18 º FICA — Festival de Cinema Ambiental, Goiás, Brasil

O FICA, um dos maiores festivais de cinema ambiental da América Latina, realizado na velha cidade de Goiás, (Brasil) abriu ontem à noite sob o signo da realidade virtual e dos desastres ambientais. E para além disso até houve protestos em relação à situação política no Brasil. Infelizmente não há filmes portugueses entre 22 filmes de todo o mundo que estão em competição, sobre o tema ambiente e sustentabilidade.

Até domingo 21 de Agosto estreiam no Cinemão, uma sala temporária da velha cidade património da humanidade e antiga capital do Estado, (Cine-Teatro São Joaquim está em obras) uma excelente seleção de filmes que manifestam a preocupação sobre a qualidade de vida, ambiente e sustentabilidade do planeta em que vivemos. E depois dos filmes, não só ambientais haverá pela noite dentro vários concertos e muita música brasileira. 

Rio de Lama

O documentário Rio de Lama, do realizador Tadeu Jungle, um filme que aborda a tragédia do rompimento da barragem da mineira Samarco, em Mariana, no Estado de Minas Gerais, uma curta-metragem filmada em realidade virtual, serviu de mote para uma  movimentada abertura deste 18º FICA, que chega assim à sua maturidade no contexto dos festivais brasileiros e da própria GFN-Green Film Network, rede de festivais internacionais.

Vê Rio de Lama

A concurso vão estar cerca 22 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens, com obras, vindas de vários cantos do mundo e Brasil, que tratam questões como as mudanças climáticas, consumismo, relação entre o homem e a natureza, ambiente urbano, pressão do desenvolvimento e um progresso desenfreado que ultrapassa os limites dos recursos naturais do planeta. Infelizmente este ano não há nenhum filme português na mostra goiana. Além do concurso de filmes ambientais haverá ainda outras mostras de cinema, oficinas, encontros e debates, além de concertos musicais com destaque para o encerramento no domingo (21) à noite, com um espectáculo ao ar livre  e aberto com a dupla Elba Ramalho e Geraldo Azevedo.

Vozes de Chernobyl

Na competição principal do FICA o destaque vai para o filme ambiental do ano: Vozes de Chenobyl-La Supplication, de Pol Cruchten (Luxemburgo), que vai ter igualmente uma estreia absoluta em Portugal na competição do CineEco, que vai realizar-se entre 8 e 15 de Outubro próximos em Seia. Nada seria como antes para os defensores da energia nuclear depois deste desastre de Chernobyl, o tema do documentário, baseado no livro da escritora bielorrussa Svetlana Alexievich, Prémio Nobel de Literatura 2015, e um filme que testemunha alguns dos sobreviventes de Chernobyl através de relatos do seu quotidiano antes e depois do desastre.

Vê trailer de Vozes de Chernobyl

Vindo da ‘onda do cinema pernambucano’, chega-nos também à competição goiana Brasil S/A, de Marcelo Pedroso, uma alegoria irónica e futurista que mistura a ficção e documentário para questionar os modelos de exploração e desenvolvimento do Brasil desde a colonização portuguesa, passando pelas mudanças tecnológicas do século XX, as mudanças de hoje e do futuro.

Vê trailer de Brasil S/A

Além da mostra competitiva principal, o FICA apresenta ainda a Mostra ABD Cine Goiás, a 8ª Mostra Infantil – Fica Animado, a Mostra Paralela do Cinema Brasileiro e a Mostra de Vídeo Escolar – Se Liga no FICA. A 14ª Mostra ABD Cine Goiás, é uma mostra competitiva de temática livre e uma montra da produção local e goiana. Na Mostra Paralela do Cinema Brasileiro, com filmes fora de competição o destaque vai igualmente para a exibição da comédia romântica Entre Idas e Vindas, do realizador José Eduardo Belmonte, com Fábio Assunção e Ingrid Guimarães no principais papéis, que vão estar aqui no FICA, para apresentar o filme.

O Menino e o Mundo

O cinema de animação está também em primeiro plano em várias atividades da programação, com exibição de filmes, encontros e oficinas. Além da tradicional mostra infantil FICA Animado, vão ser exibidos duas grandes produções: O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, filme vencedor do FICA 2014 e nomeado para o Óscar de Animação 2014; e Uma História de Amor e Fúria, de Luiz Bolognese, um filme dirigido ao público adulto.

Vê trailer de Uma História de Amor e Fúria

O FICA é ainda tradicionalmente um espaço de discussão, realizando mais uma vez este ano importantes eventos relacionados com ambiente e audiovisual: Fórum de Cinema com o tema O Cinema Brasileiro nas Escolas, Encontro de Cineclubes de Goiás, que vai reunir cineclubistas de todo o Brasil e o Fórum Ambiental, onde a paisagem do Cerrado vai estar em evidência com o tema O Caminho para um Futuro Sustentável: Governança Territorial, Proteção Ambiental e Segurança Alimentar. Por último a música que além da apresentação de orquestras e espectáculos de artistas locais, está previsto  além de Elba Ramalho e Geraldo Azevedo, um concerto único com pianista e cantor carioca Daniel Jobim, neto de Tom Jobim e que na cerimónia de abertura do Rio 2016, cantou Garota de Ipanema, às passadas de Gisele Bündchen no Maracanã.

Daniel Jobim

Para finalizar apenas uma nota relativamente à abertura do FICA 2016, para além da novidade da apresentação do filme de Tadeu Jungle em vez de grandes discursos oficiais. Enquanto Jungle apresentava o seu filme entraram manifestantes no cinema empunhado cartazes e entoando palavras de ordem, como Fora Temer, Fora OS, Fora Cunha e Fora Marconi, entre outras que revelam a instável situação política no Brasil actualmente. Os manifestantes protestaram dentro do Cinemão durante cerca de dez minutos. E numa demonstração de democracia não houve tumultos, nem desordem, enquanto todos ouviram os protestos, incluindo as autoridades e convidados da plateia. Houve aliás alguns aplausos, antes do realizador Tadeu Jungle retomar a apresentação do seu filme Rio de Lama.


 

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