Os Óscares da MHD vão para…

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Os Óscares estão quase a chegar, mas antes disso há que se saber quem seriam os vencedores dos maiores prémios de Hollywood se, ao invés da Academia, fosse a equipa MHD a votar.

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É impossível falar sobre os Óscares sem que alguém manifeste o seu desinteresse ou desgosto pela instituição da Academia e suas escolhas supostamente injustas. Aqui pela MHD não somos isentos de tal queixume, sendo que tanto festejamos os prémios da Academia como nos desdobramos em infindáveis artigos a criticar suas escolhas. Afinal, basta vermos a quantidade de vencedores e nomeados para o Óscar de Melhor Filme que acabaram por marcar presença na nossa lista de filmes sobrevalorizados.

Por isso mesmo, este ano, a equipa de cinema da MHD decidiu fazer-se de Academia e ver quem sairia vencedor se ao invés da Academia fossem os escritores desta publicação a votar. Em nome da justiça e da coerência, decidimos replicar com relativa exatidão a metodologia dos verdadeiros Óscares, desde os nomeados efetivos e período de votação até ao uso de um voto por ranking de preferência na categoria de Melhor Filme.

a forma da água cinema de 2018 top mhd
Se fosse a MHD a votar, quem é que seria o sucessor de A FORMA DA ÁGUA na glória dos Óscares?

Os resultados foram surpreendentes e tememos que em nada se pareçam com as efetivas escolhas da Academia. Uma coisa é certa, a equipa MHD é formada por uma massa opinativa bem heterogénea. Em todas as 24 categorias, somente uma teve um resultado unânime, enquanto muitas das outras foram decididas por um ou dois votos. Se isto acontece com 16 críticos e contribuidores desta publicação, nem se imagina a confusão de opiniões contrastantes que devem ser os verdadeiros votos da Academia de Hollywood.

De Melhor Filme a Melhor Curta-Metragem Documental, neste artigo poderás encontrar todos os favoritos da MHD, com especial destaque para o domínio de um filme cujo favoritismo até e sugerido pelo título. Basta seguires as setas para veres os resultados. Seguindo, mais ou menos a ordem da Academia, começamos com os galardões mais menosprezados, depois temos prémios do som, de imagem, escrita, atores, realização e acabamos com o mais importante de todos.

Segue as setas para descobrires os nossos vencedores. Cada slide tem um vencedor e um texto a justificar sua vitória.




MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTAL

oscares mhd black sheep

O Óscar MHD vai para… BLACK SHEEP de Ed Perkins e Jonathan Chinn!

De entre os cinco nomeados na categoria de Melhor Curta-Metragem Documental, “Black Sheep” destaca-se pela sua inovação formal e bravura na experimentação de técnicas raras no documentário mais convencional. O uso de testemunhos feitos diretamente para a câmara, por exemplo, muito faz para dar peso e humanidade à história retratada na fita e o uso de dramatizações esbate a ténue barreira entre o que é um documentário e o que é um filme narrativo.

De forma sumária, esta é uma exploração de tensões raciais na Grã-Bretanha, focando-se num retrato individual de Cornelius Walker, cuja família decidiu abandonar Londres depois do homicídio muito mediático de Damilola Taylor em novembro de 2000. Contudo, de um inferno de preconceito, a família do protagonista acaba por cair noutro ambiente de venenoso racismo. Mais do que ser um filme com uma mensagem moral pronto a evangelizar audiências, “Black Sheep” foca seus esforços em ser um estudo de personagem e como isso, o filme é uma obra-prima. Ódio internalizado e o tipo de resiliência necessária para se viver num mundo que insiste em negar a Humanidade de alguém.

Apesar da sua abordagem cáustica e acídica, que não ousa oferecer soluções simples ao problema do racismo que impregna a sociedade, o que o eleva acima de tantos outros filmes sobre temas semelhantes. Este não é um filme que quer reconfortar o espectador ou posicionar seus temas como problemáticas do passado. Esta é uma obra urgente que triunfou no nosso voto, mesmo acima de outros filmes bem adorados pela equipa MHD como “Lifeboat” sobre a crise dos refugiados e “End Game” sobre pessoas em fim de vida e os médicos que os tentam salvar.

CA




MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO

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O Óscar MHD vai para… BAO de Domee Shi e Becky Neiman!

Como o filme mais amplamente visto por toda a equipa MHD na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação, a vitória de “Bao” foi relativamente fácil. Contudo, há que ter em conta como este filme, exibido em Portugal juntamente com “The Incredibles 2: Os Super-Heróis” tem vindo a afirmar-se como uma das curtas-metragens mais polarizantes da Pixar. Há mesmo quem considere este um exercício narrativo incompreensível, ridículo e até um pouco grotesco. Como é óbvio, aqui pela MHD, essa opinião não tem grande afirmação.

De facto, iríamos ao ponto de categorizar “Bao” como um dos mais comoventes e maturos filmes a ser distribuídos pela Disney nos últimos anos, independentemente do seu tamanho diminuto. O filme, de modo simplista, conta a história de uma mulher sino-canadiana que um dia se depara com um baozi (espécie de dumpling chinês) que ganha vida. A criatura é adorável e depressa arrebata o coração da nova mãe e do espectador. Contudo, o pequeno Bao cresce e quando tenta abandonar o controlo maternal, a protagonista toma decisões drásticas que tanto a magoam a ela como ao seu “filho”.

Com esta descrição não será difícil entender o filme como a metáfora que efetivamente é sobre a dificuldade de uma mãe ver seus filhos crescer e o sentimento do abandono parental que daí surge. Mesmo fora do campo do cinema de animação, é difícil encontrar uma obra a explorar o potencial destrutivo do amor, especialmente daquele partilhado entre filhos e pais. Não é que esse potencial floresça de alguma maldade, mas sim do modo como o amor pode definir quem somos, consumir nossas vidas e tornar a ausência do ente querido num apocalipse pessoal. Basicamente, este filme é uma obra-prima assim como uma máquina de choro instantâneo para quem esteja disposto a dialogar emocionalmente com sua peculiar metáfora de gastronomia antropomorfizada.

