Judaica, Mostra de Cinema e Cultura | Refugiados e Sobrevivência

A Judaica – Mostra de Cinema e Cultura está de volta a Lisboa, ao Cinema São Jorge, de 16 a 20 de Março, com uma intensa programação (filmes, música, lançamento de livros, convidados), que viajará nomeadamente por Belmonte e Castelo de Vide, o ‘coração’ da cultura judaica em Portugal. Esta 4ª edição da Judaica acompanha a actualidade, dando relevo na sua programação aos temas dos refugiados e sobrevivência.

Uma História de Amor e Trevas

 

A sessão de abertura da Judaica – Mostra de Cinema e Cultura, realiza-se na próxima quarta-feira, 16 de Março, às 18h30, simbolicamente com a apresentação do livro Os Bebés de Auschwitz – Nascidos para Sobreviver, com a presença da sua autora Wendy Holden e Hana Moran, uma das protagonistas desta comovente história de três bebés que sobreviveram ao Holocausto e às câmeras de gás, do campo da morte. Em ante-estreia nacional será exibido mais tarde, às 21h30, o filme Uma História de Amor e Trevas (fez parte da Selecção Oficial do Festival de Cannes 2015, extra-competição), o primeiro filme realizado pela actriz Natalie Portman (Cisne Negro), baseado na autobiografia do escritor israelita Amos Oz.

Vê trailer da Judaica—Mostra de Cinema e Cultura

Ambientado na década de 1940, Uma História de Amor e Trevas fala de Amos (Amir Tessler) e dos seus pais, Arieh (Gilad Kahana) e Fania (interpretada pela própria Portman). A família judia deixou a Europa por causa da onda de antissemitismo incentivada pela Alemanha nazi para levar uma vida melhor na Palestina, quando o território ainda estava sob Administração Britânica. Em Jerusalém, Fania sente-se deprimida por causa da sua relação pouco apaixonada com o seu marido. A sua válvula de escape é os laços de amor que tem com o filho Amos, a quem ensina o poder da palavra, das histórias e da literatura. O filme ainda aborda ainda embora de uma forma um tanto superficial as tensas relações entre judeus e árabes e as ações que culminaram na criação em 1948 do Estado de Israel.

Uma História de Amor e Trevas

‘Uma História de Amor e Trevas é falado no idioma hebraico original, tem imagens muito fortes de um melancólico cinzento…’

Ouvi tantas histórias sobre os meus avós. A relação deles com os livros, a aprendizagem de uma nova língua, o hebraico, a relação deles com Israel e a Europa… Senti algo familiar que decidi explorar estas ideias, afirmou Portman, que é judia de origem, sobre suas motivações para fazer este filme que esteve fora da competição de Cannes do ano passado, mas era um dos candidatos à Câmera de Ouro, para primeira-obra. Uma História de Amor e Trevas é falado no idioma hebraico original, tem imagens muito fortes de um melancólico cinzento que procuram realçar a cumplicidade e o profundo amor de Fania pelo filho, o pequeno e esperto Amos, a sua derrocada até à depressão, e os apesar de tudo algo contidos festejos dos judeus quando da criação do Estado de Israel, cerca de três anos depois do fim da II Guerra Mundial.

‘Carta à Mulher do Meu Futuro, no qual narra a inverosímil história de amor dos seus pais, que serviu de inspiração para o filme.’

Na programação de cinema da Judaica – Mostra de Cinema e Cultura, apresentada no Cinema São Jorge serão exibidas cerca de 12 longas-metragens de ficção, 11 documentários e 4 curtas-metragens, que têm como fio condutor a temática da sobrevivência e dos refugiados. Na ficção, curiosamente destacam-se duas obras de forte cariz literário, que serão ambas apresentadas no último dia do festival a 20 de Março: Cântico dos Cânticos, um filme baseado na obra do escritor Sholem Aleichem, que assinala o centenário da sua morte; e a longa-metragem Febre ao Amanhecer, com a presença do realizador húngaro Péter Gárdos, e por ocasião do lançamento do livro Carta à Mulher do Meu Futuro, no qual narra a inverosímil história de amor dos seus pais, que serviu de inspiração para o filme.

‘Todos os Rostos Têm um Nome do sueco Magnus Gertten, (…), procura traçar um paralelo com a situação que se vive actualmente na Europa.

Na programação de documentários, Judaica – Mostra de Cinema e Cultura é muito forte com destaque em primeiro lugar para dois filmes: Claude Lanzmann: Espectros da Shoah – que esteve nomeado para o Óscar de Melhor Curta Documental 2016 – e para Todos os Rostos Têm um Nome do sueco Magnus Gertten, um filme que recupera imagens que mostram a chegada dos refugiados ao porto de Malmö (Suécia) em 1945 e que procura traçar um paralelo com a situação que se vive actualmente na Europa. Esta sessão será seguida de um debate com as participações do realizador, com Pedro Calado, Alto-Comissário para as Migrações, Rui Marques, coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR). O debate será moderado pela historiadora Irene Pimentel. Outro documentário que merece destaque é A Minha Herança Nazi: O Que os Nossos Pais Fizeram, do realizador David Evans, no qual dois filhos de altas figuras do regime nazi regressam ao passado e confrontam sentimentos de culpa, raiva, amor e negação. Depois da exibição do filme, terá lugar um debate com as presenças de Niklas Frank, filho de Hans Frank – Governador-Geral da Polónia ocupada por Hitler – e Philippe Sands, conceituado professor de Direito Internacional, cuja família foi vítima dos pais dos protagonistas.

‘Jerusalém Oriental / Jerusalém Ocidental, mostra como a música é capaz de vencer a discórdia entre povos.

Outro convidado da Judaica – Mostra de Cinema e Cultura é o jornalista Henrique Cymerman, que volta a casa no papel de co-realizador do documentário Jerusalém Oriental / Jerusalém Ocidental, um filme que nos mostra a forma como a música é capaz de vencer a discórdia entre povos. Já fora do grande ecrã a Judaica – Mostra de Cinema e Cultura apresentará no sábado 19 de Março, às 22h00, na Sala 2 do Cinema São Jorge, um concerto de música klezmer, com Daniel Kahn & The Painted Bird, uma banda de culto que desafia as fronteiras entre o radical e o tradicional, o lírico e o político.

‘…um variada programação, que inclui palestras sobre tradições judaicas, um colóquio internacional sobre Inquisição, Cripto-Judaismo e Marranismo…’

Depois de Lisboa, a Judaica – Mostra de Cinema e Cultura seguirá para Cascais (8 a 10 de Abril), e para duas localidades que são o coração do judaísmo em Portugal: Belmonte (14 a 16 de Abril) e Castelo de Vide (5 a 8 de Maio), com variada programação, que inclui palestras sobre tradições judaicas, um colóquio internacional sobre Inquisição, Cripto-Judaismo e Marranismo, visitas guiadas às Judiarias, degustação de produtos kosher, e dois concertos de musica sefardita e klezmer.

JVM


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