que se segue é bem básica e de modo algum justifica a duração do filme, que excede as duas horas. O romance desabrocha entre os dois, há mal-entendidos e arcos de personagem unicamente previsíveis. Pelo meio, o realizador David Dobkin encena uma série de números musicais que tanto são paródias da Eurovisão como embevecidas homenagens ao seu particular exagero, exuberância, à sua excelência absurda. Aliás, esse é o grande ponto forte da fita. Por muito que esta seja uma comédia jocosa, é também um exercício em devastadora sinceridade.

Diz-se que as melhores paródias são feitas por aqueles que amam aquilo com que gozam. Apesar de “Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Sagva” estar longe de ser grande cinema, trata-se de uma paródia e peras. Ferrell e companhia realmente entendem o estranho apelo do festival, seu requintado cocktail de parvoíce e fulgor. Tanto assim é que o filme funciona sempre melhor quando deixa de tentar forçar o humor à Hollywood e se rende por completo aos deleites destas cantorias europeias que nós tanto amamos. Não admira que os melhores atores sejam aqueles que menos se esforcem pela piada fácil, McAdams e Dan Stevens como um cantor russo, brilham mais do que os seus colegas devido ao modo como aceitam e celebram que não há espaço para ironia nesta receita de cinema leve e sem consequência.

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Uma série de cameos, incluindo do campeão português do festival, oferecem muito entretenimento aos fãs do festival que se encontrem defronte do filme. Um medley que mistura Cher e Celine Dion e é cantado por uma série de veteranos da Eurovisão é especialmente apaixonante. Dramaticamente, é um travão que interrompe todo o desenvolvimento narrativo, um mecanismo disfuncional e sem grande propósito. No entanto, mentiríamos se disséssemos que não amámos o momento. Assim é todo o filme, uma patetice inocente que, apesar de imperfeita, vai puxando a lágrima e induzindo o sorriso, a risada.

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© Netflix

Nada melhor exemplifica isso que o clímax da película, um momento musical que se anuncia desde o início, mas não é por isso menos jubiloso. Depois de muitas avarias e tropelias, Lars e Sigrit finalmente cantam algo que não é uma simples tentativa de ganhar pontos. Eles cantam um hino apaixonado sobre a sua relação um com o outro e com a terra natal, a maravilhosa Husavik. No seguimento de inúmeras canções anglófonas, notas em islandês ressoam nos ouvidos do espetador e vivemos, através da ficção, uma daquelas cenas que fazem com que alguém se apaixone pelo circo que é o Festival Eurovisão da Canção.

A canção, escrita por Savan Kotecha, Max Grahn e Rickard Göransson, valeu à comédia Netflix a sua única nomeação para os prémios da Academia. Num mundo justo, ganharia sem problemas, mas é possível que venha a perder. Até é provável, se confiarmos nos peritos dessa matéria. Enfim, é uma grande cena, uma explosão de alegria cinematográfica, uma expressão de sinceridade enquanto força motriz do drama e da comédia. Sim, é ridículo, é piegas e muito lamecha. É tudo isso, mas também é extraordinário do seu modo muito idiossincrático. Assim é “Husavik” e assim é este filme. O “Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga” recomenda-se a quem queira ter um bom serão, tenha coração aberto e quiçá o pensamento crítico meio desligado.

Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga, em análise
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Movie title: Eurovision Song Contest: The Story of the Fire Saga

Date published: 25 de April de 2021

Director(s): David Dobkin

Actor(s): Will Ferrell, Rachel McAdams, Dan Stevens, Pierce Brosnan, Mikael Persbrandt, Demi Lovato, Graham Norton, Salvador Sobral

Genre: Comédia, Música, 2020, 123 min

  • Cláudio Alves - 55
55

CONCLUSÃO:

Como uma boa canção da sua competição titular, o “Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga” é uma explosão desajeitada de humor absurdo e sentimentalismo sincero. Com uma banda-sonora para fazer rir e chorar, declaramos que este é um sucesso da Netflix apesar das suas muitas imperfeições. Ocasionalmente, o diamante em bruto é mais apetecível que a gema polida e reluzente.

O MELHOR: O clímax musical. É um assombro!

O PIOR: A duração excessiva, o humor forçado, a presença de Ferrell enquanto protagonista romântico.

CA

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