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Sofia Mirpuri | Entrevista exclusiva à jovem atriz e produtora portuguesa

Falámos em exclusivo com a atriz e produtora Sofia Mirpuri, uma jovem portuguesa que está a dar cartas nos Estados Unidos. 

Sofia Mirpuri é um nome que apesar de ainda não ser familiar a todos os espectadores não é de todo desconhecido. Falamos de uma jovem atriz e produtora portuguesa que que nos últimos tempos brilhou na longa-metragem “Alice, Nova Iorque e Outras Histórias” de Tiago Durão e foi recentemente aclamada no festival de cinema norte-americano de Filmapalooza, que decorreu em Washington D.C., com a sua curta metragem “Samanta, Má ou Santa”, vencedora de dez prémios no festival 48 Hour Film Project em Lisboa de 2021.

Sofia Mirpuri
© Story in a Box

A artista sentou-se à conversa com a Magazine.HD para contar um pouco destes projetos e também revelar o seu percurso profissional que curiosamente começou nos Estados Unidos, depois de 3 anos a estudar em Nova Iorque. Pelas forças das circunstâncias, Sofia Mirpuri chegou à conclusão que não queria ser apenas atriz, não queria ficar à espera que o trabalho aparecesse. Na verdade, sentimos que Sofia é uma jovem ambiciosa, que sabe bem o que quer e onde quer chegar, mesmo que tenha consciência das dificuldades do caminho. Sofia gosta mesmo de agir, de criar o seu próprio trabalho e fazer com que o mesmo ganhe uma equipa e consiga ver a luz ao fundo do túnel. Por muito árduo que seja, Sofia não fica a meio do caminho e vai sempre até ao fim, custe o que custar.

Na nossa entrevista com Sofia Mirpuri, a atriz e produtora disse que não estava à espera do sucesso dos seus projetos, mas sente-se bem por perceber que o seu trabalho é recompensado ou ganha alguma atenção internacional. Com muito detalhe e precisão contou-nos como decorreu a rodagem da sua curta “Samanta, Má ou Santa“, um projeto feito pré-produzido e produzido em apenas 48 horas. Apesar do medo, da insegurança e de alguma pressão, sentiu que o trabalho estava feito e que a curta conseguiu transmitir uma mensagem.

Além disso, a nossa conversa com Sofia Mirpuri ficou ainda marcada pela sua vontade em mudar o panorama de distribuição dos filmes em Portugal, no sentido de incentivar as distribuidoras a colocarem legendas nos filmes portugueses, algo que acontece em alguns países, como por exemplo, nos EUA. Esta é uma intenção sua, mas a pensar nas pessoas que, tal como ela, sofrem de incapacidade auditiva e que aponta a um cinema mais inclusivo. Uma jovem que apela à mudança e se ninguém o fizer, será ela a fazê-lo.

MHD: O teu filme “Samanta, Má ou Santa” foi criado e rodado em apenas 48 horas. Como descreverias esta experiência?

Sofia Mirpuri: Eu já tinha ouvido falar desta competição, o 48 Hour Film Project. Nunca tinha participado e uma vez, em 2021, quando estava a percorrer o feed do Instagram deparei-me com este concurso. Queria fazer qualquer coisa, além da longa-metragem “Alice, Nova Iorque e Outras Histórias“.

Como estava à procura de ideias e também de algumas dicas falei com o Diogo Barbosa, que vencera o 48 Hour Film Project no ano anterior com “A Fábrica”. Explicou-me todos os pormenores sobre o 48 Hour Film Project e fiquei entusiasmada. Acabei por convencer alguns amigos para fazer uma curta dentro desta dinâmica! O Diogo ajudou-me a encontrar os argumentistas através do Pedro Lopes, o argumentista da série “Glória” da Netflix que tinha uns bons alunos na Universidade Católica que se destacavam e juntaram-se a equipa. Rodámos num fim de semana, mas não poderíamos filmar nem organizar nada antes. Foi-nos sorteado o género do filme, um objeto, uma frase e uma personagem obrigatórios. Eu tenho a sorte de ter uma casa de família, a 25 minutos de Lisboa, e pelo menos a localização era já segura. Ali poderíamos filmar qualquer coisa! Foi uma loucura, mas muito divertido.

Samanta: Má ou Santa
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MHD: Imagino que dormir tenha sido complicado?

