"Pray Obey Kill" uma nova série na HBO Portugal © HBO Nordic

Pray Obey Kill | Entrevista a Anton Berg, Martin Johnson e Henrik Georgsson

A MHD falou em exclusivo com os jornalistas Anton Berg e Martin Johnson e com o realizador Henrik Georgsson da série “Pray Obey Kill”.

Uma nova série de documentário chega à plataforma de streaming HBO Portugal. Tem o nome de “Pray Obey Kill” e transporta-nos para a aldeia remota de Knutby na Suécia, onde uma jovem foi assassinada de forma bastante surreal e praticamente sem explicação.

Inspirada em factos reais, “Pray Obey Kill” é uma série original Warner Bros ITVP Suécia para a HBO Europe sobre os acontecimentos de 10 de janeiro de 2004 que chocaram o país nórdico e o mundo. Este momento extremamente mediatizado é recontado em seis episódios por dois jornalistas de investigação Anton Berg e Martin Johnson e com um trabalho exímio de realização de Henrik Georgsson (“The Bridge”, “Tsunami”, “Marcella”, “Stieg Larsson – The Man Who Played with Fire”). Falamos com estes três nomes sobre o projeto.

Pray Obey Kill
Martin Johnson, Anton Berg e Henrik Georgsson em “Pray Obey Kill” © HBO Nordic

Durante a série, assistimos Anton Berg e Martin Johnson a desvendar os segredos através de entrevistas com os protagonistas desse acontecimento macabro, da reconstrução em set de miniaturas das casas de Knutby, além de imagens de vídeo gravadas na época. Tudo para entender as razões que levaram uma jovem babysitter, sob pressão de mensagens de texto anónimos, nas quais acreditava terem sido enviadas por Deus, a assassinar outra jovem. A verdade, claramente é mais complexa do que se possa pensar e os jornalistas remexem nas feridas suecas, com o principal objetivo de atingir uma certa justiça. Anton Berg e Martin Johnson sabem que os eventos de Knutby são confusos para muitos (até para as autoridades) e, por isso, aproveitaram todo o material possível para contar uma história intrigante.

Em conversa exclusiva à MHD, ao lado do cineasta Henrik Georgsson, revelaram essa excitação de querer ir a fundo na verdade. Estavam bastante ansiosos por revelar os abusos de poder que a comunidade de Knutby e a polícia estavam envolvidas. Com eles, cada episódio torna-se mais emocionante e vale a pena assistir do primeiro ao último minuto com o coração a palpitar a ritmos céleres.

Pray Obey Kill
Imagem de Sara Svensson em “Pray, Obey, Kill” © HBO Nordic

Para além da realização de Henrik Georgsson, “Pray Obey Kill” conta com Ruth Reid como produtora para a Warner Brothers ITVP e com Anton Berg, Martin Johnson e Martina Iacobaeus como produtores executivos. Da HBO Europe, os produtores executivos são Hanne Palmquist, Hanka Kastelicová e Antony Root. Antes de leres a nossa entrevista, partilhamos contigo a sinopse oficial e o trailer de “Pray Obey Kill”:

Numa gélida noite de janeiro de 2004, foram disparados tiros na pacata vila sueca de Knutby. Uma jovem foi assassinada e a sua vizinha sofreu vários ferimentos de bala. A atenção mundial voltou-se para a unida congregação pentecostal e o caso judicial que se seguiu tornou-se uma sensação internacional. Sinopse oficial de “Pray Obey Kill” na HBO Portugal.

“Pray Obey Kill” já está disponível em subscrição no catálogo da HBO Portugal. Não percas a oportunidade de assistir a esta poderosa história. Abaixo podes ler a nossa entrevista às mentes criativa desta série que enriquece uma vez mais o catálogo da HBO Portugal ao nível dos documentários.

MHD: Quais foram as vossas razões para explorar o assassinato na comunidade de Pentecostes da vila sueca de Knutby?

Martin Johnson: Estávamos interessados em contar em contar aquela história, daquelas pessoas que viviam numa seita e queriam contar em alta voz o que aconteceu. Nós sabíamos que todos eles mentiam há imenso tempo. Estávamos muito interessados em voltar a olhar para o caso de 2004, uma vez passado tanto tempo e repensá-lo numa nova perspetiva.

Foi bastante pertinente repassar por todos os interrogatórios feitos na época, com alguns dos antigos membros da congregação, tentando olhar para as coisas com novos olhos. Teríamos igualmente em consideração as notícias da época e aquilo que os jornalistas trabalharam, assim como as evidências técnicas e táticas que não combinavam na sua totalidade com a dita verdade. Esses foram os nossos principais elementos que queríamos examinar.

