Uma Morte Necessária, em análise

 

The Necessary Death of Charlie Countryman
  • Título Original: The Necessary Death of Charlie Countryman
  • Realizador: Fredrik Bond
  • Elenco: Shia LaBeouf, Evan Rachel Wood, Mads Mikkelsen
  • Género: Drama, Comedy, Romance
  • Rom | EUA | 2013 | 108 min

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Charlie (Shia LaBeouf) obedece a um chamamento e viaja. Para longe e seguindo instruções de alguém que já não pertence ao seu mundo. Para o local de destino, ele desloca-se passiva e melancolicamente, mal adivinhando a adrenalina que o circundará, a montanha que terá de escalar. Charlie Countryman mergulha em Bucareste. Não teria querido Kate ((Melissa Leo) dizer Budapeste…?  Foi Bucareste. Roménia.

Na cidade do rio Dambovita, quis o destino que Charlie se confrontasse com a história de Gabi Ibanescu (Evan Rachel Wood), uma bela violoncelista de olhos sedutores e personalidade vincada. Com uma convergência de angústias familiares recentes, a aproximação a Gabi afigura-se inevitável e premente. Bem como a apresentação à figura tentacular e ameaçadora de Nigel (Mads Mikkelsen, senhor dinamarquês já com cartas dadas, embora aqui sem projecção de maior), ex-marido de Gabi.

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O facto de ser Bucareste o sítio delineado, para o qual é atraído, e porque assim foi decidido pela sua mãe, logo após a sua morte, é aceite por Charlie. E aí reside o enigma de qualquer trilho seguido. Seja o líder uma mãe que acaba de falecer, uma entidade divina, ou mesmo o interior de nós próprios. O chamamento existe porque sim. E se o escolhemos como fonte de crença e suporte, aceitamos as suas consequências. Até ao final. Ou a magia desvanecer-se-á.

Em qualquer minuto de descoberta e evolução na sua relação com Gabi, Charlie tem a opção de voltar para trás. É evidente que vê diante de si um obstáculo de relevo: o de, inesperadamente (e não é sempre assim?) ser puxado pelos olhos terrivelmente assoberbantes daquela mulher, cujo rosto pincelado de lágrimas negras teima em não lhe sair da mente perdida. Contudo, a verdade é que esse livre arbítrio não o abandonou. E ele escolhe:  à medida que os nós se vão apertando, a sua coragem implode, e Charlie corre atrás de quem ama.

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O ambiente citadino de Bucareste quebra os habituais cenários nos quais, cinéfila e frequentemente, submergimos. Vêem-se luzes, ouve-se música noctívaga, abraça-se a loucura das drogas leves. É aquela felicidade à margem do dia-a-dia, um intervalo do tédio, um salto para o desconhecido.

No entanto, numa construção onde uma primeira parte prometia uma carga argumentativa de peso, para, dessa forma, fazer jus à forma que, sem dúvida, nos enche visualmente, somos conduzidos a uma certa perda de orientação a nível de substância. O que não deixa de nos desalentar. Pois, subitamente e em termos visuais, Fredrik Bond, nesta clara azáfama de raios luminosos, atrever-se-ia, provavelmente, a fazer lembrar, num ou noutro ponto, um “Enter the Void”. Mas infelizmente logo se desvanece esta possível ambição. E já sem hipótese de tomar outro atalho, o fluxo da história lá cumpre o seu objectivo, sem surpresas ou truques mágicos como se fazia supor.

Não obstante, fica a ideia. Há mortes necessárias. Sofrimentos inesperados. Torturas repentinas. Mas igualmente, sensações inigualáveis. Momentos indizíveis. Pessoas improváveis. Não havendo tudo isto, não há lugar à mudança de pele. De rumo. De norte.

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Para recomeçar. Talvez – quem sabe? – melhor. Talvez bem melhor.

“We didn’t need a story, we didn’t need a real world
We just had to keep walking
And we became the stories, we became the places
We were the lights, the deserts, the faraway worlds
We were you before you even existed
I carry on, carry on, carry on
And after us the flood
Carry on, carry on, carry on
(…)”

“Intro”, M83 ( “The Necessary Death of Charlie Countryman” Soundtrack)

Sofia Melo Esteves

 

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