Marguerite, em análise

 

Marguerite tenta conjugar o ridículo da sua inspiração real e o sentimentalismo, com o mesmo sucesso que a sua protagonista tem no canto lírico.

 

marguerite Título Original: Marguerite
Realizador: Xavier Giannoli
Elenco: Catherine Frot, André Marcon, Michel Fau, Christa Théret
Género: Drama, Comédia
Alambique | 2015 | 127 min[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’]

 

No novo filme de Xavier Giannoli, inspirado na história verídica de Florence Foster Jenkins, a atriz Catherine Frot é uma aristocrata francesa apaixonada pela música lírica, mas sem qualquer talento vocal. Ela é iludida pela hipocrisia da sociedade e acredita ser a diva canora que tanto deseja ser. Apesar das semelhanças entre a protagonista de Marguerite, a baronesa Marguerite Dumont, e a usual companheira dos irmãos Marx, este filme não é, de todo, uma comédia absurdista, preferindo o melodrama choroso aos risos da farsa.

O filme tem o seu início numa festa privada em 1921 nos arredores de Paris. Aí, Marguerite assassina a música de Mozart com toda alma de uma fã apaixonada, para o deleite e horror dos parasitas sociais que anseiam pela sua generosidade monetária. Um jornalista impetuoso, Lucien (Sylvain Dieuaide), assiste a esse espetáculo e escreve uma efusiva crítica dos esforços da aristocrata, alimentando-lhe o ego e a ambição. Isto acaba por a lançar num caminho que termina numa desastrosa atuação pública em Paris.

marguerite

O mundo conjurado por Giannoli é recheado de personagens grotescas que tendem a insinuar um ridículo absurdo na narrativa do filme, como um dadaísta que adora e manipula a protagonista desafinada, ou um cantor lírico caído em desgraça que é chantageado pelo mordomo maquiavélico de Marguerite a lhe dar aulas de canto. Esse mundo, no entanto, não prima pela energia de tais figuras, caindo num aborrecido registo de prestígio europeu, onde o requinte e a opulência marcam presença sem nada de interessante a acrescentar à totalidade do filme.

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O texto de Giannoli e Marcia Romano oscila desenfreadamente entre tonalidades trágicas e cómicas, sem qualquer coerência ou dinamismo. A narrativa está repleta de sub enredos que não levam a lado algum, e que apenas distraem do que no final se revela como um drama de uma mulher que afasta a solidão com a paixão pela música, e que tenta captar a atenção de um marido, que apenas no final parece revelar algum amor pela sua abastada esposa.

Marguerite

Nem tudo é negativo e, tal como a sua protagonista, o filme encontra prazer e deleite nos momentos musicais, quer seja na beleza de uma performance do “Duo des fleurs” de Léo Delibes, quer seja no milagre cruelmente passageiro da grande performance em palco da baronesa Marguerite. É nestes momentos que algo de transcendente emerge do sentimentalismo do filme, especialmente quando o realizador decide focar-se nas tocantes reações silenciosas de Catherine Frot.

Como a desastrosa coloratura que marca o clímax do primeiro capítulo, Marguerite pouco mais consegue provocar que pena pela humilhação da protagonista e ocasionais rasgos de humor desinteressante. É uma espécie de audição falhada para Os Ídolos vestida com o glamour da reconstrução de época e a respeitabilidade do cinema europeu, mas sem grande complexidade ou entretenimento no seu repertório.

CA

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