CA




MELHOR CURTA-METRAGEM LIVE-ACTION

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O Óscar MHD vai para… MADRE de Rodrigo Sorogoyen e María del Puy Alvarado!

Durante uns dias, os amantes de Cinema viveram atordoados e revoltados com a decisão da Academia de entregar os prémios de quatro categorias durante os intervalos para anúncios. Uma delas era Melhor Curta-Metragem Live Action. Felizmente, essa decisão foi revogada, mas a Magazine HD nunca sequer pensou em desprezar esta categoria, na qual participam tantos jovens cineastas sonhadores.

Dos 5 nomeados, a nossa equipa acabou por eleger “Madre” dos nossos vizinhos espanhóis. Este filme de 19 minutos conta a história de uma mulher que vive com a mãe e as atribulações que advêm com a chamada por telefone do filho de 6 anos que vive com o pai em França. Estreou a 17 de Março em Espanha, vencendo vários prémios de renome incluindo o Goya para melhor curta-metragem de ficção. Acabou também por vencer a nossa votação nesta categoria com uma margem curta para o segundo classificado, “Marguerite” do Canadá, realizado por Marianne Farley e vencedor de 19 prémios internacionais.

Além deste, “Madre” superou também mais três nomeados. “Detainment”, vencedor de dois prémios do Festival de Criatividade de Cannes, “Skin” e “Fauve”, vencedor no Festival Sundance.

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MELHOR DOCUMENTÁRIO

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O Óscar MHD vai para… RBG de Betsy West e Julie Cohen!

Aquando do anúncio das divulgações dos Óscares, muitos foram os especialistas e prognosticadores profissionais que se espantaram com a categoria de Melhor Documentário. 2018 foi um ano marcado por documentários populares a marcarem o box office americano com uma presença de rara magnitude para este tipo de cinema. Contudo, quando chegou a altura de se saber os nomeados da Academia, o que se esperava ser uma categoria dominada por prazeres mainstream, revelou ser uma coleção de propostas artísticas bem mais desafiadoras do que o que se esperava. “Minding the Gap” e especialmente “Hale County This Morning, This Evening” quase se podem considerar trabalhos de cinema experimental, por exemplo.

Talvez por isso, os votos da equipa MHD acabaram por se concentrar no mais convencional dos nomeados cuja importância sociopolítica é bem mais fácil de entender que as considerações complicadas feitas pelos outros filmes. Falamos, pois claro de “RBG”, um documentário que faz o perfil de Ruth Bader Ginsburg, Juíza do Supremo Tribunal dos EUA e uma das vozes democratas em minoria nessa instituição. Para muitos, esta mulher representa um último raio de esperança por entre a negrura amoral da administração Trump, que, fosse ela morrer ou reformar-se, certamente a substituiria com um indivíduo conservador disposto a reverter muita da legislação mais progressiva dessa nação.

Por todas essas razões, é fácil entender a popularidade de “RBG” que transcende a banalidade da sua construção hagiográfica com a urgência política do seu sujeito de estudo e admiração. O modo como o filme traça a evolução política de Ginsburg, desde uma visão moderada até posições mais crescentemente liberais e antagónicas à maioria conservadora, é de particular interesse.

CA




MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

Homem Aranha No Universo Aranha critica

O Óscar MHD vai para… HOMEM-ARANHA: NO UNIVERSO-ARANHA de Bob Persichetti, Peter Ramsey, Rodney Rothman, Phil Lord e Christopher Miller!

Apesar de alguns votos dispersos pelos outros nomeados, a equipa MHD tem um claro favorito na categoria de Melhor Filme de Animação. Face à qualidade excecional de “Homem-Aranha: No Universo-Aranha”, sua bravura narrativa e criatividade formal, tal resultado não surpreende. Só esperamos que os Óscares sigam o exemplo.

Para melhor explicar a qualidade imbatível deste filme, recordamos algumas das palavras que já havíamos publicado aquando da estreia do filme nos cinemas portugueses. Na crítica MHD, assim se escreveu:

A já célebre imagem invertida de um Homem-Aranha de uniforme preto a cair para a imensidão de Manhattan, como uma alma a ascender a um reino superior, é a perfeita sumarização dos prazeres deste filme. O momento é épico e fulgurante, narrativamente representa o começo do desfecho do enredo e o fim do arco do protagonista, a imagem é de uma sofisticação técnica imensa em conjunção com uma excelente canção original e a montagem dinâmica.

Tal maravilha cinematográfica tira o fôlego, faz o coração bater mais depressa e, por momentos, consegue transcender as expetativas até do membro da audiência mais cético e ríspido. Tal perfeição é o tipo de transcendência artística e emocional que justificam todo o género de cinema de super-heróis, que nos mostram os limites da animação e nos lembram por que razão amamos a sétima arte.

CA




MELHOR FILME NUMA LÍNGUA ESTRANGEIRA

leffest roma critica alfonso cuaron

O Óscar MHD vai para… ROMA do México!

Ao longo da sua História, o Óscar de Melhor Filme Numa Língua Estrangeira nunca foi entregue a uma obra mexicana. Considerando a hegemonia de cineastas mexicanos nesta década dos Óscares, uma vitória para o México parece lógica e justa. Aliás, no contexto político atual, tal triunfo representaria uma importante celebração de um povo e cultura que certos figurões da política mundial insistem em vilificar na sua retórica xenófoba e racista.

Com isso dito, é justo dizer que a decisão da equipa MHD não foi feita somente com base nessas considerações sociopolíticas e históricas. “Roma” é, sem sombra de dúvida, um dos melhores filmes do ano. “Shoplifters” e “Guerra Fria” conquistaram alguns votos entre os escritores da MHD, mas foi a obra de Cuarón que verdadeiramente conquistou os nossos corações. O filme é um verdadeiro humanista que revela o poder do cinema enquanto máquina de empatia e enquanto uma ferramenta de imersão sensorial.

Além de tudo isso, trata-se também de um dos trabalhos mais esteticamente sofisticados do ano. Seu uso de planos sequência impressiona tanto como a cristalina fotografia a preto-e-branco. O uso de som é assombroso, especialmente na climática sequência na praia. A reconstrução da Cidade do México em inícios dos anos 70 é um feito de cinema verdadeiramente monumental. Ao contrário de muitas das nossas outras escolhas coletivas, esta é uma vitória que esperamos ver replicada nos Óscares da Academia.

