NOS Alive 2019 (foto de Sara Hawkkk)

NOS Alive 2019 | The Smashing Pumpkins voltam a namorar o público português

Todos foram convidados para o moche dos IDLES, Thom Yorke colocou a audiência a dançar ao som de uma viagem hipnótica e The Smashing Pumpkins reencontraram o público português no NOS Alive.

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No último dia da edição de 2019 do festival NOS Alive, apressamo-nos a atravessar o longo circuito de grades que precede o recinto. Hoje (para nossa irritação), parece infindável. Encontramo-nos profundamente comprometidos com o segundo concerto do dia no Palco Sagres e somos pessoas de palavra. Para nosso rejubilo, alcançamos o pátio mesmo a tempo de escutar a primeira canção do alinhamento dos Rolling Blackouts Coastal Fever, “Clean State”. Cumprimentam-nos, afavelmente, os alegres rostos dos cinco elementos que compõem a banda de Melbourne. Sentimo-nos, de imediato, “em casa”, enquanto buscamos por um cómodo espaço para assistir ao concerto. Tarefa relativamente exequível, tendo em conta que grande parte da comunidade festivaleira optou por marcar presença no espetáculo dos The Gift, que decorre, simultaneamente, no Palco NOS.

NOS Alive: Rolling Blackouts Coastal Fever © Hugo Macedo

ROLLING BLACKOUTS COASTAL FEVER E A NOSTALGIA PELAS VIDAS DOS OUTROS

(Reportagem de Diogo Álvares Pereira)

A razão pela qual não tencionávamos perder o concerto dos Rolling Blackouts Coastal Fever no Palco Sagres prende-se com o facto de que o seu disco de estreia, Hope Downs (2018), um trabalho cuja “sonoridade, assentada nos ídolos do passado, caracterizada por guitarras pós-punk reminiscentes dos Go-Betweens e uma intensa, quase poética, sensação de afastamento e consecutivo reconhecimento, da descoberta de um porto seguro perante o temeroso desconhecido, frequentemente encontrada nas canções de heartland rock” (citação do artigo “Nos Alive 2019 | 9 razões porque vamos“, redigido por um dos elementos desta dupla redatora), figurou nas listas de melhores álbuns de estúdio do ano passado de alguns dos membros que compõem o departamento de Música da Magazine.HD e pretendíamos colocar à prova, desta vez, a qualidade da sua performance ao vivo.

Os três vocalistas e guitarristas da banda, Fran Keaney, Tom Russo e Joe White, impecavelmente alinhados em frente ao baixista Joe Russo e ao baterista Marcel Tussie, cantam, por turnos, histórias sobre indivíduos que nunca conhecemos, regiões que nunca visitámos ou episódios que nunca vivenciámos. Todavia, não conseguimos deixar de nos sentir anormalmente nostálgicos pelas vidas dos outros, as suas experiências privativas, triunfos e dissabores. A empatia pelo conteúdo da música é intensificada pelos timbres das vozes de cada um dos três artistas, perfeitamente adequados às canções que “conduzem”, às contemplações que exteriorizam, mas também pela forma efusiva como tocam as guitarras, mesclando a pujante harmonia dos instrumentos de cordas, com instantes de atrevimento individual que se fusionam e complementam. Conjuntamente, Marcel Tussie sustém a batida motorik, sempre vigiado de perto por Joe Russo. Em “Talking Straight“, segundo single de Hope Downs, os Rolling Blackouts Coastal Fever comprovam a sensibilidade pop da sua composição musical e o refrão é partilhado, afectivamente, por banda e audiência. “Lay back, sink in/ You’re not talking straight/ I’m right, this is sin/ You’re not talking straight”. Aproveitando a onda de aplausos recebida no fim desta canção e das seguintes, o grupo australiano ousou aventurar-se pela rota da improvisação e encerrou o concerto com um jam em “French Press”, virando-se uns para os outros durante a performance e trocando sorrisos. A jornada dos Rolling Blackouts Coastal Fever pela indústria da música alternativa ainda agora começou. Será, certamente, percorrida em conjunto, como um grupo de velhos amigos que atravessa o outback numa carrinha Toyota Hilux, à descoberta do desconhecido.

