Um Homem Chamado Otto, em análise
“Um Homem Chamado Otto” é um remake americano mas, passando isso, é um filme sentimental e que vai puxar ao coração de todos. E Tom Hanks está excelente. É protagonista porque teve interesse pessoal no projeto mas apresenta Otto de uma forma tão verosímil que é impossível não nos deixarmos levar pelo seu charme e enorme talento na arte da representação.
Hollywood pode ser o berço da indústria do cinema – pelo menos para o público internacional – mas a verdade é que os seus remakes nem sempre são de sucesso. Ainda que bem intencionados, porque afinal de contas que público americano irá querer um filme de qualquer país europeu, o produto final tende a cair numa adaptação pobre e com falta de “sumo” para se transformar num sucesso. “Um Homem Chamado Otto”, no entanto, parece ir contra esta ideia. E bem, muito bem.
Adaptado da obra “En man som heter Ove”, um filme sueco de 2015, esta versão da história tem como protagonista americano o eterno adorado Tom Hanks. No centro de uma história que procura inspirar e tocar os corações da audiência, Hanks apresenta-se como Otto, um velho resmungão, em início de uma vida de reformado, e cuja vida não se traduziu no que ele idealizou ao longo da vida adulta. Não é má, mas não é o sonho com o amor da sua vida.
De uma forma simples, “Um Homem Chamado Otto” acompanha um velho resmungão que tem uma rotina bastante implementada na sua vida. Num bairro de comunidade fechada, Otto é conhecido por todos mas também pelas suas peculiaridades e regras. Quando toma uma decisão de vida, começa a ver o seu mundo virado do avesso com a chegada dos novos vizinhos, Marisol (Mariana Treviño) e Tommy (Manuel Garcia-Rulfo), que apesar de irem contra a sua rotina começam a ser uma fonte de mudança na sua própria maneira de ser… e interagir com os outros.
Poderíamos dizer que dado todo o filme, mais que um drama, o filme é na verdade uma comédia-drama. O filme perfeito para uma boa sessão de cinema, não aspira a ser a melhor história de todos os tempos do cinema mas também não se fica por pouco. Escrito de forma sólida, “Um Homem Chamado Otto” tem um bonito equilíbrio entre a nostalgia e momentos de leve comédia, prometendo risos (tímidos ou não) e lágrimas (muitas!). O filme leva-nos a conhecer a história de Otto, a sua vida, o amor da sua vida e ainda nos dá uma história secundária, da imobiliária que tenta destruir o bairro, e que mostra que Otto é na verdade um homem que se preocupa e não apenas um velho resmungão.
Ainda que a história não seja transcendental, e muito menos inovadora no género, a forma como está montada não tem nada que se aponte na nossa opinião. Bem, talvez a falta de exploração de algumas personagens mas, sendo Otto o real foco, a narrativa é realmente bem construída à volta da sua pessoa. Por entre flashbacks da sua personagem percebemos porque é como é, o que aconteceu e o transformou, e que a sua transformação no final do filme não se trata de um milagre de filme de Hollywood mas apenas o desenterrar de algo que sempre esteve lá e que simplesmente se foi escondendo.
Em termos de elenco, o grande destaque é mesmo Tom Hanks. O ator, que já provou por várias vezes o seu inegável talento, consegue trazer o carisma necessário à história e à personagem de Otto, deixando-se transformar de forma “natural” ao longo do filme. Por outro lado, a sua maior co-protagonista é Mariana Treviño. Por entre risos, lágrimas e os monólogos mega apressados em espanhol, Mariana é um deleite de se ver e uma atriz à altura de partilhar o ecrã com Hanks. A sua simplicidade e o seu olhar conferem um toque de ternura à história a que não conseguimos ficar indiferentes.
Manuel Garcia-Rulfo é no entanto talvez o que mais nos fez levantar o olho. Não só pela personagem, muito diferente do que estamos habituados a vê-lo, mas porque nos pareceu verdadeiramente subaproveitado. Ainda que pudesse ter sido uma mais valia para mais alguns momentos de comédia. Por último, não poderíamos esquecer-nos de dar uma nota sobre Truman Hanks. Filho do próprio Tom Hanks, Truman deu vida a Otto quando era um jovem adulto e, ainda que tenha sido uma personagem ‘muito rígida’, deixou-nos totalmente convencidos que estaríamos a ver um Tom Hanks mais novo – sim, podem ser parentes na realidade mas foi os maneirismos que levou para as cenas que tornaram tudo mais credível.
“Um Homem Chamado Otto” é um filme vulnerável, com uma história natural e, arriscamo-nos a dizer, real. Até a escolha de Marc Forster, que parecia algo estranho dado o seu historial de filmes (“007: Quantum of Solace” ou “WWZ: World War Z” por exemplo), revelou-se acertada e no ponto. Com o equilíbrio certo entre a comédia e o drama, e acima de tudo repleto de sinceridade, este é um filme para se (re)ver sempre. É calor e abraço em forma de uma longa-metragem e uma narrativa segura e bem montada.
TRAILER | UM HOMEM CHAMADO OTTO
Já tiveste oportunidade de ver o filme no cinema? E viste o filme original sueco que originou esta versão?
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Marta Kong Nunes - 78
CONCLUSÃO
“Um Homem Chamado Otto” é um filme onde temos de nos deixar ser vulneráveis. À história, ao sentimento, à empatia e ao que as personagens sentem. É impossível deixar a sala de cinema sem uma sensação de aperto pela vida de Otto. Não porque foi má ou atribulada, mas porque foi recheada de amor e situações que nos fizeram tanto querer acompanhá-lo. O Otto é um homem com um coração grande, e ver a sua história acalma-nos de certo modo.
Overall
78User Review
( votes)Pros
- Os momentos de comédia são introduzidos de forma exímia;
- O modo como contam a história do passado, intercalada com o presente de Otto;
- A sinceridade e a emoção presentes na história e personificadas pelo elenco;
- Tom Hanks é novamente um protagonista de peso;
- A simplicidade e leveza que Mariana Treviño dá ao filme.
Cons
- Algumas personagens são pouco exploradas ou ‘explicadas’ em termos de como aparecem no bairro;
- Sair de cara fresca e sem lágrimas não é possível. Um pequeno “contra” só para o caso de se querer manter a compostura na saída da sala de cinema