CA




MELHORES EFEITOS SONOROS

asc diretores de fotografia

O Óscar MHD vai para… Ai-Ling Lee e Mildred Iatrou por O PRIMEIRO HOMEM NA LUA!

Antes de defendermos a nossa escolha de vencedor, convém esclarecer quais são as diferenças entre as duas categorias de som da Academia de Hollywood. Sound Mixing (Sonoplastia) refere-se à mistura final de todos os elementos sonoros do filme, desde o diálogo até à música. Sound Editing (Efeitos Sonoros), pelo contrário, refere-se à criação de sons individuais. São raras as filmagens em que se consegue registar mais do som real da cena que o diálogo, sendo que tudo, desde ruídos do background aos passos dos atores costuma ser criado artificialmente por uma equipa de efeitos sonoros.

No caso do nosso estimado vencedor, “O Primeiro Homem na Lua”, todos os sons dos mecanismos espaciais e o caos cacofónico das missões da NASA tiveram de ser concebidos por Ai-Ling Lee e Mildred Iatrou. A reentrada na atmosfera depois de uma aventura turbulenta é uma sequência de particular primor sonoro devido à insana quantidade de diferentes ruídos ameaçadores, desde placas de metal a baterem umas contra as outras, até ao som infernal de parafusos a tremer e as labaredas no exterior da nave.

Em termos do voto MHD, a vitória de “O Primeiro Homem na Lua” foi algo renhida. “Roma” e “Um Lugar Silencioso” também receberam muitos votos. Aliás, esta foi das categorias em que todos os nomeados receberam, pelo menos, um voto dos 16 membros da redação MHD que participaram nesta iniciativa inédita.

CA




MELHOR SONOPLASTIA

O Primeiro Homem na Lua

O Óscar MHD vai para… Jon Taylor, Frank A. Montaño, Ai-Ling Lee e Mary H. Ellis por O PRIMEIRO HOMEM NA LUA!

Tal como muitas vezes acontece com os Óscares a sério, estes Óscares votados pela MHD acabam por premiar o mesmo filme nas duas categorias de som. Convém dizer, contudo, que neste caso a batalha pelo troféu foi bem renhida. Foi por poucos votos que “Bohemian Rhapsody” perdeu este prémio para o filme de Damien Chazelle sobre Neil Armstrong. No final, contudo, parece que o primor técnico de “O Primeiro Homem na Lua” foi irresistível, mesmo para aqueles que não são grandes fãs do filme enquanto narrativa biográfica.

De certo modo, é fácil entender tal reação à grandiosidade deste feito sónico. Na conjetura do cinema de 2018, talvez nenhum filme tenha uma paisagem sonora mais imersiva que este épico espacial. Ver esta obra em IMAX é sentir o corpo vibrar com os tsunamis de ruído ensurdecedor que marcam as sequências mais arrebatadoras e depois sentir-nos a flutuar em instantes de paz proporcionados pela banda-sonora rica em instrumentos peculiares. Até as escolhas precisas de como e onde usar silêncio revelam o génio por detrás deste triunfo de sonoplastia.

Uma curiosidade interessante a também ter em conta quando falamos destas categorias e a vitória de “O Primeiro Homem na Lua” é que Ai-Ling Lee está a bom caminho de se tornar na mulher asiática mais nomeada de sempre pela Academia de Hollywood. Se ela ganhasse estes dois prémios, batia o recorde de vitórias para essa demografia que, infelizmente, é extremamente sub-representada na História dos Óscares.

CA




MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

Melhores Bandas Sonoras

O Óscar MHD vai para… “Shallow” de ASSIM NASCE UMA ESTRELA, Lady Gaga, Mark Ronson, Anthony Rossomando e Andrew Wyatt!

Este ano, na categoria de “Melhor Canção Original”, o Óscar poderá ter um destino previsível. Aquela que foi considerada uma das melhores músicas de 2018 certamente sairá vitoriosa. Além disso, esta foi a única categoria na qual a equipa da MHD votou de forma unânime.

“Shallow” é, desde a sua divulgação, a favorita ao galardão. A música de Lady Gaga e Bradley Cooper caracterizou, de certa forma, “Assim Nasce Uma Estrela”. O tema original e principal foi um dos motes da história entre Ally e Jack. “Shallow” é uma lenta conversa, diante de uma guitarra, que não fala apenas para aqueles cuja vida foi dura, mas também para os que não conseguem atingir os seus sonhos e se vêem cair num buraco sem fundo.

Bradley Cooper, com a sua voz levemente rouca e que traz à mente os cantores de country-pop, convida Lady Gaga a entrar na conversa, dizendo-lhe “Tell Me Something, Girl”, e assim se desenrola todo o turbilhão de emoções que, de algum modo, descreve, da forma mais única e complexa possível, a história de Ally e de Jack Maine. Eles são duas pessoas que se descobrem num momento de intensa vulnerabilidade e que mergulham num romance que já tem um trágico final traçado – um sucumbe ao abuso de álcool e drogas, o outro cresce e perde a sua natureza no meio da fama.

A contenção de Bradley reconhece que aquele é o momento de Gaga brilhar. E como ela brilha! Lady Gaga começa de forma suave e rapidamente atinge o pico com um tom arrebatador. O momento-chave da música, e também aquele que nos arrepia e faz perceber que este tema merece todo o reconhecimento, são os 17 segundos nos quais Gaga faz uma ponte na música, com a sua voz crescente e inebriante. Este é um triunfo vocal que, certamente, as futuras gerações irão estudar. O momento de Lady Gaga é impressionante: cru, profundo, poderoso.

De seguida, Gaga desperta novamente e abre a voz, engolindo por completo o palco, cortando a respiração de todos e encaminhando-nos para o triunfante refrão digno de uma verdadeira ovação. Por isto e muito mais, “Shallow”, que já conseguiu triunfar nos Grammy e em vários outros prémios, merece a distinção de “Melhor Canção Original”. “Shallow” explode em cores, enquanto transforma uma simples canção de amor num admirável drama musical.

