Jenny Shircore Oscares 2019

Óscares 2019 | Quem é Jenny Shircore?

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Jenny Shircore é a maquilhadora e cabeleireira que, este ano, transformou Margot Robbie na rainha Isabel I de Inglaterra em “Maria, Rainha dos Escoceses” e, por isso, recebeu a sua terceira nomeação para os Óscares. Anteriormente, Shircore já tinha sido nomeada por “A Jovem Vitória” em 2010 e ganhou o prémio por “Elizabeth” em 1999.

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Recentemente, o novo Presidente da Academia de Hollywood, John Bailey, veio divulgar que, a partir de agora, todos os anos certas categorias vão ser cortadas da emissão televisiva dos Óscares. Serão categorias com menor interesse popular, supõem as pessoas por detrás desta decisão que não só viola a integridade artística dos Óscares como constitui um insulto para os cineastas celebrados na cerimónia cujas vitórias são consideradas negligenciáveis face a outras. Em 2019, essas categorias são Melhor Fotografia, Montagem, Curta-Metragem Live-Action e Maquilhagem e Cabelos. Já anteriormente realçamos o trabalho de alguns profissionais nestas áreas e, agora, é a vez de prestarmos homenagem a uma das cineastas nomeadas nessa última categoria, a inigualável Jenny Shircore.

Talvez no cinema atual, não exista ninguém mais responsável por moldar o modo como imaginamos o aspeto dos nossos antepassados europeus que Jenny Shircore. Ao longo da sua carreira, esta maquilhadora de origem indiana, arménia e francesa, tem vindo a trabalhar em inúmeros filmes de época ingleses. Sua especialidade é transformar atores em figuras do passado e foi isso mesmo que, como já havíamos referido, lhe valeu o Óscar de Melhor Maquilhagem por “Elizabeth” em 1999.

 

Este ano, ela volta a ser indicada ao galardão por maquilhar uma atriz a fazer-se passar por Isabel I, Margot Robbie, que está irreconhecível em “Maria Rainha dos Escoceses”. A belíssima atriz australiana não só foi transformada por um nariz prostético e perucas elaboradas, como foi sendo gradualmente envelhecida. Nas últimas cenas do filme, depois do advento cicatrizante da varíola, Shircore reproduziu em Robbie uma versão estilizada da dramática tez de chumbo branco que Isabel I apresentava nas últimas décadas de vida.

Mais do que História pura e dura, trata-se de grotesco teatral, na mesma medida em que os penteados de Saoirse Ronan e companhia são deslumbrantes trabalhos de fantasia que pouco ou nada têm que ver com História. Considerando todas as manipulações que o filme faz ao facto histórico, a maquilhagem e o cabelo seguir o mesmo caminho é um gesto de sinergia dramatúrgica.

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Nem todos os projetos de Shircore são tão distantes do facto histórico, sendo que a cineasta tende a procurar o realismo e só ocasionalmente se rende à necessidade de espetáculo sem limites. Curiosamente, o seu primeiro trabalho depois de sair da faculdade, a Escola de Moda de Londres, foi trabalhar em séries da BBC como “Doctor Who”, onde realismo era algo inexistente. Apesar disso, ao longo dos 16 anos que trabalhou para o canal televisivo nacional britânico, Shircore foi-se especializando em produções históricas como o drama dos anos 30 “Pennies from Heaven” e numerosas adaptações de Shakespeare.

Para Shircore, o trabalho de pesquisa histórica e referências culturais representa o elemento mais divertido do seu ofício, pelo que estes projetos são uma constante fonte de prazer e novos desafios a cada esquina. Hoje em dia, depois de uma vida a trabalhar em cinema e televisão, esta maquilhadora, cabeleireira e criadora de perucas é quase uma historiadora da sua especialidade. A evolução do tipo de materiais e químicos usados como cosméticos é algo que a fascina particularmente. Em filmes como “A Jovem Vitória” e “A Mulher Invisível”, Shircore mostrou como retratar tais dinâmicas com veracidade e subtileza, chegando mesmo a criar as suas próprias tintas, batons e pós coloridos. Noutros casos, ela sabe exagerar a realidade de modo a obter algo mágico como fez para “A Bela e o Monstro” com Emma Watson ou “O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos”.

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Margot Robbie a ser retocada durante as filmagens de MARIA, RAINHA DOS ESCOCESES.

