O que é que os Globos de Ouro nos dizem sobre os Óscares?

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Bohemian Rhapsody” e “Green Book” foram os grandes vencedores dos Globos de Ouro, mas isso não significa necessariamente que vão triunfar com os Óscares. Como a Academia de Hollywood começa a votação dos nomeados para os Óscares hoje 7 de dezembro, no dia precisamente a seguir à cerimónia dos Globos, a influência destas vitórias será particularmente forte, para bem e mal.

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Os Globos de Ouro entregues pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood têm a reputação de serem os mais importantes precursores para os Óscares. Quem ganha estes galardões tende a tornar-se no automático frontrunner na corrida para os Prémios da Academia, mas, nos últimos tempos, essa reputação tem-se provado um tanto ou quanto distante da efetiva realidade.

Ainda no ano passado, “Três Cartazes à Beira da Estrada” foi o grande campeão da noite, com quatro vitórias. Contudo, chegados os Óscares, as esperanças de ganhar Melhor Filme esfumaram-se. O mesmo se passou com “The Revenant”, com “La La Land” e com “Boyhood”. “Spotlight”, que ganhou o Óscar de Melhor Filme e Argumento Original sem nem um Globo de Ouro ter ganho em 2016.

Ou seja, o facto de “Bohemian Rhapsody” e “Green Book” terem ganho entre si cinco Globos de Ouro, incluindo de Melhores Filmes (Drama e Comédia respetivamente), em nada indica que vão repetir a proeza nos Óscares. Afinal, ambos os filmes saíram da noite com alvos pintados nas costas e, neste caso, acertar nesses alvos não vai ser muito difícil nem para imprensa internacional, para os influenciadores das redes sociais ou para os próprios profissionais da indústria.

Ainda os créditos da cerimónia não tinham acabado de passar no ecrã e já a cinefilia internacional incendiava as redes sociais com as labaredas do ultraje. Afinal, para muitos “Bohemian Rhapsody” representa uma visão homofóbica do legado de Freddie Mercury e uma imperdoável desfiguração da História dos Queen. “Green Book”, por seu lado, é visto como um filme cheio de boas intenções cuja abordagem retrógrada acaba por resultar em racismo que pode ser acidental, mas não por isso menos ofensivo.

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A equipa de BOHEMIAN RHAPSODY recebem o Globo de Ouro. Nos próximos dias, muitas serão as manchetes a acusar o filme de ser realizado por um pedófilo (Bryan Singer).

Muito se tem falado de tais questões em relação a estes filmes e o discurso crítico e moralista só se vai intensificar nas próximas semanas. Aliás, os ataques calculados contra estas obras vão ganhar novo teor. Para “Green Book”, isso passa pelo desmascarar e divulgar das mentiras que o filme conta sobre os seus protagonistas reais. A família de Don Shirley detesta a obra e vê-a como um insulto ao legado do antepassado, por exemplo, e as suas vozes vão ser ouvidas.

No caso de “Bohemian Rhapsody”, o backlash vai ser ainda mais venenoso e mais justificado. Apesar de todos se terem esquecido disso no meio do sucesso financeiro do filme, o realizador creditado desta cinebiografia é Bryan Singer, um homem que já foi múltiplas vezes acusado de conduta sexual imprópria e alegados comportamentos predatórios para com menores.

A equipa do filme detesta-o pois desapareceu antes das filmagens acabarem e teve de ser substituído e nem Malek nem os produtores ousaram referir o seu nome quando ganharam os Globos. Eles bem sabem que, na situação mediática atual, a Academia nunca vai dar Melhor Filme a uma obra realizada por um tão infame homem. Ainda o ano passado todas as chances da vitória de James Franco nos Globos de Ouro se materializar numa nomeação para o Óscar sumiram com mais um escândalo. Para “Bohemian Rhapsody”, a única hipótese de conquistar Melhor Filme nos Óscares era que tais factos fossem obscurecidos. Com estas vitórias isso não vai acontecer.

Tal não quer dizer que “Bohemian Rhapsody” e “Green Book” não vão ser nomeados para muitos Óscares. Simplesmente significa que, com o atual sistema de votação por ranking de todos os nomeados e cálculo final da opinião média de toda a Academia, filmes afogados em tamanha polémica dificilmente vão chegar à maior honra dos Óscares. Rami Malek e Mahershala Ali são os atuais favoritos nas categorias de Melhor Ator e Ator Secundário, isso é certo, mas as chances de seus filmes chegarem ao suprassumo Óscar provavelmente morreram na noite dos Globos.