CN




MELHOR BANDA-SONORA ORIGINAL

se esta rua falasse oscares mhd

O Óscar MHD vai para… Nicholas Britell por SE ESTA RUA FALASSE!

A categoria de Melhor Banda-Sonora Original é uma das mais difíceis de prever em relação aos verdadeiros prémios da Academia. Dando uma vista de olhos aos votos da equipa MHD, é fácil entender porquê. Basicamente, todos os nomeados têm o seu valor e fãs, sendo que nenhum vencedor seria necessariamente uma escolha injusta. Pelo meio destes votos extremamente dispersos, emergiu um vencedor que, apesar de tudo, nem um terço dos votos da equipa conseguiu reunir. Nada disso indica qualquer falta de qualidade, bem pelo contrário.

Apesar de ter uma carreira ainda jovem no mundo do cinema, Nicholas Britell está rapidamente a afirmar-se como um dos grandes nomes no panorama dos compositores para filmes. Seu trabalho tende a ter toques de avant-garde e experimentação e há já alguns cineastas, como Adam McKay e Barry Jenkins, que não ousam fazer um filme sem a contribuição deste génio musical. É precisamente pelo mais recente filme de Jenkins, o apaixonante “Se Esta Rua Falasse”, que Britell receberia o Óscar da MHD.

Esta é uma banda-sonora rica e luxuriante, cheia de complexas melodias em deliciosa comunhão com contramelodias. O uso de leitmotiv é particularmente admirável, quer seja a melodia usada para expressar momentos de jubilo, o som da inspiração artística de Fonny ou o sedutor ritmo repetitivo que marca todas cenas consumidas pelo erotismo do casal principal.

CA




MELHORES EFEITOS VISUAIS

o primeiro homem na lua top mhd cinema de 2018

O Óscar MHD vai para… Paul Lambert, Ian Hunter, Tristan Myles e J.D. Schwalm por O PRIMEIRO HOMEM NA LUA!

Melhores Efeitos Visuais é uma das categorias mais exemplares deste ano nos Óscares, incluindo cinco trabalhos distintos, cheios de variedade e qualidade invejável. Com isso dito, os votos da equipa MHD tenderam a gravitar para dois títulos que se impuseram aos outros nomeados. Esses filmes foram “O Primeiro Homem na Lua” e “Vingadores: Guerra do Infinito”. No final, o amor pelo filme de Damien Chazelle suplantou a adoração pelos heróis da Marvel e os efeitos mais tradicionais do épico espacial acabaram por ofuscar a vistosa criação de Thanos.

Trata-se de um triunfo de novas tecnologias em conjunção com técnicas antigas, resultando numa mistura equilibrada de efeitos práticos e digitais que tanto piscam o olho ao passado como olham para o futuro da inovação. O uso de projeções ao invés de cenários digitais para a aterragem na Lua e as cenas no interior das naves é algo quase revolucionário e extremamente difícil de fazer, mas dá a “O Primeiro Homem na Lua”, uma materialidade rara em obras tão dependentes de efeitos visuais.

Talvez mais impressionante ainda é o lado arqueológico da equipa de efeitos visuais deste filme. Todos os robots que vemos em cena nas cenas de treino e muitos testes mecânicos falhados foram construídos e eram perfeitamente funcionais. Até aquele que se despenha numa das sequências mais memoráveis da obra. Face a tal feito é difícil não ficar extasiado, pelo que consideramos esta uma vitória mais que justa e desejamos ver esta mesma equipa subir ao palco do Dolby Theatre para receber o Óscar a sério.

CA




MELHOR MAQUILHAGEM E CABELOS

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O Óscar MHD vai para… Jenny Shircore, Marc Pilcher e Jessica Brooks por MARIA, RAINHA DOS ESCOCESES!

Não obstante a qualidade transfigurante da maquilhagem de “Na Fronteira”, a competição para o Óscar MHD de Melhor Maquilhagem e Cabelos foi uma corrida a dois. Desde o início que “Vice” e “Maria Rainha dos Escoceses” se afirmaram como os grandes favoritos, duas obras biográficas que viram atores famosos serem transformados por equipas criativas cheias de engenho. No fim, a monarquia britânica derrotou os jogos de poder americanos.

Jenny Shircore, a designer desta maquilhagem e trabalho de cabeleireiro, já ganhou um Óscar por recriar estas mesmas figuras históricas no cinema. Foi em 1999, que Shircore arrecadou o galardão por “Elizabeth” com Cate Blanchett. Desta vez, seu desafio foi um pouco maior, em parte pois a transformação de Margot Robbie em Isabel I foi extremamente complicada e multifacetada. Desde o início ao fim da narrativa, Shircore teve de levar a atriz australiana da beleza de uma monarca em início de reinado até à grotesca maquilhagem da rainha envelhecida a esconder as cicatrizes que a varíola deixou na cara.

Num perfil que publicamos sobre Shircore, dissemos acerca do seu trabalho neste filme:

A belíssima atriz australiana não só foi transformada por um nariz prostético e perucas elaboradas, como foi sendo gradualmente envelhecida. Nas últimas cenas do filme, depois do advento cicatrizante da varíola, Shircore reproduziu em Robbie uma versão estilizada da dramática tez de chumbo branco que Isabel I apresentava nas últimas décadas de vida.

Mais do que História pura e dura, trata-se de grotesco teatral, na mesma medida em que os penteados de Saoirse Ronan e companhia são deslumbrantes trabalhos de fantasia que pouco ou nada têm que ver com História. Considerando todas as manipulações que o filme faz ao facto histórico, a maquilhagem e o cabelo seguir o mesmo caminho é um gesto de sinergia dramatúrgica.

CA




MELHOR DESIGN DE FIGURINOS

melhores guarda-roupas 2018

O Óscar MHD vai para… Ruth E. Carter por BLACK PANTHER!

A batalha entre “Black Panther” e “Maria, Rainha dos Escoceses” foi renhida, mas, no final, a equipa MHD acabou por dar seu prémio para Melhores Figurinos ao guarda-roupa de “Black Panther”. Considerando que Alexandra Byrne, a nomeada do filme sobre rainhas em guerra, já tem um Óscar e que Ruth E. Carter será uma campeã histórica, a primeira mulher preta a ganhar este prémio, se triunfar nos Óscares, não podemos deixar de considerar esta uma decisão justa e importante. Além de tudo o mais, os figurinos de “Black Panther” são deslumbrantes.

