Hope © AMC

Hope, Primeiras Impressões

“Hope” é a nova “Nikita” que a AMC foi repescar à série televisiva russa “Nadezhda”, reavivando a temática feminista de uma assassina a soldo, que anseia reformar-se das mazelas emocionais da sua vida dupla. Os dois primeiros episódios cativam com uma imagem crua e realista, numa reverência aos filmes mais “old-school” de espionagem.

Nadia (Viktoriya Isakova) é, à semelhança de muitas outras “Nikitas”, a epítome da tradicional “femme fatale”, tão capaz de enlouquecer sedutoramente um homem como de o eliminar sem dó nem piedade. Aliás, os criadores desta série: Alexey Trotsyuk e Eldar Velikoretsky em co-autoria com Doschanov e Ekaterina Surovtseva, seguem as linhas argumentativas basilares da obra magna de Luc Besson “La Femme Nikita” de 1990, reinterpretando o seu contexto social e conduta moral com um relevo, ao que parece, menos superficial. Não queremos com isto dizer que teremos mais sentimentalismo que ação, mas o que nos é revelado nesta amostra preliminar sugere uma exploração atenta às contradições psicoemocionais da personagem. No entanto, pese embora uma toada genericamente mais pausada e intimista, entramos em “Hope” com a promessa de obtermos, no mínimo, algumas potentes descargas de adrenalina sem aviso prévio, não fôssemos logo brindados com uma montagem menos finória e mais visceral da célebre matança do restaurante presente no guião de Besson, que aqui serve de pretexto para a pesada sentença prisional de Nadia.

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Enquanto que no material original, “Nikita” era uma reles delinquente punk toxicodependente condenada por ter morto um polícia para vingar a morte dos seus pais, aqui falamos de uma rapariga de aparência comum, que resolve entrar num snack-bar, e com um singelo quadrado de chocolate a derreter na boca, descarrega três violentos cartuchos de caçadeira no mesmo tipo de cliente (agente da autoridade), pelo mesmíssimo motivo. Não admira que a impactante execução coreográfica das cenas de ação possua aquela verve espicaçante das montagens cénicas de Besson, embora num tom mais contido e tétrico, nem tivesse a realizadora russa (Helena Hazanova) uma costela suíça e começado a sua carreira como assistente de produção de outro grande cineasta franco-suíço Alain Tanner, por muitos considerado o pai do “novo cinema suíço”. Até se poderá dizer, de certa maneira, que a imagem despretensiosa de “Hope” partilha vários elementos visuais com a filosofia cinematográfica de Tanner, que pensa os seus filmes como um “registo das resistências da realidade”, não tanto como afirmações estéticas, camuflando sempre uma mensagem ideológica subjacente a uma ideia de fuga do sujeito da sua condição inicial. Ora, em “Hope”, é possível visualizar essa matriz imagética na composição argumentativa, que em paralelo com a história da transformação da jovem rebelde numa assassina profissional, vai saltando para a fase terminal da sua carreira, revelando-nos uma mercenária exausta e emocionalmente instável, que anseia libertar-se do cativeiro criminal.

Hope T1 corpo
Hope © AMC

Quase nos seus quarenta, a Nadia de meia idade é casada com um cantor pop e tem uma filha adolescente, a quem justifica as suas ausências familiares sob o disfarce civil de hospedeira de bordo. Tal como em iterações prévias, Nadia é propriedade de uma organização fantasma que aqui assume a designação de Sindicato, sendo supervisionada pelo sombrio e impassivo Lev (Alexander Kuzmin), não se sabendo ao certo qual a natureza da relação de ambos. Assim, por entre vívidos cenários contrastantes que refletem a Rússia do fim da Guerra Fria e a de agora, a atriz principal veste com charme e pujança a pele da heroína criminal, oferecendo-nos todo um desvario de emoções conflituantes, que só pecam por serem acompanhadas por alguns diálogos empobrecidos de banalidade sem o equivalente fulgor representativo. Porque nota-se que Isakova está de corpo e alma a dar tudo por esta “Nikita”, que se apaixonou pelo papel devido à ambivalência moral que esta figura proporciona, ao mesmo tempo que permite tocar em temáticas tão sensíveis e fraturantes como a sublevação da mulher perante a autoridade masculina, veiculando uma mensagem social que, de resto, motivou a existência deste projeto televisivo, que já recebeu o aval para uma segunda temporada.

Hope T1 corpo
Hope © AMC

“Hope”, que nos é fornecido em pequenas doses de vinte e cinco minutos como um aperitivo digestivo ao bom estilo das “sitcoms”, perfilar-se-á como uma reinterpretação mais caseira e mundana de “Nikita”, privilegiando uma dimensão mais humana com enfoque na sua relação conjugal. Claro que ainda será prematuro para aferir, se os produtores de “Nadezhda” serão hábeis em costurar duas linhas temporais distintas com interesse e consistência num formato tão curto e fugaz, mas para já ficámos bem impressionados com a proposta refrescante neste segmento televisionado, nem que seja pela novidade de ser falada na sua língua mãe.

“Hope” é a intrigante versão russa de “Nikita”, que podem começar a acompanhar todas as segundas à noite no AMC Portugal!!!

Nós achamos que “Hope” tem potencial! E tu, o que achaste dos dois primeiros episódios?

Hope | Primeiras Impressões

Name: Hope (AMC Portugal)

Description: Nadia tinha apenas 16 anos quando os país foram brutalmente assassinados e num ato de vingança, localizou e matou o homem responsável pelo crime. Entretanto a justiça apanhou-a e condenou-a a 18 anos de prisão.​ Os meios de comunicação noticiaram o caso e atraíram a atenção de um grupo de crime organizado, O Sindicato, que lhe ofereceu a possibilidade de sair da prisão em troca dos seus serviços como uma das suas principais assassinas. Agora, 18 anos depois, o seu contratou chegou ao fim e Nadia decide romper todas as ligações que tem com o lado mais obscuro da sua vida para se dedicar plenamente à sua família. No entanto, os seus chefes têm outros planos para ela. O seu criador e guionista definem-na como uma “Nikita mais atual e uma declaração de amor à força e complexidade das mulheres”. Além disso, HOPE já tem luz verde para uma segunda temporada e está a ser um sucesso na Rússia.

Author: Miguel Simão

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  • Miguel Simão - 65
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CONCLUSÃO

“Hope” é uma reinterpretação da célebre história de “Nikita”, agora adaptada para uma audiência mais adulta e familiar, que se afasta da ação gratuita e daquele espírito de super heroína à semelhança de “James Bond”. Não reinventa propriamente a fórmula em termos de enredo, mas é mordaz e emotivo o suficiente para nos manter intrigados…

Pros

  • Interpretação de Isakova
  • Estética Cativante
  • Execução Coreográfica

Cons

  • Diálogos Vulgares
  • Transição inicial das linhas temporais
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