"Slay" (2022) ©First Spark Media

Slay, em análise

Rebecca Cappelli e Keegan Kuhn apresentam-nos os danos da indústria das peles na moda. “Slay” está a par com “Cowspiracy” e “What the Health”.

Keegan Kuhn, o produtor de “Cowspiracy” e “What the Health”, traz-nos mais um documentário que, acabado de estrear, já tem tudo para se tornar um marco e uma referência, como no caso das produções anteriormente referidas.

Slay” segue a jornada da realizadora e escritora Rebecca Cappelli (“Let us be Heroes⁠”), que viajou ao redor do mundo, investigando o comércio de peles de animais. Foram três anos que a cineasta dedicou a explorar curtumes de couro, fazendas de peles, fazendas de lã e processadores de pele, em sítios tão variados como a Austrália, China, Índia, Europa, Estados Unidos e Brasil, expondo os extensos danos do negócio de peles de animais na moda.

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Buffalo Bill ainda causa arrepio a todos os que assistiram “O Silencio dos Inocentes”, onde este serial killer matava e esfolava mulheres para fazer um casaco com as suas peles. E porque nos faz tanta impressão ver “Leatherface” a usar pele de couro na cara, mas é tão normalizado usar a mesma pele às costas? Uma das mais odiadas vilãs da Disney é a Cruella, exatamente por querer criar casacos de pele com os adoráveis “101 Dálmatas”. Haverá uma aversão inata ao uso da pele de outros, que tem de ser manipulada de forma ao comércio de peles de animais ter sucesso?

Esta é uma das perguntas que “Slay” põe, mas o documentário vai muito mais além, notabilizando-se por uma aprofundada investigação e as impressionantes ligações que consegue fazer sobre uma problemática que é sem dúvida vasta e multifatorial. Nas palavras de Cappelli: “Se alguém me tivesse contado metade do que descobri ao fazer este filme, eu não teria acreditado.” O impacto das peles de animais na moda é prejudicial não só para os animais explorados e assassinados, para saúde e os direitos dos seres humanos como também para a própria estabilidade do planeta.

“Slay” (2022) ©First Spark Media

Sabiam que cerca de 2,5 mil milhões de animais são mortos para a moda todos os anos? Que o maior produtor de carne do mundo, o gigante brasileiro JBS, também é o maior produtor de couro? Ou que quase 20% das pessoas [na China] não sabem que a pele vem de animais reais?

É de aplaudir não só o trabalho de investigação de Cappelli, mas também o seu papel como uma cativante narradora. Cappelli envolve-nos no seu processo de descoberta, que alia informações verificadas e um carrossel de emoções que a própria realizadora partilha connosco. A história do filme está montada de uma forma bem estruturada por temas, onde podemos seguir a narrativa num fluxo simples e fluído. A cinematografia de Abhi Anchliya é outro ponto positivo que nos proporciona imagens nítidas, impressionantes e chocantes mas, acima de tudo, que funcionam como um verdadeiro abrir de olhos.

“Slay” (2022) ©First Spark Media

Sabiam ainda que apenas cerca de 25% de uma pele é biodegradável? Que o processo de transformar pele em couro é tão poluente que seria melhor para o meio ambiente se essas peles fossem diretamente atiradas para o lixo e deixadas a apodrecer? Sabiam que as pessoas que trabalham no processamento de peles são afligidas principalmente por problemas de pele, problemas renais, cancro e que têm uma elevada taxa de lepra?

Angustiantes casos de greenwashing, rotulagens incorretas, muita crueldade animal e criminosos encobrimentos de algumas das principais marcas de moda de luxo do mundo – “Slay” combina um estilo de glamour da moda com uma incisiva análise ao estilo do canal Vice.

Tão importante como apontar as falhas é também mostrar as alternativas viáveis e sustentáveis e as mudanças que já começam a ser feitas. O filme mostra-nos como a inovação na moda está a melhorar e a caminhar em direção a uma indústria verdadeiramente mais sustentável e não de greenwashing, revelando ainda exemplos de popularidade na procura de couro e lã à base de plantas.

“Slay” (2022) ©First Spark Media

Slay”, com produção da First Spark Media e da Let us be Heroes, estreou a 8 de Setembro e está disponível para assistir na plataforma WaterBear Network. Esta é uma plataforma de streaming gratuito, dedicada à sustentabilidade, ativismo e conservação. Nesta mesma plataforma pode-se assistir ao documentário “Milked”, também produzido por Kuhn e que expõe a indústria leiteira, assim como a “The True Cost”, outro relevante documentário que explora o impacto da moda nas pessoas e no planeta.

A indústria da moda não é pior problema do mundo, mas é assustador como se intersecciona com tantos deles. É inegável a repercussão a nível global que os documentários “Cowspiracy” e “What the Health” tiveram, juntando-se agora “Slay” a esta equipa de filmes que, alcançando um grande público, são significantes ferramentas para acelerar a mudança em direção às soluções existentes.

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Slay, em análise
Slay

Movie title: Slay

Movie description: A cineasta investigativa Rebecca Cappelli viaja pelo mundo para descobrir o lado sombrio da indústria da moda.

Date published: 8 de September de 2022

Country: EUA

Duration: 85 minutos

Director(s): Rebecca Cappelli

Genre: Documentário

  • Emanuel Candeias - 87
87

CONCLUSÃO

“Slay” oferece uma visão profunda e reveladora das realidades da indústria da moda atual, ao mesmo tempo em que aponta o caminho para alternativas viáveis e sustentáveis.

Pros

  • Rebecca Cappelli: realizadora, escritora e narradora;
  • “Slay” integra-se na perfeição numa trilogia de documentários composta por “Cowspiracy” e “What the Health”;
  • Narrativa simples, fluída e com informação sólida e detalhada;
  • Exploração das ligações entre a indústria da moda e os seus mais variados impactos negativos.

Cons

Muito contra a indústria da moda, pouco contra o documentário.

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