Laura Stevenson (foto de Em Dubin)

Em “Time Bandits”, Laura Stevenson dá voz à nossa angústia

Se parece que o mundo está a acabar, a impressão esfuma-se ao ouvir “Time Bandits”, o novo single de Laura Stevenson.

A cantautora americana de Long Island Laura Stevenson lançou o ano passado o grande álbum The Big Freeze, pela Don Giovanni. Desde então tem partilhado covers dos Wilco e de Neil Young, e lançou agora, na sua conta de Bandcamp, uma nova canção original, “Time Bandits”. A capa do single é da autoria de Em Dubin e a produção e mistura de John Agnello. Numa série de tweets, Laura Stevenson ofereceu algum contexto para este single avulso, cuja brevidade não tira nada à sua capacidade de captar a angústia destes tempos.

“Escrevi esta canção logo depois de me casar, precisamente quando o Trump foi eleito. Foram tempos confusos e muita gente sentia-se sem esperança. Essa falta de esperança tem perdurado nos últimos quatro anos, mas a humanidade e o amor continuam a espreitar. É o espírito humano e tenho-me sentido tão inspirada por aqueles que não se abatem e continuam a lutar por trazer uma qualquer mudança positiva. Esta canção é sobre como o mundo pode parecer estar a desmoronar-se mas ainda temos o amor e tudo o que podemos fazer agora é cuidarmos de nós e de uns dos outros.

Agora durante ESTE momento maluco, encontro-me grávida de 38 semanas, em quarentena à espera que o meu bebé nasça, a rezar para não ficar doente e a desejar entrar em trabalho de parto antes dos hospitais ficarem sobrelotados. Estou preocupada com o meu bebé, estou preocupada com os meus pais, estou preocupada com toda a gente. Sei que há tanta incerteza mas talvez esta canção traga algum conforto, ou vos lembre que ainda há razão para esperar.”

Sobre os dedilhados folk de uma guitarra acústica, e nada mais, brilham a melodia e a suavidade da voz de Stevenson, a poesia dos seus versos cheios de sentimento, mas nunca sentimentais. No palavreado corriqueiro de cigarros e boas intenções imiscui-se a angústia dos tempos e o calor da presença de alguém. A certeza de uma casa (“keep looking maybe there’s a place to rest our heads better than this”) na qual se recolher e fechar a sete chaves acabou por ser profética: “The world’s on fire outside but I double-locked the doors/ with poly-carbon bars”. Nada nos poderia acompanhar tanto nestes tempos de quarentena como a intuição de que o tempo urge e nada deve ser desperdiçado: “If time gets us then I don’t want to spend any apart”.

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