Frankenweenie, em análise

 

Título Original: Frankenweenie

Realizador: Tim Burton

Elenco: Winona Ryder, Catherine O’Hara e Martin Short

Género: Animação, Terror, Comédia

ZON | 2012 | 87 min

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É numa perdida milésima parte do segundo que é perceptível a olho nu um delay na passagem entre frames. Um simples instante de tempo em que nos apercebemos que aquilo que vemos é stop motion. E aquilo que vemos é arte no seu estado mais puro, criada pelo suprassumo contador de histórias macabras, o mestre que melhor conhece a sua conceção: Tim Burton.

Baseado na sua curta-metragem homónima, em live-action de 1984 (que consta que foi o motivo do seu despedimento da Disney aos 26 anos), Tim Burton traz-nos agora uma animação sobre amizade eterna entre um cão e o seu dono que se foca na temática da morte e na sua possível reversibilidade.

O próprio Burton refere que “Frankenweenie” tem uma profunda inspiração autobiográfica. Consta que quando era mais novo, ao seu parceiro canino foi diagnosticado uma doença que não lhe iria permitir viver muito mais tempo. Mas a verdade é que o cão foi capaz de viver longos anos ao seu lado.

E essa experiência pessoal permitiu que Tim Burton criasse um universo do qual fez parte: as crianças da escola lembram os trejeitos dos seus colegas do tempo de infância e a solidão do personagem principal, Victor, tem origem na personalidade de Burton, um ser estranho até compreender que os que o rodeiam também têm a sua dose de estranheza.

Através de um stop motion cristalino, banhado com uma camada digital límpida, e perfumado com os aromas nostálgicos do preto e branco, “Frankenweenie”, mesmo que não fosse muito mais do que isso, seria já um espectáculo visual admirável.

Mas Tim Burton decidiu mostrar-nos que aquilo que fez no passado não foram experiências esquecidas. Apoiado no tom deliciosamente cómico (e até no visual) de “Ed Wood”, misturando-o com elementos sobrenaturais de “Noiva Cadáver” e polindo o argumento com o carácter enternecedor e emotivo onde “Big Fish” era exímio, “Frankenweenie” torna-se numa extensão comovente, intensa e divertida da sua curta-metragem de origem.

Um tique-taque angustiante guiado pelas palpitações do coração de Victor e da sua ânsia de ver ser devolvida a sua vida, ao lado do mais fascinante cão ressuscitado pelos milagres científicos: aqui, a previsibilidade da ação é sempre uma miragem.

A obra segue quase sempre o ritmo da curta-metragem de 1984. Será portanto impossível que não se esbocem sorrisos marcadamente saudosos quando há coincidências narrativas. Mas há elementos novos tão aprazíveis como os repetidos. Edgar e Weird Girl são um exemplo disso mesmo: os personagens que mais enriquecem a história espalhando originalidade e frescura nas cenas onde surgem.

Será portanto a confirmação de que “Sombras na Escuridão”, “Alice no País das Maravilhas” e até “Charlie e a Fábrica de Chocolate” não passam de meros acidentes de percurso. O ‘velho’ Burton está vivo.

Tim Burton ressuscita para o cinema, tal como Sparky ressuscitou para Victor. It’s ALIVE!

DR

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