Uma veterana consagrada à sua arte, Shircore não sabe só criar fantasias e ressuscitar modas do passado. Como qualquer outra maquilhadora que trabalhe regularmente com grandes estrelas, ela é uma especialista em conjurar glamour e esconder as imperfeições faciais da câmara. Curiosamente, nem são os atores que ela tem de tornar feios ou grotescos que mais refilam, mas sim quem esta profissional Oscarizada tenta levar para o plateau com uma cara relativamente limpa de cosméticos. Nisso, diz ela em várias entrevistas, não há diferença entre homens e mulheres, pois são todos igualmente vaidosos e inseguros.

Face à equipa de “Vice” e sua transformação de Christian Bale em Dick Cheney, será difícil para Jenny Shircore ganhar um segundo Óscar. Contudo, quando alguém  tem uma carreira como esta cineasta, os prémios da Academia não são necessários para consagrar e validar seu talento. A própria filmografia de Shircore é seu derradeiro prémio e, em honra de tão áurea carreira, deixamos aqui uma longa galeria de fotos a mostrar alguns dos melhores trabalhos de Jenny Shircore. Basta seguires as setas para descobrires a carreira desta maquilhadora por ordem cronológica, desde os tempos na BBC até “Maria Rainha dos Escoceses”.




DOCTOR WHO (1975)

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Um começo auspicioso no mundo da TV.




PENNIES FROM HEAVEN (1978)

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Esta minissérie foi um dos primeiros grandes trabalhos de época de Jenny Shircore. Neste caso, ela teve de reproduzir a miséria dos anos 30 coberta pelo artifício pouco convincente do glamour musical.




MACBETH (1983)

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Uma de muitas peças filmadas em que Shircore trabalhou para a BBC.




DREAMCHILD (1985)

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Este filme de fantasia valeu a Jenny Shircore a sua primeira nomeação para o BAFTA.




ARIA (1987)

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ARIA é um filme composto por várias curtas de diferentes realizadores. Sua estética vai desde a pop reluzente até ao degredo setecentista de uma ópera invadida pelo manicómio.




LONGE DA GUERRA (1987)

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Uma das primeiras produções cinematográficas onde Jenny Shircore pôde implementar seu gosto por realismo histórico.




DIA DE TEMPESTADE (1988)

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A cabeleira de Melanie Griffith é um dos elementos mais memoráveis deste drama criminal de Mike Figgis.




VOZES DISTANTES, VIDAS SUSPENSAS (1988)

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Shircore simplesmente deu apoio suplementar à equipa deste onírico drama de época sobre as memórias de um realizador sobre a sua infância no pós-guerra.




ERIK THE VIKING (1989)

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Uma bizarra fantasia cheia de maquilhagens cómicas e perucas ainda mais divertidas.




O GRANDE HOMEM (1990)

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Liam Neeson espancado pelo pincel de Jenny Shircore.




JARDIM SECRETO (1993)

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A caracterização cuidada de Shircore ajudou a trazer este clássico literário ao grande ecrã.




SISTER MY SISTER (1994)

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Parte thriller, parte dissecação de uma sociedade podre, SISTER MY SISTER retrata os anos 30 com realismo e um toque de grotesca perversidade.




MARY REILLY (1996)

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Foi um desafio tornar a estrela americana mais famosa dos anos 90 numa humilde criada vitoriana.




RASPUTINE (1996)

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Shircore transformou Ian McKellen e companhia numa cópia assombrosamente convincente da família real russa no precipício da revolução.




MULHERES EM TEMPO DE GUERRA (1998)

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Glamour dos anos 40 adaptado à situação difícil de três mulheres rurais a tentar sobreviver ao período de guerra.




A VINGANÇA DE BETTE (1998)

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Shircore reproduziu estilos históricos bastante incomuns para esta adaptação de Balzac com Jessica Lange no papel principal.




ELIZABETH (1998)

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O filme que lhe valeu o Óscar!




ENIGMA (2001)

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Kate Winslet transformada numa matemática a tentar descodificar as mensagens nazis em plena 2ª Guerra Mundial. Trata-se de uma das muitas histórias verídicas que Jenny Shircore ajudou a trazer ao grande ecrã.




DE CABELOS EM PÉ (2001)

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Uma comédia sobre cabeleireiros que levou Jenny Shircore aos limites da criatividade e do engenho.




AS QUATRO PENAS BRANCAS (2002)

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Das ruas da Londres vitoriana até campos de batalha africanos, AS PENAS BRANCAS exigiu muito de Jenny Shircore. Contudo, talvez nada tenha sido mais difícil do que fazer Kate Hudson parecer uma escolha de casting coerente num filme de época inglês.




NED KELLY (2003)

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Um western fora do vulgar com muita pilosidade facial.




