Indie Mania | O que Cannes nos pode dizer sobre os Óscares 2017

Carol, Mad Max: Estrada da Fúria, Divertida-mente, O Filho de Saul, Sicario e Amy. O que têm todos eles em comum? Estrearam no Festival de Cannes em 2015 e acabaram a concorrer aos Óscares este ano. Como será e 2017?

É certo que entre Cannes e os Óscares não há um fator de correlação muito forte. Para se ser mais preciso, apenas uma vez o vencedor da Palma d’Ouro conquistou o prémio similar na cerimónia dos Óscares do ano seguinte: e tal aconteceu com “Marty”, que em 1955 venceu a primeira Palma D’Ouro atribuída pelo festival (antes desse ano, Cannes tinha o Grande Prémio).

Desde essa data, nenhum outro filme repetiu a façanha de “Marty”, um romance protagonizado por Ernest Borgnine. O mais próximo que tal feito esteve de se repetir foi em 2003, quando “O Pianista”, de Roman Polanski, perdeu para o bafejado musical “Chicago” na cerimónia dos Óscares, após ter vencido a Palma d’Ouro no ano anterior.

Mas esta aparente desarticulação entre os dois maiores eventos do cinema mundial não é total. “Este País Não é Para Velhos” e “O Artista” são exemplos recentes de filmes vencedores do Óscar de Melhor Filme e que competiram pelo prémio máximo em Cannes. No sentido inverso, podemos lembrar-nos de “Amour”, “A Árvore da Vida”, “O Piano”, “Pulp Fiction” ou “Taxi Driver”.

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Mas os exemplos não se limitam à Palma d’Ouro. Se investigarmos os filmes que compõem as secções paralelas e filmes fora de competição, há sempre um número sólido de filmes que acabam por competir ou simplesmente serem apresentados em sessões especiais em Cannes, que depois mais tarde se juntam à aventura da Award Season. Com o certame a decorrer com pompa e circunstância na Riviera francesa (e a Magazine.HD está lá para te ir contando tudo o que se passa), fomos analisar toda a seleção oficial de Cannes 2016 para descobrir os filmes com maior potencial para figurar na Award Season 2016/17.

Loving, de Jeff Nichols – Em Competição

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Até dá vontade de iniciar uma daquelas petições muito em voga nas redes sociais para que Jeff Nichols faça um filme qualquer à pressa e o apresente em Veneza. É que a juntar à estreia de “Midnight Special” há apenas três meses em Berlim, tem também um filme seu em Cannes  – este “Loving” – e só lhe faltaria Veneza para fazer o pleno nos três mais importantes festivais europeus. À parte disso, “Loving” talvez seja o título de Cannes que aponte mais na direção dos Óscares. O filme segue a história de um casal interracial que foi preso em 1958 no estado da Viriginia por se ter casado, sendo portanto o enredo ideal para encerrar o criticismo em torno do #OscarsSoWhite. “Loving” é protagonizado por Joel Edgerton (diz-se que pode vir daqui a sua melhor interpretação da carreira) e uma estreante irlandesa Ruth Negga, cujo buzz em seu redor é quase ensurdecedor.

The Last Face, de Sean Penn – Em Competição

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Sean Penn já triunfou em Cannes em 1997 com “She’s So Lovely”, mas no papel de ator, também tendo surgido em competição no papel de realizador em 2001 com “The Pledge”, que fora protagonizado por Jack Nicholson. Este seu novo filme, com a sua ex Charlize Theron, Javier Bardem e Adèle Exarchopoulos no elenco, é um regresso atrás das câmaras depois do sucesso de “Into The Wild”, há nove anos atrás. Com um interregno tão longo, não nos sentimos capazes de perceber se Sean Penn ainda está em forma, neste seu regresso também à temática do humanitarismo (“The Last Face” tem ação em África durante uma revolução política e social). Mas o que podemos mesmo considerar é que este título na competição pela Palma d’Ouro é inegavelmente o filme que detém o maior cunho de Hollywood. E se está em Cannes, e tem estes protagonistas, não há como não o associar aos Óscares do ano que vem.

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Aquarius, de Kleber Mendonça Filho – Em Competição

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O novo filme do brasileiro Kleber Mendonça Filho é um daqueles que mais expectativas está a criar junto daqueles que pelos dias de hoje se encontram na Croisette. Já fez capa na Variety e há já quem pense em “Aquarius” como um dos filmes presentes na cerimónia de entrega de prémios. O que também não podemos esconder é que, depois da sua ausência entre os nomeados ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014 por “O Som ao Redor”, Kleber Mendonça Filho e o Brasil estão a torcer agora por uma sorte diferente.

It’s Only the End of the World, de Xavier Dolan – Em Competição

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“Amour,” “A Grande Beleza” e “O Filho de Saul”são exemplos de filmes presentes na competição em Cannes que saltaram para vitórias na categoria de Melhor Filme Estrangeiro nos Óscares. O mesmo pode acontecer com o novo filme de Xavier Dolan, cujo último filme, “Mommy”, foi agraciado com o Prémio do Júri em ex-aequo com “Adeus à Linguagem”, de Jean-Luc Godard. Mas o possível sucesso de Dolan nos Óscares pode não ficar-se por aqui. Basta recordar que Marion Cotillard recebeu uma nomeação para Melhor Atriz pelo filme “Dois Dias, Uma Noite” dos irmãos Dardenne (filme que também competiu pela Palma d’Ouro em 2014), e ela também está no elenco deste drama sobre um escritor em estado terminal que regressa a casa depois de uma longa ausência para dizer à sua família que está a morrer. Gaspard Ulliel, Léa Seydoux e Vincent Cassel completam o elenco.