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É claro que, como sempre, tais dinâmicas podem mudar. Na Awards Season não há regras fixas e a incerteza reina. Se calhar tudo o que aqui foi afirmado está errado. Apesar disso, para saberes as nossas opiniões acerca de outras potenciais reviravoltas da Awards Season despoletadas pelos Globos de Ouro, incluindo o fado de Lady Gaga, segue as setas.




QUEM É A FAVORITA? CLOSE, GAGA OU COLMAN?

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Glenn Close, Lady Gaga e Olivia Colman ganharam todas Globos de Ouro, mas só uma delas é a nova favorita na corrida ao Óscar de Melhor Atriz.

De todas as categorias dos Óscares que foram influenciadas pelos Globos de Ouro deste ano, nenhuma foi mais que Melhor Atriz. Com a obsessão destes prémios específicos em celebrarem os mais famosos de entre os famosos, todos os peritos viam o triunfo de Lady Gaga como algo assegurado. Contudo, chegado o fim da noite, não só a diva tinha perdido o Globo de Ouro de Melhor Atriz (Drama), como o seu filme passou de ser o favorito para o triste detentor de um único prémio (Melhor Canção).

Se Gaga não conseguia ganhar o Globo, ganhar o Óscar vai ser algo quase impossível. A única hipótese da atriz cantora é que aconteça um milagre e o SAG ou o BAFTA lhe caia nas mãos. No entanto, isso parece improvável e, além do mais, os votantes dos Óscares já lhe vão dar a estatueta de melhor Canção por “Shallow”, pelo que honrá-la duplamente não será uma prioridade.

Ainda por cima, há que considerar que os Globos são uma noite em que os discursos são importantes, especialmente quando a votação para os Óscares está a porta. Encantar e emocionar a audiência com um discurso memorável é meio caminho andado para assegurar a vitória no Dolby Theatre. E encantar e emocionar a audiência foi o que Glenn Close e Olivia Colman fizeram.

A atriz britânica de “A Favorita” não podia ter sido mais charmosa ou divertida quando recebeu o Prémio de Melhor Atriz numa Comédia ou Musical, enquanto Close relembrou o mundo que é uma lendária veterana de Hollywood. Quando ganhou por “A Mulher”, Close estava visivelmente emocionada e conseguiu passar o seu estado à audiência, tendo mesmo recebido uma ovação de pé por entre lágrimas. A indústria cinematográfica ama-a e sabe que ela merece um Óscar, especialmente depois de ter sido nomeada já seis vezes sem nunca triunfar. Senhoras e senhores, aqui têm a nova frontrunner para o Óscar de Melhor Atriz.




MELHOR ATOR OU A BATALHA ENTRE OS MÚSICOS E O POLÍTICO

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Christian Bale agradeceu a inspiração de Satanás para a performance que lhe valeu o Globo de Ouro e poderá trazer um segundo Óscar.

A corrida ao Óscar de Melhor Ator tem sido a mais bizarra do ano. Entre os críticos há um claro favorito e ele é Ethan Hawke por “No Coração da Escuridão”. Contudo, esse filme de Paul Schrader é um cáustico exercício em cinema de autor severo e pouco amistoso que pode deleitar críticas, mas não tem o apelo semi-populista que os Óscares costumam preferir. Não surpreenderia nenhum perito da Awards Season se o ator nem sequer fosse nomeado pela Academia.

Tal situação deixou a corrida ao Óscar mais ou menos aberta até à noite dos Globos de Ouro, onde Rami Malek em “Bohemian Rhapsody” e Christian Bale em “Vice” se assumiram como os novos favoritos. É claro que, no caso de Bale, há sempre que considerar o facto de que ele já tem um Óscar e melhor Ator é a categoria ideal para honrar a biografia dos Queen sem ter de diretamente celebrar o trabalho de um alegado predador sexual.

Com isso dito, não devemos descontar uma possível ascensão de Bradley Cooper. Por vezes, perder nos Globos de Ouro pode resultar na galvanização dos apoiantes de um certo filme ou cineasta. Cooper, que até agora tinha concentrado a sua campanha promocional nos esforços como realizador pode bem estar a reconsiderar os planos. Alfonso Cuarón parece cada vez mais imbatível e, se Cooper se mobilizar, pode conseguir revitalizar-se como candidato ideal a Melhor Ator. Assim, votantes podem reconhecer todo o seu esforço enquanto realizador, produtor, argumentista e ator de uma só vez com o galardão de Melhor Ator.




O ÓSCAR IMPOSSÍVEL: A HISTÓRIA DE VIDA DE AMY ADAMS

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Duelo de Titãs: Amy Adams vs Regina King. King está a ganhar.

