Mariana Ferreira © Jenniffer Lima Pais/Gerador

Mostra Nacional de Jovens Criadores | À conversa com Mariana Ferreira

Mariana Ferreira é uma jovem de 25 anos que adora stop-motion. Foi uma das vencedoras da Mostra Nacional de Jovens Criadores com “Lessons in the Kitchen”, destacando-se num ano onde o evento contou com mais de 800 participações nas várias categorias em competição.

Uma artista visual que tem um percurso académico dividido entre Portugal e outros países europeus, Mariana Ferreira é agora um dos nomes nacionais que sai consagrado pela Mostra Nacional de Jovens Criadores. Foi a 3 de dezembro que a jovem artista marcou presença no palco para receber o galardão que a distinguia na categoria de cinema, num evento que já destacou no passado nomes como Joana Vasconcelos ou Valter Hugo Mãe.

Tem apenas 25 anos mas já conta no currículo com projetos de animação que lhe dizem muito e que se tornaram bastante pessoais. “Lessons in the Kitchen” é um desses projetos e que, apesar de ter surgido em contexto académico, se tornou algo mais pessoal de Mariana Ferreira. A sua escolha para se ter candidatado à Mostra Nacional de Jovens Criadores não é por acaso e avizinha-se apenas como o começo de uma carreira na animação.

Vem connosco conhecer um pouco sobre o percurso de Mariana Ferreira, também conhecida como It’s Awkward Mariana, a jovem artista portuguesa que promete continuar a trabalhar em animação e que apesar de ter ganho com uma animação tradicional, tem a sua verdadeira paixão no stop-motion.

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Como é para ti, com 25 anos, conseguir ganhar a Mostra Nacional de Jovens Criadores? Afinal de contas, este é um evento já lançou bastante nomes conhecidos atualmente no nosso panorama nacional.

É bastante importante não é? É um passo na minha carreira que tem bastante impacto. Eu já entrei nalguns festivais de cinema com esta curta e até com outra curta que realizei mas de facto este nome é um nome que as pessoas conhecem. Fala-se dos Jovens Criadores e as pessoas sabem do que se está a falar. E é surreal! Eu não estava à espera de ter conseguido ganhar, especialmente na categoria de cinema porque pronto, às vezes a animação é quase posta numa categoria à parte. Portanto é uma grande honra estar a ganhar numa categoria de cinema, sendo que até ao momento tinha sido selecionada especificamente apenas para festivais de animação.

E tinhas ideia que ganhaste a Mostra num ano em que houve recorde de candidaturas?

Não. Só soube mesmo quando fomos ao evento e apresentaram a Mostra deste ano dizendo que tinham sido mais de 800 candidaturas. Achei incrível!

Mostra Nacional de Jovens Criadores
O grupo de vencedores das 15 dimensões artísticas em competição na MNJC © Jenniffer Lima Pais/Gerador

Começaste com design de comunicação na faculdade. Como é que passaste desse curso para cinema, e nomeadamente para a área da animação?

Eu acho que o cinema foi uma coisa que esteve sempre presente e eu via mais como um hobbie, mais como uma área que gostava muito de ver, como espetadora e não tanto como participante. E quando sai do secundário o design era uma área que me interessava bastante e decidi fazer uma licenciatura em design. Mas na minha licenciatura tive oportunidade de fazer algumas cadeiras de animação e depois decidi especializar-me em animação quando saí da licenciatura. E desde esse momento que fiquei completamente apaixonada.

Respondendo também à parte, porquê especificamente animação.. acho que comparado com a imagem real é uma técnica que tem possibilidades infinitas de criação. Seja de mundos, ou de imaginação, é isso que me apela e me atrai muito.

Sentes que ao ir para animação dentro do cinema, ainda há mais espaço para ser criativo?

Sim!

Pelo que sabemos, “Lessons in the Kitchens” começou como um projeto académico não é verdade? Durante o teu Erasmus. Como é que o projeto passou de um trabalho para teres a nota no final do semestre para algo que te iria posicionar no mundo da animação, no meio profissional? Quando foi o teu clique para levar o trabalho além?

Acho que foi o envolvimento, especificamente, que tive neste projeto. Eu tive muitos projetos quando estava a fazer a licenciatura e o mestrado e este foi o que senti que me envolveu mais pessoalmente. Porque também é um documentário sobre uma parte da minha vida, então também envolvia uma parte sentimental para mim não é? Então acho que o trabalho todo que também leva à animação, uma pessoa envolve-se tanto, e demora tanto tempo, que ficamos mesmo embrenhados no projeto. E quando eu comecei o projeto num contexto escolar, acabou por não ser terminado. Não houve tempo. Então tive de acabar fora do ambiente escolar e acabou por não ter tantas restrições académicas. E então senti que era um projeto mesmo meu, que criei sozinha.

