A Primavera de Christine , em análise

A Primavera de Christine da realizadora vienense Mirjam Unger é um emocionante retrato do fim da II Guerra Mundial através do olhar bizarro e imaginativo de uma criança, a partir de ‘Besouro, Voa’ (‘Maikäfer flieg’, no original) da escritora de histórias infantis austríaca Christine Nöstlinger.

A Primavera de Christine

A Primavera de Christine e depois de Agnus Dei — As Inocentes, estreado recentemente é mais um filme histórico que revolve as atrocidades dos russos no final da II Guerra Mundial, factos que quase foram esquecidos ou apagados da memória colectiva sobre o conflito.

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Este belo filme, uma imaginativa e inocente visão de uma criança sobre a guerra, chega agora às salas de cinema depois de ter circulado e ter sido muito aplaudido em vários festivais de cinema. E esta estreia da adaptação cinematográfica de Maikäfer flieg, um livro autobiográfico da escritora Christine Nöstlinger, surge quase como um presente de aniversário para a que completou 80 anos em outubro passado e viveu em pleno as atrocidades da guerra e a difícil construção da paz.

‘… este filme é uma adaptação cinematográfica de ‘Maikäfer flieg’, um livro autobiográfico da escritora austríaca Christine Nöstlinger…’

Nöstlinger apesar de tudo descreveu esse tempo como um dos seus mais emocionantes e mais felizes da sua vida e de certa maneira este é o tom do filme de Mirjam Unger.

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No entanto, a realizadora vienense Mirjam Unger partiu já de uma adaptação teatral de Maikäfer flieg para o Rabenhoftheater — juntamente com a argumentista Sandra Bohle e o ator Gerald Votava — aventurado-se na criação de uma obra cinematográfica do famoso livro — pelo menos nos países de língua alemã e anglo-saxónica — da Christine Nöstlinger.

‘A Primavera de Christine, (…) é um daqueles que é obrigatório arrancar as crianças do computador ou do tablet e levá-las ao cinema.’

E criou este A Primavera de Christine, um filme encantador, que deve ser visto por todos os espectadores e que é um daqueles que é obrigatório arrancar as crianças do computador ou do tablet e levá-las ao cinema.

A Primavera de Christine

O filme passa-se em Viena em 1945, no final da II Guerra Mundial e desenrola-se sempre através dos olhos de Christine ou Christl (Zita Gaier), uma menina de 10 anos de idade, que mantêm a esperança no futuro e que vive esta experiencia trágica como se trata-se de uma aventura.

A Primavera de Christine

Com a casa bombardeada e completamente desamparada, Christl, a mãe (Ursula Strauss) e a irmã mais velha (Paula Brunner) refugiam-se na aristocrática vila da familia Braun, em Neuwaldegger, nos arredores de Viena. Os avós (os veteranos Krista Stadler, Heinz Marecek) permanecem no apartamento da cidade em Hernals, porque a rabugenta avó (Krista Stadler), recusa-se a abandonar a casa para ir para o bunker nazi. Mais tarde, a casa dos Brown, vai juntar-se-lhes o pai (Gerald Votava), ferido numa perna e que desertou do exército nazi, bem como a dona da casa e o filho. Com a familia reunida e apesar dos dramas individuais de cada um e diferenças sociais entre a patroa e empregados, todos desejam que a guerra termine.

‘Christl (Zita Gaier), uma menina de 10 anos de idade, que mantêm a esperança no futuro e que vive esta experiencia trágica como se trata-se de uma aventura.’

No entanto, após a capitulação nazi, os soldados do Exército Vermelho vão instalar-se na casa. Todos tem medo dos russos e do seu comportamento imprevisível, à excepção de Christl. Para a miúda, a anarquia geral é uma grande aventura: explora os arredores da casa, questiona os recém-chegados e estabelece amizade com Cohn (Konstantin Khabensky), um estranho cozinheiro do exército russo. Mas também é tempo de Christl e Gerald (Lino Gaier), o filho de Mrs. von Braun (Bettina Mittendorfer), brincarem e os seus desacatos e desafio infantil, para grande desgosto dos adultos, criam ao mesmo tempo momentos reconfortantes para todos.

A Primavera de Christine

E Christl uma criança de olhos grandes, curiosa, inteligente, vai explorar o novo ambiente, sem medo e com a sua inocência infantil olha de cima vai olhando o profundo abismo humano. Entretanto quando os vitoriosos russos, tomam o poder, Christl encontra em Cohn (uma notável interpretação do russo Konstantin Khabensky) realmente um amigo. Só ele a pode trazer para a cidade para ver os seus avós amados.

A Primavera de Christine

Tudo é filmado com grande leveza e pelos olhos de Christl, e à excepção de Cohn, A Primavera de Christine é sem dúvida um filme marcado por um forte influência e sensibilidade feminina pois as principais protagonista são as mulheres: os homens estavam na guerra ou são os bêbados e imprevisíveis soldados russos. Além da realizadora Mirjam Unger, e da argumentista Sandra Bohle presumivelmente tudo parece ter sido trabalhado em consonância com Nöstlinger, uma feminista assumida.

‘A Primavera de Christine é sem dúvida um filme marcado por um forte influência e sensibilidade feminina, pois as principais protagonista são as mulheres…’

Contudo em A Primavera de Christine há que realçar o espectáculo de interpretação da pequena Zita Gaier, que tem um talento excepcional e cumpre o seu papel ao mais alto nível. Ela transforma a heróica Christl numa personagem verosímil e fascinante, e o resultado é um filme é belo, emocionante e com certo sentido de humor que não escapa aos nossos corações.

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A cineasta Mirjam Unger traz-nos assim um filme comovente e sensível, que desperta a criança que há em nos todos através de uma emocionante e divertida história da infância, um retrato de um momento de grande turbulência. E ao mesmo tempo faz uma homenagem a Christine Nöstlinger, uma das maiores autoras austríacas vivas, infelizmente praticamente desconhecida em Portugal: tem um livro infantil traduzido em português, intitulado Luki-Live, (Caminho), obra que curiosamente integra o Plano Nacional de Leitura.

O MELHOR: a interpretação e a sensibilidade ao mais alto nível da pequena Zita Gaier;

O PIOR: as pequenas oscilações de ritmo na narrativa, que de alguma forma acompanham o romance.


Título Original: Maikäfer flieg
Realizador:  Mirjam Unger
Elenco: Zita Gaer, Konstantin Khabensky e Gerald Votava  
Alambique Filmes | Drama | 2016 | 100 min

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JVM

 

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