Pray Obey Kill
Imagem de uma sequência de ficção da série documental “Pray Obey Kill” © HBO Nordic

MHD: O que consideraram mais intrigante na história? Foram as ambiguidades no caso e a vossa vontade de descobrir a verdade?

Anton Berg: Acho que ficámos surpreendidos quando descobrimos que a polícia tinha feito um filme, uma reportagem sobre os eventos passados naquele terrífica noite, em vez de tentar descobrir o que realmente aconteceu e perceber Sarah Svensson era de confiança ou não. Isso foi algo que me surpreendeu muito, representa até uma espécie de abuso de poder.

Depois com o passar do tempo, fomos descobrindo que os habitantes não referiam Åsa M. Waldau como uma pessoa, mas sim como “Noiva de Cristo”, como uma deusa. Pouco a pouco, começamos a entrevistar vários pessoas e chegámos a essa conclusão. Para mim foi fascinante pensar nessa possibilidade de uma pessoa não ser vista como uma pessoa, mas sim como um deus.

Pray Obey Kill
Martin Johnson na série “Pray Obey Kill” © HBO Nordic

MHD: A televisão nos dias de hoje parece estar preocupada em esmiuçar os assassinatos de uma maneira bastante sensacionalista. De que forma “Pray Obey Kill” é diferente e conseguirá captar o interesse da audiência? 

Henrik Georgsson: Na realidade não poderemos escapar desse rótulo, uma vez que em “Pray Obey Kill” temos um caso de assassinato. Mas o que quero dizer é que oferecemos uma série de quase seis horas de duração e, no decurso dos episódios explicamos realmente o que acontece, e como a história acaba por ser sobre o culto surgido em Knutby e que se naquela congregação era fora do normal. Nós acompanhamos minuciosamente esse processo.

Não quisemos que fosse apenas uma história sobre comentadores e polícias que trabalharam ou investigaram sobre isso, e procurámos contar as histórias daqueles diretamente envolvidos na congregação. Apesar de ser sobre um assassinato, não deixa de ser uma história interessante e importante, algo que faz parte da memória dos suecos e portanto acreditamos que o público ficará fascinado com isso.

MHD: Durante quanto tempo filmaram as miniaturas de Knutby? Porquê a razão de filmar com bonecos? 

Henrik Georgsson: Inicialmente senti que essa opção de rodar com miniaturas fosse um tiro no escuro. Depois percebi que seria uma maneira diferente em que poderíamos contar a história. Serviria posteriormente como uma manifestação, uma forma de contar a história como se tratasse de um mundo de bonecas, daquela congregação que acabou por ser emaranhada naquelas teias de intrigas. Foi uma espécie de metáfora para isso.

Uma pequena nota porque a congregação e as casas da época estão muito diferentes atualmente. Neste sentido, o nosso objetivo seria recriar exatamente como se pareciam. Tivemos dois artistas a trabalhar durante meses naquele pequeno mundo. Para que tudo fosse montado e filmado tardou algum tempo. Depois das câmaras tem sido montadas demoramos cerca de 4 dias a filmar.

Pray Obey Kill
O jornalista Anton Berg em “Pray Obey Kill” © HBO Nordic

E Seria também muito mais caro filmar e construir as casas no mundo real. Knutby é uma autêntica casa de bonecas e por isso decidimos tratá-la assim. Juntávamos as miniaturas, e as figurinhas de quem se casava com quem, onde é que determinada personagem deveria morar e assim por diante. Essa é a conexão com o mundo em miniatura.

Anton Berg: Foi muito bom para nós sermos capazes de criar o clima e a atmosfera de Knutby nessas miniaturas. As suas imagens dão algo à história e tornam tudo mais fácil de identificar e entender como era. Queríamos ainda mostrar ao público que os habitantes da congregação pensavam que Jesus voltaria para a terra e voltaria exatamente para aquela colina. As imagens das miniaturas sobre a colina vai muito por aí, para mostrar como funciona a própria mente humana dentro daquele culto, são quase um olhar divino. As miniaturas oferecem algo à história.

MHD: Além das miniaturas, “Pray Obey Kill” tem também algumas sequências ficcionais. Qual a razão para isso? 