De facto, quando fizemos o nosso top 10 dos melhores guarda-roupas de cinema de 2018, “Black Panther” acabou no top 3. Nesse artigo, tivemos isto a dizer sobre os figurinos:

Apesar de nunca ter sido galardoada pela Academia de Hollywood ou mesmo pelo sindicato dos figurinistas, Ruth E. Carter é uma das grandes profissionais da sua arte e tem uma filmografia de fazer inveja a qualquer um. “Não Dês Bronca”, “Malcolm X”, “What’s Love Got to Do with It”, “Amistad”, “Sparkle”, “O Mordomo” e “Selma” são somente alguns dos muitos filmes vestidos por Carter. Em 2018, contudo, a figurinista teve o seu maior sucesso de sempre sob a forma de um blockbuster da Marvel que muito transcendeu os limites do género de super-heróis para se vir a tornar num titânico fenómeno cultural. Referimo-nos, é claro, a “Black Panther”.

Com um realizador que lhe deu toda a liberdade artística imaginável e os recursos sem aparente fim da Disney a servirem de apoio, Carter fez de “Black Panther” uma montra extraordinária para a sua arte, trazendo o afrofuturismo ao mainstream. Além disso, ela conseguiu fazer aquilo que qualquer criador de um mundo fantasiosos deseja – conceber uma realidade alternativa credível, com História e cultura próprias. Para isso, a figurinista fundiu os resultados de uma pesquisa extensiva a modas tradicionais de todo o continente Africano com as mais recentes inovações tecnológicas em que conseguiu pôr as mãos. Deste modo, um figurino como a imperiosa indumentária branca de Angela Bassett, pode ter traços de iconografia Zulu e a confeção meio futurista de um vestido totalmente feito com cortes a laser e impressoras 3D.

No fausto e ostentação deste insano esforço estilístico existe disciplina, apesar de tudo. Para não cair no caos e tornar o filme num fogo-de-artifício desordenado, Ruth E. Carter estabeleceu, juntamente com o realizador, estritos códigos de cor e simbolismo. Não há espetacularidade sem nexo em “Black Panther”. Cada missanga tem propósito, cada linha de armadura uma razão para existir, quer seja para sugerir uma História antiga ou o individualismo das personagens. No fim, Carter pode-se orgulhar de ter sido responsável pela criação de um dos filmes de super-heróis mais belos de sempre e certamente um dos mais bem-vestidos também.

CA




MELHOR CENOGRAFIA

a favorita asc diretores de fotografia

O Óscar MHD vai para Fiona Crombie e Alice Felton por A FAVORITA!

“A Favorita” é um dos filmes mais nomeados desta edição dos Óscares, estando indicado para 10 diferentes galardões. Uma dessas nomeações foi para Melhor Cenografia e é esse um dos prémios que a equipa MHD daria ao filme de Yorgos Lanthimos. Tal honra é um ótimo reflexo das preocupações do cineasta que terá investido quase todo o orçamento do projeto nos cenários. Essa situação forçou outros departamentos como os figurinos a terem de achar meios de recriar o século XVIII sem grandes fundos, mas permitiu a Fiona Crombie e Alice Fenton conceber uma estética única e cuidada para o filme.

A cenógrafa e sua decoradora usaram palácios reais como base para a criação dos ambientes, sendo que só alguns espaços tiveram de ser pontualmente criados de raiz. A maior parte do filme foi filmado em localizações reais que Crombie cuidadosamente estilizou em nome de uma linha estilística coerente com a visão de Lanthimos. Por isso mesmo, houve uma procura pela depuração dos detalhes de época até se encontrar sua essência. Crombie chegou mesmo a despir salas inteiras dos palácios e tentou encontrar maneira de proporcionar grandes quantidades de espaço vazio.

O resultado de todos estes esforços é um filme de época que se distingue de todos os outros filmes de época. Em lugar da opulência calorosa do Barroco, “A Favorita” é marcado pela frieza de arquitetura em dissonância com a escala humana e ambientes domésticos notoriamente desconfortáveis. O uso de tapeçarias e ruído visual para forrar as paredes é um elemento particularmente interessante deste trabalho, como que encurralando as personagens em salas sem aparente saída, estando todas as portas escondidas. Nesta corte real, todos são prisioneiros do poder, sua tentação e poder destrutivo.

CA




MELHOR FOTOGRAFIA

asc diretores de fotografia

O Óscar MHD vai para… Alfonso Cuarón por ROMA!

Se Cuarón ganhar esta mesma categoria nos Óscares tornar-se-á na primeira pessoa a ganhar o Óscar de Melhor Fotografia por um filme que também realizou. Interessantemente, o cineasta mexicano nem tinha intenções iniciais de filmar “Roma”, sendo que só decidiu fazê-lo depois de o seu diretor de fotografia habitual, o famoso Emmanuel Lubezki, ter revelado que estaria indisponível para colaborar no filme da Netflix devido a outros projetos. Apesar das maravilhas visuais de Lubezki, não podemos dizer que temos pena de tais eventos, pois “Roma” é um dos filmes mais deslumbrantes do ano.

Além do mais, as imagens deste épico humanista filmado a preto-e-branco, com grande profundeza focal e o primor do widescreen, são de um poder incalculável. A comunhão delas com o trabalho de montagem e som é ainda mais impecável. Por vezes, Cuarón diz mais com uma só imagem do que muitos cineastas fazem com mil palavras. Prova disso é o primeiro plano do filme que é um feito de tanta modéstia quanto complexidade audiovisual e concetual. Na nossa crítica do filme, assim dissemos sobre essa abertura:

“Roma” começa com o trabalho rotineiro desta mulher, mesmo que não vejamos de imediato. A câmara mira o pavimento de um pátio interior à medida que este se enche de água. Ao longe o ruído de uma vassoura é a primeira introdução que temos de Cleo, enquanto os nossos olhos são abençoados com a estranha beleza da água a cobrir a pedra. Suas ondulações profetizam o clímax choroso para o qual caminhamos, enquanto sua superfície espelhada pinta reflexos de um céu por onde voa um jato longínquo. Mesmo quando olha para o chão, Cuarón encontra lirismo, sua paisagem sonora sublinha a vida periférica ao centro das suas composições e detalhes minúsculos como o avião remetem para toda uma humanidade off-screen.

