Os melhores guarda-roupas da TV | 8. The Good Wife

The Good Wife foi um dos dramas mais bem-vestidos dos últimos sete anos e a sua última temporada constituiu um sofisticado ponto final à sua narrativa e evolução estilística.

 


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the good wife

O primeiro episódio de The Good Wife, originalmente emitido em 2009, começa com um momento que reverbera por toda a narrativa da série. Depois de um escândalo sexual se abater sobre Peter Florrick, um político de Chicago, testemunhamos a conferência de imprensa em que ele fala, pela primeira vez sobre as acusações contra a sua pessoa. Ao lado de Peter, está a sua mulher, Alicia. Vestida num rígido casaco em padrão houndstooth e um fino colar de pérolas, ela é uma imagem familiar para o público americano, a mulher do político a enfrentar humilhação pública devido às ações do marido.

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Desde essa imagem, que procura despertar piedade da audiência, e do estalo dado em privado, que sinalizou o começo de uma nova etapa na vida de Alicia Florrick, que The Good Wife se tem vindo a tornar numa das séries mais aclamadas dos EUA. Também é uma das séries mais bem vestidas e estilisticamente influentes dos últimos anos, sendo que cada episódio é uma verdadeira montra viva de modas executivas e elegância conservadora. No entanto, a sofisticação atraente dos seus figurinos não constituem a principal razão para a presença da série nesta lista. Na verdade, é o modo como o guarda-roupa de The Good Wife telegrafa a evolução das suas personagens e ilustra os conflitos entre imagem pública, privada e as expetativas de uma sociedade calcificada em ideias de género que realmente garantiram a sua presença aqui.

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No centro de tudo isto está, como é óbvio, Alicia Florrick, interpretada nos últimos sete anos por Julianna Margulies. De esposa submissa a apoiar o seu marido, vimos Alicia voltar à vida de uma ambiciosa advogada, assistimos ao florescer de uma relação adultera, à sua crescente segurança profissional e pessoal, ao seu questionamento moral e ético, à sua ascensão e consequente queda em desgraça no mundo da política. No final, vimos a sua saga terminar, não de modo heroico, mas coma a ambivalência moral digna de uma das grandes anti-heroínas da televisão americana atual e, ao longo destes sete anos, tudo isso se refletiu, não só nas interpretações dos atores e guiões, mas também no modo de vestir de Alicia.

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Cortes progressivamente mais severos, estilos mais elegantes, ocasionais rasgos de sensualidade comedida e outros movimentos estilísticos seguiram a narrativa de The Good Wife de um modo assombroso, ao mesmo tempo que Alicia se veio a tornar numa espécie de ícone de estilo – o píncaro deste estatuto veio quando a própria Michele Obama chegou a copiar alguns dos conjuntos usados por Margulies na série. As outras personagens e seus guarda-roupas mostram o mesmo tipo de atenção ao detalhe e sofisticação estudada, especialmente no caso de Diane Lockhart (Christine Baranski) e os seus fatos luxuosos e ostentosa joalharia, mas é em Alicia que a atenção acaba sempre por recair.

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Apesar de não parecer algo muito intenso ou óbvio (a personagem passa mais de metade da série em fatos pretos e cinzentos), até o uso da cor é empregue para definir o arco narrativo de Alicia e a separar das outras personagens. Veja-se, por exemplo, como, nesta sétima e última temporada, o seu guarda-roupa privado é dominado por tons neutros, enquanto as roupas usadas em ações de campanha para o marido são em azul e vermelho. Efetivamente, estas roupas coloridas, este vestuário da “boa mulher” do candidato, são um figurino mesmo dentro da realidade de The Good Wife. Uma grande exceção, ocorre em Party, o antepenúltimo episódio, quando o figurinista Daniel Lawson vestiu Julianna Margulies num elegante vestido da Escada em vistoso vermelho. Esta é uma festa privada, mas Lawson queria enfatizar a centralidade narrativa da protagonista, da sua perspetiva subjetiva, e usou para a tornar numa presença impossível de ignorar, mesmo quando a câmara a perde por entre a alarmante multidão confinada ao interior do sue apartamento.

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Em The Good Wife, as roupas são armaduras que as personagens, com especial ênfase no elenco feminino, usam como modo de controlar o modo como o público e a sociedade em geral as observam. No contexto de tal jogo de fachadas sem fim, o ato de vestir torna-se num elemento fulcral da narrativa e caracterização das figuras em cena. Quer seja como significante da rarefeita realidade de privilégio em que Alicia e seus colegas se movem, ou como um elemento dramatúrgico, os figurinos concebidos por Daniel Lawson nunca falham ou caem num registo de indiferente mediocridade como acontece com tantos outros programas situados no mundo das intrigas políticas e dramas jurídicos. Não é por acaso que, mesmo antes da categoria se dividir em narrativas contemporâneas e de época, que The Good Wife alcançou indicações ao Emmy para Melhores Figurinos.

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Este ano, poderás continuar a ver como Daniel Lawson veste o universo de The Good Wife no spin-off The Good Fight, em que a advogada interpretada por Christrine Baranbski toma as rédeas da narrativa, substituindo a já icónica Alicia Florrick de Julianna Margulies.

 

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