Lessons in the Kitchen
Lessons in the Kitchen foi a obra a concurso, tratando-se de uma animação tradicional © Mariana Guerreiro

“Lessons in the Kitchen” tem narração em italiano, o trabalho começou na Bélgica e tu és portuguesa. Como é que chegamos a estas ‘misturas’, aliando as experiências pessoais e escolhendo a língua italiana para a narração?

A ideia do trabalho era documentar como eu me sentia na altura em Eramus. Foi a primeira vez que vivi no estrangeiro e aqui o facto de ser italiano não é a parte relevante mas o facto de ser outra língua que não a minha língua mãe não é? Eu na altura vivia com pessoas italianas. Além do francês, que estava presente quase apenas em contexto académico, o italiano era outra língua que fazia grande parte da minha vida no estrangeiro. Por isso fez-me sentido gravar essa experiência com língua italiana.

E porque é que levaste então “Lessons in the Kitchen” à Mostra Nacional de Jovens Criadores?

Acho que neste ano comecei a ganhar mais confiança no meu próprio trabalho e foi isso que me levou a levar este projeto especifico à Mostra. Porque era um projeto muito pessoal. E acho que o mais interessante de ter levado a esta Mostra é que até agora só concorria em festivais com outras pessoas de cinema. E achei super interessante estar num contexto onde havia tantas áreas artisticas diferentes e estar neste global de jovens artistas e não só dentro da minha área mas de outras áreas. foi bastante interessante.

“Lessons in the Kitchen” é animação tradicional mas também tens outros projetos e em stop-motion. De todos os projetos que já fizeste, qual é que gostaste mais de fazer e que tipo de trabalhos te vês a fazer mais no futuro?

Neste ultimo ano terminei esta obra de “Lessons in the Kitchen” e estive a trabalhar noutro, “Pobre António“, uma curta maior e com uma produção maior também. E acho que esse é também o projeto que estou embrenhada em falar e em distribuir, e que é em stop motion. É uma área que eu me especializei e aquela que eu sinto que é mesmo o que eu gosto.

Então fala-nos um pouco mais sobre “Pobre António”.

Ele está agora em fase de distribuição. Foi um projeto em conjunto com os meus colegas de mestrado. É uma curta de 8 minutos sobre um homenzinho que trabalha numa fábrica. E o projeto reflete bastante a altura em que o escrevemos, em quarentena. É uma personagem que está presa no tempo. E foi assim o projeto mais completo em que sinto que trabalhei. Desde a parte de pre produção, guião, animática. Em comparação com o projeto que apresentei na Mostra, que foi feito mais por mim, eu andava mais entre guião e storyboard. Não havia uma linha de tempo. E no “Pobre Antonio” senti que era uma produção a sério, ainda que em contexto académico.

E quais os próximos planos agora que já terminaste o mestrado? Vais apostar na animação em Portugal, tens já em vista algo lá fora? Quais os teus objetivos tendo em conta o panorama da animação?

O panorama do stop-motion está a crescer bastante em Portugal, o que é ótimo. E acho que não há bem panorama cá e panorama lá fora porque somos todos tão poucos no mundo do stop-motion… eu vejo-me a continuar a fazer filmes, sejam da minha própria autoria ou de autoria dos outros. O bom da animação é que é sempre um trabalho conjunto, então é impossível estar só a trabalhar como artista a solo. É a parte mais bonita desta área.

Dizes que o stop-motion é o teu estilo favorito, e é efetivamente uma área que continua a crescer muito. O que pede a pergunta para os amantes do género, quais são as tuas principais referências de stop motion? E há algum filme que se destaque muito? E porquê?

Que se destaque muito? [risos] Não sei, destacam-se muitos. Eu acho que desde pequena sempre adorei “A Noiva Cadáver” do Tim Burton. é uma grande referência do género do fantástico, para mim. Mistura assim um toque de comédia meio escuro meio misterioso, e é uma grande referência. Eu cresci a ver esse filme e posso ver 100 vezes e nunca me farto de o ver. Também gosto muito do “Isle of Dogs“, do Wes Anderson, que é uma grande referência. E tenho uma artista com que me identifico bastante, que é uma artista menos comercial. Ela é sueca, a Anna Mantzaris. Identifico-me bastante com o estilo dela contar as histórias e o estilo estético também.

Podes ver mais do trabalho da Mariana Ferreira no seu site oficial.

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