Os Bórgias T2 – Em Análise

 

THE BORGIAS (Season 2)
  • Título Original: The Borgias
  • Produtores: Showtime
  • Criadores: Neil Jordan
  • Elenco: Jeremy Iron, François Arnaud, David Oakes, Sean Harris, Colm Feore, Holliday Grainger, Lotte Verbeek, Joanne Whalley
  • Género: Drama, Crime, History
  • 2011| EUA | AXN Black HD | 18 Junho | 21:35

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“A Máfia Italiana Abençoada Por Deus”

 

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Os Bórgias estão de volta para nos tentar a alma, com mais uma dose grotesca de todos os pecados possíveis e imaginários que possam incitar a mente mais pervertida do Homem. Depois do estrondoso sucesso da primeira temporada que aqui analisámos com rigor, a cadeia televisiva “Showtime“, não hesitou em apostar o ouro na sua continuidade, oferecendo a Neil Jordan mais uma deliciosa incursão pelos recônditos obscuros daquela Itália renascentista minada de corrupção até ao tutano.

E se a primeira temporada serviu de tela basilar para redigir os rabiscos iniciais deste “ravioli” dramático, o segundo prato de época revela uma maior consistência e complexidade do enredo, agora menos estático e mais proativo nos seus objetivos primordiais. Claro que o assento papal de pontífice supremo da Igreja Católica centralizou um poder absoluto nas mãos imundas de Rodrigo Borgia (Jeremy Irons), como “carne para canhão” à mercê dos seus inimigos mais odiosos.

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Mas não temam já o pior, ninguém depõe o vigário de Cristo sem se sentir humilde perante a sua presença santificada. Nem mesmo o todo-poderoso exército francês do rei Carlos VIII (Michel Muller), reduzido à excitação de um cachorrinho obediente com o presente envenenado do reino de Nápoles há muito desejado.
É neste momento que começamos a assistir com regozijo à astúcia e elevação do estratagema magistral de “Sua Santidade”, denunciando um Jeremy Irons mais estratégico e impetuoso, que hostiliza sem dó nem piedade toda e qualquer ameaça direta ao seu pontificado “familiar”. Escusado será dizer que continuaremos a testemunhar os “castings” de incastidade e escapadelas silenciosas, sempre com o fulgor e eloquência que o ator britânico nos tem habituado ao longo dos tempos.

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Mas se por um lado, as ervas daninhas que crescem no perímetro exterior do Vaticano constituem o pão nosso de cada dia, dentro de portas haverá conflitos internos com o avolumar de testosterona infantil entre Cesare Borgia (François Arnaud) e Juan Borgia (David Oakes), numa contenda acesa pelo poder e respeito do papa. No seu regresso, Arnaud traz consigo na bagagem um coração sombrio e tenebroso, alimentado pela frieza diabólica do seu servo Micheletto (Sean Harris), fazendo estrebuchar as caveiras mais sensíveis na sua passagem. E se Arnaud consegue convencer com o seu charme de galanteador, não deixa de picar o ponto na saia mais oportuna, nem que seja para confraternizar na toca do inimigo e dar ínicio à ronda inaugural de negociações fatigantes. Claro que nem só de pólvora e virilidade vive o ator françês, que ao contrário do seu irmão talhado para o falhanço perpétuo, ainda irá tirar da cartola um ou dois coelhos de pura genialidade e brilhantismo, merecendo todos os louros e créditos por mais uma interpretação de altíssimo gabarito. E não menosprezar a atuação fabulosa de Sean Harris, que transforma Micheletto num assassino macabro e sádico, brindando o público com aquele tipo de violência capaz de fazer suster a respiração em nome de Nosso Senhor.

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Enquanto os senhores brincam ao “Playmobil”, as senhoras já não brincam só ao “Playboy”, agora mais empreendedoras em prol da sociedade, não estivéssemos a falar de uma união solidária entre amantes: Vanozza Borgia (Joanne Whalley) e Giulia Farnese (Lotte Verbeek), empenhadas com profissionalismo em erradicar a pobreza extrema das ruelas famintas de Roma. Aliás, as duas atrizes experientes serão motivo de comédia e risota em um par de cenas caricatas, mas sem nunca perderem a compostura e graciosidade que as define antagonicamente. Digno de destaque a excelente performance de Lucrezia Borgia (Holliday Grainger), que reforça a ilusão da sua aparência angelical, adotando paulatinamente os métodos extremistas do seu irmão Cesare, como nota de confirmação da emancipação da mulher singela que faz valer as suas armas para alcançar os seus intentos pessoais.

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Os Bórgias apresentam-se em grande forma neste segundo “take”, oferecendo um olhar mais profundo sobre as tramas políticas que dominavam aquele período histórico, explorando paralelamente um novo patamar de densidade emocional no que às personagens intervenientes diz respeito. E se para Neil Jordan não bastava fazer boa figura, ele consegue elevar ainda mais a fasquia do “storytelling”, não se esquecendo de acelerar o ritmo dos acontecimentos com pinceladas generosas de violência, drama, conspirações, traições e muita oração à mistura.

P.S – In Nomine Patris Et Filii Et Spiritus Sancti, Amen…

MS

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