Terra Formars, em análise

2599, um ano marcado pela pobreza proveniente da sobrepopulação da Terra. Cabe agora a um grupo de astronautas colonizar Marte e salvar a espécie humana. Isto é, Terra Formars.

Takashii Miike regressa ao grande ecrã com mais uma obra repleta de acção e estranheza. Terra Formars baseia-se no manga homônimo de Yu Sasuga e foca-se num mundo afetado pela sobrelotação da espécie humana. Na tentativa de resolver o problema e melhorar as condições de vida da população, é criado o projeto Terraforming no qual algas e baratas são enviadas para Marte de forma a purificar a sua atmosfera.

500 anos após a primeira fase da operação, Ko Honda (Shun Oguri) envia para Marte uma nave cujos tripulantes incluem todo o tipo de criminosos desde mafiosos e terroristas, a lutadores e imigrantes ilegais. A sua missão envolve a aniquilação da população de baratas para que os humanos possam mudar-se para o planeta. Contudo, a missão mostra-se mais complexa do que pensavam.

terra formars

Infelizmente, a narrativa e o guião de Kazuki Nakashima estão repletos de incongruências, provavelmente fruto do desejo de juntar num filme várias partes da história original.

O enredo desenrola-se rapidamente e falha em explicar corretamente questões como: porque é que os astronautas apenas sabem sobre a capacidade de se transformarem em insectos depois da morte de vários dos seus colegas ou porque é que eles puderam escolher o seu insecto quando nem sabiam da existência das vacinas.

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De igual modo, a caracterização dos personagens sofre de inúmeros problemas, começando na tentativa de trazer ao ecrã dois personagens estrangeiros (interpretados por Tomohisa Yamashita e Rina Ohta) sem que estes transpirem veracidade, e terminando na inexistência de uma apresentação e contextualização prévia dos quinze astronautas.

O filme começa com uma breve cena entre Nanao Akita (Emi Takei) e Shokichi Komachi (Hideaki Ito). Sabemos que se conhecem, não como ou porquê. O momento serve somente para introduzir Ko e o seu projeto, não para revelar o passado ou relação das duas personagens.

Do restante, a maioria morre nos primeiro momentos que sucedem a sua chegada a Marte. Sem a existência de uma apresentação ou aprofundamento, é impossível sentir qualquer empatia ou interesse por alguma das personagens. A única característica que chega ao espectador é que se tratam de personagens descartáveis e cuja única função é a de morrer – um erro crasso em qualquer argumento.

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Curiosamente, a falta de interesse não vem apenas de mim mas aparentemente das próprias personagens.

Quando Nanao e Asuka Moriki (Rinko Kikuchi) morrem, o pouco – quase inexistente – luto é feito apenas por Shokichi. Pior, Asuka é essencialmente esquecida por todas as personagens. Sim, a ideia é de que os astronautas não se conhecem, mas estes passaram algum tempo juntos no espaço, e a morte de um colega nunca passaria despercebido. Pode-se dizer que existe uma justificação para este comportamento, contudo esta parte do princípio que o espectador (e as personagens) conhecem o futuro da história, o que não é minimamente convincente.

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A excepção é Ko Honda. O filme passa algum tempo com o vilão e é possível compreender os seus motivos e o que deseja alcançar. Porém, ainda que se comporte como um génio, o seu plano tem uma reduzida probabilidade de sucesso, facto que é incongruente com a caracterização de Ko – ele é um génio calculista que desenha um plano repleto de falhas?

Acrescentando ao problema, a personagens desinteressantes juntam-se atores que apesar de profissionais de grande talento, passam interpretações sem grande emoção ou ênfase – tornando-se rapidamente monótonas e aborrecidas.

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No entanto, nem tudo é negativo, este é afinal de contas um filme realizado por Takashi Miike, cineasta que já habituou o público a, entre outras coisas, visuais excêntricos e interessantes.

Como referido anteriormente, os astronautas possuem a capacidade de se transformar e adoptar para si algumas das suas principais características de determinados insectos como a formiga, o louva-a-deus, o besouro, entre outros.

O visual e a estética destas transformações estão relativamente fieis à obra original e são de longe a melhor parte de Terra Formars.

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À semelhança, também o design das baratas está bem realizado havendo apenas o “problema” de serem CGI, pelo que as obras cinematográficas de Takashi Miike tendem a ter efeitos práticos. As baratas principais poderiam ter sido executadas com fatos e depois misturadas com baratas CGI nos planos gerais ou mais complexos – isto evitaria termos atores que visivelmente lutam contra um oponente invisível.

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O final parece indicar o desejo de uma continuação mas para bem da saga, espero que Terra Formars permaneça no mundo do manga e do anime. A obra teria feito mais sentido enquanto trilogia, com uma primeira obra que contextualizaria a Terra de 2599 e a origem e motivações de cada personagem.

O filme leva-se demasiado a sério e funcionaria melhor enquanto uma obra cómica e excêntrica como o espectador de Miike já espera. Porém, se o espectador procura um filme de puro entretenimento, Terra Formars pode ser visto em parte como uma comédia, ainda que pelas razões erradas.

É este o pior filme de Miike? Temo que sim, mas com a certeza de que a razão está por detrás de um guião feito com a intenção de ser mais do que aquilo que conseguiria ser.


terra formars takashi miikeTítulo Original: Terra Formars
Realizador: Takashi Miike
Elenco: Rinko Kikuchi, Tomohisa Yamashita, Emi Takei, Hideaki Ito 
Warner Bros.| Drama, Acção | 2016 |

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Ângela Costa

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