The Last Showgirl | Pamela Anderson brilha na primeira noite do IndieLisboa
Gia Coppola, neta de Francis Ford Coppola, é uma presença coesa na cena cinematográfica e em 2024 lançou “The Last Showgirl”, filme protagonizado por uma brilhante Pamela Anderson. Esta sua obra, discreta na respetiva temporada de prémios, chegou agora ao IndieLisboa na sua primeira noite para a sua única sessão em sala em território nacional.
Com um currículo diverso, Gia Coppola destacou-se já no passado com produções como o coming of age adolescente “Palo Alto” (2013) ou o excêntrico e satírico “Mainstream” (2020). “The Last Showgirl”, em geral, foi um filme recebido de forma tépida, devido quiçá à sua premissa pouco desenvolvida e ligeiramente cíclica.
É-nos apresentada a situação que motiva a ação – Shelly (Pamela Anderson) é uma showgirl que atua num espectáculo, num casino de Las Vegas, há mais de 30 anos. Toda a sua vida se resume a este palco, onde a coreografia e os deslumbrantes outfits significam tudo para ela. Em nome das suas performances sacrificou inclusive um casamento e a relação com a sua filha Hanna (uma muito convincente Billie Lourd).
Agora, a era das showgirls pertence ao passado e é anunciado que o espectáculo em que Shelly entra vai fechar a cortina, para sempre. O que pode fazer uma showgirl que, em toda a sua vida, se dedicou a uma única atividade? Nunca temos resposta para esta questão, mas temos sim um retrato tenro e coeso da melancolia e crise existencial pela qual passa esta personagem.
Um elenco que eleva The Last Showgirl
Apesar da simplicidade do enredo e do desenrolar da narrativa, “The Last Showgirl” consegue brilhar através das suas prestações de relevo. Em primeiríssimo lugar, destaque para Pamela Anderson num papel repleto de sinceridade emocional e onde se revela belíssima e muito segura de si própria. Aos 57 anos, Anderson está no seu pico e comprova que é muito mais do que apenas uma cara bonita e um corpo irrepreensivelmente perfeito.
E apesar da prestação de Pamela Anderson se apresentar como o pináculo da nova obra de Gia Coppola, há muito a dizer sobre a escolha de elenco nesta longa-metragem. No papel de um técnico do casino e confidente de Shelly temos Dave Bautista. O antigo culturista, conhecido por papéis mais físicos e menos palavrosos, como por exemplo Dax em “Guardians of the Galaxy”, é aqui capaz de mostrar profundidade emocional num papel de maior sensibilidade e relevância para a própria jornada da protagonista.
Como reforçado, Billie Lourd é discreta mas competente no papel da filha de Shelly, e Kiernan Shipka (“Chilling Adventures of Sabrina”) e Brenda Song (“Dollface” ) interpretam com afinco showgirls mais jovens que vêm na personagem de Pamela Anderson uma figura maternal. Mas ninguém se destaca no elenco secundário da mesma forma que Jamie Lee Curtis como a empregada de cocktail de casino Annette, a amiga mais próxima da nossa protagonista.
Jamie Lee Curtis protagoniza, inclusive, uma emotiva sequência de dança ao som de “Total Eclipse of the Heart”. Tudo na sua prestação é distinto, espontâneo, sincero, memorável. Aliás, Curtis chegou a ser nomeada para o BAFTA de Melhor Atriz Secundária por esta sua notável prestação e não deixamos de questionar: não está mais memorável aqui do que em “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, filme pelo qual venceu prémios sem fim, inclusive o Óscar?
Uma narrativa pouco arriscada e percalços visuais
Então o que fez com que as prestações de Anderson e Curtis tenham sido maioritariamente esquecidas na última temporada de prémios? Ora, os pequenos pecados que tornam “The Last Showgirl” num filme relativamente bom mas não excelente ou marcante. Temos uma progressão da história sem muito a dizer, temos um comentário sobre o preconceito baseado em idade que não chega aos calcanhares do grito de revolta de “A Substância” no mesmo ano, e temos acima de tudo uma realização que deixa algo a desejar.
“The Last Showgirl” caracteriza-se por uma sucessão de planos fechados, escuros e desfocados. Uma e outra vez, vemos as personagens através de uma iluminação difusa e uma falta de claridade que nos deixa confusos: há algo de errado com esta cópia ou foi esta a escolha estética feita por Coppola? A resposta é a segunda. E, infelizmente, apesar do guarda-roupa estupendo e da banda sonora apelativa, o filme nunca consegue elevar-se, tornar-se verdadeiramente deslumbrante do ponto de vista estético ou levar-nos para locais improváveis com a sua narrativa. O melodrama requer (e consegue) a nossa empatia, todavia não nos transporta para Vegas da forma que seria desejada. Não nos faz querer viver o sonho de Shelly, e não nos faz compreender, verdadeiramente, o grande fascínio que esta mantém pelo palco. Nem tão pouco nos mostra suficientemente este palco. Fica-se pelo meio termo, pela meia vitória, pela meia conquista. Mas Anderson, como dissemos, essa conquista-nos de forma plena e inegável.
O IndieLisboa decorre entre os dias 1 e 11 de maio. A Magazine.HD estará presente e fará a cobertura dos 10 dias do Festival Internacional de Cinema de Lisboa!
The Last Showgirl, a Crítica
Movie title: The Last Showgirl
Movie description: Gia Coppola orquestra o renascimento da carreira de Pamela Anderson, que recebeu nomeações para Melhor Atriz nos Golden Globos e nos prémios da Screen Actors Guild, tendo o elenco recebido o Prémio Especial do Júri no Festival de San Sebastián. O filme centra-se em Shelley Gardner, uma showgirl de Las Vegas na sua meia idade, enfrentando um futuro incerto.
Date published: 6 de May de 2025
Country: EUA
Duration: 88'
Author: Gia Coppola
Director(s): Gia Coppola
Actor(s): Pamela Anderson, Brenda Song, Jamie Lee Curtis
Genre: Drama
Conclusão
Pamela Anderson entrega a performance da sua carreira em “The Last Showgirl”, um drama que sem arriscar muito consegue cumprir habilmente a sua premissa.
Overall
70User Review
( votes)Pros
- As prestações de um elenco premiado e corretamente elogiado, começando com Anderson e terminando com Dave Bautista num dos papéis mais humanos e sinceros em que já o vimos.
Cons
- Uma realização com escolhas dúbias, como desfoques constantes e planos demasiado fechados;
- Nunca vemos verdadeiramente o espectáculo do qual tanto ouvimos falar e algo se perde assim pelo caminho.