IndieLisboa 2016 | A cruzar as pernas

O 13º IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa vai realizar-se de 20 de abril a 01 de maio e na abertura oficial com ‘Love & Friendship’, de Whit Stillman, já que o encerramento faz-se com L’avenir, da realizadora Mia Hansen-Love. No entanto, há ainda bois, batráquios, ‘vampirinhas’, as ‘Cartas da Guerra’, de Ivo M. Ferreira a 25 de Abril, e ainda um Paul Verhoeven, quase completo como herói independente, realizador de um cinema que já foi identificado como ‘comercialão’.

IndieLisboa 2016

São curiosamente os heróis independentes de 2015: o norte-americano Whit Stillman e a francesa Mia Hansen-Love, que vão abrir e fechar respectivamente, o IndieLisboa 2016 do maior festival de cinema lisboeta. Love & Friendship, de Whit Stillman, é uma viagem literária ao conto de Jane Austen que o realizador transformou numa divertida comédia de costumes; L’Avenir, de Mia Hansen-Love é uma belíssima crónica da ‘meia-idade’, com Isabelle Huppert como protagonista, que valeu a Mia Hansen-Love, um Urso de Prata para Melhor Realizador na última Berlinale.

L'avenir

E a propósito de heróis e independentes: embora já anunciado como tal, a presença do cineasta holandês Paul Verhoeven, não deixa de constituir uma surpresa num festival que tem dado sempre a supremacia aos jovens autores e revelações. Mas é justíssima esta homenagem (e vai dar os seus frutos decerto em termos de público) ao veterano realizador ‘todo-o-terreno’, a um autor de excelência, (vai do drama erótico marcado pelas convenções calvinistas, aos filmes de acção e ficção científica) que tem como único pecado fazer grandes sucessos no seu país (Delícias Turcas, 1973) e à escala internacional, como Instinto Fatal (1992), sempre lembrado pelo sensual cruzar de pernas da bela Sharon Stone. Há de facto como que uma reavaliação da crítica europeia, e que o IndieLisboa 2016 alinha, em relação à obra de Paul Verhoeven, que como outros cineastas europeus tem a sua história que merece, para bem dos jovens espectadores ser revisitada: rumou a Hollywood, para iniciar um percurso oscilante que começou com Robocop, (1987), continuou com o fracassado Showgirls (1995), e teve o seu auge com Starship Troppers (1997), baseado na obra literária de Robert A. Heinlein. Nesta retrospectiva ficam de fora infelizmente as obras televisivas de Verhoeven, e dois filmes depois do regresso de Hollywood: Livro Negro, com a bela Carice van Houten (de A Guerra dos Tronos) e Elle com Isabelle Huppert, que vai estrear dias depois em, pleno Festival de Cannes.

Paul Verhoeven

Continuando na senda dos heróis independentes de 2016 e desta feita, numa recente descoberta do IndieLisboa 2016 e que vai ser certamente também para o público, por oposição a Verhoeven: a do actor-realizador-encenador francês Vincent Macaigne, que muitos já chamam, aos 37 anos, um ‘novo Depardieu’, apresentando uma selecção de filmes (curtas e longas) feitos por ele e com ele, como por exemplo: Ce qu’il reitera de nous ou Les Deux amis, de Louis Garrel. Vincent Macaigne é uma figura que tem atravessado o novo cinema e o meio teatral francês, entre Cannes e Avignon.

Vincent Macaigne

Na competição internacional de longas do IndieLisboa 2016, há grandes acontecimentos, obras excepcionais e desafios ao espectador: o primeiro chama-se The Family, do chinês Shumin Liu, com quase cinco horas de duração, um filme que segue a plácida vida de uma família da classe média chinesa, interpretada pelos próprios e que parece inspirar-se em Viagem a Tóquio, de Ozu. Por contraste cultural, estreia uma das obras mais leves da nova cinematografia brasileira: Mate-me por favor, de Anita Rocha da Silveira, com as ‘vampirinhas’ do modernizado e também de classe média, bairro da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, um filme excitante num misto de realismo e fantasia adolescente, estreado no Festival de Veneza.

Mate-me Por Favor

Mas há ainda outras obras a destacar nesta sempre competitiva secção de novos valores: o regresso da grega Athina Rachel Tsangari (Attenberg, 2010), com Chevalier, e de filmes a descobrir como Flotel Europa, do sérvio Vladimir Tomic, uma  autobiografia documental de uma adolescência passada nos anos 90 num barco de refugiados em Copenhaga ou James White, de Josh Mond, Kate Plays Christine, de Robert Greene, e entre outros uma obra de co-produção nacional da Som e a Fúria a não perder: Olmo e a Gaivota de Petra Costa (Elena, 2012) e Lea Glob, um filme que está na fronteira entre o documentário e a ficção, uma imersão poética e existencial de uma actriz durante os nove meses da sua gravidez, que se questiona sobre a vida, a identidade, o amor.

Cartas da Guerra

A competição nacional de longas-metragens do IndieLisboa 2016 é significativa mas reduzida a quatro filmes: Estive em Lisboa e Lembrei de Você, do José Barahona, O Lugar Que Ocupas, de Pedro Filipe Marques (A Nossa Forma de Vida, 2012), Paul, de Marcelo Felix, e Treblinka, de Sérgio Tréfaut, com Isabel Ruth a viajar num comboio  depois de sobreviver ao Holocausto. Para comemorar o 25 de Abril, bem a propósito com a estreia nacional de Cartas da Guerra, de Ivo M. Ferreira, um dos filmes portugueses que  brilhou na última Berlinde, aliás como, Balada de Um Batráquio, de Leonor Teles que ganhou o Urso de Ouro e que concorre no IndieLisboa 2016 na extensa categoria de curtas nacionais, que apresenta cerca de 17 obras em estreia.

Helmut Berger

Dos filmes já vistos em festivais internacionais, mais alguns destaques no IndieLisboa 2016, que vêm do último Festival de Veneza: o filme brasileiro Boi Néon, de Gabriel Mascaro, poderoso e excitante, que conta o dia-a-dia de um vaqueiro-metrosexual (Juliano Cazarré), do nordeste brasileiro, que vai estar na secção Silvestre e o documentário Helmut Berger, Actor, de Andreas Horvath, um brilhante retrato de decadência do extravagante comediante, parceiro durante anos de Visconti, considerado em tempos o homem mais bonita da Terra, um filme apresentado na secção Director’s Cut.

JVM

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