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Sundance 2022 | Dual, em análise

Sátiras são sempre difíceis de acertar. Independentemente das temáticas abordadas, este tipo de cinema recebe frequentemente uma resposta divisiva. Se os tópicos estiverem remotamente próximos de assuntos delicados, as hipóteses da obra ter uma reação negativa não são nada baixas.

Dual
© Sundance Institute

No entanto, quando bem feito, o humor negro oferece das formas mais poderosas de explorar o que os cineastas desejam. Riley Stearns mistura ficção-científica elevada com comédia deadpan – humor seco através de demonstrações propositadas de neutralidade emocional ou mesmo falta de qualquer emoção – criando uma premissa bastante interessante. Infelizmente, é um par que acaba por ser muito inconsistente.

É algo desconfortável e até parcialmente injusto criticar um filme quando todos os elementos narrativos cumprem o propósito e a intenção do argumentista-realizador. Desde as prestações unidimensionais e apáticas ao tom monótono e pesado, Stearns traduz eficientemente para o grande ecrã todas as ideias do seu enredo imaginativo. Karen Gillan, Aaron Paul e todos os outros atores incorporam perfeitamente as suas personagens aborrecidas. Assim como os aspetos técnicos, todo o elenco cumpre com o que lhes é pedido: serem completa e totalmente desprovidos de qualquer tipo de emoção ou expressão; entregar todas as suas falas sem um pingo de energia; afastar os espetadores do Sundance Film Festival de qualquer conexão humana.

O problema parece óbvio. Se a sátira deadpan não funcionar, tudo se desmorona. Infelizmente, a grande maioria das piadas encontra-se longe de suscitar qualquer efeito e o desenvolvimento reconhecidamente inteligente de algumas noções sobre a humanidade e a própria vida não deixa de ser incrivelmente dececionante, frustrante e vazio. Torna-se extremamente complicado criar uma ligação ou existir preocupação com uma única personagem. Este distanciamento emocional afeta severamente a desfrutação geral de “Dual”. Tirando um período cativante e bastante divertido em que Gillan e Paul partilham algum tempo de ecrã, não há muito mais para agradar.

O terceiro ato é o melhor exemplo para explicar como “Dual” é tão bem feito, mas tão difícil de apreciar ao mesmo tempo. Mais uma vez, Stearns consegue colocar no ecrã tudo o que deseja. Na verdade, em retrospetiva, é um final que faz sentido com o mundo ao qual os espetadores foram apresentados e viveram durante uma hora e pouco. Uma vez que toda a história propositadamente carece de sequências de entretenimento, ação entretida e eventos emocionalmente poderosos, é apenas lógico que o clímax continue por esse caminho anticlimático. Novamente, o problema principal parece evidente. A última meia hora é excecionalmente insatisfatória, menosprezando o respectivo build-up e deixa um sentimento geral de desilusão e até raiva, mas… é tudo de propósito.

Caso sejas fã de Karen Gillan fica a par do seu grande projeto, “Guardiões da Galáxia, Vol. 3”

Sundance 2022 | Dual, em análise
Sundance Film Festival

Movie title: Dual

Movie description: Recently diagnosed with a rare and incurable disease, Sarah (Karen Gilian) is unsure how to process the news. To help ease her friends’ and family’s impending loss, she is encouraged to participate in a simple futuristic cloning procedure called “Replacement,” after which Sarah’s last days will be spent teaching the clone how to live on as Sarah once she’s gone. But while it takes only an hour for a clone to be made, things become significantly more challenging when that double is no longer wanted.

Date published: 23 de January de 2022

Country: EUA

Duration: 95'

Director(s): Riley Stearns

Actor(s): Karen Gillan, Aaron Paul, Beulah Koale

Genre: Sci-Fi, Ação, Drama

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  • Manuel São Bento - 40
40

CONCLUSÃO

“Dual” possui uma premissa intrigante e de “conceito elevado” que se compromete inteiramente com a sátira deadpan de Riley Stearns, mas apesar de se encontrar repleta de propósito e intenção, o último componente é levado a um extremo que afeta negativamente tudo em seu redor. Karen Gillan e Aaron Paul são atores brilhantes que executam na perfeição aquilo que lhes é pedido, que neste caso é oferecer prestações desprovidas de qualquer emoção ou expressão. Todos os elementos técnicos e narrativos são incrivelmente fastidiosos, desapontantes e frustrantes. O terceiro ato é extraordinariamente insatisfatório e anticlimático. O público terá dificuldade em encontrar prazer num mundo cheio de ideias interessantes, mas com uma execução divisiva.

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