Isto é o trabalho de um génio, um verdadeiro mestre do cinema. Bravíssimo!

CA




MELHOR MONTAGEM

a favorita critica oscares 2019

O Óscar MHD vai para… Yorgos Mavropsaridis por A FAVORITA!

A maioria dos galardões para Melhor Montagem desta temporada dos prémios têm recaído sobre filmes cheios de vistosas estruturas de cena e narrativa. A salganhada cronológica de “Bohemian Rhapsody” e a loucura formalista de “Vice” são considerados os favoritos para o Óscar, por exemplo. Contudo, aqui pela MHD, preferimos outra proposta cinematográfica, algo mais subtil e perverso. É certo que a cinebiografia de Freddie Mercury deu luta, mas, no fim, “A Favorita” assumiu-se como o filme com a montagem favorita desta magazine.

De facto, a montagem de “A Favorita” é uma preciosidade de humor negro que tanto delicia como lacera. Negociar os planos de reação entre as três protagonistas, por exemplo, é um trabalho de mestre. Melhor ainda, é o modo como o filme tende a construir sua estrutura macro e micro com base num movimento contínuo de comédia de costumes para tragédia desesperante. Num baile caricato, por exemplo, o tempo que a montagem dá a um plano da cara de Olivia Colman é o que faz com que de paródia o momento caia nos epítetos do desespero, privilegiando a perspetiva de uma mulher emprisionada pelo seu corpo doente em detrimento do espetáculo da dança festiva.

Outra cena de destaque é o controverso final de “A Favorita”. É aí que Lanthimos finalmente toma as rédeas depois de ceder muito do controlo aos ritmos do texto. Neste clímax masturbatório, uma série de transições e planos prolongados põem o mais trágico dos pontos finais à narrativa desta farsa real. Mavropsaridis sobrepõe coelhos à subserviência sexual, esses símbolos de perda dentro da narrativa, até que o ecrã está tão saturado de ruído visual que não distinguimos forma alguma. O mundo dominado pelo sofrimento humano expresso por um simples, mas muito eficaz, gesto de engenho cinematográfico.

CA




MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO

O Óscar MHD vai para… Spike Lee, Charlie Wachtel, David Rabinowitz e Kevin Willmott por BLACKKKLANSMAN: O INFILTRADO!

Uma das maiores injustiças na História dos Óscares é a contínua subvalorização de Spike Lee. Face a tal horror, a equipa MHD decidiu que já era altura de Lee ter um Óscar competitivo com seu nome gravado a ouro. Não há melhor categoria para reconhecer o seu génio este ano que Melhor Argumento Adaptado, onde o argumento violentamente político de “BlacKkKlansman: O Infiltrado”, se assume como o trabalho mais urgente em competição.

Spike Lee ainda não ter ganho um Óscar competitivo é algo tão hediondo que mesmo um filme que dividiu as opiniões da equipa MHD como este acabou por dominar a categoria de argumento. “Se Esta Rua Falasse” teve seus apoiantes e até os irmãos Coen lá ceifaram um ou dois votos, mas o triunfo de Lee foi absolutamente imparável. Esperamos ver o mesmo acontecer nos Óscares, mas nunca se sabe.

Acerca do filme e seus jogos tonais, dissemos, aquando da sua estreia em Portugal:

“BlacKkKlansman” é um filme concetualmente denso que aborda alguns dos temas mais cáusticos da atualidade, mas fá-lo com impressionante flexibilidade tonal. Muito do filme é mesmo uma comédia extravagante, com montagens ensandecidas e uma energia eletrizante a pulsar por toda a sua narrativa(…)Ao longo da narrativa, Lee vai gradualmente passando de comédia a uma tragédia insuflada pela mais pura das fúrias e, nesse contexto, mesmo que problemático, o gesto final é entendível como derradeiro grito de raiva. Lee podia ter escolhido uma abordagem mais comedida e elegante, mas provavelmente não estaria a ser autêntico para consigo mesmo. Na sua forma final, “BlacKkKlansman” é uma obra de cinema político e histórico profundamente pessoal, que vale tanto pelos seus triunfos como pelos seus defeitos, seus problemas e cáustico retrato do mundo em que vivemos.

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MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL

a favorita critica

O Óscar MHD vai para… Deborah Davis e Tony McNamara por A FAVORITA!

Há mais de uma década que Deborah Davis andava a desenvolver o argumento de “A Favorita”, tendo-se apaixonado pela história verídica da rainha Anne e suas confidentes quando ainda trabalhava na profissão jurídica nos anos 90. Desde então muito aconteceu, mas a paixão de Davis nunca perdeu fôlego e, com a ajuda de Tony McNamara, o argumento foi adaptado ao estilo característico de Yorgos Lanthimos e seu gosto por comédia negra e insultos floreados.

De facto, os insultos elegantes de “A Favorita” são uma delícia de verbosidade contemporânea e obscenidades cortantes. Tão belas são estas palavras venenosas que mesmo quando nos ferem, é impossível não esboçar um sorriso face à sua maldade sofisticada. Lanthimos certamente fez bom uso desta matéria-prima textual e, apesar de ser a primeira vez que filma um argumento escrito por outra pessoa que não ele mesmo, o cineasta grego conseguiu dirigir seus atores de modo a conceber algumas das personagens femininas que os ecrãs internacionais tiveram o privilégio de exibir nos últimos anos.

Quando o filme estreou nos cinemas portugueses, tivemos isto a dizer sobre a união entre a visão de Lanthimos e a genialidade deste argumento original:

Partindo de um argumento de Deborah Davis e Tony McNamara, o cineasta grego Yorgos Lanthimos usa as intrigas da corte inglesa em inícios do século XVIII como mero pretexto para explorar alguns dos seus temas e estéticas preferidas. Assim, a história de como Lady Sarah Churchill, amiga e amante da rainha, é usurpada da sua posição de favorita real pelas manipulações e de Abigail, sua prima distante, toma a forma de uma dissecação do conceito do amor romântico, da submissão enquanto estrutura da sociedade e de como o ser humano está sempre disposto a tudo para fugir ao sofrimento a que está condenado desde o nascimento.