Henrik Georgsson: São cinco horas e meia e a maior parte do material que temos desde o início são entrevistas, material de arquivo de notícias antigas. Foi preciso polir essas imagens, escolher aquelas que poderiam ser realmente utilizadas. Foi um grande desafio criar algo que causasse algum impacto, e que não fosse chato para o espectador, como acontece quando assistimos a pessoas a falar em série de documentário. Já trabalhei em documentários e ficção, e isso dá à série algo mais, algo que nos permita entrar de uma maneira diferente. No entanto, “Pray Obey Kill” não deixa de ser uma série documental, e queremos que o público a entenda exatamente dessa maneira.

Recorremos a material documental autêntico, por isso aquelas imagens de ficção criam apenas maior tensão, é uma espécie de narrativa paralela, como acontece em algumas sequências ficcionais de  interrogatório onde só temos som. Temos imagens de alguém sentado numa cadeira e, noutras situações, temos apenas ecrã em preto com áudio. O objetivo é entender aquilo que aconteceu. Há uma diferença entre reportagens jornalísticas e documentário e é dessa forma que consolidamos a série.

Anton Berg: Na verdade, tivemos alguma sorte porque a polícia salvou todos os interrogatórios de vídeo com Helge Fossmo. Contudo, não tínhamos nenhuma imagem com Sara Svensson e só estavam disponíveis cassetes de som e nenhum vídeo. Haviam desequilíbrios na história que tivemos de corrigir para a trama e acreditamos que existe o equilíbrio certo entre sons reais e imagens ficcionais. Temos sons de julgamentos em vez de vídeo, porque é proibido filmar em tribunais suecos.

Henrik Georgsson
O realizador Henrik Georgsson no set de “Pray Obey Kill” © HBO Nordic

MHD: Sentiram alguma dificuldade em contactar com os envolvidos no caso de Knutby? 

Martin Johnson: Algumas pessoas queriam conversar, outras nem por isso. Quero dizer, este é o benefício de ter tanto tempo quanto aquele que nós tivemos para conseguir falar com o maior número de pessoas possível. A entrevista com a Sara Svensson aconteceu apenas em janeiro de 2021, e foi esse o seu único momento após os acontecimentos em que decidiu falar para as câmaras.Vemo-la no último episódio e sinto que esse episódio foi bastante complexo. Quisemos deixar a Sara e os restantes intervenientes confiantes e entender realmente a razão pela qual queríamos falar com ele.

MHD: Sentem que o público já não acredita nos jornalistas? Afinal hoje em dia somos bombardeados com fake news um pouco por todo o lado. 

Anton Berg: Acredito que como jornalistas temos que ganhar a confiança ao longo do tempo e não nos podemos dar ao luxo de parar os nossos trabalhos. Há um empenho constante e temos que construir a nossa reputação. Aquelas cenas em que eu e o Martin falamos lado a lado a tentar descodificar os eventos foram todos feitos daquela maneira, foram todos reais. Obviamente não poderíamos ter a câmara connosco 24 horas por dia, sete dias por semana porque seria demasiado caro. Mas as nossas intenções estão todas em “Pray Obey Kill”. O nosso objetivo de mostrar essas nossas discussões tinha que ver com o criar transparência na série.

Fizemos o nosso trabalho para os espectadores entenderem como realmente trabalhamos. Não mostrámos tudo, mas acho que se conseguirmos apresentar ao público o porquê de não saberem algo sobre determinado evento, ele entenderá. Não é preciso saber o nome de uma pessoa, porque o objetivo é contar a história. Queremos contar um alinhamento dessa história. Qualquer jornalista terá que fazer esse trabalho e tomar decisões semelhantes.

Pray Obey Kill
Os jornalistas Martin Johnson e Anton Berg em “Pray Obey Kill” © HBO Nordic

MHD: Sentiram-se com medo ou amaçados em criar “Pray Obey Kill”? Falar com a Sara Svensson foi realmente o momento mais complicado e intenso?

Martin Johnson: Nunca nos sentimos ameaçados. Nunca tivemos medo. Acho que o momento mais importante para nós como jornalistas foi quando percebemos que a nossa reconstrução era mais longa do que aquela mostrada no tribunal. E também, o segundo momento mais surpreendente foi quando Sara Svensson deu-nos o papel de advogados e conseguimos ter acesso ao material.

Tivemos assim uma pista jornalística, o que significava que conseguiríamos resolver o caso, com ajudas de especialistas, claro. Todos os dias foram desafiantes para nós em alcançar mais e mais materiais de arquivo e entrevistas. Fizemos poucos episódios, mas acredito que fizemos um bom trabalho.

MHD: Muito obrigado! Fiquem bem. 

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