10 musicais para ver antes de La La Land | Top Hat

A nossa exploração pelos musicais que influenciaram La La Land começa com o maior triunfo de Fred e Ginger, a dupla mais graciosa na História do cinema musical.

 


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Nunca houve nem nunca haverá, na História do cinema, um duo como Fred Astaire e Ginger Rogers. É certo que ambos fizeram filmes extraordinários na companhia de outros atores e interesses românticos e que Astaire até chegou a aparecer emparelhado com melhores bailarinas que Rogers, mas a química romântica e camaradagem profissional que os dois trespassam quando estão juntos é imbatível. O resultado final desta miraculosa combinação é uma coleção de alguns dos mais mágicos momentos de dança alguma vez capturados em celuloide.

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Escusado será dizer que, sem eles, o cinema musical nunca teria evoluído do mesmo modo e que provavelmente Damien Chazelle nunca teria tido a inspiração de focar tanto do romance do seu filme no ato de dançar. Aliás, La La Land vai buscar uma ideia fulcral aos filmes de Fred e Ginger que é a de mostrar o processo pelo qual os dois protagonistas se apaixonam um pelo outro através de uma dança conjunta. Isso pode parecer um cliché hoje em dia, mas quando Ginger e Fred o fizeram isso não era assim tão comum e o nível de qualidade artística que trouxeram a esses momentos de puro artificialismo escapista levou a que tais números musicais vibrassem com uma sinceridade e potência emocional impossível de obter num registo mais realista e menos codificado.

Dos 10 filmes que Fred e Ginger coprotagonizaram, talvez o melhor e mais influente de todos seja mesmo Top Hat (há quem considere Swing Time mais importante, mas isso é extremamente discutível), o seu luminoso triunfo de 1935 que originou canções tão memoráveis e intemporais como “Cheek to Cheek” e “Top Hat, White Tie and Tails”. É claro que, ainda mais magnífico que as canções em si é a dança e encenação que as acompanha. Na primeira, Fred e Ginger parecem quase flutuar pelo cenário enquanto o vestido cheio de plumas envergado por ela se move com uma graciosidade quase sobrenatural (e ia deixando cair centenas de pequenas penugens, o que enfureceu Astaire). O segundo exemplo, pelo contrário, é uma showcase extraordinária para a elegância do ator e é apenas rivalizado pelo número “Stepping Out with my Baby” de Easter Parade no que diz respeito aos melhores momentos a solo da sua carreira.

No entanto, por muito magníficos que sejam esses dois números, nenhum deles tem tanta influência em La La Land como “Isn’t This a Lovely Day”, que é efetivamente o momento em que a personagem de Rogers muito relutantemente se rende à paixão pela figura de Astaire. De salientar nesta maravilhosa cena é o trabalho de Rogers enquanto bailarina e atriz, pois na mesma medida que a sua mestria dançante é exposta em toda a sua magnificência é o modo como ela transmite a relutância e vergonha da personagem que realmente confere à cena um peso emocional necessário e revelador.

Em La La Land temos uma cópia quase exata dessa mesma dinâmica quando os dois protagonistas estão à procura dos seus carros a seguir a uma festa e, com a paisagem crepuscular de Los Angeles como pano de fundo, começam a cantar “A Lovely Nigth” (o próprio título da canção é uma referência) e acabam por se envolver numa dança onde Emma Stone se vai mostrando relutante e irritada com a atitude do seu parceiro de cena, antes de se render ela também à jubilante alegria do momento. Este é o início efetivo da sua admitida atração mútua, mas é mais à frente, durante uma dança interestelar que o seu amor é realmente levado à sua apoteose cinematográfica – de uma forma muito semelhante à relação entre a simplicidade charmosa de “It’s a Lovely Night” e o glamour espetacular de “Cheek to Cheek” em Top Hat.

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Se se sentirem impossivelmente cativados pelo charme de Fred e Ginger, há que admitir que todos os seus filmes têm prazeres sem fim para oferecer, mas gostaríamos de destacar mais um filme de Astaire do período pré-2ª Guerra Mundial. Trata-se de um filme onde o ator é emparelhado, não com Ginger Rogers, mas sim com Eleanor Powell. Na verdade, a grande contribuição que The Broadway Melody of 1940 faz ao filme de Chazelle é o cenário do seu clímax, um palco completamente preto, com o chão polido até se tornar uma superfície bem refletora e uma imensidão de pequenos pontos luminosos a formar uma impressão do céu noturno – ou seja, um dos muitos cenários que aparecem no epílogo que encerra o romance de Emma Stone e Ryan Gosling. Top Hat, pelo contrário, foi um filme muito mais presente nas filmagens de La La Land, sendo que o próprio realizador insistiu que toda a equipa visse o filme múltiplas vezes como meio de preparação e pesquisa.

 


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Na próxima página, vamos saltar dos anos 30 à década de 50, que é a época de onde provêm a maior parte dos filmes de onde Damien Chazelle foi buscar ideias e inspiração. Mas atenção, tem cuidado com spoilers pois vamos fazer algumas referências ao estrondoso final de La La Land e como ele se relaciona a mais do que um musical de importância histórica.

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