Sofia Mirpuri: Nós gravámos sábado ao fim da tarde e até à manhã de domingo. Foi muito complicado, porque tínhamos de gravar e fazer tudo em tão pouco tempo. Não nos poderíamos atrasar nem um segundo na entrega do filme! Foi uma aventura e foi intenso. Houve quem chorasse! Apesar de ser algo tão pequeno, queríamos que a curta passasse alguma mensagem. Eu queria que o público ficasse a pensar. Pouco a pouco chegámos à história e chegámos ao título “Samanta: Má ou Santa” que foi lançado em tom de brincadeira.

Sofia Mirpuri
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MHD: Além de atriz, tu também és produtora. Como nasceu a tua produtora Story in a Box e que projetos tens agarrado?

Sofia Mirpuri: Desde que fiz o “Alice, Nova Iorque e Outras Histórias” andava a pensar em criar uma produtora. Antes de tirar o meu curso em representação no Atlantic Theater Company’s Acting School fiz a minha licenciatura em Comunicação Social e Cultural na Universidade Católica Portuguesa e na altura andava a pensar num trabalho de produção. Cheguei a fazer um estágio como assistente de produção na Plural Entertainment e era uma coisa que me interessava bastante.

Eu gosto de gerir, de organizar e de arranjar soluções e sou muito desenrascada e acho que essas são características de um produtor. Depois do “Alice, Nova Iorque e Outras Histórias” produzi uma longa que vai começar agora no circuito de festivais e estou também em conversa com duas empresas para vídeos de publicidade. Estou ainda a desenvolver uma webseries e temos um guião em mão para fazer uma curta-metragem para levar a festivais que nos interessem.

MHD: Que desafios tens encontrado pelo caminho? 

Sofia Mirpuri: Uma pergunta difícil. O maior desafio é estar aprender enquanto faço. Não tenho a receita e portanto vou descobrindo à medida que vou fazendo. Os projetos que tenho feito são sempre low-budget, e o desafio é um pouco de saber como fazer bom com pouco. O “Alice, Nova Iorque e Outras Histórias” foi feito com pouco mais de 10 mil euros. O desafio tem sido perceber passo a passo como resolver cada situação em termos de financiamento. Não sabia produzir, mas fui aprendendo à medida que ia fazendo.

Vais falar com as pessoas certas, mesmo com aquelas pessoas que têm imenso para te ensinar. Acho que é importante sabermos procurar as oportunidades. Consegues muito bem enviar uma mensagem a alguém que admiras à procura de sugestões. O não é garantido, mas tens essa possibilidade sobretudo agora com as redes sociais.

MHD: Tens os desafios, mas também tens uma cabeça cheia de sonhos…

Sofia Mirpuri: Mesmo. Quando mais alto sonhámos, mais alto vais subir. Eu acredito muito nisto. Estás a apontar para um objetivo lá em cima, e vais fazer de tudo para atingi-lo. Acho que é importante termos sonhos e objetivos.

Sofia Mirpuri
© Sofia Mirpuri

MHD: Uma das coisas que fizeste nos últimos anos foi criar máscaras transparentes. Será que nos poderíamos contar um pouco desse projeto?

Sofia Mirpuri: Eu tenho um problema auditivo e lembro-me quando começou a pandemia, logo no primeiro confinamento, de ter saído à rua e não conseguia entender o que as pessoas diziam, por causa das máscaras que passaram a ser obrigatórias. Muitas vezes a minha mãe acompanhava-me para me ajudar e comecei a pensar que se isto me acontecia a mim quantas mais pessoas estavam a ser afetadas.

Quem ouve mal precisa de ler lábios e na altura eu pensei que era preciso fazer alguma coisa. Não tinha conhecimentos nenhuns de costura ou de design, mas os meus pais deram-me força e falei com uma costureira, que lá de vez em quando arranjava as bainhas à minha mãe. Fomos trabalhando em protótipos até chegarmos ao modelo que temos agora.

Inicialmente o negócio funcionava muito como passa palavra, mas a procura foi tanta que tive que passar para uma fábrica. Foi um desafio curioso, mas o objetivo disto não era criar um grande negócio. Esta foi mais uma batalha na minha luta por uma sociedade mais inclusiva. E dentro deste tópico, uma das minhas maiores bandeiras é a luta por um cinema mais inclusivo.

O nosso cinema só teria a ganhar se colocarmos legendas nos filmes portugueses que estão nas salas. Precisamos de fazer isto para chegar a mais pessoas, porque através do audiovisual consegues mudar o mundo. Quem trabalha nesta indústria deve ser um agente de mudança. A mudança começa por cada um, há que mostrar que as coisas podem mudar.

A entrevista completa com a Sofia Mirpuri pode ser ouvida brevemente no nosso podcast.

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