Perception T2 | Primeiras Impressões
“Gostemos ou não, temos de aceitar o quilo e meio de couve-flor com que nascemos”.
É com esta afirmação redutora da nossa inteligência comparável a uma “leguminosa” que, o Dr. Daniel Pierce (Eric McCormak), cativa eloquentemente os seus caloiros universitários. Mas se todos os seres humanos têm em comum o dito “vegetal”, a do nosso professor de neurociência, é bem distinta e excêntrica. Quem acompanhou a primeira temporada, que aqui tivemos oportunidade de analisar superficialmente, já conhece os desvios psíquicos que moram no abrigo confortável do senhor doutor. E se a lucidez de uma mente brilhante, só atinge o pináculo da sua genialidade na plenitude da sua maior ilusão, então há que identificar as causas físiológicas e orgânicas que sustentam tal manifestação comportamental.
São estas as premissas introduzidas em “Ch-Ch-Changes“, que por mera gaguez ou simples inércia na mudança, conduzem Daniel ao banco das testemunhas num caso de pena capital. Aqui, o consultor do FBI, é chamado a aferir do estado psíquico do arguido, que após um trauma cerebral, alega ser uma pessoa completamente diferente daquela que cometeu o ato criminoso. Claro que, há primeira vista, parece mais um enigma que grita em privado pelo nome exclusivo do Dr. Pierce, numa precipitação de ramificações anómalas que requerem a transcendência visual do seu inteleto. Mas algures nesse substrato de déjà vus, reside um aprofundamento pessoal e emocional, quer da sua persona, quer das pessoas que gravitam na sua órbita.
Imaginem fazer amor com uma namorada imaginária, projetada de uma imagem residual da vossa companheira de carne e osso, e terão uma ideia de como é viver com um esquizofrénico teoricamente rotulado de bígamo? É este “daemon” – que os gregos consideram uma espécie de “génio especial” – que se manifesta em Pierce de forma quase omnipresente, como o último reduto apaziguador da sua consciência perdida.
E depois, temos a agente especial Kate Moretti (Rachael Leigh Cook), que não perde tempo em invocar constantemente os preciosos serviços de peritagem médica do seu antigo professor. Juntos, para o bem e para o mal, o duo dinâmico confronta-se com uma interpretação literal de pura semântica em “Alienação“, quando uma mulher alienada tem a convicção plena de que o seu marido fora substituído por um alien. E tantas são as vezes, que damos por nós a pensar na quantidade de “aliens” com quem convivemos diariamente. Kate deverá pensar o mesmo, não tivesse de aturar o promotor público Donnie Ryan (Scott Wolf) – que é só o seu marido – regressado de umas aulas de patinagem para salta pocinhas.
E o que dizer de Lewicki (Arjay Smith), o assistente/segunda sombra de Daniel? Bem, também ele tenta alterar o seu estatuto social para “laid” e ser um aprendiz à altura das famosas lições do seu mentor. Contudo, o “cão-guia” do doctor, irá salvar Daniel Pierce de algumas embrulhadas, ou pelo menos, iluminá-lo no caminho certo. Já agora, porque não mencionar também o hilariante reitor da universidade: Paul Haley (LeVar Burton), sempre a tentar desencaminhar o seu docente preferido para as luzes da ribalta. São estes, os intervenientes que dão vida e cor ao universo ininteligível de Daniel, que se nega a prescindir das suas alucinações pontuais de personalidades históricas, como elixir bibliográfico e empírico da sua iluminação percetual.
Perception, é assim, uma espécie de massagem estimulante à couve-flor cerebral, em cada caso paranormal por deslindar, deixando simultaneamente a bagagem dessa vivência pessoal entre as diversas personagens envolvidas no desafio mental. É estranho, divertido, inteligente e viciante, não sabemos bem porque, mas é, de forma tão clara como a água.
P.S – Reality? Is Just A Matter Of Perception..
MS