CA




MELHOR ATOR SECUNDÁRIO

green book oscares mhd

O Óscar MHD vai para… Mahershala Ali por GREEN BOOK – UM GUIA PARA A VIDA!

Mahershala Ali é provavelmente um dos nomes do ano. Nesta awards season o nome dele está sempre no topo das escolhas e a competir directamente com ele parecemos ter apenas Sam Elliot, por “Assim Nasce uma Estrela“. Aliás, nesta edição especial de Óscares MHD, a dúvida da nossa equipa foi mesmo essa, Ali vs Elliot! Mas os votos foram contados e Mahershala Ali, que já é detentor de um Óscar, conquistou mais de metade dos votos na categoria de Melhor Actor Secundário pelo seu papel em “Green Book”.

Em “Green Book”, Ali é Don Shirley, um conceituado pianista que, apesar do seu talento, ainda encontra dificuldade em ser aceite pela sociedade. A história do filme, baseada em factos verídicos, continua a ser um tema bastante actual e até poderíamos dizer que é um dos factores a contar para esta possível vitória mas queremos acreditar que essa não é, de todo, a razão.

Durante 2 horas e 10 minutos, Mahershala Ali presenteia-nos com uma interpretação magnífica, acolhedora e com um toque de charme que não nos deixa desviar o olhar dele. Se este papel poderia ter tido uma vertente mais inclinada para a caricatura, que é quase o que sentimos por vezes com a interpretação de Viggo Mortensen, Ali confere uma genuinidade extrema à personalidade de Don Shirley.

Não obstante a frieza do papel que interpreta, Ali consegue com um simples olhar ou sorriso fazer-nos sentir a mais pura das conexões com a sua personagem. Procurando um equilíbrio entre as emoções cruas que sente e a postura politicamente correcta que deve manter, vemos na representação de Ali a vida e alma de “Green Book”. O realizador acredita que era Linda Cardellini, nós acreditamos que é a arte de Mahershala Ali que faz de “Green Book” um candidato a Óscares.

MKN




MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA

oscares mhd a favorita

O Óscar MHD vai para… Emma Stone por A FAVORITA!

De entre as quatro categorias de atuação, nenhuma foi mais competitiva que Melhor Atriz Secundária. Todas as nomeadas receberam mais de um voto e, no final, estava bem renhido entre Marina de Tavira, Rachel Weisz, Regina King e Emma Stone. Esta última acabou por ganhar, apesar do seu papel ser considerado por muitos peritos como o de protagonista e não de atriz secundária. Enfim, tais questões de categorização fraudulenta em nada refletem uma falta de qualidade da prestação em si. Na verdade, diríamos mesmo que este é o melhor trabalho na carreira de Emma Stone.

A atriz que já ganhou o Óscar de Melhor Atriz em 2017 pelo seu comovente trabalho em “La La Land” nunca teve um papel tão complicado como o de Abigail em “A Favorita” e não estamos só a falar da necessidade de imitar um impecável sotaque britânico de classe alta. No início do filme, ela assume-se como a figura mais simpática deste antro de víboras a que se dá o nome de corte. Sua ingenuidade prova ser uma boa ferramenta para a ascensão social e, gradualmente, Stone vai revelando não só como Abigail se apercebe disso, mas também como ela aprende a usar essa ferramenta como uma arma contra seus inimigos e rivais.

Chegado o final, a atriz mostra como a sua personagem é a mais manipuladora de todas as figuras em jogo. Sua bondade não é necessariamente um artifício falso. Contudo, a ambição e o desespero por fugir a uma vida de subserviência muito superam qualquer preocupação com os outros seres humanos em redor de Abigail. O melhor é que Stone nos mostra tudo isto e desfigura-se em píncaros de crueldade intolerável sem nunca esquecer que “A Favorita” é uma comédia. De facto, as suas reações furiosas, humor seco e desafetação, mesmo no meio do ato sexual, são alguns dos elementos mais divertidos do filme.

CA




MELHOR ATOR PRINCIPAL

oscares mhd assim nasce uma estrela

O Óscar MHD vai para… Bradley Cooper por ASSIM NASCE UMA ESTRELA!

Rami Malek e Christian Bale podem ter dominado a Awards Season deste ano, mas a equipa MHD tem um gosto diferente daquelas outras instituições que tantos prémios dão aos grandes artistas de Hollywood. Se tivéssemos o poder de voto, daríamos o Óscar a Bradley Cooper por sua impressionante prestação em “Assim Nasce Uma Estrela”, um remake do clássico que Cooper também produziu, realizou e escreveu. Verdade seja dita, Bale quase triunfou, mas pelo fim o Óscar MHD acabou nas mãos do homem que teve a sagacidade de ver como Lady Gaga tinha potencial para ser uma estrela de cinema com o projeto certo.

É claro que, esta honra em nada tem que ver com Lady Gaga a não ser na medida em que ela e Cooper apresentam uma química que eletriza o ecrã e apaixona as audiências. Contudo, imaginamos que mesmo se tivesse uma má parceira de cena, este ator conseguiria brilhar tal é a grandiosidade da sua performance tanto em cenas de espetáculo musical como de drama humano puro e duro. Desde pormenores vocais até à sua fisicalidade expressiva, Cooper nunca foi tão bom como aqui.

Convém também referir que, ao contrário de Malek, este ator realizador cantou suas próprias canções, tendo estudado a cadência e timbre de Sam Elliott que, no filme, interpreta seu irmão mais velho. O resultado deste esforço foi a criação de uma persona musical totalmente credível que pode não valer ao ator o muito merecido Óscar, mas que pelo menos já lhe ganhou um Grammy.

CA




MELHOR ATRIZ PRINCIPAL

oscares mhd

O Óscar MHD vai para… Olivia Colman por A FAVORITA!