NOS Alive: IDLES © Nuno Conceição

O DISCURSO DE AMOR E ÓDIO DOS IDLES É VIVIDO NO MOCHE

(Reportagem de Diogo Álvares Pereira)

O último dia da corrente edição do NOS Alive assumiu a configuração de um autêntico corta-mato, tendo em conta que passámos grande parte do tempo a sprintar de concerto para concerto. No caso do espectáculo dos IDLES, no Palco Sagres, a situação era ainda mais drástica. Para nosso desagrado, já tínhamos falhado o (aparentemente) mítico concerto dado pelo quinteto britânico no Lisboa ao Vivo, em Novembro do ano passado. Nem nos passava pela cabeça voltar a perder uma das suas tão afamadas, energéticas performances ao vivo, mesmo reconhecendo que um concerto integrante do alinhamento de um festival de música representa uma realidade totalmente dissemelhante de um evento concedido em nome próprio, onde a plateia exclusivamente focada em IDLES e as diferentes restrições de duração de alinhamento marcam a diferença. Apenas descansamos (pura ironia…) quando escutamos os versos introdutórios de “Love Song”, proferidos, ofegantemente, pelo carismático vocalista Joe Talbot. O guitarrista Mark Bowen, envergando os usuais calções-de-banho, exclamando as fracções das letras dispensadas por Joe Talbot e sempre disponível para mais um pitoresco crowdsurfing; o guitarrista Lee Kiernan, balouçando sobre o instrumento e arrastando-o pelo chão, enquanto arranha, impetuosamente, as cordas; o baixista Adam Devonshire, que toca, de modo mais contido, uma linha de baixo tão pulsante quanto os corações do aglomerado de fervorosos festivaleiros que presenciam o concerto, e o frenético, esmerado Jon Beavis na bateria, incessantemente acompanhando o seu colega de ritmo barbudo; escoltam o irado, transparente discurso de amor e ódio, o feroz combate à masculinidade tóxica, xenofobia e lavagem cerebral gerada pelos falaciosos meios de comunicação públicos (“fuck The Sun!”), irrompendo por um Palco Sagres que parece ter crescido em comprimento e largura e estimulando a audiência através de frequente interacção e benquerença.

Começamo-nos a sentir encarcerados pela indiferença expressada por parte de alguns elementos que compõem as filas traseiras do Palco Sagres, aliciados pela enchente de cantautores fastidiosos que constituem o alinhamento do terceiro dia desta edição do NOS Alive. Na linha da frente, detectamos um “oásis” de corpos suados e buliçosos, conhecedores das letras das canções e que, realmente, parecem apreciar a música produzida pelos IDLES. Uma categoria de público rara num festival tão generalista como este. Então, tomamos a sensata atitude de fãs que querem “viver” este espectáculo, não apenas “riscá-lo da checklist“, como se de um encargo se tratasse. Avançamos no terreno, aproveitando cada brecha ou desistência. Alcançamos o centro da acção mesmo a tempo de “Danny Nedelko“, sendo, de imediato, acolhidos por uma atmosfera de entreajuda, confraternização e paixão colectiva pela música punk, manifestada de um modo ímpar e superficialmente destoante, que só os aficionados da subcultura conseguirão discernir e, seguidamente, prezar. No moshpit, a vestimenta é desprezada, amigos de longa data reencontram-se (momentaneamente, claro), indivíduos tombam e são, imediatamente, erguidos por quem os rodeia, e o público “chefia” os refrões que mais se assemelham a hinos, para agrado dos IDLES. Aqui, no cerne do concerto, “we feel free”. Porém, falta apenas “Rottweiller” para encerrar o alinhamento (ninguém, no seu perfeito juízo, quer que os IDLES abandonem este palco, mas Joe Talbot pede aos fãs que o concerto seja terminado numa nota positiva e a audiência acede) e um de nós decide aproveitar a “boleia” do crowdsurfing para abandonar a linha da frente, passando a admirar os últimos momentos deste magnífico, envolvente evento de uma perspectiva externa. Joy as an Act of Resistance. Em território dos IDLES, vence a fraternidade e o respeito pelo outro. Há lugar para todos e todos são bem-vindos. Menos para fascistas. Aqui, fascistas não entram. Se entram, não saem.

