Orgulho pop | 5 ícones populares (improváveis ou não) que podem ser pura cultura queer
Este Orgulho pop vem a propósito da estreia do filme “Queer” de Luca Gudagnino e de junho ser o mês em que as muitas cidades se pintam com o arco-íris, os feeds de Instagram brilham a glitter, e certas lojas vendem t-shirts com “Love Wins” a dobrar, juntamos 5 ícones pop (filmes, séries ou bonecos) que podem ser considerados também pura cultura queer. O Orgulho LGBTQIA+ não vive só de bandeiras e paradas.
Este mês decidimos olhar para cinco fenómenos da cultura pop que, mesmo sem querer, acabaram por tornar-se ou melhor, ganhar um estatuto de ícones queer. Uns são assumidamente camp, outros foram apropriados ou aceites com amor e tolerância. Mas todos estes símbolos, têm algo em comum: falam de liberdade, identidade e pertença, independentemente das opções sexuais de cada um.
ORGULHO POP 1. “Velocidade Furiosa”: bíceps, nitro e família escolhida
A saga “Velocidade Furiosa” podia muito bem ser uma novela queer disfarçada de filme de ação. Com Vin Diesel a repetir incessantemente a palavra ‘família’ como se fosse um padre num casamento não-binário e The Rock a partir gessos com o bíceps e a dizer “Daddy’s got to go to work”, não faltam momentos camp nesta franquia. Entre os carros voadores, os abraços emocionados e a obsessão com lealdade, “Velocidade Furiosa” construiu, sem saber, um santuário queer onde a masculinidade é performativa e a verdadeira força vem da vulnerabilidade emocional. E isso, meus caros, é bastante gay.
ORGULHO POP 2. “Libertem o Willy”: a libertação como revelação queer
Um rapaz solitário ajuda uma orca a escapar de um parque aquático onde é explorada por capitalistas malvados. Se isto não soa a metáfora queer, então não sei o que será. “Libertem o Willy” pode não ser assumidamente LGBTQIA+, mas a ideia de libertar alguém oprimido para que viva a sua verdadeira natureza, com o apoio de uma ‘família improvável’, é um tema profundamente queer. E sejamos honestos: aquele salto final da baleia é digno de uma grande parada Pride.
ORGULHO POP 3. Adriana (“Os Sopranos”): glamour, exclusão e sobrevivência
Adriana La Cerva (Drea de Matteo) era mais do que uma simples personagem da famosa série “Os Sopranos”. Era mesmo um statement. Entre o body de onça, os olhos muito abertos e as frases cortantes, Adriana encarnava o drama queer de querer pertencer, num mundo que insiste em excluir quem não encaixa na norma. Para muitas mulheres trans, Adriana pode bem ser um espelho: uma mulher constantemente julgada pela aparência, pela fertilidade, pela conformidade com um ideal que nunca foi feito para ela. O seu fim trágico, longe de ser só ficção, ecoa na realidade de tantas vidas queer.
ORGULHO POP 4. Zelda e Link: o herói andrógino que salvou muitas infâncias queer
Usa túnica, tem cabelo esvoaçante, raramente fala e tem uma energia de twink feérico que desconcerta. Link, o herói de “The Legend of Zelda”, foi para muitas pessoas queer o primeiro contacto com um protagonista que não encaixava nos estereótipos de género. Durante anos, muitos jogaram com ele como quem experimenta uma nova pele, livre de julgamentos e mais tarde viram-nos ecrão de cinema ou televisão. E não é por acaso que o criador da saga confessou mesmo que queria que Link fosse ‘neutro em termos de género’. Missão cumprida, mestre Aonuma.
ORGULHO POP 5. Pokémon: diversidade, fluidez e muito glitter
Jessie, James, Pikach e companhia criaram, nos anos 90, um universo onde qualquer um podia ser treinador, ninguém perguntava que eras na realidade e onde até os vilões se vestiam de forma ambígua. O mundo Pokémon sempre foi um espaço queer-friendly, mesmo antes de se falar de representatividade. De Pokémon não-binários a looks que fariam inveja a qualquer drag queen, o mundo Pokémon voltou a ser novamente companhia para muitas crianças e continua a ser um refúgio seguro para quem cresceu a sentir-se diferente. E sim, já há Pikachus a desfilar em marchas do Orgulho por esse mundo fora.
O orgulho também vive na pop
Estes cinco ícones de Orgulho pop — “Velocidade Furiosa”, “Libertem o Willy”, Adriana, Link e Pokémon, podem não ter sido propriamente criados como símbolos queer. Mas foram adoptados, re-imaginados e ressignificados por quem viu neles algo de libertador, de fora da norma, de profundamente seu. Porque o Orgulho, seja ele qual for também se faz disto: de encontrar sentido e poder em histórias que, sem saberem, sempre falaram connosco, independentemente das nossa opções sexuais. E, às vezes, tudo o que precisávamos era de um carro com nitro, uma orca em fuga ou um menino de túnica verde para nos sentirmos vistos e sobretudo realizados como seres humanos.
JVM