The Salesman, de Asghar Farhadi – Em Competiação

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O regresso do iraniano Asghar Farhadi foi uma adição mais tardia à competição em Cannes, mas também uma presença quase obrigatória no certame de 2016. Depois de ter conquistado o Urso de Ouro em Berlim com “A Separação”, Farhadi estreou um novo drama familiar com Bérénice Bejo na competição de Cannes em 2013, tendo recebido o Prémio do Júri Ecuménico bem como o prémio para Melhor Atriz. É um dos favoritos à Palma d’Ouro e um daqueles títulos a não perder de vista quando voltarmos a falar do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2017.

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Julieta, de Pedro Almodóvar – Em Competição

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Quem também está de regresso é Pedro Almodóvar, que já competiu quatro vezes pela Palma d’Ouro sem nunca a ter ganho (arrecadou prémios apenas para Melhor Realização e Melhor Argumento para “Tudo Sobre a Minha Mãe” e “Volver”, respetivamente). Com “Julieta” (anteriormente com o título “Silêncio”, mas que foi mudado para não se confundir com o próximo filme de Martin Scorsese), Almodóvar tenta a sua primeira Palma e lança-se como frontrunner em Espanha para ser o escolhido a representar o país nos Óscares 2017. É que desde 2003, ano em que foi nomeado para Melhor Argumento e Melhor Realizador por “Fala com Ela”, que Almodóvar está ausente dos Óscares.

The BFG, de Steven Spielberg – Fora de Competição

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Spielberg une-se pela primeira vez à Disney para a adaptação do clássico infantil de Roald Dahl, “The BFG” (em Portugal com o título “O Amigo Gigante”) e as reações de quem já o viu em Cannes são mistas, apesar de todos concordarem de que se trata de um mágico e fascinante conto familiar à moda antiga que só Steven Spielberg poderia ser capaz de fazer. Embora aqui estejamos a falar de um puro blockbuster que atingirá os multiplexes ainda antes do início do Verão, não será de descurar algumas nomeações técnicas, especialmente para os muito elogiados efeitos visuais ou para a banda sonora de John Williams. E nunca dizemos nunca a uma possibilidade chamada Mark Rylance (ele que interpreta o “amigo gigante”).

Neruda, de Pablo Larraín – Quinzena dos Realizadores

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É já um dos filmes mais elogiados até ao momento em Cannes e catapulta imediatamente Pablo Larraín para o iminente estrelato. O realizador chileno já competiu nos Óscares com “Não”, sobre a companha por trás do referendo que derrotou Pinochet, e arrisca-se a fazer o mesmo no próximo ano com este biopic sobre o prémio Nobel Pablo Neruda, poeta chileno que se tornou fugitivo nos anos 40 por se juntar ao partido comunista – e ambos os filmes contam com Gael García Bernal no elenco. Mas há mais a ser cozinhado por Larraín para este ano: no Marché du Film em Cannes, também se tenta vender aos distribuidores o seu “Jackie”, protagonizado por Natalie Portman, que conta os dias da primeira-dama, Jacqueline Kennedy, no rescaldo do assassinato de John F. Kennedy em 1963. Quem por lá anda, diz que não falta quem o queira comprar.

Risk, de Laura Poitras – Quinzena dos Realizadores

WikiLeaks founder Julian Assange holds up his new kitten at the Ecuadorian Embassy in central London, Britain

Depois do sucesso global de “Citizenfour”, que investigava as revelações feitas por Edward Snowden, é impossível não colocar Laura Poitras na rota do Óscar de Melhor Documentário. Tudo ganha um relevo ainda maior quando descobrimos que este seu novo documentário se debruça sobre a vida de Julian Assange, editor-chefe da WikiLeaks.

Café Society, de Woody Allen – Fora de Competição (Filme de Abertura)

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É porventura o melhor filme de Woody Allen desde “Blue Jasmine” e um dos mais doces e encantadores em muitos anos, segundo se diz de Cannes. Também tem uma Kristen Stewart em clara ascensão (ela que ainda tem  no filme de Olivier Assayas, “Personal Shopper”, mais uma oportunidade de marcar o seu nome nos vencedores de Cannes 2016) e uma elogiada cinematografia assinada por Vittorio Storaro, o mesmo de “Apocalypse Now” e “O Último Imperador”. Contudo, não estamos certos que tal chegue para que Woody Allen alcance as estatuetas douradas (a última que conquistou foi pelo argumento de “Meia-Noite em Paris”). Apesar de tudo, sendo este consensualmente descrito como um dos filmes de Woody Allen mais aprazíveis ao olhar dos últimos anos, estamos certos que pelo menos as categorias de Melhor Guarda-Roupa, Melhor Fotografia e Melhor Direção Artística estarão ao alcance deste “Café Society” nos Óscares 2017.

 

É certo que ainda é cedo para previsões, mas alguns destes filmes deverão ser incontornáveis nos Óscares 2017. Quais ao certo? Não sabemos. 


 

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