NOS Alive: Bon Iver © Arlindo Camacho

BON IVER SEGUE NOVA VIDA NOS PALCOS DA GRANDE CIDADE

(Reportagem de Margarida Ribeiro)

Toda a actividade humana é um acto político. A manifestação artística acaba até por ter uma potência maior uma vez que se trata de uma demonstração de intenções, seja ela feita de forma activa ou passiva. Desta forma, a ligação ideológica e emocional estabelecida entre o ouvinte e o criador poderá ser tanto mais forte quanto a partilha de experiências vividas.

Velozmente abandonamos IDLES em busca de Bon Iver. Apesar de estilos musicais completamente diferentes, e sendo esta uma comparação que tem em conta as devidas distâncias, ambas as bandas partilham uma visceralidade intrínseca às suas criações: acabam por causar emoções fortes e de distinta natureza junto da audiência. Tocando brevemente no tema da subjectividade da arte (assunto que se estende muito para além da breve resenha que aqui se apresenta) há músicas que dizem e “mexem” com certos elementos do público mais do que com outros. Tal é perfeitamente natural, de respeitar e até louvável como sons e palavras de um artista despoletam emoções num público desconhecido. O que não se consegue alcançar é o porquê de uma instituição usar e abusar dessa mesma relação imaterial. Trata-se da exploração da sentimentalidade para a transmissão em directo da RTP play ou para os ecrãs gigantes do Palco NOS. Em vez de ser coberta a música, foi escolhido cobrir os momentos chorosos daqueles que sentiam as criações de Bon Iver. Interessará isto ao festivaleiro da última fila da plateia, ou àquele que por razões diversas ficou em casa a ver a performance a partir do seu computador/televisão? Provavelmente não. Por 1h30 o NOS Alive pareceu um jogo americano de basquetebol onde os ecrãs gigantes mostravam uma declarada dance cam (filmando pessoas aleatoriamente na plateia antes dos concertos e pedindo que dançassem através de um oráculo), uma kiss cam e uma crying cam  (estas duas sem direito a oráculo e com título não conferido pela produção) explorando de forma gratuita e supérflua a emoção.

O concerto de Bon Iver foi uma performance “limpa” e, em geral, tecnicamente competente, fora tentativas de arriscar que não correram pelo melhor: em “Skinny Love”, por exemplo, os músicos perderam o controlo rítmico sobre a faixa, sendo o público encarregue de a segurar através da letra entoada em uníssono. Apesar de não ser banda de um só êxito, Vernon afirmou o seu posto na indústria com “Skinny Love”, não sendo de admirar que o publico louvasse com maior afinco a chegada desta canção do álbum de estreia, For emma, forever ago (2008).

Desde então mais dois álbuns foram lançados, mudando o rumo inicialmente traçado por Vernon e seus comparsas. O alinhamento foi principalmente composto por faixas do 22, a million (2016), havendo um revisitar de trabalhos anteriores sendo-lhes conferida uma nova roupagem ao vivo. Teria sido estranho, há uns anos, imaginar Bon Iver no palco principal do NOS Alive, com a maioria dos espectadores presentes no recinto ali em massa. Os primeiros álbuns de Bon Iver pediam todo um outro ambiente mais intimista para serem escutados e tocados. Apesar disso, 22 a million (2016) é um trabalho dito mais acessível e marcou um novo caminho para o artista que se tem vindo a reafirmar com as já lançadas faixas de “i,i” (disponível a partir de 30 de agosto).

O Bon Iver, da cabana perdida de Wisconsin, mudou-se para os palcos da cidade grande e lá segue nova vida.

NOS Alive: The Smashing Pumpkins © Arlindo Camacho

SAUDOSISTAS, THE SMASHING PUMPKINS REINTERPRETAM UM BRILHANTE PASSADO

(Reportagem de Diogo Álvares Pereira)

Após o concerto de Bon Iver, a dupla redatora divide-se. A minha colega abandona o Palco NOS para assistir e fazer a reportagem do concerto de Thom Yorke no Palco Sagres e eu salvaguardo o meu lugar, na linha da frente, para os cabeças-de-cartaz da última noite desta edição do NOS Alive, uma banda que há muito ansiava por assistir ao vivo, “lendas” do rock alternativo da década de noventa (reconheço que esta definição não deve ser cedida com leveza; todavia, neste caso em particular, parece-me absolutamente apropriada, tanto pela colossal qualidade técnica, melódica e lírica inerentemente associada aos quatro primeiros discos que editaram: Gish (1991), Siamese Dream (1993), Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995) e Adore (1998), como por terem acolhido uma inteira geração de marginais, solitários ou casuais admiradores de música alternativa, composto a banda-sonora dos “efémeros momentos que transformam uma vida” e depositado as sementes da nostalgia para a descendência) e eternos queridos do público português.