Se Glenn Close está a caminho de perder o título de maior perdedora na História dos Óscares, Amy Adams parece estar destinada a assumir essa mesma posição. Para muitos especialistas, “Vice” adivinhava-se como a receita perfeita para a vitória de Amy Adams. Mesmo com a hegemonia de Regina King entre as associações de críticos, Adams parecia uma aposta segura para o Óscar e para o Globo de Ouro. Afinal, os Globos historicamente adoram Amy Adams.

Contudo, o precedente foi quebrado e Adams acabou por perder dois Globos na mesma noite. Pior ainda é o facto de que em ambas as competições, Melhor Atriz numa Minissérie ou Filme Televisivo e Melhor Atriz Secundária de Cinema, Adams estava nomeada ao lado da atriz de “If Beale Street Could Talk” e não se conseguiu impor. Se nem o Globo Adams conseguia conquistar, o Óscar parece impossível. Regina King é agora a favorita e tem a performance mais premiada de toda a temporada.

Melhor Ator Secundário é uma competição com muito menos drama e menos certezas. Mahershala Ali pode vir a ganhar um segundo Óscar por “Green Book”, mas a sua vitória por “Moonlight” ainda é muito recente. Com os SAG, é possível que Sam Elliott se assuma como competição. Até lá, Ali é um precário favorito.




TUDO SOBRE EMILY BLUNT

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Emily Blunt é a rainha da Awards Season. É uma rainha sem coroa, sem trono e sem reino… por enquanto.

Pode parecer estranho dedicar todo um slide a uma atriz cujos filmes saíram da cerimónia de mãos a abanar, mas Emily Blunt é uma figura peculiarmente crucial na atual Awards Season. Até serem anunciados os nomeados para os Producers Guild Awards, muitos especialistas assumiam que “O Regresso de Mary Poppins” fosse ser um candidato de peso nos Óscares. Contudo, sem o apoio dos produtores, parece que o filme da Disney está fora da corrida ao máximo galardão de Melhor Filme.

A razia de vitórias nos Globos de Ouro só vem sublinhar essa situação. Ao mesmo tempo, há outro filme com Emily Blunt a fazer furor no mundo dos prémios. “Um Lugar Silencioso” foi nomeado para os PGA e Blunt foi indicada para o SAG de Melhor Atriz Secundária. Até a banda-sonora, nomeada para um Globo, se tornou finalista dos Óscares.

Muito disso deve-se a uma campanha agressiva levada a cabo pela Paramount em nome do filme de terror de John Krasinski. O estúdio americano decidiu não fazer campanha para mais nenhum filme e têm vindo a inundar Los Angeles com eventos especiais, editoriais de revistas, festas e screenings privadas para “Um Lugar Silencioso”. A falta de vitórias para os dois projetos de Emily Blunt pode pressagiar desgraça. Mas, neste momento, só o filme da Disney parece frágil, enquanto o de terror está em possível ascensão.




AFINAL, QUEM É QUE BENEFICIA?

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Alfonso Cuarón está pronto a perpetuar o recente domínio mexicano nos Óscares.

Muito já falámos dos problemas de quem ganhou e perdeu Globos de Ouro, mas, afinal, quem é que é beneficiado pelas suas efetivas vitórias? A resposta mais óbvia é “Roma”, que ganhou Melhor Realizador e Melhor Filme Estrangeiro. Face ao populismo polémico dos vencedores de Melhor Filme, esta joia monocromática de Alfonso Cuarón pode vir a tornar-se na grande alternativa prestigiosa na corrida ao Óscar de Melhor Filme. Quem sabe, se “Roma” fosse elegível para Melhor Filme se “Bohemian Rhapsody” não teria fracassado?

Ao mesmo tempo, as vitórias da cinebiografia de Freddie Mercury e da narrativa sobre temas raciais com Mahershala Ali catapultam as narrativas e debates principais desta corrida aos Óscares para o patamar das políticas de representação. Isso pode ser a chave para a vitória de “Black Panther” ou “BlacKkKlansman: O Infiltrado”. Uma verdade que poucos ousam dizer é que “Bohemian Rhapsody” e “Green Book” são filmes sobre minorias sociais que são muito desgostados por essas mesmas minorias e isso pode acabar por lhes custar grandes vitórias mais à frente. Os filmes da MARVEL e de Spike Lee não padecem do mesmo problema.

Outro filme muito beneficiado pela vitória nos Globos de Ouro está fora das outras corridas aos Óscares que não aquela que o viu triunfar ontem à noite. Trata-se de “Homem-Aranha: No Universo-Aranha”, um fenómeno crítico que muitos peritos julgavam ir ser derrotado pela hegemonia da Disney e Pixar. Afinal, nos últimos 12 anos, só dois filmes tinham conseguido ganhar o Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação sem serem distribuídos pela companhia do Rato Mickey. Esta vitória surpresa pode ser o sinal do triunfo no Dolby Theatre, nunca se sabe.

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