Os prognosticadores e peritos dos Óscares podem prever uma vitória para Glenn Close que já tantas vezes foi nomeada sem nunca ganhar, mas os votos da equipa MHD concentraram-se em Olivia Colman. Essa veterana da televisão e da comédia britânica só há alguns anos começou a mostrar suas capacidades dramáticas e, desde então, a sua carreira tem vindo a ganhar cada vez mais projeção internacional e apreciação crítica. O píncaro de toda esta trajetória meteórica foi “A Favorita”, onde Colman encara o papel mais complicado e desafiante da sua carreira e eleva um filme já por si genial a um raro patamar de perfeição cinematográfica.

Como Rainha Anne da Grã-Bretanha, Olivia Colman negoceia as muitas tonalidades antagónicas do filme, desde a perversidade da comédia negra até ao degredo humano mais grotesco e feio. Cada vez que ela aprece em cena, estabelece-se um jogo com a audiência, pelo qual a atriz desafia quem a vê a rir-se da sua infantilidade ao mesmo tempo que nos mostra o tipo de poder tirânico e sofrimento angustiante que estão por detrás de tal disposição.

Em “A Favorita” ela é vítima e é monstro, mulher apaixonada e gárgula vingativa, rainha incompetente e uma mãe em constante luto pelos filhos que perdeu. Gostaríamos de destacar dois momentos chave no seu retrato desta monarca tragicómica. Primeiro, temos a cena de baile, onde Yorgos Lanthimos mantém a câmara focada na atriz, vendo como a fachada de divertimento cai para revelar a raiva e angústia de uma mulher traída pelo seu corpo desfeito. Depois, temos o final, um triunfo de fisicalidade grotesca e monstruosa inexpressão, com a qual Colman mostra o tipo de horror que um coração partido pode revelar numa rainha embriagada em poder e dor.

CA




MELHOR REALIZADOR

roma

O Óscar MHD vai para… Alfonso Cuarón por ROMA!

A vitória de Alfonso Cuarón na categoria de Melhor Realizador foi um dos triunfos mais absolutos desta votação e todos os peritos preveem que o mesmo se repita nos Óscares. Face à grandiosidade de “Roma” é difícil ficar-se indiferente aos esforços e talentos do seu realizador. Acerca de toda esta glória cinematográfica, dissemos, aquando da passagem do filme pelo LEFFEST:

Depois de 17 anos a explorar as possibilidades do cinema de Hollywood e seus orçamentos de blockbuster, Alfonso Cuarón regressa ao México e a um cinema apoiado em realismo, em História e na especificidade de seres humanos reais. Este retorno representa um gesto autobiográfico pela parte do cineasta e aquele que é talvez o seu filme mais pessoal de sempre. Em “Roma”, Cuarón conta a história da sua família no início dos anos 70, conta a História do México à escala humana e, acima de tudo isso, assina uma carta de amor e admiração às mulheres da sua vida(…)

Não há grande modéstia em “Roma”, que está sempre a esticar os limites do seu virtuosismo e a dimensão do seu retrato humano. Contudo, face ao génio nos esforços de Alfonso Cuarón, que aqui foi realizador, produtor, argumentista, técnico de montagem e diretor de fotografia, não podemos encarar essa falta de modéstia como nada que não pura honestidade. “Roma” é fruto de enormes ambições, sendo que a maior delas é a tentativa de sintetizar em cinema o amor sentido por Cuarón para com Libo e o amor que ele mesmo sentiu vindo da mulher que o criou. A complexidade de tais milagres do coração humano nunca será totalmente capturada por uma objetiva, mas “Roma” consegue chegar bem perto de fazer o impossível.

CA




MELHOR FILME

oscares mhd a favorita

O Óscar MHD vai para… A FAVORITA de Yorgos Lanthimos, Ceci Dempsey, Ed Guiney e Lee Magiday!

O grande campeão dos Óscares MHD é “A Favorita” de Yorgos Lanthimos. “Roma” bem deu luta a esta perversa comédia britânica, mas o método de votação preferencial da Academia acabou por privilegiar o nosso atual vencedor. Convém referir que o voto foi bastante disperso e diverso, sendo que quase todos os filmes nomeados tiveram direito a pelo menos um voto em primeiro lugar. Somente “Bohemian Rhapsody” nunca chegou a estar no topo do ranking de nenhum dos 16 votantes.

No fim, “A Favorita” triunfou, pois acabou no top 3 de praticamente todos os membros da equipa MHD. Duvidamos que o resultado se repita nos Óscares, mas nunca se sabe. Ao todo, a MHD daria seis Óscares ao filme de Yorgos Lanthimos. Recapitulando, eles são os prémios para Melhor Cenografia, Montagem, Argumento Original, Atriz Secundária, Atriz Principal e Melhor Filme. Para quem sinta que esta situação é injusta, pensemos na qualidade efetiva desta joia cinematográfica de perversidade, amor tóxico e formalismos perturbadores.

Lembremos, por exemplo, a conclusão da crítica que publicámos aquando da estreia do filme em Portugal:

“A Favorita” é um filme desconfortável em todos os seus aspetos e é nesse desconforto, feito de verdades humanas feias a marinar em estilização alienante, que germina seu génio. Por entre risos de escárnio e danças mirabolantes, esta história vai traçando um jogo em que não há vencedor possível, mostrando a fragilidade do coração humano e sua capacidade para a crueldade egoísta. Quem procurava amor, acaba por se encontrar separada da única pessoa que realmente a amou. Quem procurava poder, acaba exilada da mulher a quem dedicou a alma e do país a quem dedicou a vida. Quem queria fugir à humilhação da subserviência, acaba por se condenar à posição de escrava sexual de uma gárgula moribunda. No fim, a miséria é a única certeza e constante. Miséria sob a forma de infinitos coelhos batizados com o nome de crianças que nunca chegaram a ver a luz do Sol.

Pode não ser ao gosto de todos os nossos leitores, mas “A Favorita” é o indisputável vencedor dos Óscares votados pela MHD. Muitos parabéns a todos os vencedores!

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Concordas com as escolhas da equipa MHD? Quem seriam, para ti, os vencedores ideais de entre os nomeados para os Óscares? Deixa as tuas respostas nos comentários.

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