No fundo do palco principal do NOS Alive, três descomunais figuras insufláveis, representativas da grandiosidade estética exigida por um concerto dos The Smashing Pumpkins, começam a adquirir forma, ao som de “Sarabande” de George Friedric Handel. A fasquia encontra-se assustadoramente elevada, porém confio, plenamente, no impulso espiritual-anímico que uma entidade externamente insolente, mas (e quem amadureceu a escutar, examinar o seu trabalho, não terá dificuldade em reconhecer a autenticidade desta afirmação) emocionalmente frágil, vítima do questionamento existencial e sedento de aceitação, reconhecimento unânime, deve obter perante uma multidão veneradora, iconófila. Subitamente, o corpo esguio de Billy Corgan, envergando um comprido traje negro, apodera-se do Palco NOS em toda a sua plenitude, instantaneamente engolido por uma audível, afectiva onda de aplausos. A altiva postura de “criador todo-poderoso”, a marcha tenebrosamente “vampiresca”, quase teatral, como se cada acção, por muito ínfima que seja, tivesse sido idealizada e reflectida durante dias a fio. Billy Corgan enfrenta, de modo envaidecido, a audiência exuberante, convertendo-nos em “marionetas reactivas e submissas”, peças do seu imponente espectáculo, recorrendo a fugazes gesticulações e expressões propulsionadoras de euforia geral. Neste seu retorno à cidade de Lisboa, acompanham-no dois membros do alinhamento original da banda: os equivalentemente ovacionados guitarrista James Iha e baterista Jimmy Chamberlin, sendo que o guitarrista de longa data Jeff Schroeder e o baixista Jack Bates, filho de Peter Hook, completam a formação.

Billy Corgan não perde mais tempo e inaugura o evento com a performance de “Siva“, primeiro single do disco de estreia dos The Smashing Pumpkins, Gish, seguindo-se o imortal clássico “Zero“, recebido com exaltação pelo público, que delira ao escutar a distorção da guitarra eléctrica e as inconfundíveis melodias vocais de um Billy Corgan agradavelmente rejuvenescido. “My reflection, dirty mirror/ There’s no connection to myself/ I’m your lover, I’m your zero/ I’m the face in your dreams of glass”. Todavia, com a inclusão de “Solara” no alinhamento, canção integrante do mais recente álbum de estúdio, Shiny and Oh So Bright, Vol. 1 / LP: No Past. No Future. No Sun (2018), compreendemos que o concerto dos The Smashing Pumpkins funcionará a “dois tempos”, vencendo o saudosismo, a reinterpretação de um brilhante passado, sobre a divulgação dos desinspirados temas posteriores ao ano de 2000, autênticas “sombras” da “era de ouro” (excepção para “The Everlasting Gaze“, canção atendida com pulos “acanhados” e uma desinibida entoação da letra na íntegra). Em “Disarm“, Billy Corgan troca a guitarra eléctrica pela acústica, proporcionando um dos momentos mais íntimos e comoventes da noite; “Ava Adore” acolhe os “passos de dança” de um Nosferatu contemporâneo, para profundo contentamento da audiência; “1979” assume o previsto formato de ode à adolescência, à idade da inocência e independência de espírito; “Tonight, Tonight“, um dos melhores singles dos anos noventa, catapulta-nos para a hermética Lua conceptualizada por George Méliès e leva-nos a entender que o passar do tempo é irremediável; que devemos, simplesmente, resignar-nos às leis que regem o universo e fruir de uma jornada definida por preciosos momentos como este. A explosão sonora e a combinação aprazivelmente ruidosa das três guitarras eléctricas, o descomedido recurso a pedais de efeito, as melodias e motivos distintivos e os solos tecnicamente assombrosos executados por Billy Corgan recebem acentuada nota de destaque, aliados à competência rítmica do hábil baterista Jimmy Chamberlin e do injustiçado baixista Jack Bates (mais uma vez, a acústica do Palco NOS transforma envolventes, eximiamente tocadas linhas de baixo numa experiência inteiramente sofrível).

