A evolução de um filme desde o guião ao aperfeiçoamento dos atores é o tema principal de “Domains“, um dos filmes japoneses que podes ver no Rotterdam 2019 através do Festival Scope.
Este projeto da Aichi Art School começa de forma bastante peculiar, com o relato do dia em que Aki assassinou a filha da sua amiga de infância, Nodoka. Um advogado confina-se numa sala com Aki e lê o testemunho dado por ela, partilhando com o espectador tudo o que acontecera nesse dia, assim como um pouco dos seus motivos. Logo à partida o mistério e o fim do filme são desvendados mas isto não significa que a obra terminou, pelo contrário.

Kusano Natsuka mistura elementos de ficção e documentário em “Domains” e isso é visível quando, em vez das cenas do filme, vemos as várias leituras do guião por parte dos protagonistas. Vemos a evolução do argumento, as diferentes versões e o toque pessoal dos atores, depois os testes de câmara já com os planos que se transformariam no filme final, assim como alguns planos de locais importantes.
A narrativa não é linear e apesar de seguirmos os acontecimentos mais ou menos pela ordem “correta”, regressamos várias vezes a partes de diálogo que não foram concluídas anteriormente ou que ganharam leituras diferentes, lidas em momentos diferentes, passado algum tempo – algo confirmado pela forma como os atores já não precisam de seguir tanto o guião, conhecendo já as suas falas.
Devemos-nos concentrar no que é dito e não nos atores, imaginando a cena a desenrolar-se. Por este motivo, a fotografia não toma um papel principal em “Domains”, seguindo um estilo descontraído durante a maioria do tempo. As repetições são muitas, oferecendo por vezes algo de novo à verdade por detrás da história que aparentemente nos é contada, no entanto, essas mesmas repetições, constantes, são o grande ponto fraco do filme. Ao fim da décima repetição, é fácil perder o interesse pelo que nos é mostrado pois nada de novo é revelado ou adicionado, pelo menos até à parte seguinte da história
Com um objetivo interessante em mente, “Domains” explora um lado mais experimental do cinema e traz-nos uma obra diferente do que encontramos em festivais como o Rotterdam 2019.