RAPARIGA COM BRINCO DE PÉROLA (2003)

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Da tela para o grande ecrã, a Holanda do século XVII é ressuscitada por Jenny Shircore neste filme.




A FEIRA DAS VAIDADES (2004)

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Com base em rigorosa pesquisa histórica, Shircore misturou referências e aumentou o drama para esta adaptação literária que retrata a Inglaterra do princípio do século XIX com um toque de glamour à Bollywood.




O FANTASMA DA ÓPERA (2004)

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Pondo de parte a mediocridade atroz que é a cara do fantasma em si, este musical exibe maravilhosos exemplos de Jenny Shircore em modo maximalista.




MRS. HENDERSON (2005)

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Glamour dos anos 30 e 40 em contexto teatral e adaptado a várias classes sociais. Por isso e pelas muitas cenas de revista musical, este é um dos maiores feitos na carreira de Jenny Shircore enquanto recriadora de estilos históricos em cinema.




COMO VOS AGRADAR (2006)

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Uma bizarra mistura de estilos vitorianos ingleses com teatralidade jocosa e alguma estética japonesa.




AMAZING GRACE (2006)

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O século XVIII retratado com rigor histórico numa narrativa política.




ELIZABETH – A IDADE DO OURO (2007)

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Revisitando Isabel I com Cate Banchett, desta vez mais extravagante, mas muito menos grotesca (e ainda menos historicamente correta).




A JOVEM VITÓRIA (2009)

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Jenny Shircore recriou alguns dos estilos de penteado mais estranhos do século XIX neste filme. Fê-lo com rigor e interesse dramatúrgico, mas conseguiu também torná-los apelativos a uma audiência moderna. Por tudo isso, Shircore recebeu a sua segunda nomeação para o Óscar.




OS GLORIOSOS 39 (2009)

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Romola Garai é uma das grandes presenças na filmografia de Jenny Shircore e aqui, como sempre, a maquilhadora e cabeleireira faz com que a atriz inglesa pareça uma diva do cinema de outros tempos. Bravíssima!




CONFRONTO DE TITÃS (2010)

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Por entre dezenas de dramas históricos sérios e pomposos, aprece este bombástico exemplo de cinema de ação e fantasia estrambólica.




W.E. (2011)

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Andrea Riseborough está irreconhecível como Wallis Simpson nesta estreia de Maddona na cadeira de realizadora.




A MINHA SEMANA COM MARILYN (2011)

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Jenny Shircore transformou Michelle Williams em Marilyn Monroe ressuscitada.




BEL AMI (2012)

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A Paris do final do final do século XIX é aqui retratada com elegância e contenção.




GRANDES ESPERANÇAS (2012)

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Um clássico de Charles Dickens tornado num melodrama operático com visuais a condizer, incluindo as fabulosas criações cabeleireiras de Jenny Shircore.




BURTON E TAYLOR (2013)

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É impressionante como Shircore transformou Dominic West e Helena Bonham Carter em Richard Burton e Elizabeth Taylor para este telefilme britânico.




A MULHER INVISÍVEL (2013)

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Ralph Fiennes transfigurado em Charles Dickens.




SUITE FRANCESA (2014)

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Uma visão bela, crua e realista da França sob domínio Nazi.




MACBETH (2015)

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Esta é uma visão brutal, violenta, suja e feia da peça de Shakespeare.




THE DRESSER – O CAMAREIRO (2015)

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A maquilhagem teatral e seu grotesco artifício é um elemento essencial do visual e esqueleto concetual deste telefilme baseado numa célebre peça de teatro que até já foi encenada no nosso Teatro Nacional D. Maria II.




A BELA E O MONSTRO (2017)

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Jenny Shircore levou o século XVIII ao seu limite de extravagância estilística neste conto de fadas da Disney. Além disso, antes de se tornar numa criação digital, sabias que Monstro foi criado com maquilhagem e efeitos práticos?




O QUEBRA-NOZES E OS QUATRO REINOS (2018)

o quebra nozes e os quatro reinos
Fantasias adocicadas que são tão detalhadas e ostentosas que ameaçam saturar o filme de ruído visual.




MARIA, RAINHA DOS ESCOCESES (2018)

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Uma visão operática e super estilizada da História que tem pouco de realista e muito de espetáculo à boa moda de Hollywood.

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Julgas que Jenny Shircore devia ganhar o Óscar de Melhor Maquilhagem e Cabelos de 2019? Além disso, pensas que é justo que profissionais tão importantes para o cinema como Jenny Shircore tenham sua arte denegrida pelas decisões da Academia e do canal televisivo ABC? Deixa a tua resposta nos comentários.

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