Durante a segunda metade do espectáculo concedido pelos The Smashing Pumpkins na corrente edição do NOS Alive, identifico um padrão caloroso nas condutas de Billy Corgan e James Iha: James Iha assume o papel de porta-voz da banda, agradecendo, incessantemente, ao público português e preservando a sua personalidade jovial, solícita, ao longo de todo o concerto. Contrariamente, Billy Corgan, fiel ao seu polémico estilo, mantém uma postura vangloriosa, de poucas palavras e identificáveis “toques de vedeta”. No entanto, o seu rosto vincado oculta algo mais profundo, visceral, um desabafo que tenciona partilhar com a audiência, esta noite. A “máscara” cai quando Billy Corgan, antecedendo a performance da derradeira canção do alinhamento, “Today“, finalmente, abre o coração para uma plateia composta por milhares de fãs, resultando num dos acontecimentos mais emotivos que me recordo de presenciar num concerto: “James, lembras-te daquela Praça de Touros, em 1996? Com a chuva? (…) Alguns dos melhores concertos dos The Smashing Pumpkins aconteceram aqui, em Portugal.” Murmúrios e relatos de saudade enchem o espaço circundante. “Eu estive lá!” exclama uma mulher na casa dos quarenta, vestindo a icónica camisola Zero. Pois eu não estive. Por inúmeras vezes sonhei ter estado, enquanto folheava o livrete do CD de Mellon Collie & The Infinite Sadness, deleitando-me com as figuras estrelares e os símbolos cósmicos. Hoje, apaziguei (parcialmente) a alma. Tenho plena consciência que cada lágrima, discreta, que vi derramada pelos meus companheiros de concerto, durante os belíssimos versos “The killer in me is the killer in you/ My love/ I send this smile over to you”, acompanhada do confronto da dor e a sua vivência, simbolizou muito mais do que o fútil “aguaceiro” projectado nos ecrãs gigantes durante Bon Iver. Porque a emoção no seu estado mais puro não requer alarido ou sensacionalismo, mas sim a genuína, transparente libertação. Precisamente antes de abandonar o palco, vi Billy Corgan esboçar um sorriso pela primeira (e última) vez na noite.

NOS Alive: Thom Yorke © Sara Hawk

TODOS DANÇAM  AO SOM DA VIAGEM HIPNÓTICA DE THOM YORKE

(Reportagem de Margarida Ribeiro)

A sobreposição horária do concerto de The Smashing Pumpkins e Thom Yorke não agradou a todos os espectadores. No entanto, a própria situação de obrigar o público a escolher acaba por fazer uma selecção que pode acabar por ser proveitosa: só aqueles que gostam mesmo é que lá estão. Tal questão acaba também por melhorar muito o ambiente na plateia, fazendo com que a apreciação da performance flua muito melhor entre cada elemento da audiência. Ao contrário de todo o aparato em palco de The Smashing Pumpkins, com Thom Yorke subiram ao palco mais dois artistas: o produtor Nigel Godrich (teclas, baixo e guitarra) e Tarik Barri (encarregue da manipulação imagética ao vivo das projecções sobre cinco painéis que compunha uma superfície côncava facetada que ocupava toda a parte de trás do palco).

Foi uma performance que encheu todas as medidas, quer visualmente quer musicalmente. Quem foi ao concerto achando que iria ouvir êxitos dos Radiohead, saiu enganado. Do alinhamento faziam parte principalmente faixas do último álbum de Yorke, ANIMA (2019), havendo também passagens por The Eraser (2006) e pela banda sonora que fez para o filme Suspiria (2018). Causando furor a cada música que tocava, um Yorke ora dançante, ora de braços abertos em tom de deus omnipotente recebia cada aplauso e ovação com curtos agradecimentos. Preferia deixar antes o público envolver-se com as estruturas abstractas projectadas, que se iam intrincando entre si criando novas formas e com a música pela dupla em palco criada.

Uma viagem hipnótica que fez com que até aqueles que não dançam se movam ao som da música de Yorke, completamente imersos no universo criado.

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