Os melhores guarda-roupas da TV | 5. The Get Down

Entre verismo histórico e fantasia musical, a equipa criativa de The Get Down recriou os ambientes e modas urbanas que acompanharam o nascimento do hip-hop.

 


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2016 viu a estreia de duas ambiciosas produções televisivas sobre o mundo da música na América dos anos 70, Vinyl e The Get Down – uma delas sobre o mundo hedonista das produtoras discográficas e do rock da época, e a outra sobre o nascimento do hip hop nos bairros mais pobres de Nova Iorque. Apesar das suas diferenças temáticas, ambas foram marcadas pela colaboração de dois cineastas visionários, Martin Scorsese e Baz Luhrmann,  e as duas produções foram monumentalmente dispendiosas. No entanto, Vinyl acabou por ser cancelado ao fim de uma temporada, enquanto The Get Down vai continuar em 2017.

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Como já mencionámos tanto, Vinyl como The Get Down foram criações abençoadas com enormes orçamentos que possibilitaram um fausto imenso na sua recriação de uma época passada. No entanto, para efeitos desta lista dos melhores guarda-roupas da TV, escolhemos celebrar somente os figurinos de The Get Down. Tal escolha deve-se tanto a uma procura pela variedade de registos, propostas visuais e épocas, como ao facto de que, apesar do seu ostentoso requinte, Vinyl é uma vistosa explosão de anemia criativa. Há quem critique The Get Down pelo seu estilo hiperbólico e qualidade fantasiosa, quase infantil, mas tais idiossincrasias permitem que a série de Luhrmann evite os clichés cansativos de Vinyl. O mesmo se aplica aos figurinos, uma montanha de lugares comuns muito bem executados num caso e um orgiástico festim de especificidade cultural e fantasia estilística no outro.

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Como é óbvio, escolhemos a segunda dessas duas opções e, por consequência estamos aqui a celebrar os figurinos de The Get Down. O guarda-roupa em questão foi edificado por Catherine Martin, a esposa e frequente colaboradora de Baz Luhrmann, e Jeriana San Juan, uma figurinista nova-iorquina que usou as memórias da sua juventude em conjunto com uma exaustiva pesquisa histórica para recriar o Sul de Bronx em 1977. Essa afinidade de San Juan para com as personagens desta narrativa provou-se essencial para o sucesso dos esplendorosos visuais da série, sendo que conceitos como a subcultura associada ao colecionismo de ténis ou a moda de “twinning” eram perfeitamente desconhecidos por Martin e Luhrmann, ambos australianos.

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Ou seja, por um lado, temos San Juan a trazer uma dose potente de autenticidade (uma ideia fulcral na cultura hip-hop, especialmente nos seus anos de génese), ao mesmo tempo que Martin e Luhrmann traziam ao projeto o caráter sonhador de um conto-de-fadas urbano. O perfeito exemplo desta conflagração de verismo e fantasia é a personagem de Shaolin Fantastic, um misterioso, quase mítico, grafiteiro que introduz os protagonistas adolescentes da série ao mundo nascente do hip-hop. Tomando como ponto de partida o músico e DJ Grandmaster Flash, um dos grandes parceiros criativos de Luhrmann nesta aventura, as figurinistas criaram um look que já sugere as modas dos anos 80. Em simultâneo com esse intencional anacronismo, a impecabilidade e saturação cromática das suas roupas contribui para a ideia de uma figura heroica que transcende a nossa realidade, mais lenda que pessoa.

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Outro artista cuja ligação ao projeto se manifestou nos figurinos foi Lady Pink. A pedido de San Juan, a rainha nova-iorquina do grafitti, criou um colete exclusivo para a personagem de Jaden Smith, um grafiteiro adolescente cheio de sonhos que, como era costume na época, usava peças de ganga adornadas com desenhos da sua autoria. Em essência, estes artistas cujo trabalho é por alguns denegrido ao estatuto de vandalismo usavam as suas próprias roupas como um portefólio. Outra personagem cujos figurinos foram feitos de raiz foi Mylene Cruz, uma jovem latina que adora música disco e sonha com o estrelato. Para Cruz, San Juan baseou-se muito em si mesma, criando conjuntos que trespassam a rebeldia juvenil por entre o conservadorismo de uma educação religiosa. O seu grande momento estilístico é no segundo episódio, quando a jovem despe o seu fato de coro para revelar um vestido atrevido que parece ter saído diretamente das discotecas de Febre de Sábado à Noite.

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Nem todos os casos foram assim, como é evidente. Se não fosse a ajuda de marcas como a Puma e a Gucci, assim como o espólio de inúmeras casas de figurinos americanas, este guarda-roupa nunca poderia ter sido criado e The Get Down não possuiria o seu esplendoroso fausto visual. Considerando este luxo na execução de The Get Down, existe, no entanto, uma observação fulcral sobre os seus figurinos. Referimo-nos à modéstia económica das personagens em questão, cujos estilos pessoais eram, em parte, uma forma de expressão e revolta contra culturas dominantes. Não esqueçamos que, antes dos estilos dico e hip-hop chegarem ao mainstream global, eram movimentos underground, nascidos em bairros pobres cheios de adolescentes sonhadores como os desta história. Adolescentes que se vestiam com roupas baratas, que personalizavam os seus casacos de ganga a cair aos bocados, que costuravam os seus próprios vestidos para se irem pavonear pelas discotecas e que viam num par de ténis imaculados um espetacular símbolo de estatuto, prosperidade e importância.

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Na próxima página vamos fazer uma viagem temporal, em mais do que um sentido, e descobrir a Europa do século XVIII através dos olhos de uma médica veterana da segunda Guerra Mundial. Não percas!

 

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